domingo, 19 de junho de 2016

Brasil. CAEM AS MÁSCARAS DOS MOVIMENTOS PRÓ-IMPEACHMENT



Os movimentos que usaram a corrupção como pretexto para os fins antidemocráticos que lograram atingir se calam diante dos casos de corrupção da direita.

Glenn Greenwald - The Intercept - Carta Maior

O IMPEACHMENT DA PRESIDENTE do Brasil democraticamente eleita, Dilma Rousseff, foi inicialmente conduzido por grandes protestos de cidadãos que demandavam seu afastamento. Embora a mídia dominante do país glorificasse incessantemente (e incitasse) estes protestos de figurino verde-e-amarelo como um movimento orgânico de cidadania, surgiram, recentemente, evidências de que os líderes dos protestos foram secretamente pagos e financiados por partidos da oposição. Ainda assim, não há dúvidas de que milhões de brasileiros participaram nas marchas que reivindicavam a saída de Dilma, afirmando que eram motivados pela indignação com a presidente e com a corrupção de seu partido.

Mas desde o início, havia inúmeras razões para duvidar desta história e perceber que estes manifestantes, na verdade, não eram (em sua maioria) opositores da corrupção, mas simplesmente dedicados a retirar do poder o partido de centro-esquerda que ganhou quatro eleições consecutivas. Comoreportado pelos meios de mídia internacionais, pesquisas mostraram que os manifestantes não eram representativos da sociedade brasileira mas, ao invés disso, eram desproporcionalmente brancos e ricos: em outras palavras, as mesmas pessoas que sempre odiaram e votaram contra o PT. Como dito peloThe Guardian, sobre o maior protesto no Rio: “a multidão era predominantemente branca, de classe média e predisposta a apoiar a oposição”. Certamente, muitos dos antigos apoiadores do PT se viraram contra Dilma – com boas razões – e o próprio PT tem estado, de fato, cheio de corrupção. Mas os protestos eram majoritariamente compostos pelos mesmos grupos que sempre se opuseram ao PT.

É esse o motivo pelo qual uma foto – de uma família rica e branca num protesto anti-Dilma seguida por sua babá de fim de semana negra, vestida com o uniforme branco que muitos ricos  no Brasil fazem seus empregados usarem – se tornou viral: porque ela captura o que foram estes protestos. E enquanto esses manifestantes corretamente denunciavam os escândalos de corrupção no interior do PT – e há muitos deles – ignoravam amplamente os políticos de direita que se afogavam em escândalos muitos piores que as acusações contra Dilma.

Claramente, essas marchas não eram contra a corrupção, mas contra a democracia: conduzidas por pessoas cujas visões políticas são minoritárias e cujos políticos preferidos perdem quando as eleições determinam quem comanda o Brasil. E, como pretendido, o novo governo tenta agora impor uma agenda de austeridade e privatização que jamais seria ratificado se a população tivesse sua voz ouvida (a própria Dilma impôs medidas de austeridade depois de sua reeleição em 2014, após ter concorrido contra eles).

Depois das enormes notícias de ontem sobre o Brasil, as evidências de que estes protestos foram uma farsa são agora irrefutáveis. Um executivo do petróleo e ex-senador do partido conservador de oposição, o PSDB, Sérgio Machado, declarou em seu acordo de delação premiada que Michel Temer – presidente interino do Brasil que conspirou para remover Dilma – exigiu R$1,5 milhões em propinas para a campanha do candidato de seu partido à prefeitura de São Paulo (Temer nega a informação). Isso vem se somar a vários outros escândalos de corrupção nos quais Temer está envolvido, bem como sua inelegibilidade se candidatar a qualquer cargo (incluindo o que por ora ocupa) por 8 anos, imposta pelo TRE por conta de violações da lei sobre os gastos de campanha.

E tudo isso independentemente de como dois dos novos ministros de Temer foram forçados a renunciar depois que gravações revelaram que eles estavam conspirando para barrar a investigação na qual eram alvos, incluindo o que era seu ministro anticorrupção e outro – Romero Jucá, um de seus aliados mais próximos em Brasília – que agora foi acusado por Machado de receber milhões em subornos. Em suma, a pessoa cujas elites brasileiras – em nome da “anticorrupção” – instalaram para substituir a presidente democraticamente eleita está sufocando entre diversos e esmagadores escândalos de corrupção.

Mas os efeitos da notícia bombástica de ontem foram muito além de Temer, envolvendo inúmeros outros políticos que estiveram liderando a luta pelo impeachment contra Dilma. Talvez o mais significante seja Aécio Neves, o candidato de centro-direita do PSDB derrotado por Dilma em 2014 e quem, como Senador, é um dos líderes entre os defensores do impeachment. Machado alegou que Aécio – que também já havia estado envolvido em escândalos de corrupção – recebeu e controlou R$ 1 milhão em doações ilegais de campanha. Descrever Aécio como figura central para a visão política dos manifestantes é subestimar sua importância. Por cerca de um ano, eles popularizaram a frase “Não é minha culpa: eu votei no Aécio”; chegaram a fazer camisetas e adesivos que orgulhosamente proclamavam isso:

Evidências de corrupção generalizada entre a classe política brasileira – não só no PT mas muito além dele – continuam a surgir, agora envolvendo aqueles que antidemocraticamente tomaram o poder em nome do combate a ela. Mas desde o impeachment de Dilma, o movimento de protestos desapareceu. Por alguma razão, o pessoal do “Vem Pra Rua” não está mais nas ruas exigindo o impeachment de Temer, ou a remoção de Aécio, ou a prisão de Jucá. Porque será? Para onde eles foram?

