Rui Peralta, Luanda
O
burocratismo é inimigo da liberdade individual e da opinião pública, além de
impedir a distribuição e produção de riqueza. Se observarmos as relações de
trabalho nas estruturas burocráticas concluiremos que estas vão desde as
estruturas altamente hierarquizadas (como o exemplo histórico do Estado
Prussiano), até às ineficazes e caóticas estruturas burocráticas das economias
periféricas.
A
mentalidade burocrática molda o caracter e gera uma completa “pobreza de
espirito”. Caracteriza-se pela ineficiência generalizada, a falta de respeito
para com o utente/cliente, pela corrupção, caça á promoção, bajulação,
subserviência rastejante, anulação da personalidade e da individualidade, além
de alimentar o processo de filistização pequeno-burguesa da sociedade. A apatia
generaliza-se e torna irreversível o processo de destruturação das nações.
O
espirito burocrático, em condições extremas (embora correntes nas economias
periféricas) ultrapassa o organismo estatal e implanta-se no sector privado.
Surgem então fenómenos como a anulação dos direitos dos consumidores (anulação
efectuada por processos que colocam os consumidores no ultimo grau da escala),
os clientes vêem-se transformados em utentes e estes em lixo, um camada de
mal-agradecidos que não reconhecem a produção nacional e que contestam o preço
que pagam pelo “produto nacional”, mesmo que este de nacional apenas tenha a
moeda em que é trocado.
Os
exemplos mais gritantes destas situações de filistização geral da sociedade observam-se
quando entramos numa loja e ficamos a aguardar que nos atendam, ou quando na
mesma loja adquirimos a mercadoria no rés-do-chão, pagamos no 2º piso e
recebemos a mesma no 1º piso, tendo ainda de mostrar faturas e mercadoria na
porta ao sair. Ou quando vamos ao banco e somos submetidos a uma dose de
assinaturas e de comparações de assinaturas, de documentos de identificação,
antes de podermos mexer no nosso dinheiro, mas que é tratado como se fosse
coisa dos senhores que estão no outro lado do balcão, mais próximos das
residências dos deuses. Ou quando para comprar um telemóvel temos de mostrar a
certidão de nascimento ou um documento a comprovar que não temos cadastro, ou
que estamos legais.
É
um mundo surreal, onde a anormalidade torna-se norma. É um mercado grotesco,
onde o lojista não quer ganhar dinheiro a vender mas a ver Bilhetes de
Identidade, como se fosse um policia, ou um dono do Hotel não tem o Hotel para
nós dormirmos, pagando, mas sim quer é o Bilhete de Identidade ou o passaporte
e só depois é que recebe o dinheiro. É a aberração total da Segurança em nome
da Estabilidade. É a Paz dos cemitérios, representada por zombies disfarçados
de empresários.
Como
é lógico tudo isto tem um preço: a pobreza, o subdesenvolvimento e o
parasitismo social. Depois tudo implode gerando um enorme caos económico:
hiperinflação, crise financeira, desemprego, empresas fechadas, salários em
atraso, dívidas eternas, créditos malparados, Bancos transformados em
sorvedouros e os cofres, os olhos, os estômagos, os cérebros…vazios!
Leituras
aconselhadas
Bobbio,
N. Teoria Generale della Politica Ed. Einaudi, Torino, 1999
Rizzi,
B. A Burocratização do Mundo Ed. Antígona, Lisboa, 1983
Peters,
T. and Waterman, R. In Search of Excellence Ed. Harper & Row, NY,
1982
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