segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O LABORATÓRIO AFRICOM – VI




Inventariada a situação, a partir de causas que vêm de longe e de causas recentes, não havendo dúvidas em relação ao trabalho “laboratorial” que deu substância e justificação à existência do AFRICOM em estreita conexão com a NATO e em função da perspectiva da hegemonia unipolar, como Angola deve encarar estas ameaças e riscos num momento em que é possível estabelecerem-se pontes entre factores de desestabilização interna e os factores externos, tendo em conta a laicidade do estado angolano, a evolução da situação económica e financeira global e local, a liberdade religiosa e o respeito pela lei e os direitos fundamentais?

O estado angolano não pode esquecer-se do que tem vindo a acontecer a estados laicos como o Iraque e a Síria no Médio Oriente, que ao invés de serem aproveitados no sentido da implementação da democracia representativa, são desmantelados deliberadamente, tal como a Líbia, a fim de instalar o caos jihadista em expansão, ao ponto de projectar a “guerra de civilizações”, não só a partir das “primaveras árabes”, mas sobretudo com intervenções directas dos países da NATO e de seus aliados monárquicos, do Marrocos às monarquias arábicas…

Sem dúvida que as políticas internas e externas de paz, por parte de Angola, são fundamentais, na perspectiva dos interesses de África e dos interesses geo estratégicos, mas estão perante desafios que se expandem no continente, multiplicando o caos endémico dos conflitos étnico-tribais.

Redesenhar o mapa de África é uma preocupação latente no “laboratório AFRICOM”, tendo em conta o que em tempo oportuno foi dito por Theresa Whelan, em relação às fronteiras africanas (“áreas sem governação”), explorando contenciosos que ocorreram durante a Guerra Fria, entre eles o último contencioso oportunista de Savimbi, que mudava de pontos cardeais opondo por fim“o interior” ao “litoral”, o angolano “autêntico” ao “crioulo” (em “Combats pour l’Afrique et la démocratie”), tudo isso em função do conhecimento físico-geográfico-ambiental que lhe foi transmitido pela potência colonial…

No caso angolano, tendo acabado a tentativa de divisão pelo paralelo (Angola Norte e Angola Sul), algo que tirava partido dos interesses do “apartheid”, está a surgir uma nova tentativa já sem Savimbi, tirando partido duma entidade como o Protectorado Lunda Tchokwe, considerando um meridiano divisório entre uma Angola a Ocidente e uma a Leste, algo que muito provavelmente por causa dos interesses do cartel dos diamantes, até já motivou uma série televisiva, em jeito de prospecção psicológica que ocorreu “com toda a naturalidade” nos Estados Unidos…

Também nessa perspectiva o “laboratório” prospecta a partir da correlação entre os fenómenos de natureza físico-geográfico-ambiental e as culturas humanas, seguindo a pista das bacias hidrográficas de Angola, tanto como do conhecimento que foi adquirido em tempo colonial, neste caso o acervo belga inscrito no Museu Antropológico da Lunda, por incentivo então da Diamang (instrumentalizada como é lógico pelo cartel).

As políticas que cultivam a paz possibilitam um esforço importante de inteligência, de modo a que Angola possa acompanhar de perto e até por dentro, todas as correntes que visem desestabilização, ao mesmo tempo que pode fortalecer laços com outras correntes que efectivamente também se identifiquem com a construção da paz.

Nesse sentido há que reequacionar as respostas sócio-políticas em termos de suas abrangências, levando em conta o papel de algumas classes no âmbito da Luta de Libertação em África, entre elas o papel dos camponeses.

Em relação aos factores externos, há basicamente um imenso e contínuo trabalho de pesquisa de inteligência a fazer em África e fora dela, tendo em conta as organizações terroristas, seus apoios funcionais, logísticos e humanos, suas características humanas, étnicas e religiosas, seus métodos e seus propósitos, assim como uma atenção muito substancial aos vínculos financeiros que as animam, levando em consideração que elas sintomaticamente indiciam usar os factores migratórios em seu proveito, assim como as assimetrias existentes e conceitos que tendem a semear o caos.

