António Veríssimo, Lisboa
Porque
Taur Matan Ruak tem em perspetiva assumir-se como dirigente de um novo partido
timorense não foi difícil considerar que estava a fazer oposição ao governo por
fins meramente político-partidários. Dispensando a atenção devida ao discurso integral que Taur proferiu no Parlamento timorense
e aliando-o à realidade timorense, mudamos de perspetiva e vimos o certo
naquilo que julgávamos errado, que seriam só tricas políticas em
antecipadissima verborreia eleitoralista. Afinal, após a devida atenção nas
palavras do PR de Timor-Leste e a constatação de factos, muito poucos
encontrarão modo de desmentir a realidade timorense apontada por Taur Matan
Ruak no Parlamento na passada quinta-feira, 25 de Fevereiro. Foi uma pedrada no
charco.
A
situação política em Timor-Leste anda agitada apesar de a oposição ao governo
não existir por parte de partidos não governamentais com representação parlamentar.
E não existe porque esses são partidos ínfimos na representatividade que lhes
foi entregue eleitoralmente. A grande maioria dos deputados pertence aos
partidos no governo após a aliança de Xanana Gusmão com Mari Alkatiri, ou, se
quisermos, a aliança entre o CNRT e a Fretilin.
Podemos
afirmar com toda a propriedade que no parlamento de Timor-Leste não existe
oposição. Xanana e Alkatiri transformaram a casa da democracia numa arrojada
associação de compadres e comadres. Acordaram reformular um governo “novo” após
Xanana demitir-se com o seu governo. Não se realizaram eleições.
Atualmente
Xanana não é primeiro-ministro de facto mas primeiro-ministro sombra. Rui
Araújo, da Fretilin, dá a cara como primeiro-ministro. Xanana é ministro do
Planeamento Estratégico e Investimento com um orçamento ultra milionário de
67.5 milhões de dólares. Mari Alkatiri, no dizer de muitos timorenses, passou a
ser o “dono do Oecussi”. Oficialmente Alkatiri é o presidente da Autoridade da
Região Administrativa Especial de Oé-Cusse Ambeno (RAEOA) e das Zonas Especiais
de Economia Social de Mercado.
O
projeto Zona Especial de Economia Social de Mercado de
Timor-Leste (ZEESM) já em curso é dantesco e consome de supetão avultados
recursos financeiros ao orçamento timorense, provocando o alienamento de
carências prementes no resto do país. Principalmente no interior de
Timor-Leste, nas infraestruturas, na educação, na saúde, agricultura, pescas,
criação de emprego, apoio social, etc. É isso que “dói” à maioria dos timorenses
da totalidade do território.
Sendo
facto que a população discorda maioritariamente do projeto Oe-cusse pelo enorme
volume de recursos financeiros que está a consumir num curto espaço de tempo,
levando à alienação de outras regiões e carências do país, tal não se reflete
de modo perentório no parlamento de Timor-Leste. Não existe oposição às
decisões do governo. Nada a fazer. A aliança de comadres e compadres
CNRT-Fretilin demonstra que os deputados, supostos representantes da
transmissão e defesa das vontades dos eleitores que deviam representar, ocupam
os cargos com função de encarnarem os “yes man” característicos dos parlamentos
de regimes ditatoriais. Ao estilo da Assembleia Nacional de Portugal do tempo
colonialista, o tempo colonial-fascista. O unaninismo partidário entre a
maioria dos deputados no Parlamento Nacional de Timor-Leste tem vindo a pôr em
grave risco a democracia e o que em Timor resta da transparência.
Xanana
Gusmão, o contestado, aliou-se ao seu principal contestatário, Alkatiri, e
calou-o, fazendo dele seu associado no pôr e dispor em Timor-Leste. Não se
compreende como é que alguém pode mudar tanto de um dia para o outro sem que
para isso não vislumbre contrapartidas. Falta saber – se é que falta – que
contrapartidas. Facto é que aquela aliança está a matar o resto de alguma
democracia que existia em Timor-Leste. Antes, para Alkatiri e para a Fretilin,
Xanana e o seu governo eram os veículos da corrupção, do conluio, do nepotismo.
E agora, já não são? Não. A partir do momento em que Xanana se aliou a Alkatiri
e o CNRT à Fretilin. A realidade é essa? É essa a realidade?
O
DISCURSO DO PRESIDENTE TAUR
Ler
na integra ou escutar o discurso de Taur Matan Ruak na passada quinta-feira
(25) no Parlamento de Timor-Leste ajuda-nos a compreender muito do que é a
atualidade governativa e parlamentar do país. Não havendo oposição construtiva
às decisões unanimistas do governo (leia-se Xanana-Alkatiri), o PR teve de dar
um passo em frente em defesa da democracia, em defesa dos interesses dos
timorenses. Taur disse isso mesmo, assumiu-se como a oposição à grave situação
para que Xanana e Alkatiri conduzem o país. Taur Matan Ruak teve e tem coragem.
Está a colocar muito à frente dos seus interesses pessoais e políticos os
interesses da democracia, da transparência, da resolução das carências de Timor
e dos timorenses. Taur, no Parlamento, foi a voz contra a corrupção, o conluio
e o nepotismo que o regime Xanana-Alkatiri estão a fazer florescer ainda mais
em Timor-Leste.
Taur
Matan Ruak deu a pedrada que urgia dar no charco em que se está a transformar
Timor-Leste. Um homem de coragem que está novamente a demonstrá-lo. Primeiro
Timor e os timorenses, defende Taur. O PR chegou ao Parlamento e disse o que
foi e é preciso dizer e apontar. Deviam agradecer-lhe. Ele cumpriu a função de
um despertador de consciências. Acordem.
Deu
a pedrada no charco, nas águas estagnadas que urge remover e renovar. É uma boa
oportunidade para Timor-Leste dar um passo em frente na democracia vacilante.
Falam em destituir o Presidente, que está em marcha o processo. Na verdade Taur
falhou ao não cumprir os preceitos constitucionais na substituição do Chefe de
Estado-Maior General das Forças Armadas, mas isso são cartas de outro baralho,
não pode ser o pretexto para despoletar uma “guerra” mas sim a formação de um
consenso entre governo e PR para corrigirem o que tem de ser corrigido. Governo
e PR, não Xanana-Alkatiri e PR. Ou, senão, ficaremos a saber de uma vez por
todas quem de facto é o primeiro-ministro e que Rui Araújo é somente um
fantoche nas mãos dos “compadres”. Oxalá que não. E que tudo acabe em bem, com
justiça e paz.
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