Podemos procurar, em vão, em seu website e sua página no Facebook por qualquer denúncia, ou ainda organização de protestos, voltados para a profunda e generalizada corrupção do governo “interino” ou qualquer dos inúmeros políticos que não sejam da esquerda. Eles ainda estão promovendo o que esperam que seja uma marcha massiva no dia 31 de julho, mas que é focada no impeachment de Dilma, e não no de Temer ou de qualquer líder da oposição cuja profunda corrupção já tenha sido provada. Sua suposta indignação com a corrupção parece começar – e terminar – com a Dilma e o PT.

Neste sentido, esse movimento é de fato representativo do próprio impeachment: usou a corrupção como pretexto para os fins antidemocráticos que logrou atingir. Para além de outras questões, qualquer processo que resulte no empoderamento de alguém como Michel Temer, Romero Jucá e Aécio Neves tem muitos objetivos: a luta contra a corrupção nunca foi um deles.

* * * * *
No mês passado, o primeiro brasileiro ganhador do Prêmio Pulitzer, o fotojornalista Mauricio Lima, denunciou o impeachment como um “golpe”com a TV Globo em seu centro. Ontem à noite, como convidado no show de Chelsea Handler no Netflix, o ator popular Wagner Moura denunciou isso em termos similares, dizendo que a cobertura da mídia nacional foi“extremamente limitada” porque “pertence a cinco famílias”.

Atualização: Logo depois da publicação deste artigo, foi anunciado que o presidente interino Temer acaba de perder seu terceiro ministro para a corrupção menos de dois meses depois da tomada do poder: dessa vez, seu ministro do turismo Henrique Eduardo Alves, acusado na delação premiada de Machado de receber R$ 1,5 milhão em propinas de 2008 a 2014. Quando se toma o poder antidemocraticamente usando a “corrupção” como pretexto, em geral é uma má ideia encher sua equipe de criminosos (e ter o próprio novo presidente envolvido em múltiplos escândalos de corrupção).

Créditos da foto: Rovena Rosa / ABr

O BRASIL NO INTERREGNO DE GRAMSCI



A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo / e o novo não pode nascer; neste interregno, / uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem Antonio Gramsci

Três ciclos históricos esgotam-se ao mesmo tempo. O vazio produz, além do golpe, retrocesso e intolerância. Mas é em meio a ele que poderá surgir outra política

Célio Turino* - Outras Palavras - Imagem: Os Gêmeos

Acabou, mas ainda não sabemos; acabou, mas ainda não terminamos. Esta é a realidade do Brasil atual. Aqui não me refiro ao governo golpista nem ao que foi deposto, muito menos aos personagens de ordinário perfil. Refiro-me ao nosso tempo, à nossa gente, à encruzilhada em que nos metemos.

Brasil, tão desigual e cada vez mais vulgar. A política, que deveria apresentar um caminho, um rumo na organização do Estado e mediação da Sociedade, colocada em mãos tão mesquinhas, agrava ainda mais o quadro de descaminhos, com a economia se afundando no atoleiro da financeirização, do rentismo e da ganância. E a sociedade se perde, na falta de horizontes, nos ódios e no despreparo. E da Cultura simplesmente se esquece, se despreza.

Há dúvidas de que vivemos um fim de ciclos? Ciclo longo, Ciclo médio e Ciclo curto, todos nos estertores. E como reflexo e vetor deste fim de Ciclos, a crise de desgoverno, quando a votação da autorização para abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma revela um espetáculo grotesco de incultura, retrocessos e vulgaridades. É neste momento que se abre um vácuo de poder, na forma de Interregno Político, em que o atual governo golpista não consegue se consolidar, nem o anterior se reestabelecer. Nas características do presente Interregno brasileiro ainda há disputa entre Poderes da República, a crise no Congresso, o desfazimento dos Partidos outrora hegemônicos, a crise econômica e a ausência de alternativas mais claras.

O Ciclo Longo, que vem desde as Capitanias Hereditárias, resultou e foi resultado de um pais absolutamente predador e desigual, forjado a ferro e fogo, na destruição das matas, tangendo gente, explorando, explorando, extraindo, sugando até não mais ter o que sugar. Tudo pelo imediato, pelo aqui e agora, e olhando sempre para fora, da colônia para a metrópole, esteja em Lisboa ou Miami, sempre uma submetrópole a se mirar.

