Martinho Júnior, Luanda
Inventariada
a situação, a partir de causas que vêm de longe e de causas recentes, não
havendo dúvidas em relação ao trabalho “laboratorial” que deu
substância e justificação à existência do AFRICOM em estreita conexão com a NATO
e em função da perspectiva da hegemonia unipolar, como Angola deve encarar
estas ameaças e riscos num momento em que é possível estabelecerem-se pontes
entre factores de desestabilização interna e os factores externos, tendo em
conta a laicidade do estado angolano, a evolução da situação económica e
financeira global e local, a liberdade religiosa e o respeito pela lei e os
direitos fundamentais?
O
estado angolano não pode esquecer-se do que tem vindo a acontecer a estados
laicos como o Iraque e a Síria no Médio Oriente, que ao invés de serem
aproveitados no sentido da implementação da democracia representativa, são
desmantelados deliberadamente, tal como a Líbia, a fim de instalar o caos
jihadista em expansão, ao ponto de projectar a “guerra de civilizações”,
não só a partir das “primaveras árabes”, mas sobretudo com intervenções
directas dos países da NATO e de seus aliados monárquicos, do Marrocos às
monarquias arábicas…
Sem
dúvida que as políticas internas e externas de paz, por parte de Angola, são
fundamentais, na perspectiva dos interesses de África e dos interesses geo
estratégicos, mas estão perante desafios que se expandem no continente,
multiplicando o caos endémico dos conflitos étnico-tribais.
Redesenhar
o mapa de África é uma preocupação latente no “laboratório AFRICOM”, tendo
em conta o que em tempo oportuno foi dito por Theresa Whelan, em relação às
fronteiras africanas (“áreas sem governação”), explorando contenciosos que
ocorreram durante a Guerra Fria, entre eles o último contencioso oportunista de
Savimbi, que mudava de pontos cardeais opondo por fim“o
interior” ao “litoral”, o
angolano “autêntico” ao “crioulo” (em “Combats pour
l’Afrique et la démocratie”), tudo isso em função do conhecimento físico-geográfico-ambiental
que lhe foi transmitido pela potência colonial…
No
caso angolano, tendo acabado a tentativa de divisão pelo paralelo (Angola Norte
e Angola Sul), algo que tirava partido dos interesses do “apartheid”, está
a surgir uma nova tentativa já sem Savimbi, tirando partido duma entidade como
o Protectorado Lunda Tchokwe, considerando um meridiano divisório entre uma
Angola a Ocidente e uma a Leste, algo que muito provavelmente por causa dos
interesses do cartel dos diamantes, até já motivou uma série televisiva, em
jeito de prospecção psicológica que ocorreu “com toda a
naturalidade” nos Estados Unidos…
Também
nessa perspectiva o “laboratório” prospecta a partir da correlação
entre os fenómenos de natureza físico-geográfico-ambiental e as culturas
humanas, seguindo a pista das bacias hidrográficas de Angola, tanto como do
conhecimento que foi adquirido em tempo colonial, neste caso o acervo belga
inscrito no Museu Antropológico da Lunda, por incentivo então da Diamang
(instrumentalizada como é lógico pelo cartel).
As
políticas que cultivam a paz possibilitam um esforço importante de
inteligência, de modo a que Angola possa acompanhar de perto e até por dentro,
todas as correntes que visem desestabilização, ao mesmo tempo que pode
fortalecer laços com outras correntes que efectivamente também se identifiquem
com a construção da paz.
Nesse
sentido há que reequacionar as respostas sócio-políticas em termos de suas
abrangências, levando em conta o papel de algumas classes no âmbito da Luta de
Libertação em África, entre elas o papel dos camponeses.
Em
relação aos factores externos, há basicamente um imenso e contínuo trabalho de
pesquisa de inteligência a fazer em África e fora dela, tendo em conta as
organizações terroristas, seus apoios funcionais, logísticos e humanos, suas
características humanas, étnicas e religiosas, seus métodos e seus propósitos,
assim como uma atenção muito substancial aos vínculos financeiros que as
animam, levando em consideração que elas sintomaticamente indiciam usar os
factores migratórios em seu proveito, assim como as assimetrias existentes e
conceitos que tendem a semear o caos.
É
evidente que interessa também recolha de informação sobre o trabalho
de “laboratório”, que gerou as situações favoráveis à presença dominante e
decisiva das potências em África em socorro das forçadas “parcerias
africanas” arrastadas para a vassalagem, por causa da fragilidade e
vulnerabilidade dos estados face ao tipo de ameaças e riscos como o terrorismo
islâmico sunita, protagonizado sobretudo a partir da injecção de caos na Líbia.