É evidente que interessa também recolha de informação sobre o trabalho de “laboratório”, que gerou as situações favoráveis à presença dominante e decisiva das potências em África em socorro das forçadas “parcerias africanas” arrastadas para a vassalagem, por causa da fragilidade e vulnerabilidade dos estados face ao tipo de ameaças e riscos como o terrorismo islâmico sunita, protagonizado sobretudo a partir da injecção de caos na Líbia.

Creio que há quatro círculos a levar em consideração nessas pesquisas:

- O longínquo na Europa, Estados Unidos, mas sobretudo no conturbado Médio Oriente;

- O que se deve confinar ao Sahara-Sahel-Ogaden, onde actuam as ramificações terroristas internacionais como o “AQMI”, o “Boko Haram” e o “al Shabaad”;

- O que abrange o Golfo da Guiné e os Grandes Lagos;

- O que se desenvolve nos dois Congos e a partir de nossas fronteiras com os dois Congos para dentro do nosso território, tendo em conta a costa noroeste angolana, Cabinda, o leste do país, o rio Kwango e as cidades, com particular atenção à capital, Luanda.

Em relação aos factores internos, o inventário de tudo o que seja escalonado no sentido da desestabilização do rumo de Angola, independente, soberana, garante de paz e de aprofundamento da democracia, é indispensável, tendo em conta uma abertura que se configura nos processos de políticas de harmonia, aquelas que se afiguram possíveis num continente tão fragilizado e vulnerável.

A situação arrasta-se para um cenário que foi criado “de raiz” pela administração de George W. Bush, a que se deu sequência com Barack Hussein Obama: provocar uma tensão constante entre islâmicos e cristãos, também no continente africano, como se fosse um ingrediente fulcral numa“guerra de civilizações”, agregando a essa tensão, outros factores de desestabilização ou de caos (foi precisamente nesse ambiente que se tomou a iniciativa, via Pentágono, para a gestação do“laboratório AFRICOM”).

Isso faz parte do quadro de “guerra psicológica” que os Estados Unidos nunca abandonaram depois da IIª Guerra Mundial, nem com o fim da “Guerra Fria”, algo que começa a ter poderosas clivagens por dentro de múltiplas correntes republicanas e democratas no próprio ambiente sócio-político dos Estados Unidos da América, com reflexos nas suas políticas externas.

É extraordinariamente difícil a Angola gerir um contencioso como esse, até por que os shihitas estão também presentes no seu espaço nacional em muito menor número, mas beneficiando do“espaço cristão” que para eles é um espaço de manobra, pelo que o apego à Constituição e ao corpo de leis que garantem independência e soberania deve merecer uma cultura reflexiva constante por parte do empenho angolano.

O rigor na gestão do estado angolano sem que os consensos de paz sejam beliscados, torna-se indispensável, de modo a que as coordenações que se vão ter de desenvolver entre os vários organismos e instituições não tenham pontos fracos e as acções mobilizem capacidades de luta contra o subdesenvolvimento, seguindo critérios de desenvolvimento sustentável, amigo do ambiente e tudo sem perder a capacidade de criar consensos e harmonizar.

Esse rigor não se pode circunscrever a uma elite sócio-política, mas terá de ser tão abrangente quanto o possível.

Essa integração por via da realização de obras e actividades, visa impedir o grau de alienação elevado que muitos sectores ideológicos cultivam, a alienação que é contraproducente em relação às políticas construtoras de paz que o estado angolano tem enunciado.

Na perspectiva do Movimento de Libertação em África, do MPLA e do estado angolano, torna-se necessário, na busca de diálogo e consensos, não perder de vista os imensos resgates que se impõem em estreita identidade com o povo angolano, com todos os povos de África e com o povo cubano, tendo em conta a raiz do subdesenvolvimento: as trevas da escravatura, do colonialismo, do“apartheid” e de suas respectivas sequelas.

A capacidade de resistência nesses termos inibirá alguns factores mais nocivos provocados pelo impacto da globalização segundo a perspectiva da hegemonia unipolar.

