quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Portugal. O OUTRO PROFESSOR



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Para que serve afinal a campanha eleitoral? Faz sentido este desfile de candidatos, alguns dos quais não conseguiram ainda dizer ao que vêm e porquê, como se estivessem num reality show com final marcado para a noite de 24 de janeiro? Andam por aí. Cumprem com os seus tempos de antena, debatem na televisão, estão presentes. E, provavelmente, terão de pagar o espetáculo do seu bolso: alcançar cinco por cento dos votos do eleitorado será um feito.

Há motivos, pois, para se achar as presidenciais tempo perdido. Assim parecem pensar os portugueses, se tivermos como barómetro as conversas que ouvimos na rua, no autocarro ou no café. O inverno atípico, o novo treinador do F. C Porto, ou até o vídeo de Sofia Ribeiro secundarizam o trabalho dos candidatos a Belém.

Mas a campanha está aí. E para uma coisa já serviu. O fundador do PSD, comentador político e professor de direito, aquele que estava eleito ainda antes de ser candidato, foi obrigado a interromper o passeio e a entrar no jogo. Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, reposicionou-se: é a esquerda do centro, disse.

Não soam a verdadeiro as palavras do professor. Ou, pelo menos, não foi isso que mostrou aos portugueses, durante longo tempo, no gesticulado papel de comentador televisivo. Os seus comentários, sobretudo nos últimos quatro anos, são a prova contrária. O homem que fazia o pleno, eleito sem precisar de fazer campanha, está atrapalhado, teme uma segunda volta. A campanha agita o candidato saído da área política da extinta PàF. É para isso que serve uma campanha eleitoral. Não para tramar o candidato, naturalmente. Mas para o confrontar com aquilo que ele deveras é. Marcelo tinha tudo a ganhar se não houvesse campanha.

Apajeado pela maioria dos comentadores, o brilhante comunicador político estaria eleito com uma larga maioria de votos dos portugueses. Era o que muitos achavam.

Provavelmente será eleito pela maioria dos portugueses, provavelmente nem será necessária uma segunda volta. Mas o homem que atravessou de sorriso aberto uma das maiores crises, em ameno solilóquio dominical com os diretores de informação de um canal, mostra-se. Transfigura-se. Há outro Marcelo, para lá do professor sagaz e bem-disposto.

A campanha está a desvendar também Sampaio da Nóvoa, que esperava ser abraçado pela Esquerda e a quem não basta prometer um país novo. Tem de dizer como irá , no cargo a que se candidata, contribuir para a construção dessa nova realidade. De outra forma, terá razão Maria de Belém, que se atravessou no caminho, e aponta falta de densidade na candidatura de Nóvoa. Ela, Maria de Belém, oferece-nos a força do caráter - mas, ao que parece, a única ideia para o país é realizar uns almoços de gala em lares de idosos.

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