Creio
que há quatro círculos a levar em consideração nessas pesquisas:
-
O longínquo na Europa, Estados Unidos, mas sobretudo no conturbado Médio
Oriente;
-
O que se deve confinar ao Sahara-Sahel-Ogaden, onde actuam as ramificações
terroristas internacionais como o “AQMI”, o “Boko Haram” e o “al
Shabaad”;
-
O que abrange o Golfo da Guiné e os Grandes Lagos;
-
O que se desenvolve nos dois Congos e a partir de nossas fronteiras com os dois
Congos para dentro do nosso território, tendo em conta a costa noroeste
angolana, Cabinda, o leste do país, o rio Kwango e as cidades, com particular
atenção à capital, Luanda.
Em
relação aos factores internos, o inventário de tudo o que seja escalonado no
sentido da desestabilização do rumo de Angola, independente, soberana, garante
de paz e de aprofundamento da democracia, é indispensável, tendo em conta uma
abertura que se configura nos processos de políticas de harmonia, aquelas que
se afiguram possíveis num continente tão fragilizado e vulnerável.
A
situação arrasta-se para um cenário que foi criado “de raiz” pela
administração de George W. Bush, a que se deu sequência com Barack Hussein
Obama: provocar uma tensão constante entre islâmicos e cristãos, também no
continente africano, como se fosse um ingrediente fulcral numa“guerra de
civilizações”, agregando a essa tensão, outros factores de desestabilização ou
de caos (foi precisamente nesse ambiente que se tomou a iniciativa, via
Pentágono, para a gestação do“laboratório AFRICOM”).
Isso
faz parte do quadro de “guerra psicológica” que os Estados Unidos
nunca abandonaram depois da IIª Guerra Mundial, nem com o fim da “Guerra
Fria”, algo que começa a ter poderosas clivagens por dentro de múltiplas
correntes republicanas e democratas no próprio ambiente sócio-político dos
Estados Unidos da América, com reflexos nas suas políticas externas.
É
extraordinariamente difícil a Angola gerir um contencioso como esse, até por
que os shihitas estão também presentes no seu espaço nacional em muito menor
número, mas beneficiando do“espaço cristão” que para eles é um espaço de
manobra, pelo que o apego à Constituição e ao corpo de leis que garantem
independência e soberania deve merecer uma cultura reflexiva constante por
parte do empenho angolano.
O
rigor na gestão do estado angolano sem que os consensos de paz sejam
beliscados, torna-se indispensável, de modo a que as coordenações que se vão
ter de desenvolver entre os vários organismos e instituições não tenham pontos
fracos e as acções mobilizem capacidades de luta contra o subdesenvolvimento,
seguindo critérios de desenvolvimento sustentável, amigo do ambiente e tudo sem
perder a capacidade de criar consensos e harmonizar.
Esse
rigor não se pode circunscrever a uma elite sócio-política, mas terá de ser tão
abrangente quanto o possível.
Essa
integração por via da realização de obras e actividades, visa impedir o grau de
alienação elevado que muitos sectores ideológicos cultivam, a alienação que é
contraproducente em relação às políticas construtoras de paz que o estado
angolano tem enunciado.
Na
perspectiva do Movimento de Libertação em África, do MPLA e do estado angolano,
torna-se necessário, na busca de diálogo e consensos, não perder de vista os
imensos resgates que se impõem em estreita identidade com o povo angolano, com
todos os povos de África e com o povo cubano, tendo em conta a raiz do
subdesenvolvimento: as trevas da escravatura, do colonialismo,
do“apartheid” e de suas respectivas sequelas.
A
capacidade de resistência nesses termos inibirá alguns factores mais nocivos
provocados pelo impacto da globalização segundo a perspectiva da hegemonia
unipolar.
Realizar
obras e actividades que se inscrevam na luta contra o subdesenvolvimento é
integrar esse rumo, pelo que desse modo garantir-se-á, que a carga de alienação
de que muitos sectores ideológicos fazem uso, esteja subordinada a uma
mobilização com objectivos que nenhuma delas, pela sua própria natureza, poderá
pôr em causa, sob os pontos de vista ético ou moral.
O
rumo de Angola numa via de paz, de aprofundamento da democracia abrindo espaços
à participação e de luta contra o subdesenvolvimento, é por si um imenso
desafio de ordem ética e moral, que dá sequência justa à nossa história e
garante a continuidade da lógica com sentido de vida.
