domingo, 7 de fevereiro de 2016

AREIAS MOVEDIÇAS



EVOLUÇÕES RÁPIDAS NO ÂMBITO DA IIIª GUERRA MUNDIAL


1 – O impacto da intervenção russa na Síria está a fazer-se sentir numa ampla região que envolve naturalmente a Síria e todos os circunvizinhos, assim como na profundidade da península Arábica até ao Iémen, inclusive.

A Rússia está a ser um factor decisivo contra o qual não se vislumbram contramedidas à altura, até por que as alianças na sombra do Estado Islâmico, as próximas e as afastadas, estão cada vez mais desmascaradas.

O impacto está a provocar areias movediças debaixo dos pés dos outros interesses dentro da Síria e ao derredor, não escapando a coligação, que no terreno se vê limitada à franja nordeste, onde mantém um entendimento tácito com a Turquia e “zonas tácitas pardas” com os curdos sobretudo no Iraque, perdidos na própria teia que tão inadvertidamente foram urdindo.

As conversações de Genebra tiveram mesmo de ser sabotadas pela oposição, por que nos últimos dias as vitórias no terreno se foram sucedendo a um ritmo estonteante, tanto nas cidades, como nas áreas rurais, particularmente em Alepo. 

2 – A espinha dorsal da Síria, de norte a sul e em paralelo à linha de costa, está quase recomposta, faltando a vértebra de Alepo (onde as forças governamentais estão a avançar), que antes da guerra era a maior cidade.

A coligação liderada pelos Estados Unidos, habituada às mascaras, não se está a desenvencilhar delas e, no momento em que as vitórias dos aliados do governo sírio se vão sucedendo no terreno, entraram em desfile de carnaval, acusando a Rússia de torpedear as conversações, desde logo por causa da sua bem-sucedida ofensiva em larga escala. A quente, mal se tinham sentado à mesa…

Quer o Estado Islâmico, quer a Frente Al Nushra estão a ser limitados em bolsas, com deserções em direcção à Turquia a norte e à Jordânia e Israel a sul, cada vez com mais problemas de logística, com cada vez mais reduzida capacidade de movimento e sem poder passar mais ao contra ataque.

Por outro lado seus comandos operacionais estão a ser perseguidos, desarticulados ou pulverizados: os chefes decapitadores, estão a ser decapitados das estruturas das duas organizações terroristas.


3 – A Turquia sob mando de Erdogan está a sentir os efeitos das areias movediças que estão já a pisar: os fluxos de petróleo do Estado Islâmico são agora em escala cada vez mais reduzida, com Erdogan a ser embaraçado com a perda de seus tentáculos dentro da Síria e vendo-se a braços com o crescimento operativo das várias linhas dos curdos, algumas das quais apoiadas pela coligação apoiada pelos Estados Unidos.


O chefe terrorista Erdogan está agora tentado à invasão da Síria por parte de suas forças, única fórmula para, não podendo fugir à escalada, tentar contrabalançar as perdas, a pretexto de combater os curdos e impedir que eles fermentem para lá dos níveis em que estão já a fermentar dentro do seu próprio território, onde medidas draconianas de carácter fascista passaram à ordem-do-dia.

A campanha de propaganda contra a Rússia agora em crescendo, é um sinal dessa “manobra que se segue”, que terá aberta ou veladamente o suporte da NATO.

A Rússia está a aumentar a presença de meios militares estratégicos na Síria, acautelando essa escalada e privilegiando a persuasão, o que é sinal que no terreno os meios terrestres dos aliados do governo sírio e o exército sírio estão a ser reforçados na previsão da chegada de forças terrestres turcas a solo sírio.

Até ao reinício das conversações tidas cinicamente como “em pausa”, a escalada pode ocorrer… com resultados imprevisíveis para a Turquia.
  
4 – No Iraque as vitórias no terreno vão-se também sucedendo, o que empolga os curdos, aliados do governo iraquiano e das milícias apoiadas pelo Irão, que se fazem sentir aliás até dentro do Líbano e da Palestina, uma vez que o Hezbollah se aliou ao Hamas.

O nordeste da Síria, espaço da coligação liderada pelos Estados Unidos, está a ficar reduzido a uma bolsa com “limites e consistência tacitamente pardos”, ou seja: os próprios Estados Unidos com os curdos arriscam-se a pisar outro campo de areias movediças, pois tendem a ficar sem controlo da situação, a qualquer momento…

Como o carnaval de máscaras aí é grande, nessa região é cada vez mais difícil separar o real do virtual, ou conseguir influir sobre um tabuleiro de alianças tão volátil.
  
