sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

2016, O ANO DA SAÍDA LIMPA



Rosário Gamboa* – Jornal de Notícias, opinião

O que queremos de "novo" neste ano que começa? Vale a pena sonhar, ou a "realidade" de que nos falava o presidente da República será sempre mais forte que as ideias?

A história é feita de convulsões entre a realidade - como conjuntura dominante - e as ideias que procuram transformá-la, segundo uma dialética complexa, que longe de qualquer ordem moral nem sempre se processa pelo caminho dos valores que dão corpo aos ideais iluministas fundadores da Europa democrática dos direitos humanos.

Mas há conquistas indiscutíveis. Há, acima de tudo, uma população mais letrada, informada e consciente dos direitos a que deve aspirar, que sabe que a realidade, ainda que violenta e sem razão moral, não é algo transcendente que fatalmente tenhamos de aceitar, mas uma construção humana.

O horizonte da política, no seu veio mais simples e puro, ancora aqui. São as nossas decisões e escolhas que fazem o futuro e, por isso, não nos podemos delas demitir.

Desejo, assim, que 2016 seja o ano da saída limpa. Não porque os problemas deixaram de existir - a dívida, o desemprego, a regulação transnacional com suas regras e atores... Mas porque os enfrentamos com determinação, e conhecimento; porque fomos capazes de construir propostas novas com sentido, mobilizadoras da vontade coletiva; propostas claras que não atirem para debaixo do tapete o lixo inconveniente.

Estamos cansados de sermos afastados das verdadeiras decisões; de percebermos que por detrás duma solução bem anunciada se encontrava encoberto um mar de detritos. Estamos cansados de gente cansada que, a pretexto de uma má gestão, se demite de assistir a um doente, a um aluno, relegando para o domínio sombrio do "não tenho culpa" a consciência ética e crítica que fazem a vida pessoal e pública.

Será limpa a saída de 2016, se o reino obscuro da "realidade" for desembaciado em nome do direito de todos a uma informação criteriosa que mobilize a escolha. Se as regras de distribuição de um Orçamento do Estado parco forem feitas com transparência, sem reforços e subterfúgios ocultos e as apostas nele inseridas conduzam a um caminho desejado de reformas, discutido e maioritariamente partilhado.

*Presidente do Instituto Politécnico do Porto

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