EVOLUÇÕES
RÁPIDAS NO ÂMBITO DA IIIª GUERRA MUNDIAL
Martinho Júnior, Luanda
1
– O impacto da intervenção russa na Síria está a fazer-se sentir numa ampla
região que envolve naturalmente a Síria e todos os circunvizinhos, assim como
na profundidade da península Arábica até ao Iémen, inclusive.
A
Rússia está a ser um factor decisivo contra o qual não se vislumbram
contramedidas à altura, até por que as alianças na sombra do Estado Islâmico,
as próximas e as afastadas, estão cada vez mais desmascaradas.
O
impacto está a provocar areias movediças debaixo dos pés dos outros interesses
dentro da Síria e ao derredor, não escapando a coligação, que no terreno se vê
limitada à franja nordeste, onde mantém um entendimento tácito com a Turquia e “zonas
tácitas pardas” com os curdos sobretudo no Iraque, perdidos na própria teia que
tão inadvertidamente foram urdindo.
As
conversações de Genebra tiveram mesmo de ser sabotadas pela oposição, por que
nos últimos dias as vitórias no terreno se foram sucedendo a um ritmo
estonteante, tanto nas cidades, como nas áreas rurais, particularmente em Alepo.
2
– A espinha dorsal da Síria, de norte a sul e em paralelo à linha de costa,
está quase recomposta, faltando a vértebra de Alepo (onde as forças
governamentais estão a avançar), que antes da guerra era a maior cidade.
A
coligação liderada pelos Estados Unidos, habituada às mascaras, não se está a
desenvencilhar delas e, no momento em que as vitórias dos aliados do governo
sírio se vão sucedendo no terreno, entraram em desfile de carnaval, acusando a
Rússia de torpedear as conversações, desde logo por causa da sua bem-sucedida
ofensiva em larga escala. A quente, mal se tinham sentado à mesa…
Quer
o Estado Islâmico, quer a Frente Al Nushra estão a ser limitados em bolsas, com
deserções em direcção à Turquia a norte e à Jordânia e Israel a sul, cada vez
com mais problemas de logística, com cada vez mais reduzida capacidade de
movimento e sem poder passar mais ao contra ataque.
Por
outro lado seus comandos operacionais estão a ser perseguidos, desarticulados
ou pulverizados: os chefes decapitadores, estão a ser decapitados das
estruturas das duas organizações terroristas.
3
– A Turquia sob mando de Erdogan está a sentir os efeitos das areias movediças
que estão já a pisar: os fluxos de petróleo do Estado Islâmico são agora em
escala cada vez mais reduzida, com Erdogan a ser embaraçado com a perda de seus
tentáculos dentro da Síria e vendo-se a braços com o crescimento operativo das
várias linhas dos curdos, algumas das quais apoiadas pela coligação apoiada
pelos Estados Unidos.
O
chefe terrorista Erdogan está agora tentado à invasão da Síria por parte de
suas forças, única fórmula para, não podendo fugir à escalada, tentar
contrabalançar as perdas, a pretexto de combater os curdos e impedir que eles
fermentem para lá dos níveis em que estão já a fermentar dentro do seu próprio
território, onde medidas draconianas de carácter fascista passaram à
ordem-do-dia.
A
campanha de propaganda contra a Rússia agora em crescendo, é um sinal dessa “manobra
que se segue”, que terá aberta ou veladamente o suporte da NATO.
A
Rússia está a aumentar a presença de meios militares estratégicos na Síria,
acautelando essa escalada e privilegiando a persuasão, o que é sinal que no
terreno os meios terrestres dos aliados do governo sírio e o exército sírio
estão a ser reforçados na previsão da chegada de forças terrestres turcas a
solo sírio.
Até
ao reinício das conversações tidas cinicamente como “em pausa”, a escalada
pode ocorrer… com resultados imprevisíveis para a Turquia.
4
– No Iraque as vitórias no terreno vão-se também sucedendo, o que empolga os
curdos, aliados do governo iraquiano e das milícias apoiadas pelo Irão, que se
fazem sentir aliás até dentro do Líbano e da Palestina, uma vez que o Hezbollah
se aliou ao Hamas.
O
nordeste da Síria, espaço da coligação liderada pelos Estados Unidos, está a
ficar reduzido a uma bolsa com “limites e consistência tacitamente pardos”,
ou seja: os próprios Estados Unidos com os curdos arriscam-se a pisar outro
campo de areias movediças, pois tendem a ficar sem controlo da situação, a
qualquer momento…
Como
o carnaval de máscaras aí é grande, nessa região é cada vez mais difícil
separar o real do virtual, ou conseguir influir sobre um tabuleiro de alianças
tão volátil.
