Aproxima-se
a eleição para Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) acompanhada por
todos, pois é escolha do governante da mais rica e militarmente armada nação do
mundo.
Pedro
Augusto Pinho*
Apenas
dois candidatos merecem a cobertura da mídia, das quase seiscentas pessoas que
disputam aquele posto. Claro que os candidatos dos partidos Republicano e
Democrático são de longe os mais importantes concorrentes, mas se esquecem de
apresentar as ideias distintas dos três partidos socialistas, do Green Party,
do Libertarian Party, Constitution Party, Reform Party, Independent Party e das
centenas de candidatos que não figuram nas listas de todos os estados
norteamericanos.
Os
EUA de hoje são um país muito diferente daquele que travou a Guerra da Secessão,
que se lançou à conquista de colônias na Ásia, que participou de duas Guerras
Mundiais e que invadiu países, por toda parte, no século XX. No entanto certos
mitos, de poderosa influência no psicossocial americano e internacional,
continuam a ser utilizados politicamente.
O
mais recorrente mito, que o candidato republicano Donald Trump procura
representar, é do pequeno fazendeiro, o homem que com seu trabalho construiu
uma nação e que historiadores e analistas chamam da América Jeffersoniana.
Milhares
de filmes, romances, revistas, jogos foram elaborados e divulgados com base
neste mito Jeffersoniano. No entanto, a ampla e variada bibliografia da
história dos EUA mostra que, desde 1865 e em ritmo crescente, aquele país vai
se urbanizando e se transformando numa Nação de industriais e banqueiros, cujo
interesse destes últimos se confunde hoje com os do próprio País. É o domínio
da banca, o sistema financeiro internacional de todos conhecido.
Mas
há outros mitos, como do isolamento político internacional. O historiador
francês Pierre Mélandri escreve que a política das "Portas Abertas",
a oposição a encontros e acordos internacionais, o Trade Agreements Act e a
criação do Export-Import Bank, estes últimos em 1934, e várias outras manifestações
demonstram que a ação internacional dos EUA se dava por rotas não
convencionais, mas era intensa e colonizadora. Mostra, inclusive, os acordos
bilaterais feitos com o Japão, Alemanha, Renânia e outros países da América
(sem esquecer a intervencionista Emenda Platt 1901-1934) que moldavam o modo
americano de lidar com o exterior.
O
que os EUA souberam e ainda dominam com extraordinária competência é a
comunicação social. Bastaria Hollywood para demonstrar, mas esta é a parte mais
visível da enorme influência do País na formação da "opinião
pública". Alimentos, vestuário, hábitos de consumo, produtos, música,
expressões, enfim um colossal acervo cultural fez e faz parte da ação
internacional dos EUA, além da formação intelectual e dependência econômica.
E
tudo isso ajuda a compreender a importância destas eleições, que, de resto, não
surpreenderão ninguém. A senhora Clinton será Presidente e o Congresso, por
ampla maioria, estará dominado pela coligação conservadora de democratas e
republicanos do Sul e do Nordeste. Esta estrutura de Poder é indispensável para
que a crise de 2017/2018 encontre gestores favoráveis na continuidade de
concentração de renda, nas medidas financeiras que reduzam ainda mais os atores
da cena econômica e política, dentro e fora dos EUA.
Um
ponto desta ação já foi anunciado por Hillary Clinton: a guerra contra a
Federação Russa.
Questionará
meu inteligente leitor: mas a Rússia não é mais um país comunista. Certamente,
mas é, neste contexto histórico, a mais consistente e bem articulada resposta
ao sistema financeiro internacional que será o vitorioso na eleição americana.
Veja,
por exemplo, a ação militar russa inibindo que a Síria se transforme em outra
Líbia ou Iraque. Repito, pois não sou desta área, o que leio nos blogs
especializados em questões militares, que os EUA precisariam investir, apenas
no arsenal nuclear, US$ 1 trilhão no curto período de dois mandatos
presidenciais. Ainda seria necessário, para a própria engrenagem econômica,
aumentar significativamente os gastos na NRO (National Reconnaissance Office) e
na NSA (National Security Agency) a fim de não ser pego de surpresa pela ação
dos BRICS, por exemplo. Lembre que Putin recusou encontro com Temer, obviamente
não confiável e pouco expressivo.
No
bélico campo, verificamos que o emprego de mercenários (ucranianos, salafistas,
wahabitas e outros) não teve o sucesso esperado pela Casa Branca.
Mas
as despesas com o Estado Islâmico, diretas e via Península Arábica, continuam
significativas, ainda que rendam lucros para Halliburton e outras empresas
norteamericanas.
Assim,
acossado por mitos e declarações e comunicados hipócritas, que acompanhamos a
eleição nos EUA. A surpresa estará na quantidade de abstenções, que servirá
para a avaliação do possível apoio popular a medidas mais drásticas, como o
envolvimento bélico direto e o prosseguimento e a intensificação da recessão.
*Pedro
Augusto Pinho, avô, administrador aposentado – em Pravda.ru
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