O
debate desta manhã entre Costa e Passos foi morno, tirando algumas fases em que Passos se mostrou
incomodado com o seu adversário naquilo que argumentava. Nos momentos de
irritação de Passos Coelho só lhe faltava deitar fumo pela cabeça. As características
de alguém que não gosta de ser contrariado apesar de não ter razão e de
sabermos ser mentiroso tende a revelar irritabilidade que roça a arrogância capaz de desembocar no despotismo. Esse
é o primeiro-ministro de Portugal que já suportamos há cerca de quatro anos.
Este
Passos é o mesmo que com arrogância nos mandou emigrar e chamou piegas aos
portugueses, para além do que há mais desse cardápio de absolutismo do servidor
da banca, dos banqueiros e do grande empresariado. Do servidor de Merkel e dos
que na UE e nos EUA traçaram por destino global soltar o capitalismo selvagem a
troco de uns quantos ossos que vão roendo e mais roerão em seu próprio benefício. O
quadro é esse e nele não podemos deixar de pintar Cavaco Silva, um presidente
de meia-dúzia em detrimento de milhões de portugueses.
António
Costa, no debate, não esteve tão bem como no anterior, na semana passada na
televisão. Engasgado está com a segurança social. Não explica a contento o que
os portugueses querem saber. Isso não invalidou que tivesse rasgos de desmentir
o aldrabão Passos Coelho que foram relevantes sobre os propósitos e modo de
estar do atual PM. Tais momentos demonstraram que Passos vai ser o mesmo de
sempre se acaso for reeleito: um trapaceiro ao serviço de outros que não os
portugueses espoliados ao longo destes seus quatro anos de governação. Não é
que Costa seja o melhor mas de certeza que será o mal menor. Parece que até
agora os comentadores são pelo empolar das melhorias de Passos no debate. Sim.
Mas Costa é mais autêntico, manteve a postura e mais uma vez teve oportunidade de fazer com que
Passos demonstrasse que venceria um concurso de manipulação e mentiras que o
remetem para uma doença: mentiroso compulsivo. Se o escolherem para continuar a
desgovernar Portugal, a vender-nos, então podemos concluir que temos números alarmantes
de portugueses masoquistas. Isso é grave. O melhor será mesmo que os ainda mentalmente saudáveis emigrem, fujam deste país. O que não tem remédio, remediado está.
A
seguir, Rita Tavares, do jornal i, faz o seu balanço. Confira.
Redação
PG
PASSOS
DESISTE DE SÓCRATES. COSTA HESITA NAS PRESTAÇÕES SOCIAIS
Os
dois líderes tiveram esta manhã o último frente-a-frente antes das eleições de
4 de Outubro. Segurança Social voltou a ser assunto dominante, mas não só.
O
segundo frente-a-frente foi mais tenso. Pedro Passos Coelho e António Costa
terminaram o debate transmitido esta quinta-feira de manhã pelas três rádios de
informação em despique, com o líder da coligação PSD/CDS a provocar com o ponto
em que o líder socialista vacilou: “Pode ser que para a próxima consiga
explicar que prestações ficam sujeitas a condição de recursos”. Costa não o
tinha conseguido explicar durante o confronto e respondeu apenas dizendo: “Pode
ser que o Dr. Passos Coelho traga uma ideiazinha para o futuro”.
Desta
vez, Passos Coelho não tocou no nome de José Sócrates por uma única vez,
abandonando a estratégia única que levou para o primeiro debate com Costa, na
semana passada nas três televisões, e passou ao ataque num flanco exposto pelo
socialista que não conseguiu responder nem aos jornalistas nem ao adversário
político sobre uma questão concreta: que prestações sociais não contributivas
passarão a ter condição de recursos (requisitos para um agregado familiar ter
acesso a uma determinada prestação) e como é que isso permite poupar mil
milhões de euros na Segurança Social?
A
poupança está prevista nas propostas eleitorais do PS, mas António Costa atira
para a frente a sua concretização. “Será negociada no momento próprio em
concertação social”, afirmou durante o debate. À saída do Museu da
Electricidade (onde decorreu o confronto), o líder socialista desvalorizou e
explicou que a poupança que o PS prevê com os limites à atribuição de
prestações não contributivas é de 250 milhões anuais, “uma poupança
relativamente diminuta no orçamento total que é de 5,7 mil milhões”.
“Trata-se
de dar mais a quem mais precisa mais e menos a quem menos precisa. A verba deve
ser discutida em concertação social, por isso não especificamos as medidas”.