5
– Os falcões sionistas estão também a sentir as areias movediças que já estão a
pisar: no sul da Síria as bolsas terroristas, que têm sido apoiadas a partir do
seu território, estão derrotadas em toda a linha e o Hezbollah está a procurar
agora infiltrações inclusive no Golã.
O
isolamento de Israel, o sionismo está a procurar gerir tão discretamente quanto
o possível, mas a presença russa também no sul da Síria é para o sionismo cada
vez mais perturbador, ao ponto dos movimentos aéreos de sua aviação estarem a
ser radiografados pelos meios electrónicos russos, havendo a ameaça velada dos
poderosos mísseis russos, que cobrem toda a Síria.
Os
sionistas já não podem agora actuar do mesmo modo que antes, pelo que limitaram
o raio de acção de seus meios e estão discretamente remetidos a uma espectativa
de carácter defensivo.
Os
meios de contrapropaganda disponíveis ao sionismo vão dando entretanto alguns
sinais do nervosismo: o Debka Files admite, sem grande consistência, que a
Rússia venha a participar na IIª intervenção do sistema NATO / AFRICOM na
Líbia…
6
– A Jordânia dá sinais de ser um caso de camaleão face às areias movediças,
aproximando-se da Rússia, num “golpe de rins” do seu rei, algo que
faz aumentar ainda mais as preocupações sionistas.
O
rei entende que se está em plena IIIª Guerra Mundial, com os dois campos
islâmicos (Arábia Saudita e Qatar versus Irão) a defrontarem-se no seu fulcro.
Esse
é um dos sinais mais evidentes do nível de poder que a Rússia está a demonstrar
ter já alcançado no terreno sírio, em socorro do seu governo.
Para
a Jordânia, onde se concentram alguns dos maiores campos de refugiados sírios
(um milhão de refugiados), não há aparentemente outra alternativa, até por que
as areias movediças podem conduzir ao início de acções terroristas no seu
próprio território.
7
– A Arábia Saudita já está em guerra, assumindo incursões no Iémen, mas
sofrendo no seu próprio território de respostas armadas, algo que não seria
aconselhável às estruturas de sua“pétrea” monarquia feudal.
A
Arábia Saudita e o Qatar sempre quiseram que o caos se disseminasse longe de
suas portas, mas agora numa situação decrépita, já não o conseguem, começando a
envolverem-se directamente nos conflitos, sem remissão, podendo arrastar outros
como o Egipto para as areias movediças…
A
situação no Mar Vermelho e no mar entre o Iémen e a Somália é outra de suas
preocupações e a sua manobra naval está também a sofrer as consequências, pois
alguns navios já foram atingidos por fogo inimigo.
No
lado do Golfo Pérsico por outro lado, os Estados Unidos acabam de retirar o
único porta-aviões que lá estava destacado, face ao crescimento da resposta
militar do Irão, que pode ser tentado a fechar em qualquer altura propícia o
estreito de Ormuz…
Por
fim a Arábia Saudita pretende enviar tropas terrestres para a Síria, em reforço
da coligação liderada pelos Estados Unidos…
8
– As areias movediças vão-se distender também em África, onde estará eminente a
IIª intervenção da NATO / AFRICOM na Líbia, ela própria entregue ao caos…
contaminando ainda mais os imensos espaços transfronteiriços do Sahara e do
Sahel… em direcção ao sul, onde a água interior é cada vez mais a aliciante
disputada nos Grandes Lagos e na RDC.
A
sul os BRICS, com apoio da África do Sul, começam a estar tentados a reforçar
posições face à disseminação do caos em expansão a partir do Sahel e
envolvendo-se nas disputas em curso sobre a água interior de África.
Angola
é nesse sentido e uma vez mais uma “pedra de toque” sensível na
invasão de areias movediças que se vão chegando ao sul, numa cada vez mais
imprevisível estabilidade relativa em resultado do evoluir volátil das
conjunturas de caos.
Não
tendo sequer geo estratégia inteligente para dominar a complexidade conjuntural
relativa ao que potencia a sua própria água interior, Angola só com os esforços
político-diplomáticos e fazendo uso de políticas de paz, indicia não possuir
por si capacidade suficiente de persuasão, ou a capacidade organizativa e
logística de meios adequados para fazer face directamente à situação num raio
de acção que atinja as grandes nascentes situadas nos Grandes Lagos (Congo,
Nilo e Zambeze).
Ilustrações
e fotos:
-
Mapa da Síria;
-
Mascaramentos e virtualidades da coligação ocidental em suporte da Arábia
Saudita e do Qatar;
-
O TU-160, uma das armas estratégicas russas já empregues na Síria.
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