quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

CAVACO SILVA. BOM NATAL? O PRESIDENTE HORRIBILIS É UM DESCARADO!




Carlos Tadeu, Setúbal

A rejeição da presença de Cavaco Silva na mais alta magistratura de Portugal já tomou foros de doença. A Presidência da República merece muito melhor depois de ter sido invadida por Cavaco em dois mandatos ditados pelos resultados eleitorais. É facto que ele foi eleito democraticamente mas nem por isso deixa de ser representante de uma minoria se considerarmos que a maioria dos portugueses não votou Cavaco Silva.

Têm sido dez anos de canseira para suportar este ocupante de Belém. A sua falta de senso no desempenho do cargo tem exasperado os portugueses. O homem transborda de hipocrisia, sinuosidades e obsessões pela seita donde provém e que representa com exclusividade. Não é o presidente de todos os portugueses mas somente de alguns.

Vem ele agora com toda a candura desejar aos portugueses um natal do melhor. Como? Se ele tem sido protagonista e cúmplice daqueles que nos têm infernizado a vida? Falamos das políticas. Das políticas que têm toda a influencia nas nossas vidas. Natal do melhor? É preciso ter um grande descaramento!

A notícia de mais esta gozação de Cavaco é da Agência Lusa. Está na página principal, onde constam os resumos. Nem dá para ler mais. Nem sequer para olhar para a fotografia. Cavaco já causa repulsa a muitos portugueses. A mim também.

Revela a Lusa no seu resumo (pode ler no Sapo):

Presidente da República deseja Natal feito de serenidade e esperança

O Presidente da República desejou aos portugueses um Natal "feito de serenidade e de esperança, de paz e alegria", sublinhando que, num tempo de "incertezas e sobressalto", esta quadra deve ser um "tempo de pausa e reflexão".”

Nem dá para ler mais. Refere ele “serenidade e esperança, paz e alegria”. A serenidade foi ele que contribuiu para nos tirar com as suas cumplicidades com o governo Passos-Portas que também era dele. A esperança só voltou quando o atual governo (que Cavaco tudo fez para não empossar) entrou em funções. A paz, também referida por Cavaco, só aparentemente existe por os portugueses serem de brandos costumes. Apesar de em cada um deles, na vasta maioria esbulhada até à exaustão, a revolta ser permanente. E com grande descaramento fala Cavaco em alegria. Alegria? Alegria, como? Alegria da fome que alastrou? Alegria pela miséria causada aos portugueses na ordem de quase três milhões? Alegria por se concluir (ainda ontem) que existe cerca de meio milhão de portugueses desempregados, velhos, carenciados que não têm apoios sociais para subsistirem? Alegria pelo incumprimento dos Direitos Humanos de que Portugal é signatário. Incumprimento apoiado por Cavaco através do governo da sua seita que sempre apoiou e protegeu? Alegria? Alegria será em Março que se aproxima quando Cavaco acabar a sua permanência na residência oficial da Presidência para dar lugar a quem desinfeste o local das maleitas para ali levadas por Cavaco e sua trupe.

Outra frase destacada no enxergo de Cavaco “pausa e reflexão”. Não se pode fazer pausa nenhuma. Portugal tem de avançar e reconquistar o que lhe foi retirado pelas políticas radicalistas da direita chefiada por Cavaco. Reflexão. Sim senhor Cavaco. Reflitamos sobre como não eleger mais Cavacos, nem mais revanchistas, nem mais saudosos do salazarismo, nem mais antagonistas dos direitos constitucionais dos portugueses, nem mais... Vá-se.

Bom natal? Aquele presidente horribilis é um descarado!

Portugal. STRESS QUÊ?



Cristina Azevedo – Jornal de Notícias, opinião

Aviso já que isto é uma espécie de desabafo. Estudado a pente fino de certeza que há ques e ses, diferenças e engulhos, coisas e loisas para explicar que este caso do Banif nada tem a ver com o que se passou até aqui na Banca portuguesa e que nada se poderia ter feito para evitar o problema.

