É
da Bíblia: “Quem com ferros mata, com ferros morre”. Se é da Bíblia então a
coisa cumpre-se. A polícia norte-americana assassina negros x negros assassinam
polícias. No país dos cowboys é assim. E se a população negra norte-americana
fosse fazer justiça pelas suas próprias mãos… upa, upa. O racismo continua à
solta, a exclusão social é feroz… O que é que estes pseudo dirigentes
setoriais, nacionais e globais andam a fazer? Merda. Adulação ao dinheiro e
outros valores, que não o valor dos seres humanos. Esses servem para explorar, para
estropiar, para assassinar. Mundo porco. Pior que mundo cão.
Bom
dia. Será melhor se pegar num foguetão e sair deste planeta para um em que a
desumanidade tenha sido extinta ou nem sequer tenha existido.
Cafeína
para todos. Sobra futebol já a seguir. É tempo dele e de alienação, se deixar
ou quiser alienar-se do chiqueiro em que sobrevivemos.
Mário
Motta / PG
Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Ricardo
Marques – Expresso
Da
ausência
França
e Portugal. Duas equipas que ainda não ganharam nada.Uma ganhará tudo, a outra
perderá como ninguém perdeu até aqui. Escorregar ao primeiro passo custa, mas
falhar o derradeiro salto, aquele que conduz ao cume, custa muito mais.
Estes serão os dias do tudo ou nada e a bola, é sabido, não tem um canto onde
seja possível arrumar qualquer coisa. É aborrecidamente redonda,
fascinantemente redonda. Hoje, amanhã e depois, até às oito da noite de
domingo, ouvirá falar de futebol, de mais futebol, de mais futebol. Tudo o
resto estará ausente.
Esta manhã é dedicada à ausência, mas começa na redondinha. O treino em
Marcoussis, nos arredores de Pá-rrí, deve começar dentro de 'moments' - mais
uma oportunidade para espreitar os estado de espírito dos jogadores
portugueses. Os que vão estar na final, os que já estiveram em campo, mas
também os que ainda não pisaram a relva – e provavelmente não o vão fazer.
Os dois ausentes absolutos são guarda-redes. Um é Anthony Lopes, joga em
França, no Lyon. Tal como Rui Patrício, é conhecido por dois nomes. Eduardo
nem por isso, sempre foi Eduardo. Mas também tem apelido, Carvalho, e acho que
é isso que ele está a gritar no célebre vídeo em que Ronaldo chama Moutinho
para marcar os penaltis contra a Polónia: "Vamos lá! Carvalho!",
diz ele, após o capitão declamar um dos poemas mais marcantes da modernidade
lusitana: "Ó.Ó. Anda bater, anda bater. Anda. Tu bates bem..."
Ontem, Fernando Santos juntou mais três frases de belo recorteao volumoso
livro de citações que Portugal trará de França. "Quem joga mal,
perde. Quem joga bem, ganha. Quem joga bonito ou feio, umas vezes ganha, umas
vezes perde". Como a seleção ainda não perdeu, é lógico concluir que
tem jogado bem. Enquanto escrevo, umas pessoas na televisão garantem que a
França é a melhor coisa que nos podia ter acontecido antes da final. "Mais
fácil do que a Alemanha". Isto apesar de, explicam noutro canal, perdermos
sempre com os franceses nos "jogos a doer". E alguns doeram muito.
O melhor marcador dos franceses, e do Euro, assinou os dois golos que mandaram
os alemães para casa. Chama-se Griezmann e é neto de um português. É estar
de olho nele. No fim do jogo de domingo, aquilo que ele estiver a sentir
será inversamente proporcional ao estado de espírito dos onze milhões que estão
na equipa, mas que jogam tanto como o Lopes e o Carvalho.
Venha outro francês, Philippe Destouches (1680-1754), que os
contemporâneos diziam não ter tanta piada como Molière. É dele a frase que
se segue, e que Fernando Santos subscreveria:
"Os ausentes nunca têm razão."
OUTRAS
NOTÍCIAS
Agora a verdadeira ausência. De assuntos, de filtros, de sanções, de
liberdade. De vida.
