Mário Motta, Lisboa
David Bowie morreu. Lamentemos. Em Portugal não era um icone. Tempos antes morreu Zeca Afonso, era um icone. Pois. Haverá os que discordam. Creio que só por ignorância e por não terem conhecido a pessoa, o ser humano, o companheiro Zeca. Se conhecessem Zeca e David iam constatar a diferença. Tive o privilégio de conhecer ambos. Verdade que conheci melhor Zeca. Até tivemos a oportunidade de concordarmos e discordarmos. De ele me fazer sentir um aluno.
Como se diz, nas crenças católicas apostólicas romanas: descanse em paz. Quem? Bowie. Zeca... Quem é esse? pecado grave das rádios e das televisões. Cansam-nos com Bowie, Zeca, agora ou qualquer dia, será um ilustre desconhecido. As rádios, as televisões. os jornais, querendo ou sem quererem, concorrem para a estupidificação dos portugueses. Escrevo isto por estar cansado de ontem e hoje (provavelmente amanhã e depois, e depois...) ouvir coisas sobre David Bowie. Qualquer "animador" de rádio (sentem-se bem com esta classificação?) carrega-nos com Bowie. Sem o conhecer, sem imaginar que não era, de certeza isso que ele quereria na sua morte, nem em vida. Ele era uma grande pessoa, não um oportunistazinho que tem ao seu dispor um espaço no éter, um espaço radiofónico que lhes permite darem-nos secas com Bowie... que, dizem, morreu. Mal eles sabem que esse David é imortal. Como Zeca é imortal, e outros. Mas, os portugueses, talvez milhões, não sabem quem é Zeca. Pois não? Não. Choram Bowie, também sem saberem quem ele foi ou é. Está bem, um dia vão aprender. Tudo se aprende. Quando se aprende é que ficamos a saber sobre as nossa ignorâncias, sobre as nossas futilidades. Bye... Perdão, adeus.
Zeca quase nunca passa na rádio (nem falemos em televisão que têm muito pouco). Mas o que é de fora é melhor, de Bowie não se cansam. Os colonizados da anglofonia, os portugueses da treta. Os que vagabundeiam na RTP com programas de títulos em inglês, de intervenções cantadas e faladas em inglês. Porra, se calhar enganei-me no canal... Ah, não, estou num canal pago pelos contribuintes portugueses mas colonizado por ingleses, com programas de merda. Com realizações de merda e... sendo assim, com produtores e produções (consequência) de merda.
Ora merda!
Para aliviar, da merda toda que escorre daquelas televisões, principalmente da pública RTP (de que os antigos profissionais se escusam a pronunciar), fiquemos com a morte. A morte que saiu à rua pela mão da PIDE (a tal de Cavaco) e assassinou o pintor (artista plástico) Dias Coelho numa rua de Alcântara, em Lisboa. Zeca cantou. Zeca canta. Zeca imortal mas ignorado pelos Bowie's da treta que ignoram os valores da sua nacionalidade. Bowie se tivesse oportunidade de ler este meu desabafo teria concordado. Ele vai dar voltas e reviravoltas nas cinzas se o quiserem endeusar. RIP, David. Viva Zeca!
Ser do mundo mas... ser português e com orgulho nos que lutaram sempre pela democracia. De resto, fiquem sabendo, a morte sai à rua todos os dias. Por isto ou aquilo. Mas sai. É certa.
Até mais logo David.
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