E o problema, visto de longe parece ser o de sempre. Em 2012, o banco teve uma fortíssima injeção de capital. Do Estado, ou seja nosso, ainda que não nos tenham pedido autorização. Por outubro deste ano, verificou-se que não devolveu a última tranche, parece que 225 milhões de euros e, entretanto, vem a lume que o banco tem uma fortíssima exposição ao mercado imobiliário já que possui cerca de um milhão e quinhentos mil euros em imóveis.

Por último, neste traço a grosso, ainda ouvimos dizer que o Banco de Portugal já tinha avisado o Ministério das Finanças e que este não acelerou o processo de venda porque tinha em mãos o paciente anterior (Novo Banco).

Repito. Isto parece uma brincadeira de crianças. Mas de muito mau gosto.

Desde a crise de 2008 que vemos os bancos portugueses caírem como baralhos de cartas. Alguns racham ao meio em bons e maus, todos devem dinheiro ao Estado e quase todos estão à venda. Salvam-se alguns estrangeiros e a Caixa Geral de Depósitos porque Salazar a fez demasiado rica para falir.

E, no entanto, a Europa da supervisão e a supervisão deste cantinho desdobram-se em obrigações provisionais e previsionais, e em stress tests pelos quais os bancos vão passando.

Passam num primeiro momento, para depois se perceber que o certificado é como aqueles que alguns conseguem em oficinas simpáticas que lá atestam que o carro passou a Inspeção Periódica Obrigatória ainda que o mesmo se desfaça em fumos e tresande a óleo queimado.

É uma autêntica vergonha nacional. Cada primeiro-ministro que aparece, desde 2008, tem sempre a grata tarefa de garantir o dinheiro dos depositantes e a neutralidade dos contribuintes a propósito de um qualquer banco, para depois assobiar para o lado quando o desfalque a ambos é consumado.

E António Costa veio já dizer que depositantes ainda vá, contribuintes é que já não tem a certeza. Já ouvimos isto antes e não consta que os depositantes/investidores tenham tido sorte. Os contribuintes, esses nunca têm.

Salva-nos o do Natal e a esperança bem portuguesa que esta seja a última vez ou que, ainda melhor, até ao Ano Novo tudo se resolva. Sem stress!

*Analista financeira

Portugal. Maria Luís sobre o Banif: “NÃO ACHO QUE FAÇA SENTIDO FALAR DISSO”



Maria Luís Albuquerque, que foi ao Funchal para uma conferência, recusou-se a “acrescentar ruído”” ao caso Banif

A ex-ministra das Finanças espera “que tudo corra pelo melhor” no Banif, mas não quer “acrescentar ruído” e entende que, de momento, não faz sentido falar do caso. Maria Luís Albuquerque fugiu de todas as perguntas para não tirar brilho à conferência na Madeira, a região onde, nos últimos dias, se assistiu a uma corrida aos levamentos nos balcões do banco.

As longas filas à porta das agências do Banif, um banco que nasceu na Madeira, começaram logo na segunda-feira de manhã e na sequência das notícias que davam como certo o encerramento banco. Os depositantes correram a levantar o dinheiro das contas e encheram as dependências por toda a ilha. No Funchal, o balcão da sede, mesmo na baixa da capital, esteve cheio muito para além da hora de fecho. Na terça-feira, a fila à hora de abertura era grande, havia gente à espera desde às sete e meia da manhã. A corrida só acalmou esta quarta-feira.

Ainda assim, a ex-ministra, que teve a gestão do caso Banif durante os últimos anos, preferiu centrar o assunto na conferência.“Não acho que faça sentido falar disso neste momento, nem acrescentar ruído ao que já existe neste momento. Vamos esperar que tudo corra pelo melhor”. Maria Luís Albuquerque preferiu falar da mensagem aos empresários, o assunto que a trouxe pela primeira vez à Madeira. A antiga ministra foi a oradora convidada do evento “As 500 Maiores Empresas da Madeira” e quis colocar o foco nas palavras aos empresários.

