Hoje,
nós, homens livres, somos todos filhos dos que resistiram
Os
comunistas clandestinos, presos, torturados, amavam os seus filhos, amavam a
vida e a liberdade, por isso lutavam pelos outros homens e pelos filhos deles.
Hoje, nós, homens livres, somos todos filhos dos que resistiram
O
cascalho nacional pariu um tipo de cidadão-modelo do estilo “faz que és culto
que eles acreditam barra na minha azia habita um democrata graduado em
ficheiros secretos barra eu sei aquilo que nunca ninguém vos contou mas eu
agora vou dizer.
É
um produto muito luso, como o rabejar, cuspir no chão ou andar a pedinchar
favor para posição pública a tudo o que é santinho, e depois fazer conferência
televisionada contra a cunha e o compadrio.
É
uma rapaziada fina como licor de estalar língua e esperta como alho. São uns
estroinas a quem, para desenhar história de intervenção política, compromisso
cívico ou ação solidária, sei lá, qualquer coisita que não seja emborcar adegas
e medrar na arte de bem apunhalar o ente mais próximo, o biógrafo vai ver-se
aflito.
A
eles seria mais apropriado, em vez de perguntar onde estavam no 25 de abril de
1974, indagar por onde passeavam nos dias 24, 23 e por aí atrás, de onde
facilmente se percebe que, para chegar às origens destes iluminados democratas,
teríamos de ir em regressão no tempo, aventurando-nos a chegar a um buraco
negro que não tem necessariamente de ser os estudados na astronomia.
Uns
por tarefa ideológica, outros para expurgarem vergonhas e assombrações do
passado, por terem cantado como grafonolas quando caíram perante os esbirros da
PIDE, situação que nunca ninguém lhes reprovou, por entendimento humano dos que
resistiram e não falaram, outros por cândida burrice e ainda outros por doença
mental, a todos une um preconceito enfermiço e um ressentimento militante
contra o PCP e a sua história.
A
manipulação, as omissões, as afirmações feitas de uma ignorância convencida são
as ferramentas dos que, sob a aparente diversão do seu apego a uma pureza
democrática, mais não fazem que esforçar-se por silenciar e censurar o PCP,
tentando inculcar a ideia de que os comunistas são naturalmente e de formação
antidemocráticos.
Mas
depois há a vida, e com ela vem a experiencia quotidiana das pessoas, e aí,
quem os trabalhadores de todas as condições e setores encontram na aflição e na
luta de todos os dias, solidários em defesa dos postos de trabalho, por
melhores salários e reformas, contra as injustiças e em defesa dos direitos,
são os comunistas.
Vem
isto a propósito das beatas reações ao interessante livro “Os Filhos da
Clandestinidade”, que relata o exílio e a vida na URSS de muitos dos filhos
separados dos pais comunistas que lutavam contra a ditadura em Portugal.
Reparem
que me refiro às reações, não ao livro. Pois é quase certo que quem utiliza o
livro para um ataque de caráter aos comunistas e à propalada dureza de
sentimentos do PCP nem sequer tenha lido mais que a capa.
É
extraordinário que onde só se pode ler um excecional sacrifício e ato de amor,
de pais se separarem dos seus filhos para os proteger, em circunstâncias
duríssimas e terríveis, onde muitos dos que lutavam contra a ditadura não
tinham nem rede familiar nem meios para os proteger, e que de outra forma
seriam presa fácil dos verdugos da PIDE, das suas ameaças e violência, que
ficariam abandonados ou pior, alguns só consigam enxergar frieza e
desumanidade.
Afinal,
não fizeram nada de diferente do que fizeram os da República Espanhola, os da
Resistência francesa e belga, os ingleses que enviaram os seus filhos para o
interior quando as cidades foram bombardeadas, os russos afastando os filhos do
assalto nazi, os judeus enviando os seus filhos para a Suíça e para a América.
O
problema é que observam míopes, vesgos de preconceito. O problema é que não
conseguem nem imaginar a dureza desses tempos. Comparar a convicção da luta
pela liberdade e pela democracia, que era pelo que se lutava, ao delírio de
fanáticos de clube ou de seita mística, só por cínica má-fé ou por poucochinho.
Em
criança, com o meu pai preso, assisti receoso e confuso à presença em nossa
casa dos agentes da PIDE, às suas palavras provocadoras sobre a natureza e
qualidade do meu pai, que era capaz de abandonar a mulher e os filhos para se
meter com os comunistas. De mãos dadas, enquanto os via a remexer gavetas e a
levar livros, percebi a intenção da ofensa ao meu pai, temi pela minha mãe e
pelo irmão mais novo. Nunca mais esqueci nada desse momento. Amei o meu pai até
ao fim. Ainda hoje amo.
É
curioso que, hoje, os argumentos de propaganda que se utilizam para insultar os
comunistas, e em particular os que protagonizaram a resistência, sejam afinal
os mesmos que o regime fascista utilizava na sua ação psicológica.
Claro
que esses tempos de excecional dureza deixaram marcas profundas, difíceis de
sarar. Mas a anormalidade foi criada pelos fascistas que durante 46 anos
obrigaram os portugueses a viver tempos de medo e sofrimento, não os que contra
isso lutaram com o sacrifício da própria vida.
Os
comunistas clandestinos, presos, torturados, amavam os seus filhos, amavam a
vida e a liberdade, por isso lutavam pelos outros homens e pelos filhos deles.
Hoje, nós, homens livres, somos todos filhos dos que resistiram.
1 comentário:
E graças a Deus, a Espanha NÃO SE TORNOU COMUNISTA !!!
KKKKKKKKKKKKKKKK !!!!!!
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