Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Para
que serve afinal a campanha eleitoral? Faz sentido este desfile de candidatos,
alguns dos quais não conseguiram ainda dizer ao que vêm e porquê, como se
estivessem num reality show com final marcado para a noite de 24 de janeiro?
Andam por aí. Cumprem com os seus tempos de antena, debatem na televisão, estão
presentes. E, provavelmente, terão de pagar o espetáculo do seu bolso: alcançar
cinco por cento dos votos do eleitorado será um feito.
Há
motivos, pois, para se achar as presidenciais tempo perdido. Assim parecem
pensar os portugueses, se tivermos como barómetro as conversas que ouvimos na
rua, no autocarro ou no café. O inverno atípico, o novo treinador do F. C
Porto, ou até o vídeo de Sofia Ribeiro secundarizam o trabalho dos candidatos a
Belém.
Mas
a campanha está aí. E para uma coisa já serviu. O fundador do PSD, comentador
político e professor de direito, aquele que estava eleito ainda antes de ser
candidato, foi obrigado a interromper o passeio e a entrar no jogo. Marcelo
Rebelo de Sousa, ontem, reposicionou-se: é a esquerda do centro, disse.
Não
soam a verdadeiro as palavras do professor. Ou, pelo menos, não foi isso que
mostrou aos portugueses, durante longo tempo, no gesticulado papel de
comentador televisivo. Os seus comentários, sobretudo nos últimos quatro anos,
são a prova contrária. O homem que fazia o pleno, eleito sem precisar de fazer
campanha, está atrapalhado, teme uma segunda volta. A campanha agita o
candidato saído da área política da extinta PàF. É para isso que serve uma campanha
eleitoral. Não para tramar o candidato, naturalmente. Mas para o confrontar com
aquilo que ele deveras é. Marcelo tinha tudo a ganhar se não houvesse campanha.
Apajeado
pela maioria dos comentadores, o brilhante comunicador político estaria eleito
com uma larga maioria de votos dos portugueses. Era o que muitos achavam.
Provavelmente
será eleito pela maioria dos portugueses, provavelmente nem será necessária uma
segunda volta. Mas o homem que atravessou de sorriso aberto uma das maiores
crises, em ameno solilóquio dominical com os diretores de informação de um
canal, mostra-se. Transfigura-se. Há outro Marcelo, para lá do professor sagaz
e bem-disposto.
A
campanha está a desvendar também Sampaio da Nóvoa, que esperava ser abraçado
pela Esquerda e a quem não basta prometer um país novo. Tem de dizer como irá ,
no cargo a que se candidata, contribuir para a construção dessa nova realidade.
De outra forma, terá razão Maria de Belém, que se atravessou no caminho, e
aponta falta de densidade na candidatura de Nóvoa. Ela, Maria de Belém,
oferece-nos a força do caráter - mas, ao que parece, a única ideia para o país
é realizar uns almoços de gala em lares de idosos.
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