É uma informação de última hora: Cinco agentes da polícia de Dallas foram mortos, outros
seis feridos esta madrugada, durante uma manifestação que juntou milhares de
pessoas contra a morte de dois cidadãos negros por agentes da autoridade no
Louisiana e no Minnesota. Há fotografias e a explicação possível sobre o que
está a acontecer no New York Times e no Dallas Morning News No momento em que escrevo, a
polícia já feztrês detenções e tenta negociar a rendição de um quarto
atirador, que está cercado. Não há para já muita informação sobre os
detidos, que parecem revelar alguma organização no ataque.
A explosiva relação entre a polícia e a comunidade negra está outra
vez a agitar o país. São de horror as imagens que nos últimos dois dias
chegaram dos EUA, sempre com os mesmos protagonistas, sempre filmadas com
telemóveis e nunca com um final diferente.
Há um vídeo chocante com um momento demasiado violento
– em que é possível ver os últimos segundos de vida de um homem baleado pela
polícia em Baton Rouge, no Louisianna. Há uma outra morte, em
St. Paul, no Minnesota, também gravada com um telemóvel. O NYT faz um apanhado de todas as situações ocorridas nos últimos tempos.
Está complicado o mundo que fica quando nos ausentamos dele para ver rolar a
bola.
E como ela rola. Ontem à tarde desceu a S. Bento, subiu aquela escadaria
imensa e foi alojar-se à esquerda, coladinha ao pé de Catarina Martins, a líder
do Bloco de Esquerda, que, a piscar o olho ao futebol, acusou a direita de
"estar a torcer pela Alemanha desde o início".
Era dia de debate do Estado da Nação (EN), após sete meses de Governo do PS,
mas o EN ficou no banco, a ver o jogo das sanções. O Expresso preparou
um trabalho detalhado sobre ele, o EN, e reagiu bem
à finta dos grupos parlamentares. Começou com a Susana Frexes, a partir de
Bruxelas, a explicar como se chegou às sançoes e rematou para um artigo completo
sobre a tarde no hemiciclo. Tudo o que precisa de saber, mais um título que tão cedo não vai
esquecer. Resta esperar pela reunião do Ecofin, no dia 12 – ou dois dias
após a final de Paris. Ontem foi mesmo sanção para cá, sanção para lá, sanção
e mais sanção e dali não saíram.
Carlos Cruz saiu em Liberdade ao final da tarde – e as
televisões interromperam por momentos o debate do EN para o ouvir dizer
que não é o fim. Oportunidade para lembrar uma reportagem publicada
na E, assinada por João Garcia, sobre a vida na cadeia . Algo que para Carlos Cruz faz agora
parte do passado.
A Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD parece um carro antigo, daqueles em
que era preciso dar à manivela. Neste momento, os deputados discutem qual a
melhor manivela e para que lado a rodar, conscientes de que o depósito está
quase vazio.Matos Correia, o presidente da comissão, acabou a pedir aos
deputados que se entendam para que o carro comece a andar. “A imagem que esta
comissão deve dar não é a que se está a registar. Sejamos responsáveis porque
senão isto vai correr muito mal." O Adriano Nobre descreve uma manhã de marcha lenta no Parlamento.
Em Espanha, a conversa é outra. O líder do PP, e vencedor da versão mais
recente das legislativas, falou ontem para dizer algo como“Falo com todos,
quando quiserem, onde quiserem”. Eles que decidam, porque Rajoy vai estar à espera. A Espanha está à espera e, verdade seja dita,
todos nós também. No El Pais ficamos a saber que Rajoy aponta para o final do
mês para ter o processo de formação de Governo completo. Enquanto espera, e ele
está à espera, o Tribunal Constitucional declarou ainconstitucionalidade de várias estruturas
administrativas da Catalunha- uma espécie de alicerce sobre o qual poderia
crescer um edifício independente.
Crescer é um verbo raro na Grécia - que após meses a fio no topo de todas
as nossas conversas atravessa agora o deserto da ausência. Só os problemas
crescem e Alexis Tsipras fez novo apelo de renegociação aos credores
internacionais, como explica o Wall Street Journal.
Na Alemanha foram ontem aprovadas leis para os crimes sexuais, na
sequência dos acontecimentos da noite de fim de ano em Colónia - onde
terão ocorrido inúmeros casos de abuso sexual que, inicialmente, foram
atribuídos a refugiados.A discussão é tudo menos simples.
No Parlamento da Madeira discute-se a situação na Venezuela, onde a
inflação deverá atingir, segundo as previsões, 2000% no próximo ano. O que está
em causa na Venezuela? A Atlantic tem aqui um breve resumo.