O Ciclo médio buscou diminuir estas distorções, desde a chamada revolução de Trinta, com o governo Vargas. Houve a busca da industrialização, a consolidação dos direitos do trabalho, a educação pública, a saúde pública e demais serviços públicos (mais serviços que direitos). Mais recentemente, com o fim da Ditadura Militar, em 1985, a busca pela incorporação de mais direitos sociais (Sistema único de Saúde – SUS -, voto aos analfabetos, piso de um salário mínimo para a aposentadoria), a Constituição Cidadã, a busca pela estabilidade da moeda e, a partir do governo Lula, a busca da redução das desigualdades, instalando a “Década Inclusiva” (aumento real do Salário Mínimo e Bolsa Família). Este foi o Ciclo Curto, que ora se interrompe.

Ciclo Longo, Médio e Curto se combinam e se enfrentam. De tal modo que a história do século XX, e das duas primeiras décadas do XXI, revela uma tensão permanente, com avanços e recuos. E com muita intolerância, violência e democracia de baixa intensidade, distorcida sobremaneira pelo poder econômico, político e midiático das classes dominantes. A intolerância, a falta de democracia real e a violência não se revelam apenas no palco da “política”, mas nas relações cotidianas, nas periferias esquecidas, nas aldeias remotas, nos campos sem fim. Basta lembrar que, ao ano, 60 mil brasileiros são assassinados, além da violência no campo, massacre de indígenas e genocídio de jovens pobres nas periferias das grandes cidades, principalmente negros e pardos. Tudo contra gente e contra nossa casa comum. Tudo e todos explorados cada vez mais, até o limite do esgotamento, como se fez em Mariana, matando gente e o rio Doce.

Não há como pensar uma saída para a atual crise política, econômica, social, cultural e ética por que vive o Brasil sem levar em conta esta combinação e enfrentamento de ciclos históricos. De um lado, posturas e imposturas arraigadas; de outro, tentativas de superação, que a cada tentativa são engolidas, cooptadas, ou destruídas, a depender da correlação de forças. No meio disto, o novo que vai brotando por baixo das aparências.

No momento atual ocorre a tentativa de destruição, moral, política e física, se for necessário, do campo que buscava (com erros e acertos) diminuir as distorções geradas pelo Ciclo Longo. De certa forma é a repetição reativa de outros momentos já registrados no Ciclo Médio, iniciado em 1930 (1954, 1964 e 1994, desta vez combinando aparente democracia com avanço neoliberal). A diferença de agora é que o Brasil é mais complexo.

O fato é que ambas as forças em conflito não revelam capacidade de superação do atual quadro e não conseguem estabilizar uma hegemonia política, econômica, social e cultural. Esta incapacidade é resultado tanto da apodrecimento das forças da reação, formados no longo Ciclo de quinhentos anos de iniquidade, como da desmoralização das forças reformistas que foram emergindo a partir da “Revolução de Trinta” e que ganharam força moral no processo de redemocratização, mas que, igualmente, se perderam na incapacidade em superar este padrão histórico. Para sair deste quadro há que romper com os três Ciclos Históricos, instaurando um novo processo de longa duração que, para além de um projeto de poder partidário tem que ser um projeto de país, de povo, de humanidade.

O longo ciclo de desigualdade e exploração, instalado há 500 anos, nada tem a oferecer além de decadência e esgotamento social e das forças produtivas, sejam de ordem física, humana ou natural, agravando a decadência ética e moral que vai tomando conta da sociedade. As forças até recentemente hegemônicas, que, por diferentes meios, buscavam a redução das desigualdades e a retomada de um processo de crescimento, igualmente se revelam exauridas, até porque seu modelo de redução de desigualdade não rompia (nem pretendia romper) com os perversos processos de concentração. Se, em momentos de respiro na acumulação do Capital, com o aumento de preços em commodities e produtos para exportação, foi possível estabelecer alguma fórmula do “ganha-ganha”, em momentos de retração, como a partir da crise internacional de 2008, até mesmo os poucos avanços alcançados foram colocados em retração. Houve também o equívoco na visão de desenvolvimento, que apenas repetiu o modelo predatório, concentrador e dependente de modelos desenvolvimentistas do passado. Bem como a confusão teórica ao compreender o processo de inclusão social como um simples acesso aos bens de consumo individuais, sem o correspondente acesso aos bens coletivos (saneamento básico, educação e saúde públicas de qualidade, desprezo por uma política cultural de caráter emancipador, entre outros).

Quando o país se depara com a atual miséria política, em realidade está se deparando com a própria putrefação de ciclos históricos já esgotados. Há que abrir outro caminho.

Este caminho já existe, apenas não é suficientemente enxergado. O Brasil da desigualdade, da exploração e violência também é o Brasil do Motirô, os Mutirões dos povos indígenas, exercitando trabalho colaborativo e distribuição comum do esforço coletivo. A Cultura do Mutirão também é praticada nas comunidades rurais, nas periferias das grandes cidades, e é igualmente entrelaçada com festa e alegria, seja nas festas de São João ou regadas a samba, churrasco e cerveja ao fim de mutirões para construção de casas populares. Igualmente se replica nas novas formas de trabalho compartilhado e invenções da juventude urbana.