Confiança no que foi conseguido, cautela pelo que pode ainda vir e um olhar sobre os desafios do país, Maria Luís Albuquerque teceu ainda elogios à forma como a Madeira executou o programa de ajustamento económico e financeiro. A boa execução do programa, que termina a 31 de Dezembro, teve, segundo disse, “reflexos positivos” na economia regional, o que que se traduz em benefícios para o País.

Marta Caíres – Expresso – Foto: Luís Barra

OS FILMES DO EXPRESSO. BILDERBERG OBLIGE



Expresso Curto por Ricardo Marques. Curto? Não. Comprido. Ainda bem que há quem goste de escrever até chegar à mulher da fava-rica. A abertura é sobre filmes mas avance que há mais para ler. Cinema para os cinéfilos. Ficção à mistura com realidade. Até parece que estamos a assistir às ficções dos governos, dos parlamentos, dos gabinetes, dos corredores. Ficção? Mentiras e omissões do mundo real.

Vamos ter de mudar de poiso se o Expresso Curto continuar assim: Bilderberg oblige.

Se quiserem leiam. Cumprimos a tradição de apresentar o Expresso Curto mas devemos pensar seriamente em mudar de poiso. Repito. Por mim já era ontem.

Adiante, como diz o outro. Sem mais comentários. Bom dia.

Redação PG / CT

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Ricardo Marques – Expresso

A guerra e as estrelas

Eles chegam hoje.

Vêm de uma galáxia distante, de uma terra que nos é estranha, tão estranha como eles parecem ser. Falam línguas que não percebemos, usam roupas que jamais vestiríamos e acreditam em coisas que não compreendemos lá muito bem. É difícil acreditar nas histórias que contam. Há quem não lhes ligue nenhuma e quem lhes dedique a vida inteira. Há também os que têm medo deles. Alguns já os viram, a maioria vai ter esperar mais algumas horas. Sim, eles aterram hoje. Uns e outros.

Os primeiros são estrelas. Os outros apenas fogem da guerra.

Há semanas que só se fala deles e desse filme revelador do futuro. "Star Wars: O despertar da força", o capítulo mais recente de uma história de milhões de euros,, estreia hoje em mais de 150 salas portuguesas e há 40 mil pessoas com bilhete comprado à espera da hora certa. A crítica internacional parece rendida ao trabalho do realizador J.J. Abrams, o que não significa que o sétimo episódio da sagaseja uma enorme nave espacial imperial capaz de resistir a qualquer raio laser ou crítica.

Há semanas que se deixou de falar neles e as imagens do verão passado são hoje um filme antigo. Vinte e quatro refugiados vindos da Eritreia, do Sudão, do Iraque, da Síria e da Tunísia chegam hoje a Portugal. Fogem de conflitos que, nos últimos anos, mataram milhões de pessoas. São seis famílias que aterram em Lisboa com pouco a que chamar seu e, por certo, não haverá muita gente à sua espera - como se viu na Marinha Grande. Em Portugal, os recém-chegados vão ser acolhidos ainda em Lisboa, Cacém, Torres Vedras, Penafiel e Vinhais. Chegam 24 dos 4500 que deverão chegar. Um ínfima parte desse universo de pessoas que perderam tudo exceto a vontade de continuar vivas.

Ficam dois números:

Este sai da Visão: 20 mil milhões de euros foi o que rendeu o merchandising da Guerra das Estrelas desde o primeiro filme, em 1977.

Este chega da GQ: este ano, mais de um milhão de pessoaschegaram à Europa vindas de várias zonas do mundo atingidas pela guerra, naquela que é a maior e mais dramática movimentação de seres humanos desde a Segunda Guerra Mundial - e um negócio milionário para as redes de tráfico.

Milhões no céu, milhões na terra. Tão diferentes e tão iguais.

OUTRAS NOTÍCIAS

Não há volta a dar, o momento é mesmo de guerra e de estrelas.

