sexta-feira, 8 de julho de 2016

E CONTUDO, EXISTE!



Pedro Bacelar de Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião

Aguardamos com tédio indisfarçável os próximos episódios do melodrama da eventual aplicação de sanções a Portugal por violação, em 0,2%, do máximo prescrito pela regra de ouro inscrita no pacto orçamental. No fundo, isto não passa de uma querela religiosa entre o campeão da ortodoxia financeira germânica, Wolfgang Schäuble, e os seus idólatras lusitanos que, como todos se recordam, desempenharam com fervor a rábula do discípulo exemplar da única doutrina verdadeira, quando soaram as trombetas da condenação e expulsão impiedosa dos hereges gregos, relapsos e contumazes! Meio ano bastou para demonstrar que o país não estava condenado aos caprichos dos mercados financeiros nem à tutela paternal dos credores internacionais e dos seus diligentes burocratas. E que ao Governo da República compete defender os interesses do povo que o legitimou.

Mas diziam que não! Que não era possível. Primeiro, não havia alternativa ao pedido de resgate perante a situação de bancarrota iminente a que o "despesismo" dos governos socialistas irresponsavelmente conduzira o país. Passos Coelho, Paulo Portas, toda a Oposição parlamentar e até o Presidente da República, proclamavam, em 2011, que não era possível exigir mais sacrifícios ao povo, nem sequer aquele acréscimo de austeridade que o Governo socialista tinha conseguido negociar com Bruxelas, no quadro do famigerado quarto "Pacto de Estabilidade e Crescimento". Depois, conseguiram que a bancarrota se tornasse de facto iminente e que o Governo derrubado se visse obrigado a subscrever, relutante, o ansiado pedido de resgate mais o memorando de entendimento que Passos Coelho e Paulo Portas iriam adotar como fundamento supremo e exclusivo da sua longa governação. É por demais conhecido o resto da história mas é imperativo recordar as amargas lições que aprendemos ao longo dos últimos quatro anos para não recair nos mesmos erros. Se em 2011, antes das eleições de junho, achavam que a austeridade era excessiva, já em 2015, antes das eleições de outubro, iriam proclamar o fim da austeridade! Para efeitos restritos às conveniências da sua campanha eleitoral, o país regressava temporariamente à esperança de que todos os sacrifícios sofridos, graças à intervenção redentora de Passos e Portas, se tinha finalmente libertado do fardo das políticas de austeridade.

Puro engano! Tudo não passou de uma ilusão passageira. Uma vez concluído o escrutínio da longa noite eleitoral de 5 de outubro e assegurada a vitória ambígua que concedia o primeiro lugar à coligação governante mas lhe retirava a maioria absoluta que antes lhe havia confiado o poder por uma legislatura inteira, a coligação mascarada de Pàf retomou o seu rosto original e propunha-se governar por mais uma legislatura, à sombra dos mesmos embustes e artifícios que usara no mandato anterior. E até conseguiu formar governo. E voltou a ameaçar os eleitores e os seus representantes eleitos com as penas do inferno despesista que alegadamente conduzira o país à bancarrota. E contaram com a cumplicidade do mesmo presidente que lhes permitira governar durante um mandato inteiro. Mas o Parlamento soube interpretar a vontade dos eleitores e não consentiu. O programa do segundo Governo do PSD/CDS foi chumbado, a corajosa solução governativa apresentada pelo PS foi sufragada pela maioria dos representantes eleitos e a alternativa de Esquerda - vencedora das eleições legislativas de outubro - ficou habilitada a governar para cumprir as esperanças sistematicamente atraiçoadas por uma Direita hipócrita, demagógica e desacreditada.

A economia global continua anémica, a conjuntura internacional é explosiva e a Europa, depois da tentativa odiosa de expulsão da Grécia e do catastrófico referendo britânico, continua sem vontade de responder aos desafios de que depende a sua própria sobrevivência e a segurança dos seus vizinhos. No cenário mais improvável, contudo, o Governo da Esquerda conseguiu provar que afinal havia alternativa. Que é possível governar em sintonia com as aspirações expressas pelo voto popular. Que a democracia continua a fazer sentido e continua a ser o menos mau de todos os sistemas políticos inventados até hoje.

