Cristina
Azevedo – Jornal de Notícias, opinião
Aviso
já que isto é uma espécie de desabafo. Estudado a pente fino de certeza que há
ques e ses, diferenças e engulhos, coisas e loisas para explicar que este caso
do Banif nada tem a ver com o que se passou até aqui na Banca portuguesa e que
nada se poderia ter feito para evitar o problema.
E
o problema, visto de longe parece ser o de sempre. Em 2012, o banco teve uma
fortíssima injeção de capital. Do Estado, ou seja nosso, ainda que não nos
tenham pedido autorização. Por outubro deste ano, verificou-se que não devolveu
a última tranche, parece que 225 milhões de euros e, entretanto, vem a lume que
o banco tem uma fortíssima exposição ao mercado imobiliário já que possui cerca
de um milhão e quinhentos mil euros em imóveis.
Por
último, neste traço a grosso, ainda ouvimos dizer que o Banco de Portugal já
tinha avisado o Ministério das Finanças e que este não acelerou o processo de
venda porque tinha em mãos o paciente anterior (Novo Banco).
Repito.
Isto parece uma brincadeira de crianças. Mas de muito mau gosto.
Desde
a crise de 2008 que vemos os bancos portugueses caírem como baralhos de cartas.
Alguns racham ao meio em bons e maus, todos devem dinheiro ao Estado e quase
todos estão à venda. Salvam-se alguns estrangeiros e a Caixa Geral de Depósitos
porque Salazar a fez demasiado rica para falir.
E,
no entanto, a Europa da supervisão e a supervisão deste cantinho desdobram-se
em obrigações provisionais e previsionais, e em stress tests pelos quais os
bancos vão passando.
Passam
num primeiro momento, para depois se perceber que o certificado é como aqueles
que alguns conseguem em oficinas simpáticas que lá atestam que o carro passou a
Inspeção Periódica Obrigatória ainda que o mesmo se desfaça em fumos e tresande
a óleo queimado.
É
uma autêntica vergonha nacional. Cada primeiro-ministro que aparece, desde
2008, tem sempre a grata tarefa de garantir o dinheiro dos depositantes e a
neutralidade dos contribuintes a propósito de um qualquer banco, para depois
assobiar para o lado quando o desfalque a ambos é consumado.
E
António Costa veio já dizer que depositantes ainda vá, contribuintes é que já
não tem a certeza. Já ouvimos isto antes e não consta que os
depositantes/investidores tenham tido sorte. Os contribuintes, esses nunca têm.
Salva-nos
o do Natal e a esperança bem portuguesa que esta seja a última vez ou que,
ainda melhor, até ao Ano Novo tudo se resolva. Sem stress!
*Analista financeira
*Analista financeira
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