Se, de um lado há egoísmo e individualismos exacerbados, de outro, o círculo, as brincadeiras de roda, a ciranda, as rodas de samba, o jongo e a capoeira brotam em nossa alma brasileira. A origem está na milenar ética africana do Ubuntu, o “eu sou porque nós somos” e “nós somos porque você é”, menos “eu” e mais “nós”. O novo ciclo histórico emergirá com o ecossocialismo do encontro entre ecologia e ideias generosas da igualdade, justiça e fraternidade, realizadas com liberdade, em que a emancipação humana é o fim. Emancipação essa que só será possível, inclusive, quando rompermos com a própria noção de antropocentrismo, conforme nossos irmãos guarani nos ensinam com o Teko Porã, o Bem Viver, em que estar no planeta, convivendo harmonicamente com os demais seres, é muito mais importante que ter.

Unindo tradição com invenção, os brasileiros conseguirão superar os ciclos de sua longa história de iniquidades e injustiças; do contrário, seguiremos nos atolando em um pântano, ou nos perdendo em um labirinto sem fim. Em meio a toda esta crise de desesperança também nos deparamos com a projeção de nossa imagem, em um espelho distorcido pela ganância e a ignorância — é fato. Mas ainda assim, um espelho da sociedade brasileira e todas suas contradições. Mas também brilham imagens de esperança.

São iniciativas novas na política da vida, a biopolítica, com experimentações coletivas, das ocupações de escolas públicas por secundaristas às hortas urbanas, as ocupações artísticas de espaços comuns, o cicloativismo e a defesa de parques e praças, configurando novas atitudes urbanas. E novas formas de trabalho com a economia solidária, a agroecologia, as ocupações de fábrica, os Bancos do Povo e suas moedas e Empresas Sociais. O protagonismo indígena, quilombola, os jovens de periferia com seus saraus de poesia, o hip hop, os assentamentos da reforma agrária. Os movimentos sociais que se reinventam e se descolam do governismo (seja ele qual for). O feminismo, o ambientalismo e o municipalismo. As Assembleias Populares e os Círculos de Colaboração. Essas novas formas de agir político podem resultar em novas formas de participação social, controle do Estado e Juntas de Bom Governo.

Tudo isso se expressa em uma nova forma de política: o Cidadanismo. E deve ser organizada em novas formas-partido, conceituadas como Partidos-Movimento, ou Partidos-Fluxo, com formas mais flexíveis de organização e deliberação, rompendo com estruturas hierárquicas e verticais. Além de sustentarem a necessidade de novas formas de política, ests Partidos-Movimentos precisam compreender a necessidade de confluências que deem conta da unidade na diversidade — sobretudo em um país com as características do Brasil. Compreender a necessidade de confluências implica em profundas mudanças de atitude no fazer político:

I – se assumir como Partido de Retaguarda e não de Vanguarda; retaguarda no sentido de dar suporte e apoio aos movimentos deste novo tempo histórico, sem que isso signifique qualquer tentativa de cooptação ou controle sobre os movimentos.

II – disposição para conter e estar contido em processos mais amplos de transformação social; o que implica na construção simultânea de personalidade política própria, como Partido-Movimento, com funcionamento institucional ou não, e de uma Frente de caráter permanente e programático, que deve prever em sua gênese o transbordamento dos próprios partidos que a integram, incorporando afetos e potências das forças vivas da sociedade.

III – ter coragem para perder o controle; só quando Partidos (ou Partido-Movimento) perderem o controle da Política é que haverá, de fato, um efetivo empoderamento social, com o fortalecimento de processos de autonomia e protagonismo popular e quando isto ocorrer, o próprio papel dos novos Partidos será muito mais de análise, reflexão, inspiração e instigação que propriamente de execução e controle dos aparatos de Poder.

O resultado destas mudanças profundas deve ser o fortalecimento de zonas autônomas, campos de ação política permeados pelo empoderamento e o protagonismo popular. Essas zonas autônomas de ação política devem ocorrer no campo de movimentos, temáticas e, principalmente, na ocupação de território. Há que tomar consciência, escolher um novo caminho e trilhá-lo com coragem e esperança, independente dos poderes constituídos, para além, até mesmo, dos conceitos e formas que até pouco tempo pareciam as únicas alternativas possíveis. Um exemplo são as ocupações das escolas públicas por estudantes secundaristas e as ocupações do Ministério da Cultura, por artistas e ativistas sociais. Esta escolha ganha ainda mais força quando o poder constituído é ilegítimo, usurpado, de modo que a revolta e a recusa passam a ser reconhecidas como legítimas. Portanto, ocupai. Ocupai as fábricas, as terras, as escolas, as artes. Ocupai o Poder. Mas um poder que emane da potência e das relações de afeto entre as pessoas comuns. Um poder que emane de baixo para cima, de dentro para fora e que pode se realizar em uma nova cultura política, a começar pelos municípios, em políticas locais, radicalizando a democracia e, sobretudo, colocando o Sistema à serviço das pessoas, mais que das pessoas, à serviço da vida, até que não mais a vida seja colocada à serviço do Sistema.