Na
harmonia que se pretende equacionar, há projectos que são suportados pela
hegemonia unipolar que provavelmente não se poderão evitar em África, quase
todos eles indexados por exemplo ao foral da USAID, a
componente “civil” do AFRICOM-NATO.
Esses
projectos devem ser todavia analisados tendo em conta o seu peso em termos de
capitalismo neo liberal, ou de correntes que abrem caminho a ele, entre elas as
doutrinas que foram fermentadas na Universidade de Chicago e universidades
afins, fundada por um clã que é um dos expoentes máximos da aristocracia
financeira mundial, o clã Rockefeller.
As
doutrinas protagonizadas por Milton Friedmn, como as protagonizadas por Leo
Strauss devem ser estudadas e colocadas presentes nas análises que estão ao serviço
das políticas de harmonia, tendo em conta ainda doutrinas que as reforçam, como
as protagonizadas por George Soros via Open Society, ou Gene Sharp via Albert
Einstein Institution, ou Rafael Marques de Morais, um dos assalariados locais
ao serviço do National Endowment for Democracy…
Os
que preconizam o caos conforme à escola de Leo Strauss, polvilharam o Pentágono
durante a administração republicana de George Bush pelo que Theresa Whelan é
uma sua emanação, subordinada a seguidores como Paul Wolfowitz, ou Richard
Perle, algo que está bem presente na matriz do “laboratório AFRICOM”.
Alguns “programas
correntes”, no âmbito da administração democrata de Barack Hussein Obama
reflectem ainda a essa matriz e desajustam-se face às aspirações da harmonia, tal
como acontece em relação a muitas análises que no “ocidente” se tem
feito sobre Angola!...
Os
analistas correntes tendem a confundir seus próprios conhecimentos, desejos e
aspirações, com a história e a antropologia de Angola e a imagem dum general norte-americano
a dividir Angola entre num espaço a ocidente e um espaço “lunda
tchokwe” a leste é disso claro exemplo mistificador!...
…Nem
todos os desejos e aspirações do cartel dos diamantes, é preciso lembrá-lo, em
Angola se tornaram exequíveis!
Fotos:
1
– Cena da série televisiva norte americana que divide Angola entre ocidente e
oriente;
2
– Mapa local segundo o Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe;
3
– Mapa da África Austral segundo o Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe.
A
consultar:
-
Angola awaits its Arab Spring – http://foreignpolicy.com/2015/09/03/angola-awaits-its-arab-spring/
- A
Pilhagem de África – e de Angola – contada por um jornalista do Financial Times
– http://observador.pt/especiais/a-pilhagem-de-africa-com-angola-em-destaque/
-
Ana Gomes ligada ao caso da espiã em Angola – https://ditosdobau.wordpress.com/2014/07/15/ana-gomes-ligada-ao-caso-de-expulsao-de-activista-em-angola/
-
Angola em risco – http://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=20267:angola-em-risco-joao-rendeiro&catid=17:opiniao&Itemid=124
-
Defensores do regime – http://www.redeangola.info/opiniao/defensores-do-regime/#.VbwGiM3Z33k.facebook
-
DGS confirma a ligação da UNITA ao colono português – https://ditosdobau.wordpress.com/2014/06/09/pide-dgs-confirma-ligacao-da-unita-ao-colono-portugues/
-
Angola / NED – http://www.ned.org/where-we-work/africa/angola
-
Gene Sharp – https://pt.wikipedia.org/wiki/Gene_Sharp
-
Gene Sharp e a estratégia do “golpe suave” – http://www.redeangola.info/opiniao/gene-sharp-e-a-estrategia-do-golpe-suave/
- Conozca
el manual de Golpe Suave de Gene Sharp (+Video) – http://www.correodelorinoco.gob.ve/politica/conozca-manual-golpe-suave-gene-sharp-video/
- Sharp
y la Fundación Einstein sobre el Golpe Blando y el Golpe Suave... cualquier
parecido con la realidad es pura coincidencia! – https://www.facebook.com/notes/ariel-basteiro/sharp-y-la-fundaci%C3%B3n-einstein-sobre-el-golpe-blando-y-el-golpe-suave-cualquier-p/529190150460216
-
Introdução à teoria do caos – http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/nos_tempos_que_correm/introducao_a_teoria_do_caos
-
Leo Strauss – https://en.wikipedia.org/wiki/Leo_Strauss
-
Estados Unidos declaram guerra a Angola Ocidental – http://www.redeangola.info/eua-declaram-guerra-a-angola-ocidental/
-
Paul Wolfowitz – https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Wolfowitz
-
Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe – http://protectoradodalunda.blogspot.com/
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