Rui Fonte foi a estrela de Braga frente ao Sporting, naquele que já é considerado o melhor jogo da época e que opôs os dois finalistas da Taça de Portugal no ano passado. Houve prolongamento, golos, sete ao todo, cambalhotas e mortais no marcador, e os casos do costume também - que certamente vão dar muito que falar durante todo o dia. OSporting de Braga segue para os quartos de final da prova, tal como o Porto (que derrotou o Feirense por 1-0). Boavista e Académica defrontam-se às seis e meia da tarde - é o jogo que falta para estar completo este quadro de resultados.

Em Espanha, em plena contagem decrescente para as eleições de domingo, Mariano Rajoy foi a infeliz estrela do dia ao ser vítima de um "ato de guerra" durante uma ação de campanha em Pontevedra, na Galiza. Um rapaz de 17 anos deu um soco no primeiro-ministro espanhol e partiu-lhe os óculos. Foi detido logo a seguir. Um momento que vai marcar a reta final da campanha. Pode ler a história e ver o vídeo no jornal mais próximo do acontecimento, o Diário de Pontevedra, também nos nacionais El Mundo e El País, ou no digital El Confidencial. E pode ainda recordar o que Henrique Monteiro escreveu no Expresso há uns meses sobre a versão original e falada em português.

O primeiro debate quinzenal na Assembleia da República com António Costa no Governo e Pedro Passos Coelho e Paulo Portas na oposição terminou com votos de boas festas e sem vítimas. Ou quase. Passos Coelhosurpreendeu ao fazer uma intervenção à tarde, e guardou para o lanche de Natal do grupo parlamentar a versão mais recente de um provérbio antigo: amigos, amigos, oposição à parte. Some-se o aviso de Rui Rio e vai ficando mais claro que algo está mesmo a acontecer à Direita do país político.

É um António Costa tranquilo e com a força do seu lado que estará hoje e amanhã em Bruxelas. O primeiro-ministro português e os restantes líderes da União encontram-se para um Conselho Europeu, o último do ano, que deverá ficar marcado pela discussão sobre o Brexit. A campanha para o referendo que decidirá a permanência do Reino Unido na UE está em curso e todos os dias há alguém a fazer contas ao sim e ao não.

Por cá, também não falta quem anda de calculadora na mão. O Banif, já se percebeu, é um problema, embora ainda não se saiba bem que tipo de problema é. Na terça-feira de manhã, quando vinha para o jornal, ouvi no rádio o presidente do banco falar de "tranquilidade" e garantir que "os depositantes e os contribuintes podem estar descansados". À noite, quando voltei a casa, ouvi no mesmo rádio que António Costa estava reunido com partidos políticos, o ministro das Finanças e governador do Banco de Portugal para discutir a situação do Banif. É um problema, mas também uma guerra que está emcurso.

Dos Estados Unidos da América, conta o The New York Times, chegam boas notícias: o FED resolveu aumentar a taxa diretora de juros pela primeira vez nos últimos sete anos, um sinal de confiança na recuperação, lenta,da economia norte-americana. No Expresso tem uma análise detalhada.

Ainda nos EUA, houve novo debate para as presidenciais. Desta vez, a batalha foi no campo republicano e a discussão andou à volta de política externa e de terrorismo. E sim, Donald Trump foi mais uma vez a estrela.

Na Ucrânia falou-se de corrupção e a discussão acabou com um copo meio cheio de água a cair na cabeça de umpolítico. Mais um momento animado num parlamento com história: houve algo parecido há uns dias e no passado também (basta procurar aqui).

Prepare-se para o que os jornais vão escrever sobre as estrelas de Star Wars hoje e amanhã.

E isto é o que os 24 refugiados que fogem da guerra vão ficar a saber de Portugal pelos jornais de hoje:


O Público garante que o aumento máximo das pensões em 2016 será de 2,5 euros e anuncia uma guerra entre PS e comunistas e bloquistas por causa dos exames do 6.º e 9.º anos.

Os ecos da entrevista de José Sócrates na TVI estão noDN, com a resposta do PSD: um voto de confiança na PGR, Joana Marques Vidal.

