quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Portugal. STRESS QUÊ?



Cristina Azevedo – Jornal de Notícias, opinião

Aviso já que isto é uma espécie de desabafo. Estudado a pente fino de certeza que há ques e ses, diferenças e engulhos, coisas e loisas para explicar que este caso do Banif nada tem a ver com o que se passou até aqui na Banca portuguesa e que nada se poderia ter feito para evitar o problema.

E o problema, visto de longe parece ser o de sempre. Em 2012, o banco teve uma fortíssima injeção de capital. Do Estado, ou seja nosso, ainda que não nos tenham pedido autorização. Por outubro deste ano, verificou-se que não devolveu a última tranche, parece que 225 milhões de euros e, entretanto, vem a lume que o banco tem uma fortíssima exposição ao mercado imobiliário já que possui cerca de um milhão e quinhentos mil euros em imóveis.

Por último, neste traço a grosso, ainda ouvimos dizer que o Banco de Portugal já tinha avisado o Ministério das Finanças e que este não acelerou o processo de venda porque tinha em mãos o paciente anterior (Novo Banco).

Repito. Isto parece uma brincadeira de crianças. Mas de muito mau gosto.

Desde a crise de 2008 que vemos os bancos portugueses caírem como baralhos de cartas. Alguns racham ao meio em bons e maus, todos devem dinheiro ao Estado e quase todos estão à venda. Salvam-se alguns estrangeiros e a Caixa Geral de Depósitos porque Salazar a fez demasiado rica para falir.

E, no entanto, a Europa da supervisão e a supervisão deste cantinho desdobram-se em obrigações provisionais e previsionais, e em stress tests pelos quais os bancos vão passando.

Passam num primeiro momento, para depois se perceber que o certificado é como aqueles que alguns conseguem em oficinas simpáticas que lá atestam que o carro passou a Inspeção Periódica Obrigatória ainda que o mesmo se desfaça em fumos e tresande a óleo queimado.

É uma autêntica vergonha nacional. Cada primeiro-ministro que aparece, desde 2008, tem sempre a grata tarefa de garantir o dinheiro dos depositantes e a neutralidade dos contribuintes a propósito de um qualquer banco, para depois assobiar para o lado quando o desfalque a ambos é consumado.

E António Costa veio já dizer que depositantes ainda vá, contribuintes é que já não tem a certeza. Já ouvimos isto antes e não consta que os depositantes/investidores tenham tido sorte. Os contribuintes, esses nunca têm.

Salva-nos o do Natal e a esperança bem portuguesa que esta seja a última vez ou que, ainda melhor, até ao Ano Novo tudo se resolva. Sem stress!

*Analista financeira

Sem comentários:

Mais lidas da semana