A principal característica dos tempos de Interregno é a ausência de estabilidade e falta de clareza sobre o que está por vir. Também é neste período que se acentua o sentimento de que “os de cima” já não conseguem governar com antes e os “de baixo” já não querem seguir sendo governados como dantes. Em uma situação como esta, abrem-se novos caminhos, mas que não necessariamente levam ao rompimento com os Ciclos anteriores, podendo até reforçarem a permanência do Ciclo longo, com sentido altamente regressivo e repressivo. Mas há também a possibilidade de que, a partir de fendas e fissuras no Sistema, sejam encontradas (e alargadas) frestas que permitam uma ruptura mais efetiva com os ciclos anteriores. É neste momento que se encontra o Interregno brasileiro e o que está por vir só depende de nós. Que o Interregno brasileiro faça germinar um novo Brasil, que vai brotar como nunca se viu!

* Célio Turino é historiador, escritor e gestor de políticas públicas. Foi idealizador e gestor do programa Cultura Viva e dos Pontos de Cultura, tendo exercido diversas funções públicas, entre elas: Secretário de Cultura e Turismo em Campinas/SP (1990/92), Diretor de Esporte e Lazer em São Paulo/SP (2001/2004) e Secretário da Cidadania Cultural no Ministério da Cultura (2004/2010). Autor dos livros: Na Trilha de Macunaíma – ócio e trabalho na cidade (Ed. SENAC, 2005) e Ponto de Cultura – o Brasil de baixo para cima (Ed. Anita Garibaldi, 2009), entre outros.

"É difícil dialogar com regime que não demonstra inteligência" - escritor angolano Agualusa



O escritor angolano José Eduardo Agualusa considerou que a manutenção na prisão dos 17 ativistas angolanos, já condenados, demonstra o "endurecimento" do regime do Presidente José Eduardo dos Santos e a "ausência de inteligência", o que dificulta o diálogo.

Em declarações à agência Lusa, o escritor luso-angolano, manifestou-se "surpreendido" com o facto de o processo dos ativistas, que cumprem penas entre os dois anos e três meses e os oito anos e seis meses, se ter prolongado por tanto tempo, situação que, defendeu, "é difícil de compreender".

A 20 de junho de 2015, uma operação do Serviço de Investigação Criminal (SIC) fez em Luanda as primeiras detenções deste processo, que mais tarde ficaria conhecido como "15+2", em alusão aos 15 ativistas que ficaram meio ano em prisão preventiva e duas jovens que aguardaram o julgamento em liberdade, constituídas arguidas em setembro.

Todos foram condenados por rebelião e associação de malfeitores e encontram-se atualmente a cumprir penas de prisão efetiva.

"Continua a surpreender-me que este processo se tenha prolongado por tanto tempo, que eles tenham sido condenados e com penas tão pesadas. Tudo isto me parece surpreendente, tendo em atenção a injustiça flagrante de todo o processo, a perturbação que causa ao conjunto da sociedade angolana e pelo próprio regime não sair em nada beneficiado deste processo, muito pelo contrário", disse José Eduardo Agualusa.

"É difícil compreender, não se compreende esta atitude do regime. No dia em que foram presos, pensei que iriam ficar detidos dois ou três dias, como já tinha acontecido antes. À medida que este processo se foi prolongando, fui ficando cada vez mais inquieto, porque o que isto demonstra é não só o endurecimento do regime, mas também uma ausência de inteligência e é difícil dialogar com um regime que não demonstra inteligência, nem sequer para a sua própria continuidade", sustentou.

O escritor luso-angolano admitiu, porém, que os ativistas presos não cumprirão a totalidade da pena a que foram condenados e que acabarão libertados "em breve".

"Ou porque o regime não se sustenta - acho que o regime não está de boa saúde - ou são libertados porque o regime os liberta. Mas não acredito que fiquem muito mais tempo. Continuo a não acreditar nisso. Mal seria se cumprissem (a pena toda). Seria muito mau para eles, para as famílias e um mau sinal para Angola", concluiu.

JSD // VM – Lusa

Angola. DA POLÍTICA DO MANDA LIXAR ATÉ À PRÓPRIA INCOMPETÊNCIA



Fernando Vumby, opinião

ELES (JES/MPLA) FAZEM A POLÍTICA DO MANDA LIXAR

Com a sua política do jeito de quem manda pode e quem não manda cumpre , o regime angolano desde á muitos anos que ja nos deu sinais claros de que as criticas e denuncias feitas contra si serão sempre pura e simplesmente ignoradas como forma de não atrapalhar o seu projeto criminoso tão bem calculado e elaborado para ( des )governar Angola.

Eles vão continuar prendendo , matando , roubando , violando a constituição , usando , abusando dos poderes e deixando morrer mesmos angolanos sempre que acharem necessário e quanto ao que se escreve e se diz contra ele continuará á ser para sempre coisas sem espaço nos seus ouvidos , podem crer nisto meus compatriotas.

Eles querem lá saber das denuncias feitas , das criticas construtivas ou destrutivas , das provas documentais , dos factos que nos provam diariamente de que somos realmente governados por criminosos ?

Eles têm a sua agenda e projetos claramente definidos baseados no saque das nossas riquezas e fraudes de todo tipo , apostados em caminhar para frente enquanto nós mesmos nos vamos entretendo ilusórios de que as tais criticas e denuncias que acreditamos cegamente venha á influenciar e aconselhar-lhes outro comportamento ou atitude.