* Deputado e professor de direito constitucional

RACISMO À SOLTA NOS EUA… E NO PLANETA



É da Bíblia: “Quem com ferros mata, com ferros morre”. Se é da Bíblia então a coisa cumpre-se. A polícia norte-americana assassina negros x negros assassinam polícias. No país dos cowboys é assim. E se a população negra norte-americana fosse fazer justiça pelas suas próprias mãos… upa, upa. O racismo continua à solta, a exclusão social é feroz… O que é que estes pseudo dirigentes setoriais, nacionais e globais andam a fazer? Merda. Adulação ao dinheiro e outros valores, que não o valor dos seres humanos. Esses servem para explorar, para estropiar, para assassinar. Mundo porco. Pior que mundo cão.

Bom dia. Será melhor se pegar num foguetão e sair deste planeta para um em que a desumanidade tenha sido extinta ou nem sequer tenha existido.

Cafeína para todos. Sobra futebol já a seguir. É tempo dele e de alienação, se deixar ou quiser alienar-se do chiqueiro em que sobrevivemos.

Mário Motta / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Ricardo Marques – Expresso

Da ausência

França e Portugal. Duas equipas que ainda não ganharam nada.Uma ganhará tudo, a outra perderá como ninguém perdeu até aqui. Escorregar ao primeiro passo custa, mas falhar o derradeiro salto, aquele que conduz ao cume, custa muito mais.

Estes serão os dias do tudo ou nada e a bola, é sabido, não tem um canto onde seja possível arrumar qualquer coisa. É aborrecidamente redonda, fascinantemente redonda. Hoje, amanhã e depois, até às oito da noite de domingo, ouvirá falar de futebol, de mais futebol, de mais futebol. Tudo o resto estará ausente.

Esta manhã é dedicada à ausência, mas começa na redondinha. O treino em Marcoussis, nos arredores de Pá-rrí, deve começar dentro de 'moments' - mais uma oportunidade para espreitar os estado de espírito dos jogadores portugueses. Os que vão estar na final, os que já estiveram em campo, mas também os que ainda não pisaram a relva – e provavelmente não o vão fazer.

Os dois ausentes absolutos são guarda-redes. Um é Anthony Lopes, joga em França, no Lyon. Tal como Rui Patrício, é conhecido por dois nomes. Eduardo nem por isso, sempre foi Eduardo. Mas também tem apelido, Carvalho, e acho que é isso que ele está a gritar no célebre vídeo em que Ronaldo chama Moutinho para marcar os penaltis contra a Polónia: "Vamos lá! Carvalho!", diz ele, após o capitão declamar um dos poemas mais marcantes da modernidade lusitana: "Ó.Ó. Anda bater, anda bater. Anda. Tu bates bem..."

Ontem, Fernando Santos juntou mais três frases de belo recorteao volumoso livro de citações que Portugal trará de França. "Quem joga mal, perde. Quem joga bem, ganha. Quem joga bonito ou feio, umas vezes ganha, umas vezes perde". Como a seleção ainda não perdeu, é lógico concluir que tem jogado bem. Enquanto escrevo, umas pessoas na televisão garantem que a França é a melhor coisa que nos podia ter acontecido antes da final. "Mais fácil do que a Alemanha". Isto apesar de, explicam noutro canal, perdermos sempre com os franceses nos "jogos a doer". E alguns doeram muito.

O melhor marcador dos franceses, e do Euro, assinou os dois golos que mandaram os alemães para casa. Chama-se Griezmann e é neto de um português. É estar de olho nele. No fim do jogo de domingo, aquilo que ele estiver a sentir será inversamente proporcional ao estado de espírito dos onze milhões que estão na equipa, mas que jogam tanto como o Lopes e o Carvalho.

Venha outro francês, Philippe Destouches (1680-1754), que os contemporâneos diziam não ter tanta piada como Molière. É dele a frase que se segue, e que Fernando Santos subscreveria:

"Os ausentes nunca têm razão."

OUTRAS NOTÍCIAS

Agora a verdadeira ausência. De assuntos, de filtros, de sanções, de liberdade. De vida.

