segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Portugal. A TRETA DO VOTO ÚTIL



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

Há duas evidências nas sondagens (que valem o que valem mas dão tendências, principalmente quando estas se repetem sucessivamente): não haverá maiorias absolutas (nem da Direita nem do PS) e haverá uma maioria dos partidos comummente classificados de esquerda: CDU, BE e PS.

A Direita, que surge concentrada na PàF, terá um resultado previsivelmente inferior aos 40%, o que os afastaria da governação (mesmo que fossem a coligação mais votada, o seu Governo careceria da aprovação da Assembleia da República - o que mostra que estas eleições elegem deputados e não primeiros-ministros...). Para já não falar no facto de, pós-eleições, não haver um grupo parlamentar da PàF, mas sim dois grupos parlamentares distintos - do PSD e do CDS -, o que fará com que o partido com maior número de deputados passe a ser (também previsivelmente) o PS.

Esta constatação (de que a Direita será minoritária) deita por terra a tese, que o PS tem procurado cavalgar, do "voto útil" neste partido para afastar a Direita da governação. Porque a Direita, sem maioria absoluta, só será Governo se o PS assim o viabilizar (já que, evidentemente, a CDU e o BE nunca o farão). Sendo assim, os eleitores que genuinamente querem políticas de Esquerda não têm que se sentir constrangidos por aritméticas eleitorais, podendo votar naqueles que, efetivamente, consideram que defenderão políticas de esquerda. Até porque se há algo que a experiência de tantas eleições nos diz, é que o PS pede o voto útil à Esquerda para depois fazer políticas (e mesmo coligações) com a Direita...

Recordo, em particular, as legislativas de 1983. Que se seguiram a um período longo de governação da Direita (na altura a Aliança Democrática) e onde era previsível que saísse uma "maioria de Esquerda". Numa conversa com um simpatizante socialista, este dizia-me que o PS iria fazer uma coligação com o PCP, já que "estávamos fartos da Direita". Disse-lhe que não acreditava.

Infelizmente tive razão. O PS ganhou as eleições sem maioria absoluta e a Direita ficou em clara minoria. Mas, havendo uma "maioria de Esquerda", o PS, que tinha reclamado o "voto útil" dos eleitores de Esquerda, aproveitou os mesmos para formar o tristemente célebre Governo do Bloco Central...

Bem sei que a história não se repete, mas...

*Engenheiro

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