sexta-feira, 15 de abril de 2016

“Quantas falhas graves são necessárias para substituir governador do Banco de Portugal?”



No debate quinzenal, Catarina Martins defendeu a destituição do governador do Banco de Portugal e apresentou a António Costa cinco condições para um programa de limpeza da banca. O primeiro-ministro responde que só tem dúvidas sobre uma delas.

O debate sobre o futuro do sistema financeiro português e a resolução do problema do crédito malparado dominaram as perguntas ao governo por parte da bancada bloquista, que mais uma vez reafirmou a sua oposição a novas ajudas à banca em prejuízo dos contribuintes.

Referindo-se às declarações do governador do Banco de Portugal, que defendeu um banco mau com garantias públicas de 20 mil milhões de euros, Catarina desafiou Costa a dizer se subscreve a ideia, sublinhando que as solução do “banco mau” adotada em Espanha não serviu para colocar crédito na economia e a que a que está em preparação em Itália apenas resolve uma percentagem pequena do crédito malparado.

Na resposta, António Costa afirmou que nunca defendeu uma solução à espanhola ou à italiana e que espera o contributo do Bloco “para uma boa solução à portuguesa” que permita garantir o financiamento à economia, fator essencial para o aumento do investimento e a criação de emprego.

Cinco condições para um "programa de limpeza da banca"

O debate prosseguiu com Catarina Martins a defender um “programa de limpeza da banca” e a anunciar as condições do Bloco para trabalhar nessa solução: “Em primeiro lugar, não pode haver mais chantagens europeias de última hora, para soluções em que Portugal perde sempre. Em segundo lugar, os acionistas privados têm de pagar pelo buraco que fizeram e os contribuintes têm de ter controlo sobre tudo o que pagam”, propôs Catarina.

A terceira garantia exigida pelo Bloco é que “em todo o processo há controlo público e as regras mudam”. E a quarta é a de que “a Caixa Geral de Depósitos sai fortalecida e integralmente pública”. Por último, Catarina Martins colocou a condição de que o Novo Banco “fica como banco público”.

“Se não for assim, vai acontecer como das outras vezes: entregar à banca internacional os bancos limpos com dinheiro público. As garantias públicas são sempre dinheiro público”, concluiu a porta-voz do Bloco.

António Costa respondeu que partilha da intenção bloquista de que o problema se resolva sem ser à custa dos contribuintes. E das cinco condições colocadas por Catarina Martins, aceita quatro. “Sobre o Novo Banco, não sei se estamos ou não estamos de acordo”, prosseguiu o primeiro-ministro, concluindo que “para início da conversa, não estamos mal”.

“Optarei pela sua solução [sobre o Novo Banco] se essa for a melhor, ou pela proposta do PCP se essa for a melhor. Não optarei nem por uma nem por outra se entender que não são as melhores para defender o interesse público”, afirmou António Costa.

“Banco mau vai servir para vender créditos à empresa de Maria Luís Albuquerque?”

Catarina Martins apontou baterias ao governador do Banco de Portugal, sublinhando que “não queremos outra escorregadela como a do Banif em que o Banco de Portugal fez o que entendeu, o Santander ganhou o que queria ganhar e o seu governo perdeu a maioria parlamentar”.

“Quem nos ouve a falar de um banco mau tem o direito de perguntar se toda esta operação não serve afinal para vender crédito dos bancos a uma empresa como a Arrow Global, de Maria Luís Albuquerque”, prosseguiu a porta-voz do Bloco, considerando “brincadeiras de mau gosto” as garantias dadas por Passos Coelho aos deputados “de que o BES não ia custar um tostão aos contribuintes e o Banif até ia dar lucro”.

“É muito difícil perceber que tenhamos tido tanta dificuldade em debates sobre 3 milhões de euros para o abono de família e depois sermos confrontados com notícias do BdP que quer mais 20 mil milhões de garantias para a banca, depois da banca já ter recebido 12 mil milhões”.

“Quando é que a falha grave serve para substituirmos o governador do Banco de Portugal?”

Catarina Martins referiu-se ainda às notícias que dão conta de que Carlos Costa acelerou o processo de venda do Banif sem informar o governo, com graves prejuízos para os contribuintes, já depois de “ter escolhido os credores a dedo” sem autorização do governo no processo de resolução do BES, “pondo Portugal num processo de litigância em que pode perder milhões.

“De quantas falhas graves precisa o governador do BdP para se reconhecer que está cumprido o critério de falha grave quer obriga à sua destituição?”, questionou.

António Costa respondeu que aguarda “serenamente” pela conclusão da comissão de inquérito e confirmou que “não fomos ouvidos sobre o critério que foi definido pelo BdP quanto aos credores seniores que seriam sacrificados” no caso do BES.

Catarina desafia Costa a apoiar propostas de combate aos offshores

A propósito do escândalo “Panama Papers”, a porta-voz do Bloco insistiu nas propostas que apresentou a seguir à comissão de inquérito ao BES, chumbadas pela direita: o registo obrigatório dos últimos beneficiários “para que os donos do dinheiro não se possam esconder atrás dos offshores” e a proibição de transferências para offshores não cooperantes.


“Estamos de acordo sobre este tema desde que eu era ministro da Justiça”, respondeu António Costa, anunciando a regulamentação das recentes autorizações legislativas para reforçar a fiscalização e do acordo de partilha de informação com outros países para combater evasão fiscal e branqueamento de capital através dos offshores.

Esquerda.net

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