É uma informação de última hora: Cinco agentes da polícia de Dallas foram mortos, outros seis feridos esta madrugada, durante uma manifestação que juntou milhares de pessoas contra a morte de dois cidadãos negros por agentes da autoridade no Louisiana e no Minnesota. Há fotografias e a explicação possível sobre o que está a acontecer no New York Times e no Dallas Morning News No momento em que escrevo, a polícia já feztrês detenções e tenta negociar a rendição de um quarto atirador, que está cercado. Não há para já muita informação sobre os detidos, que parecem revelar alguma organização no ataque.

A explosiva relação entre a polícia e a comunidade negra está outra vez a agitar o país. São de horror as imagens que nos últimos dois dias chegaram dos EUA, sempre com os mesmos protagonistas, sempre filmadas com telemóveis e nunca com um final diferente.

Há um vídeo chocante com um momento demasiado violento – em que é possível ver os últimos segundos de vida de um homem baleado pela polícia em Baton Rouge, no Louisianna. Há uma outra morte, em St. Paul, no Minnesota, também gravada com um telemóvel. O NYT faz um apanhado de todas as situações ocorridas nos últimos tempos.

Está complicado o mundo que fica quando nos ausentamos dele para ver rolar a bola.

E como ela rola. Ontem à tarde desceu a S. Bento, subiu aquela escadaria imensa e foi alojar-se à esquerda, coladinha ao pé de Catarina Martins, a líder do Bloco de Esquerda, que, a piscar o olho ao futebol, acusou a direita de "estar a torcer pela Alemanha desde o início".

Era dia de debate do Estado da Nação (EN), após sete meses de Governo do PS, mas o EN ficou no banco, a ver o jogo das sanções. O Expresso preparou um trabalho detalhado sobre ele, o EN, e reagiu bem à finta dos grupos parlamentares. Começou com a Susana Frexes, a partir de Bruxelas, a explicar como se chegou às sançoes e rematou para um artigo completo sobre a tarde no hemiciclo. Tudo o que precisa de saber, mais um título que tão cedo não vai esquecer. Resta esperar pela reunião do Ecofin, no dia 12 – ou dois dias após a final de Paris. Ontem foi mesmo sanção para cá, sanção para lá, sanção e mais sanção e dali não saíram.

Carlos Cruz saiu em Liberdade ao final da tarde – e as televisões interromperam por momentos o debate do EN para o ouvir dizer que não é o fim. Oportunidade para lembrar uma reportagem publicada na E, assinada por João Garcia, sobre a vida na cadeia . Algo que para Carlos Cruz faz agora parte do passado.

A Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD parece um carro antigo, daqueles em que era preciso dar à manivela. Neste momento, os deputados discutem qual a melhor manivela e para que lado a rodar, conscientes de que o depósito está quase vazio.Matos Correia, o presidente da comissão, acabou a pedir aos deputados que se entendam para que o carro comece a andar. “A imagem que esta comissão deve dar não é a que se está a registar. Sejamos responsáveis porque senão isto vai correr muito mal." O Adriano Nobre descreve uma manhã de marcha lenta no Parlamento.

Em Espanha, a conversa é outra. O líder do PP, e vencedor da versão mais recente das legislativas, falou ontem para dizer algo como“Falo com todos, quando quiserem, onde quiserem”. Eles que decidam, porque Rajoy vai estar à espera. A Espanha está à espera e, verdade seja dita, todos nós também. No El Pais ficamos a saber que Rajoy aponta para o final do mês para ter o processo de formação de Governo completo. Enquanto espera, e ele está à espera, o Tribunal Constitucional declarou ainconstitucionalidade de várias estruturas administrativas da Catalunha- uma espécie de alicerce sobre o qual poderia crescer um edifício independente.

Crescer é um verbo raro na Grécia - que após meses a fio no topo de todas as nossas conversas atravessa agora o deserto da ausência. Só os problemas crescem e Alexis Tsipras fez novo apelo de renegociação aos credores internacionais, como explica o Wall Street Journal.

Na Alemanha foram ontem aprovadas leis para os crimes sexuais, na sequência dos acontecimentos da noite de fim de ano em Colónia - onde terão ocorrido inúmeros casos de abuso sexual que, inicialmente, foram atribuídos a refugiados.A discussão é tudo menos simples.

No Parlamento da Madeira discute-se a situação na Venezuela, onde a inflação deverá atingir, segundo as previsões, 2000% no próximo ano. O que está em causa na Venezuela? A Atlantic tem aqui um breve resumo.