O i anuncia o regresso da Troika a Portugal depois das presidencias, o JN revela que os doentes em lista de espera vão poder escolher hospital para as consultasde especialidade e, ainda no rescaldo da entrevista ao antigo-primeiro ministro, o Correio da Manhã contrataca a toda a largura da primeira página: "As cinco mentiras de Sócrates".

FRASES

"Que sirva para alguma coisa a geringonça. Não pode pedir aos camaradas da intersindical que acabem com o sindicalismo agressivo", Paulo Portas para António Costa

"O professor Adriano Moreira é um dos mais persistentes e profundos defensores do humanismo cristão em Portugal. A nossa corrente doutrinária não podia ficar melhor representada no Conselho de Estado”, nota do CDS, que indicou Adriano Moreira para o Conselho de Estado

"Que o CDS me procure é natural", Adriano Moreira

“Basta falar com as pessoas em Israel. Os muros funcionam",Donald Trump sobre a construção de um muro para impedir a entrada de imigrantes ilegais nos EUA

"A atual paralisação está a implicar gravíssimos prejuízos para o porto de Lisboa, temos vários cancelamentos de escala por atraso [existem atrasos de três e quatro dias] e é uma perturbação não só para o porto, mas para toda a economia de Lisboa e inclusive para as ilhas da Madeira e dos Açores",Marina Ferreira, presidente do conselho de administração do Porto de Lisboa, sobre os pré-avisos de greve dos estivadores

O QUE ANDO A LER

... e a ver e a experimentar...

Conhece aquela sensação estranha que temos quando acabamos de pesquisar algo no Google, uma peça de roupa ou um livro, e no instante seguinte aquela peça de roupa e o tal livro aparecem à venda num post no feed de notícias do Facebook? Esta semana aconteceu-me algo parecido. Avisaram-se na terça-feira que seria minha a honra de servir o Expresso Curto de hoje. Na véspera, ao almoço, tinha discutido com dois amigos parte de um artigo que estava a ler. Uma daquelas conversas que não levam a lado nenhum, mas que valem pela viagem. O assunto: o sentido da vida. O que é que andamos cá a fazer?

Nessa mesma tarde, descobri um "brinquedo" que a BBCcolocou online há pouco tempo. Chama-se Your Story e ainda está em fase de testes (eles próprios avisam que de vez em quando pode falhar). A ideia é genial: basta introduzir a data de nascimento (ou entrar através do Facebook e permitir que o software desenvolvido pela BBC aceda à sua informação pessoal) e em segundos tem no ecrã a história da sua vida contada através dos acontecimentos mais importantes e das notícias sobre eles disponíveis no arquivo da BBC. Um resumo do que já foi feito desde que cá chegámos.

A minha história começa antes de o presidente norte-americano Richard Nixon se demitir, na sequência do escândalo Watergate, passa pelo primeiro voo do Concorde (ainda era bebé), pela morte de John Lennon, a busca pelo monstro de Lock Ness, etc. Uma das datas sugeridas é 11 de maio de 1997 (pouco antes de eu fazer 23 anos, diz-me a BBC). Nesse dia, o supercomputador Deep Blue derrotou o mestre xadrezista e campeão do mundo Gary Kasparov.

Foi o primeiro triunfo da criatura sobre o condutor e foi também o meu momento estranho. O artigo discutido ao almoço, entre pizas e comida do Médio Oriente, chama-se"The Doomsday Invention", está na edição de 23 de novembro da "The New Yorker" (e pode ser lido aqui). Não vale a pena adiantar muito, só porque vale mesmo a pena ler. Fica um aperitivo: Nick Bostrom, filósofo sueco que dirige uma coisa chamada Instituto para o Futuro da Humanidade, em Oxford, escreveu um livro que saltou para a lista dos best-sellers do Times do não passado: "Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies".