Os em-breve-ou-talvez-nem-tanto-ausentes-britânicos assistem à corrida para a liderança
do Governo. Dada a anunciada ausência de David Cameron, os conservadores
decidem quem será o novo líder, ou a nova líder neste caso. Theresa May e
Andrea Leadsom, uma delas será a próxima primeira-ministra (devem começar a chegar
nos próximos dias as comparações com Margaret Thatcher). Michael Gove
ficou pelo caminho, ele que se chegou à frente para colmatar a ausência de
Boris Johnson, que se ausentou antes de se ausentar Nigel Farage, abrindo uma
enorme ausência do lado dos que defenderam a ausência... Mais sobre este
fascinante processo de ausência e afastamento em algo a que podemos chamar o
lado "Downtown Abbey" do Brexit
O outro grande assunto nos EUA é a audição do director do FBI no Congresso.
Foi transmitida ao vivo por televisões e jornais, ou não fosse o assunto o uso
indevido feito por Hillary Clinton, a candidata democrata à Casa Branca, da sua
conta de email pessoal para tratar de assuntos de Estado. E tudo começou com
uma estranha dança de palavras entre o diretor do FBI,
James Comey, e o congressista republicano Jason Chaffetz. O segundo a
querer dançar uma música que rimava com “Hillary cometeu um crime?” e o
primeiro a fingir que não apanhava o ritmo. Uma amostra de que os meses que
faltam até à eleição não vão ser nada fáceis.
No Reino Unido, como se o Brexit não fosse suficiente, veio agora orelatório
sobre a Guerra no Iraque abanar ainda mais o pais. Há duas noites, na revista
de imprensa da Sky News, estava Anastasia de Waal, uma das responsáveis do
think thank Civitas, e George Pascoe-Watson, antigo editor de politica do The
Sun (jornal que passou de ser um dos maiores apoiantes da guerra para se tornar
anti-Blair, notou Pascoe-Watson). O relatório de John Chilcotdemorou cinco
anos até estar concluído (pode descarregar aqui oenorme documento) e, claro, ocupou a maior parte da
conversa, Pascoe-Watson e de Waal estavam de acordo num ponto: até que
ponto este caso, o de um governo que decidiu agir quando teria sido mais
prudente esperar, pode condicionar a ação de um governo que hesita em atuar quando
realmente deve fazê-lo? A leitura de Jorge Almeida Fernandes no Público sobre o
passado recente de Blair é imprescindível.
Na Nova Zelândia estão a desaparecer gatos de forma inexplicável. E em Espanha falta espaço, mas se
calhar também cabeça a quem decide passar uns minutos a correr à frente de
touros pelas ruas apertadas de Pamplona. A largada de ontem, a primeira do San
Fermín, foi "limpa e rápida", diz o jornal ABC. Quatro feridos no
hospital. Depois de ver as imagens, é difícil explicar a ausência de mais
pacientes internados.
MANCHETES
Correio da Manhã: "Turistas sofrem 23 crimes por dia"
Diário de Notícias: "Crato é testemunha dos colégios privados contra o
ministério"
Jornal de Notícias: "Descontos nas portagens do Interior congelados"
Público: "Brexit está a despertar interesse no mercado imobiliário
português"
i: "A PT não queria faturas detalhadasporque dizia que causavam muitos
divóricos" (entrevista a Jorge Morgado, da DECO)
O QUE ANDO A LER
Que atire o primeiro livro quem jurar que tem arranjado tempo para ler. Como?
Se há jogos todos os dias, cada vez mais intensos, mais decisivos? Como?
Na ausência nasce um rio de palavras. Não há ensaios, nem romances, mas haverá
sempre poesia. Neste caso, uma espécie de ensaio, para ler como um romance
e que acaba com um poema. A escritora Roa Lynn lembra o dia em que bateu à porta de Pablo Neruda.
Já está a contar o tempo que nos separa desses noventa minutos. Aproveite-o bem.
Há Expresso Diário às seis da tarde, Expresso nas bancas amanhã e Expresso
online, com toda a informação sobre o Euro 2016, a qualquer hora do dia e a
partir de qualquer parte do mundo.
Lembre-se:
“O verdadeiro fim não está no atingir o limite, mas sim em chegar ao ilimitável” (Rabindranath
Tagore)
Tenha um excelente fim-de-semana. E uma noite de domingo ainda melhor.