Creio haver aqui um choque muito grande entre o que nós pensamos ser bom e o melhor para todos os angolanos , e aquilo que eles pensam ser o ideal para que cada vez mais consolidem o seu projeto de roubalheira , assassinatos e humilhações umas atrás das outras mesmo apesar de que ainda estamos para ver e crer o pior.

Este famoso conceito de que liberdade e autoridade sejam forças solidárias completares e inseparáveis é outro grande choque porque será sempre interpretado como uma afronta por este regime que tem os seus planos como disse muito bem definido para desgraçar o país e os angolanos...

Roubar e roubar cada vez mais , e o mais rápido possível parece mesmo ser a palavra de ordem decretada enquanto as nossas criticas e denuncias vão caindo desgraçadamente para um saco vazio e roto....

Claro que mesmo assim mais vale continuar á denuncia-los e critica-los nem que seja apenas para que o mundo saiba , que não estamos calados mesmo apesar de não sermos ouvidos e nem levados em consideração.

SE  FOSSEMOS OUTRO  POVO ISABEL DOS SANTOS NUNCA  TERIA  CHEGADO ONDE JÁ CHEGOU  E VAI CHEGAR

Também se pode dizer , que se  Angola tivesse outra qualidade de oposição política  uma grande parte dos abusos de poder e humilhações  não atingiriam o nível que já atingiu  mesmo apesar de ainda não ser  aquilo que estamos á espera parvamente para vermos  , crermos e quem sabe ainda por cima  aplaudirmos ?

E é aqui que dou razão a ( ironia ) de Pepetela  quando disse uma vez , que com essa qualidade de oposição  o MPLA ainda  vai ficar mais 100 anos no poder  reforçado pela opinião de João Pinto ao dizer que só um parvo pode acreditar ver alguma vez Angola nas mãos desta oposição.

Estamos á pagar caro pela nossa covardia mesmo apesar dos partidos da oposição política e falo deles não do povo no geral , pois  este  não passa de um mero detalhe que nem está ai , pregarem insistentemente de que têm convicção do que querem , que são corajosos e inteligentes .

Só o ter convicção do que se  pretende  ser corajoso e inteligente não basta , mais importante do que isto , é que se lute de forma enérgica  com todas as armas que tivermos em nosso poder para que se atinge os objetivos pretendidos deixando de parte o conforto , a vaidade nos discursos com palavras estranhas para um povo de maioria analfabeta , trabalhar mais , fazer mais por Angola e para os  angolanos correndo riscos necessários e assumi-los  acima de tudo.

Hoje toda gente diz que luta , que quer ver Angola á mudar seu rumo e acredito que ate já somos mesmo se calhar o país onde toda gente que sabe  ler e escrever  já se considera ativista cívico nem sei com que critério , mas verdade é que ninguém tem verdadeiramente disponibilidade para  tomar as ruas como única forma de fazer sentir ás suas vozes.

Manos e manas enquanto os angolanos não deixarem essa sua mania do não querer ter problemas ou ser  incomodado pelo regime e acreditar de que não é possível ganhar sem perder  e em alguns casos ate mesmo vidas para se salvar milhões , estarão sempre  condenados á humilhações como estás por exemplo ;

O branco pode conduzir sem carta de condução , o policia pode matar , inocentes serem condenados ,  zungueiras serem roubadas quando não violadas pela policia ,  dinheiros depositados serem desviados , a falta de sangue nos hospitais enquanto mesmo á porta , o sangue roubado de gente , de  galinha , gato ou de porco  se vai  tornando cada vez em verdadeiras fontes de lucro num país onde o anormal se vai tornando cada mais normal e assumido como modernidade...


Não gostaria de terminar a primeira parte deste texto que dividi em três para não cansar os meus leitores sem utilizar as palavras emprestadas de ( Douglas H. Everett ) que dizia  o seguinte :

" Há pessoas que vivem em um mundo de sonhos , outras enfrentando a realidade , e há outras transformando sonhos em realidade "

E nós manos porque não nos situamos entre aquelas que pretende transformar os sonhos em realidade com luta  se é que não é este o país que sonhamos um dia ter para viver ?

FICAR CHATEADO SIM, MAS NA MEDIDA CERTA E CONTRA AS PESSOAS CERTAS

Estes tais tidos e achados como advogados e juízes ao serviço exclusivo de JES, são tão desgraçados quanto ao resto da nação e pica-los em demasia não acredito que mude alguma coisa.

Eles tal como a maioria dos que servem o regime patenteados ou não, não podem ser acusados todos como os culpados pela nossa desgraça pois, o pais tem pessoas e instituições que são realmente os verdadeiros responsáveis pelo estado em que as coisas chegaram que qualquer dia vão ter que responder .

Se o famigerado PGA que tem poder e responsabilidade para julgar e condenar governantes criminosos que são quase a maioria não o faz por conveniência, que culpa tem o tipo ou a tipa que é colocada afrente de um processo para cumprir aquilo que lhe escreveram e proibida á não falhar se quiser continuar á estar vivo ?

