sexta-feira, 25 de março de 2016

Portugal. DE MARCELO, O AFETUOSO, A MARCELO, O INTERVENTOR



Ana Sá Lopes – jornal i, opinião

É verdade que nós, portugueses, andávamos a precisar de mimo. 

O conceito de mimo popular e em série era totalmente desconhecido da persona de Cavaco Silva. O mimo em política parece indefinível – o “carisma” é uma coisa totalmente diferente –, mas Marcelo deu-lhe corpo e nome quando instituiu, logo na campanha eleitoral, a “política dos afetos”.

Percebe-se: a política dos ódios – de que Cavaco tinha sido um epicentro de há uns anos para cá – não tinha tido grande sucesso e o ex-Presidente saiu de Belém com o rótulo do mais impopular dos últimos tempos. Marcelo e os seu irresistíveis mimos chegaram no momento certo. A política não se restringe às “políticas” e o Presidente sempre soube que uma grande parte da sua atração consistia em ser um sedutor de públicos.

Mas para quem julgava que Marcelo se iria ficar pelo aconchego quase físico com os portugueses não foi preciso sequer um mês de mandato para perceber que não será assim. Ou não será só isso. A política do mimo é apenas uma das alíneas que Marcelo escrevinhou no seu moleskine de Presidente da República. A outra – estamos a assistir em direto e a cores – é um desejo de ação política que, a avaliar pelos acontecimentos desta semana, poderá catapultá-lo para o “posto” de Presidente mais interventor de sempre.

Numa semaninha apenas, Marcelo interveio ativamente na estratégia contra a “espanholização” da banca, isolando Passos Coelho e colocando-se ao lado de Costa. No dia seguinte anunciou que não passaria “cheques em branco” ao governo. Fez saber que a nova política de educação só passou porque ele exigiu, para a promulgar, que as provas de aferição passassem a ser facultativas, ao contrário do que o governo queria. A cereja no topo do bolo marcelista é esta fabulosa reunião do Conselho de Estado com special guest stars como Mario Draghi e Carlos Costa, o homem do Banco de Portugal que o governo quer abater. Isto está só a começar e promete fazer história, ou alguma história.

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