Os em-breve-ou-talvez-nem-tanto-ausentes-britânicos assistem à corrida para a liderança do Governo. Dada a anunciada ausência de David Cameron, os conservadores decidem quem será o novo líder, ou a nova líder neste caso. Theresa May e Andrea Leadsom, uma delas será a próxima primeira-ministra (devem começar a chegar nos próximos dias as comparações com Margaret Thatcher). Michael Gove ficou pelo caminho, ele que se chegou à frente para colmatar a ausência de Boris Johnson, que se ausentou antes de se ausentar Nigel Farage, abrindo uma enorme ausência do lado dos que defenderam a ausência... Mais sobre este fascinante processo de ausência e afastamento em algo a que podemos chamar o lado "Downtown Abbey" do Brexit

O outro grande assunto nos EUA é a audição do director do FBI no Congresso. Foi transmitida ao vivo por televisões e jornais, ou não fosse o assunto o uso indevido feito por Hillary Clinton, a candidata democrata à Casa Branca, da sua conta de email pessoal para tratar de assuntos de Estado. E tudo começou com uma estranha dança de palavras entre o diretor do FBI, James Comey, e o congressista republicano Jason Chaffetz. O segundo a querer dançar uma música que rimava com “Hillary cometeu um crime?” e o primeiro a fingir que não apanhava o ritmo. Uma amostra de que os meses que faltam até à eleição não vão ser nada fáceis.

No Reino Unido, como se o Brexit não fosse suficiente, veio agora orelatório sobre a Guerra no Iraque abanar ainda mais o pais. Há duas noites, na revista de imprensa da Sky News, estava Anastasia de Waal, uma das responsáveis do think thank Civitas, e George Pascoe-Watson, antigo editor de politica do The Sun (jornal que passou de ser um dos maiores apoiantes da guerra para se tornar anti-Blair, notou Pascoe-Watson). O relatório de John Chilcotdemorou cinco anos até estar concluído (pode descarregar aqui oenorme documento) e, claro, ocupou a maior parte da conversa, Pascoe-Watson e de Waal estavam de acordo num ponto: até que ponto este caso, o de um governo que decidiu agir quando teria sido mais prudente esperar, pode condicionar a ação de um governo que hesita em atuar quando realmente deve fazê-lo? A leitura de Jorge Almeida Fernandes no Público sobre o passado recente de Blair é imprescindível.

Na Nova Zelândia estão a desaparecer gatos de forma inexplicável. E em Espanha falta espaço, mas se calhar também cabeça a quem decide passar uns minutos a correr à frente de touros pelas ruas apertadas de Pamplona. A largada de ontem, a primeira do San Fermín, foi "limpa e rápida", diz o jornal ABC. Quatro feridos no hospital. Depois de ver as imagens, é difícil explicar a ausência de mais pacientes internados.

MANCHETES

Correio da Manhã: "Turistas sofrem 23 crimes por dia"

Diário de Notícias: "Crato é testemunha dos colégios privados contra o ministério"

Jornal de Notícias: "Descontos nas portagens do Interior congelados"

Público: "Brexit está a despertar interesse no mercado imobiliário português"

i: "A PT não queria faturas detalhadasporque dizia que causavam muitos divóricos" (entrevista a Jorge Morgado, da DECO)

O QUE ANDO A LER

Que atire o primeiro livro quem jurar que tem arranjado tempo para ler. Como? Se há jogos todos os dias, cada vez mais intensos, mais decisivos? Como?

Na ausência nasce um rio de palavras. Não há ensaios, nem romances, mas haverá sempre poesia. Neste caso, uma espécie de ensaio, para ler como um romance e que acaba com um poema. A escritora Roa Lynn lembra o dia em que bateu à porta de Pablo Neruda.

Já está a contar o tempo que nos separa desses noventa minutos. Aproveite-o bem. Há Expresso Diário às seis da tarde, Expresso nas bancas amanhã e Expresso online, com toda a informação sobre o Euro 2016, a qualquer hora do dia e a partir de qualquer parte do mundo.

Lembre-se:

“O verdadeiro fim não está no atingir o limite, mas sim em chegar ao ilimitável” (Rabindranath Tagore)

Tenha um excelente fim-de-semana. E uma noite de domingo ainda melhor.

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