Realizar obras e actividades que se inscrevam na luta contra o subdesenvolvimento é integrar esse rumo, pelo que desse modo garantir-se-á, que a carga de alienação de que muitos sectores ideológicos fazem uso, esteja subordinada a uma mobilização com objectivos que nenhuma delas, pela sua própria natureza, poderá pôr em causa, sob os pontos de vista ético ou moral.

O rumo de Angola numa via de paz, de aprofundamento da democracia abrindo espaços à participação e de luta contra o subdesenvolvimento, é por si um imenso desafio de ordem ética e moral, que dá sequência justa à nossa história e garante a continuidade da lógica com sentido de vida.

Na harmonia que se pretende equacionar, há projectos que são suportados pela hegemonia unipolar que provavelmente não se poderão evitar em África, quase todos eles indexados por exemplo ao foral da USAID, a componente “civil” do AFRICOM-NATO.

Esses projectos devem ser todavia analisados tendo em conta o seu peso em termos de capitalismo neo liberal, ou de correntes que abrem caminho a ele, entre elas as doutrinas que foram fermentadas na Universidade de Chicago e universidades afins, fundada por um clã que é um dos expoentes máximos da aristocracia financeira mundial, o clã Rockefeller.

As doutrinas protagonizadas por Milton Friedmn, como as protagonizadas por Leo Strauss devem ser estudadas e colocadas presentes nas análises que estão ao serviço das políticas de harmonia, tendo em conta ainda doutrinas que as reforçam, como as protagonizadas por George Soros via Open Society, ou Gene Sharp via Albert Einstein Institution, ou Rafael Marques de Morais, um dos assalariados locais ao serviço do National Endowment for Democracy…

Os que preconizam o caos conforme à escola de Leo Strauss, polvilharam o Pentágono durante a administração republicana de George Bush pelo que Theresa Whelan é uma sua emanação, subordinada a seguidores como Paul Wolfowitz, ou Richard Perle, algo que está bem presente na matriz do “laboratório AFRICOM”.

Alguns “programas correntes”, no âmbito da administração democrata de Barack Hussein Obama reflectem ainda a essa matriz e desajustam-se face às aspirações da harmonia, tal como acontece em relação a muitas análises que no “ocidente” se tem feito sobre Angola!...

Os analistas correntes tendem a confundir seus próprios conhecimentos, desejos e aspirações, com a história e a antropologia de Angola e a imagem dum general norte-americano a dividir Angola entre num espaço a ocidente e um espaço “lunda tchokwe” a leste é disso claro exemplo mistificador!...

…Nem todos os desejos e aspirações do cartel dos diamantes, é preciso lembrá-lo, em Angola se tornaram exequíveis!
  
Fotos:
1 – Cena da série televisiva norte americana que divide Angola entre ocidente e oriente;
2 – Mapa local segundo o Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe;
3 – Mapa da África Austral segundo o Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe.

A consultar:
- A Pilhagem de África – e de Angola – contada por um jornalista do Financial Times – http://observador.pt/especiais/a-pilhagem-de-africa-com-angola-em-destaque/
- Gene Sharp e a estratégia do “golpe suave” – http://www.redeangola.info/opiniao/gene-sharp-e-a-estrategia-do-golpe-suave/
- Conozca el manual de Golpe Suave de Gene Sharp (+Video) – http://www.correodelorinoco.gob.ve/politica/conozca-manual-golpe-suave-gene-sharp-video/ 
- Sharp y la Fundación Einstein sobre el Golpe Blando y el Golpe Suave... cualquier parecido con la realidad es pura coincidencia! – https://www.facebook.com/notes/ariel-basteiro/sharp-y-la-fundaci%C3%B3n-einstein-sobre-el-golpe-blando-y-el-golpe-suave-cualquier-p/529190150460216
- Estados Unidos declaram guerra a Angola Ocidental – http://www.redeangola.info/eua-declaram-guerra-a-angola-ocidental/ 
- Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe – http://protectoradodalunda.blogspot.com/

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