No
debate, Passos Coelho tinha atirado: “Mil milhões de euros [o somatório de
quatro anos da poupança anual prevista pelo PS] é mesmo muito dinheiro e o
senhor tem de explicar”. E acabou por explorar a não-resposta de Costa até ao
último minuto. Pelo meio – e ainda em matéria de Segurança Social -, Passos
garantiu que “quer ganhe quer perca as eleições” estará “disponível para uma
grande reforma” do sistema de pensões, desafiando Costa a dizer o mesmo. Mas aí
a resposta do líder socialista saiu pronta: “A vossa proposta de cortar 600
milhões de euros aos pensionistas não terá o nosso apoio”.
Este
é um argumento em que Costa insiste, citando o Programa de Estabilidade
entregue pelo governo em Abril em Bruxelas, e que Passos voltou esta
quinta-feira a desmentir.
Elogio
a Costa e aeroporto
Ainda
assim, neste capítulo houve ainda espaço para um elogio de Passos a uma medida
do PS sobre a diversificação das fontes de financiamento da Segurança Social.
“É verdade que as empresas não contribuem para a Segurança Social conforme o
número de postos de trabalho", disse o primeiro-ministro sobre a medida
socialista que visa penalizar quem menos contrata.
“È
uma boa medida, mas é muito pouco comparado com a enorme aventura que o PS
propõe na Segurança Social”.
O
outro ponto de maior atrito entre os dois candidatos a primeiro-ministro foi
sobre a venda dos terrenos do aeroporto de Lisboa. O tema já tinha surgido no
debate televisivo, mas Passos voltou a atacar por aqui depois de Costa ter
anotado que o governo “aumentou a dívida em 30 mil milhões de euros em quatro
anos. Não lhe fica bem apresentar-se como um gestor exemplar de dívida”.
A
resposta de Passos vinha assim: “Consegui até assumir parte da dívida de Lisboa
quando comprei os terrenos do aeroporto no valor de 277 milhões de euros”. “A
sua retórica sobre a gestão da dívida em Lisboa é vazia. Não fosse o governo a
assumir essa dívida e não tinha conseguido reduzir a dívida ao nível de Sintra
ou Loures”.
“É
preciso muita lata”, atirava Costa que defendia: “Se alguém fez algum favor a
alguém foi a CML ao Estado que vendeu terrenos que não eram seus para que
a empresa [ANA] pudesse ser privatizada”. Mas Passos continuaria: “O contrato
entre o governo e a CML permitiu que fosse o governo a assumir a
responsabilidade da dívida de Lisboa no valor de 277 milhões de euros. Assumiu
essa dívida para a dívida pública sabendo que, assim, o governo conseguiria
privatizar uma empresa criticada pelo PS”.
Costa
não acredita em metas
A
picardia foi crescendo ao longo de debate. Passos chegou a rir-se enquanto
Costa falava sobre o controlo do défice em 2007 pelo governo PS. “Também lhe
devem ter dito para rir”, provocava Costa. “Eu penso pela minha cabeça, não
faça insinuações que o senhor não precisa disso para fazer um bom debate”,
respondia Passos.
Pelo
meio ficava a desconfiança expressa por Costa sobre a capacidade do governo
cumprir o valor do défice para este ano. A meta assumida é 2,7%. “A sua meta
não é acompanhada por ninguém. Quem nos dera a todos que pudesse ficar nos 2,7.
Não fico satisfeito que deslize, porque era bom para o país que pudéssemos
chegar mais cedo a um défice abaixo dos 3%”. Isto já depois de Passos ter
garantido que o país vai “ter um défice abaixo dos 3% este ano”.
O
passado
O
debate começou por um tema que não esteve no primeiro confronto: a Europa. Aqui
os dois adversários facilmente resvalaram para o passado. Entenda-se: o pedido
de resgate (embora não tenha havido continuação do debate dos últimos dias
sobre quem chamou a troika) e a carga de austeridade aplicada. Para Passos, a
austeridade “teria sido evitada se o PS não tivesse conduzido o país à quase bancarrota”.
Para
Costa, “pior do que a troika, o problema é mesmo este governo”. “Quis ir além
da troika, obrigou a sacrifícios que não seriam necessários na lógica europeia,
mas que resultaram do pensamento político de Pedro Passos Coelho”, acusou o
líder do PS.
A
proximidade só se verificou mesmo quanto a uma intervenção militar para fazer
face à crise dos refugiados: ninguém a descarta, mas também ninguém a coloca
como prioritária. “Não devemos excluir liminarmente qualquer tipo de
participação”, disse Costa defendendo que a primeira acção seja de “ajuda aos
refugiados”. Já Passos sublinhou: “Não creio que esta situação tenha uma
solução militar, acredito que isso até possa agravar alguns problemas”.
Rita
Tavares – jornal i
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