O argumento principal do livro é que a verdadeira inteligência artificial, se se concretizar, poderá tornar-se mais perigosa do que todas as anteriores ameaças tecnológicas - armas nucleares incluídas. No limite, defende Bostrom, se a humanidade não gerir com todo o cuidado o desenvolvimento da inteligência artificial arrisca-se a criar e a assistir à sua própria extinção. "Não temos ideia de quando a detonação vai ocorrer, mas se encostarmos o aparelho ao ouvido já conseguimos ouvir um fraco tique-taque", argumenta. Ou seja, e de volta ao almoço, como se já não bastasse a guerra, o aquecimento global, os asteroides errantes, civilizações extraterrestres e a própria extinção do sol (tudo matéria discutida no artigo), agora vamos passar a ter medo do telemóvel, do tablet e do computador? O que é que andamos cá a fazer?

E, já agora, mais uma pergunta metafísica. "Onde diabo está Deus?" - livrinho pequeno, mas com um grande título.Richard Leonard, o autor, é um jesuíta australiano com um doutoramento em Estudos Cinematográficos. Ele próprio admite não querer perder tempo com planos abertos de natureza filosófica ou teológica e vai diretamente para o grande plano, o das pequenas coisas do dia-a-dia. No caso dele, a pequena coisa foi o grande acidente da irmã, Tracey, uma enfermeira com menos de 30 anos que, depois de trabalhar numa missão religiosa na Índia, regressara a Austrália para trabalhar com religiosas junto da comunidade aborígene, na zona de Perth.

Na véspera do aniversário de Richard, a sua irmã tinha ido substituir uma colega e sofreu um acidente de carro que a deixou quadriplégica. A família viu-se numa crise de fé. Como é que algo assim sucedeu a uma pessoa como ela? "Eu não preciso de pensar que Deus tem de ser a causa direta de tudo na minha vida para acreditar forte e vivamente num Deus pessoal", escreve Richard (edições Paulinas). Há mais 108 páginas de experiência na primeira pessoa, mas também de reflexão sobre o modo como as pessoas se relacionam com Deus no mundo moderno - o mundo dos filmes e dos refugiados.

Há trinta anos, quando o tudo parecia mais simples e o mais parecido que havia com a Internet era um vídeo e uma televisão a cores, os filmes de surf eram uma coisa estranha - barulhentos e com uma única preocupação: mostrar muitas ondas e raparigas com pouca roupa. Quem fazia surf ficava ali, agarrado, até a fita da cassete estar gasta. Quem não fazia - pais, tias, avós e namoradas incluídos - limitava-se a abanar a cabeça e a sair da sala. Na altura o surf também era uma coisa estranha, marginal, muito diferente do negócio à escala planetária em que se transformou.

O melhor exemplo da mudança chegou à sala lá de casa no sábado, via iTunes. Chama-se "View from a blue moon". Passou há dias no ecrã gigante do S. Jorge, em Lisboa, numa sessão única e absolutamente esgotada, e há quem diga que é o melhor filme de surf de sempre. Pode discutir-se se é, mas é indiscutível que se trata de uma obra de arte, capaz de agradar ao mais dedicado dos surfistas (ou não mostrasse um pouco da vida, e do surf, de John John Florence, provavelmente um dos melhores do mundo) e também a quem só vê o mar uma vez por ano (as imagens aéreas e a forma como são filmadas as paisagens é mágica. O melhor é mesmo o Brasil). Pode ver o trailer e tudo sobre o filme aqui.

Sem perder a onda, fique a saber que a última etapa do mundial de surf está em curso em Pipeline, no Havai, e é transmitida em direto na página da World Surf League. Na última noite houve um pouco de tudo: ondas grandes, um ferido e nenhuma decisão sobre o título mundial. Havia cinco candidatos e três continuam na corrida. Mick Fanning é um deles e ontem, minutos antes de entrar na água, soube que o irmão tinha sido encontrado morto, na Austrália. É provável que a prova acabe hoje. Começa pelas sete da tarde (em Lisboa, menos 10 horas em Oahu) e, por isso, será outro surfista, o Martim Silva, a dar-lhe todas as novidades. Do mar, do país e do mundo.

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