Quem como eu que conhece a vida privada e familiar de alguns deste amontoado de gente vestida de batina preta , sabe e tem consciência de que eles são tão coitados quanto ao resto da nação e não são os culpados mesmo apesar dos seus exageros .

Eles lutam pelo pão como qualquer outra pessoa que neste momento tenha uma posição como a deles e que está praticamente não autorizado á pensar com a sua cabeça , e é o caso dos médicos por exemplo , que culpa têm eles que falte medicamentos nos hospitais se os responsáveis pela compra e controle dos mesmos por conveniência não o faz , porque dá mais jeito ao regime desviar os dinheiros já que o mesmo é de carácter corrupto e criminoso , que não aconselha outra atitude ?

Estes Januarios , Fançonys e outros amontoado de lixo nesta grande lixeira que se chama judiciário angolano ou seja governo , no fundo ate não são nada e estão muito longe de serem os poderosos que nós julgamos serem quando comparados com aqueles que lhes dão as ordens , os instrumentaliza , os faz caretas e os transforma em verdadeiros palhaços , quando não lhes endossa com cargos e promoções vazias no seu verdadeiro conteúdo.

Muitos deles têm as mesmas dificuldades que tem o resto da nação para conseguirem um simples miseravel empréstimo bancário ou uns trocados para montar um negócio para o tio , tia , mãe e não são poucos que já viram seus familiares á serem enterrados em campas dos desconhecidos fora do país , simplesmente por falta de uns 5.000 dólares mesmo sendo eles os pontas de lança utilizados para cobrir jogadas sujas e grandes assaltos aos cofres públicos.

OUTRO GRANDE  PROBLEMA DOS ANGOLANOS  É O REGIME  NÃO DAR CONTA DA SUA PRÓPRIA  INCOMPETÊNCIA

E já são muitos os estudiosos angolanos e estrangeiros gente  que guarda muita sabedoria em suas cabeças que nas suas pesquisas psicológicas estão mesmo chegando á esta triste conclusão , e é como  já dizia o outro ( Estes  tipos são mesmo tão incompetentes que nunca vão dar conta daquilo que são ).

E  como é natural esta  falta de darem conta de que são incompetentes não só os limitará para  sempre , como  priva  a capacidade deles  reconhecerem  as suas próprias incompetências e isto é tambem uma das causas principais responsáveis por tanta coisa que não funciona no país e nunca vai funcionará enquanto as pessoas forem sempre as mesmas.

Como é que pessoas incompetentes podem ter noção do que não sabem , se eles nem se quer conseguem dar conta de que são incompetentes  para exercerem os  cargos que lhes são oferecidos de bandeja  quem sabe propositadamente para que tudo continue para sempre como está porque dá lucro ?

Tenho cada vez mais duvidas de que alguma vez houvesse a intenção de se governar o pais com pessoas competentes e com objetivos sérios , pois os factos nos provam á cada dia que passa de que algo se esconde por detrás deste amontoado de gente muitos dos quais semi-analfabetos , mentes apodrecidas que os meus compatriotas  angolanos são obrigados á considerar de governantes ainda por cima.

Onde é que já se viu um incompetente com raciocínio lógico , inteligência  ou mesmo com  habilidades  para fazer alguma algo  bem feita ou será que  o senhor José Eduardo Dos Santos  e seus seguidores são uma  espécie rara  de incompetentes  atípico e fenomenáis de quem se pode esperar coisas bem feitas  ?

Deixemos de ilusões está provado cientificamente de que toda gente incompetente tende a não reconhecer a competência e boas ideias dos outros seja na relação familiar assim como na vida política e é exatamente isto também uma das razões  que tem  impedido  o avanço do processo democrático que os competentes querem para Angola e os incompetentes nunca vão querer porque desde á muito que deram conta que ser  incompetente dá lucro , torna famoso , dá  poder e dinheiro em  Angola .

Fórum Livre Opinião & Justiça - Fernando Vumby

Febre-amarela em Angola esgotou duas vezes as reservas mundiais da vacina em 2016



A Organização Mundial de Saúde (OMS) assume que a resposta à epidemia de febre-amarela em Angola, que em seis meses matou cerca de 350 pessoas, levou pela primeira vez à rutura das reservas mundiais de emergência da vacina.

A informação consta de um recente relatório da OMS, consultado hoje pela Lusa, sobre a propagação da epidemia de febre-amarela de Angola - onde surgiu em dezembro de 2015 -, a outros países africanos, como a República Democrática do Congo (RDCongo) e o Uganda.

A gestão das reservas mundiais de vacinas contra a febre-amarela, cólera e meningite, para situações de emergência, é assegurada pelo International Coordinating Group (ICG), criado por organizações internacionais, incluindo a OMS e a Unicef, em 1997.

"A resposta ao surto de Angola esgotou as reservas globais de seis milhões de doses de vacina contra a febre-amarela, duas vezes este ano. Isso nunca aconteceu antes. No passado, o ICG nunca usou mais de quatro milhões de doses para controlar um surto num país", admite a OMS.

A organização recorda que até meados de junho, já quase 18 milhões de doses da vacina contra a febre-amarela tinha sido distribuídas para campanhas de emergência em Angola, RDCongo (2,2 milhões) e Uganda (700 mil).