5 – Os falcões sionistas estão também a sentir as areias movediças que já estão a pisar: no sul da Síria as bolsas terroristas, que têm sido apoiadas a partir do seu território, estão derrotadas em toda a linha e o Hezbollah está a procurar agora infiltrações inclusive no Golã.

O isolamento de Israel, o sionismo está a procurar gerir tão discretamente quanto o possível, mas a presença russa também no sul da Síria é para o sionismo cada vez mais perturbador, ao ponto dos movimentos aéreos de sua aviação estarem a ser radiografados pelos meios electrónicos russos, havendo a ameaça velada dos poderosos mísseis russos, que cobrem toda a Síria.

Os sionistas já não podem agora actuar do mesmo modo que antes, pelo que limitaram o raio de acção de seus meios e estão discretamente remetidos a uma espectativa de carácter defensivo.

Os meios de contrapropaganda disponíveis ao sionismo vão dando entretanto alguns sinais do nervosismo: o Debka Files admite, sem grande consistência, que a Rússia venha a participar na IIª intervenção do sistema NATO / AFRICOM na Líbia…

6 – A Jordânia dá sinais de ser um caso de camaleão face às areias movediças, aproximando-se da Rússia, num “golpe de rins” do seu rei, algo que faz aumentar ainda mais as preocupações sionistas.


O rei entende que se está em plena IIIª Guerra Mundial, com os dois campos islâmicos (Arábia Saudita e Qatar versus Irão) a defrontarem-se no seu fulcro.

Esse é um dos sinais mais evidentes do nível de poder que a Rússia está a demonstrar ter já alcançado no terreno sírio, em socorro do seu governo.

Para a Jordânia, onde se concentram alguns dos maiores campos de refugiados sírios (um milhão de refugiados), não há aparentemente outra alternativa, até por que as areias movediças podem conduzir ao início de acções terroristas no seu próprio território.

7 – A Arábia Saudita já está em guerra, assumindo incursões no Iémen, mas sofrendo no seu próprio território de respostas armadas, algo que não seria aconselhável às estruturas de sua“pétrea” monarquia feudal.

A Arábia Saudita e o Qatar sempre quiseram que o caos se disseminasse longe de suas portas, mas agora numa situação decrépita, já não o conseguem, começando a envolverem-se directamente nos conflitos, sem remissão, podendo arrastar outros como o Egipto para as areias movediças…

A situação no Mar Vermelho e no mar entre o Iémen e a Somália é outra de suas preocupações e a sua manobra naval está também a sofrer as consequências, pois alguns navios já foram atingidos por fogo inimigo.

No lado do Golfo Pérsico por outro lado, os Estados Unidos acabam de retirar o único porta-aviões que lá estava destacado, face ao crescimento da resposta militar do Irão, que pode ser tentado a fechar em qualquer altura propícia o estreito de Ormuz…

Por fim a Arábia Saudita pretende enviar tropas terrestres para a Síria, em reforço da coligação liderada pelos Estados Unidos…
  
8 – As areias movediças vão-se distender também em África, onde estará eminente a IIª intervenção da NATO / AFRICOM na Líbia, ela própria entregue ao caos… contaminando ainda mais os imensos espaços transfronteiriços do Sahara e do Sahel… em direcção ao sul, onde a água interior é cada vez mais a aliciante disputada nos Grandes Lagos e na RDC.

A sul os BRICS, com apoio da África do Sul, começam a estar tentados a reforçar posições face à disseminação do caos em expansão a partir do Sahel e envolvendo-se nas disputas em curso sobre a água interior de África.

Angola é nesse sentido e uma vez mais uma “pedra de toque” sensível na invasão de areias movediças que se vão chegando ao sul, numa cada vez mais imprevisível estabilidade relativa em resultado do evoluir volátil das conjunturas de caos.

Não tendo sequer geo estratégia inteligente para dominar a complexidade conjuntural relativa ao que potencia a sua própria água interior, Angola só com os esforços político-diplomáticos e fazendo uso de políticas de paz, indicia não possuir por si capacidade suficiente de persuasão, ou a capacidade organizativa e logística de meios adequados para fazer face directamente à situação num raio de acção que atinja as grandes nascentes situadas nos Grandes Lagos (Congo, Nilo e Zambeze).
  
Ilustrações e fotos:
- Mapa da Síria;
- Mascaramentos e virtualidades da coligação ocidental em suporte da Arábia Saudita e do Qatar;
- O TU-160, uma das armas estratégicas russas já empregues na Síria.

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