Segundo a OMS, a vacina contra a febre-amarela "leva muito tempo a produzir", à volta de 12 meses, sendo "difícil prever com antecedência as quantidades que serão necessárias a cada ano para responder aos surtos".

Acrescenta que os quatro maiores laboratórios mundiais de produção da vacina contra a febre-amarela estão a "trabalhar sem parar" para retomar os níveis de reservas, que no início de junho estavam de novo nos 6,2 milhões de doses.

"Mas isso pode não ser suficiente, se surgirem surtos simultâneos em outras áreas densamente povoadas", alerta aquela organização das Nações Unidas.

As autoridades de saúde angolanas vacinaram perto de metade da população contra a febre-amarela em quatro meses, tentando desta forma travar a propagação da doença, que desde 05 de dezembro já provocou 345 mortos no país e infetou quase 3.200 pessoas.

A informação consta de um relatório anterior da OMS, segundo o qual 10.641.209 pessoas foram vacinadas no país contra a doença, até 10 de junho.

"Quase metade do país foi vacinado e Angola recebeu 11.635.800 vacinas. Foram feitas campanhas de vacinação em massa em todos os municípios de Luanda, em sete distritos de Benguela, em cinco distritos de Cuanza Sul, cinco municípios do Huambo, três distritos de Huíla e dois do Uíge", lê-se.

Estas campanhas recorrem ao apoio dos militares e contam com ajuda financeira da comunidade internacional para a aquisição de vacinas, tendo arrancado em Luanda, foco da epidemia, nos primeiros dias de fevereiro.

O ministro da Saúde de Angola, Luís Gomes Sambo, anunciou a 23 de maio, em Genebra, querer vacinar cerca de 24 milhões de pessoas, ou seja "toda a população-alvo" da atual epidemia de febre-amarela, mas admitiu que não havia no mercado vacinas suficientes.

A transmissão da doença é feita pela picada do mosquito (infetado) "aedes aegypti", que segundo a OMS, no início desta epidemia, estava presente, em algumas zonas de Viana, Luanda, em 100% das casas.

Trata-se do mesmo mosquito responsável pela transmissão da malária, a principal causa de morte em Angola, e que se reproduz em águas paradas e na concentração de lixo, dois problemas (época das chuvas e falta de limpeza de resíduos) que afetaram a capital angolana desde agosto passado.

PVJ // VM - Lusa

Nomear e nomear mais, menosprezando e desprezando sempre os princípios democráticos, tristeza!


GUINÉ-BISSAU

Abdulai Keita*, opinião

Existem alguns princípios BÊ-Á-BÁ’s da Democracia Parlamentar Representativa sem as quais este tipo de regime não pode funcionar na estabilidade. Pode-se fazer o que quiser.

Um deles é este: o combinado dos três princípios centrais de fidelidade, disciplina e compromissos de lealdade partidários (ou seja, o conjunto dos três princípios do funcionamento partidário nos regimes da Democracia Parlamentar Representativa), a saber: (1) o princípio de fidelidade e disciplina partidárias (a respeitar irrestritamente por todos os militantes de um partido político; (2) o imperativo do respeito irrestrito do princípio dos compromissos programáticos partidários (a respeitar irrestritamente pelo partido representado pela sua direção em exercício em cada período) e; (3) o imperativo do respeito irrestrito dos compromissos assumidos para com assuntos programáticos relevantes do partido (a respeitar por cada um dos militantes responsáveis ou dirigentes dos partidos políticos, investidos em postos de responsabilidade em como eleitos representantes do povo em nome das suas agremiações).

O menosprezo/desrespeito deste conjunto de princípios, por exemplo, via, recurso às jogadas de dissidência; subterfúgio na categoria do deputado independente e tudo mais; criação de arranjos (acordos) e “maiorias absolutas” ex post eleição (ilegais) no Parlamento; criação de Governos de bel-prazer (porque não podendo ser controlados e fiscalizados eficazmente por ninguém), nunca levou ao funcionamento desejado nenhum na Guiné-Bissau. O nosso país conheceu 9 Governos do género no nosso passado bem recente nas V, VI e VII legislaturas. Todos findaram muito mal. Sem nenhum ter cumprido o período governativo visado. O Sr. Soares Sambú sabe bem isto. Participou em alguns (o 1º da VI e o 3º da VII).

Por isso estou muito cético enquanto às possibilidades deste Governo de poder tirar o nosso país na situação em que se encontra já há quase 10 meses neste momento. Pois, em vez de se seguir vias possíveis legais, está-se seguir esta ilegal. Resultante evidentemente desta via do menosprezo/desrespeito antes aludido. Esta que não trará/fará senão, tal como nos casos do nosso passado, mais um feio empurrão no sentido de mais um bocadinho de atraso para o nosso país todo. Grande tristeza!

Obrigado e boa sorte a todos nós bissau-guineenses (Mulheres e Homens).

Que a tranquilidade, paz e estabilidade governativa se instale neste nosso querido país do povo bom, a Guiné-Bissau.

Amizade.    

*Pesquisador Independente e Sociólogo (DEA/ED)

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