quinta-feira, 11 de agosto de 2016

RENAMO DIZ QUE CESSAR-FOGO EM MOÇAMBIQUE DEPENDE DE FILIPE NYUSI




Renamo é intransigente na pretensão de governar centro e norte de Moçambique e diz que cessar-fogo depende de Filipe Nyusi

Emildo Sambo  - @Verdade

A Renamo, maior partido da oposição em Moçambique, enviou uma carta à Presidência da República a impor condições para o cessar-fogo. José Manteigas, chefe da delegação da Renamo na comissão mista, que junto dos mediadores internacionais prepara o (des)encontro entre Afonso Dhlakama e o Presidente da República, recusou revelar os detalhes do documento, alegando que não podia fazê-lo virtude do decurso das negociações em curso, mas adiantou que tudo depende da responda do Chefe de Estado, Filipe Nyusi.

Fora da comissão mista e do contacto com os mediadores internacionais, a “Perdiz” privilegia contactos paralelos com Filipe Nyusi, que, pese embora os discursos sobre a paz, não tem tido grandes avanços e resultados nesse sentido.

Sabe-se, porém, que uma das exigências do líder do maior partido da oposição ao Executivo é a retirada e/ou recuo das Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Gorongosa, onde se acredita que Afonso Dhlakama esteja, e a ser encurralado.

“O presidente Dhlakama mandou uma informação (à Presidência da República), que eu não devo aqui revelar (…). Neste momento estamos à espera da resposta do Presidente da República. Não quero entrar em detalhes porque estamos em negociações”, disse José Manteigas e deputado da Assembleia da República (AR) à saída da reunião que os mediadores estrangeiros mantiveram com esta formação política.

Na quarta-feira (10), os “forasteiros” ouviram o posicionamento da “Perdiz” em relação à exigência de governar as províncias de Manica, Sofala, Tete, Zambézia, Nampula e Niassa, onde reclama vitória nas últimas eleições gerais.

Todavia, para o Governo as últimas eleições não visavam a escolha de governadores provinciais, mas, sim, do Chefe de Estado. Ainda segundo o Executivo, a pretensão da Renamo não tem enquadramento possível na Constituição da República nem em nenhuma outra lei.

Para além de não abandonar a ideia de governar as seis províncias, o que já foi rejeitado pela Frelimo no Parlamento, a “Perdiz” exige, também, a reintegração dos seus homens e das forças residuais nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), bem como a despartidarização do Aparelho do Estado.

Este partido, chegou a determinar que, apesar de o seu projecto tenha sido chumbado pela bancada maioritária na chamada “Casa do Povo”, iria governar à força a partir de 01 de Março passado, o que não se concretizou. Mas José Manteigas disse que os mediadores “estão a cozinhar as reflexões” avançadas pelas duas delegações, em separado, e o passo a seguir será um encontro com a comissão mista.

O partido liderado por Afonso Dhlakama exigiu a presença dos mediadores da União Europeia, da Igreja Católica e da África do Sul, e o Governo chamou o ex-Presidente do Botswana, Quett Masire, ina dicou Fundação Global Leadership (do ex-secretário de Estado norte-americano para os Assuntos Africanos Chester Crocker), a Fundação Faith, liderada pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, e o antigo Presidente da Tanzânia, Jakaya Kikwete.

Entretanto, quando questionado, por um diário da praça, “o que é que os mediadores têm estado a dizer ao líder da Renamo”, Dhlakama desvalorizou o papel dos mesmos para o fim da actual crise política no país ao declarar que “os mediadores não são os donos do problema que o país atravessa (…)”.

Angola. CARTA DE RAFAEL MARQUES AO CAMARADA PRESIDENTE




“Camarada Presidente,

Este Agosto é o mês do MPLA. O partido realiza o seu congresso com um candidato único à presidência: o senhor. Este Agosto também é o mês do seu aniversário, e desse modo celebrará duplamente a renovação do seu mandato de 37 anos.

São estes os factos que me levam a escrever-lhe mais uma vez, dada a impossibilidade de nos encontrarmos, no contexto actual, para reflectirmos sobre o momento político e económico do país. Prefiro usar a palavra «momento» ao invés da palavra «crise». V. Excia. é um mestre em gestão de crises, e poderá tranquilizar-me sobre quão passageiro é este momento, assegurando-me que o seu poder se manterá intacto. Respeito-o por isso.

Escrevo-lhe apenas para consultar o seu bom senso e opinião relativamente à estabilidade político-militar e económico-social que, decerto, os generais Zé Maria (chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar – SISM), Kopelipa (chefe da Casa de Segurança do presidente da República) e Eduardo Octávio (chefe do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado – SINSE) não lhe transmitem com clareza.

Pela primeira vez, notam-se, ao nível das FAA, desde os soldados aos generais, conversas em surdina e mais ou menos abertas acerca da fadiga colectiva que se vai instalando devido à sua longevidade no poder e ao modo como tem exercido ultimamente o seu papel de comandante-em-chefe. Como V. Excia. sabe, o salário mensal de um soldado é insuficiente para adquirir 20 hambúrgueres dos mais baratos no KFC, a cadeia alimentar de comida rápida que supostamente vende mais barato em Luanda.

Um pouco por todo o país, há muitos soldados que não têm botas ou uniformes, isto para não falar das condições sub-humanas em que são alojados e alimentados. Essa realidade contrasta com a riqueza ostensiva de muitos generais, alguns dos quais se tornaram bilionários ainda no activo e como fruto dos cargos que têm ocupado e dos esquemas daí derivantes. V. Excia. considera esse fosso normal, uma vez que tem sido o principal impulsionador da acumulação primitiva do capital, que empobrece cada vez mais os cidadãos para enriquecer cada vez mais os dirigentes.

O que se verifica hoje é o distanciamento perigoso entre comandantes e soldados. Hoje, a classe de generais, excepção à regra, assume-se e é mais bem identificada como sendo um grupo empresarial. A corrupção fragmentou o exército entre os que ficam com tudo e os que nada têm. Como comandante-em-chefe, quando foi a última vez que visitou uma unidade militar e conversou directamente com soldados para se inteirar dos seus problemas? Alguém se lembra? Eu lembro-me que na sua mensagem sobre o Estado da Nação, no ano passado, o comandante-em-chefe praticamente disse que as Forças Armadas e a Polícia Nacional deviam produzir os seus uniformes e as suas botas. Não explicou como, todavia.

Tem ouvido falar de alguma generosidade dos ricos do seu regime para com os mais desfavorecidos?

Veja o caso da sua própria filha Isabel dos Santos, a cidadã mais rica de Angola. Ela é presidente da Cruz Vermelha de Angola. Alguém já viu uma fotografia dela junto dos pobres, dos enfermos angolanos? Só a vemos bem acompanhada por celebridades internacionais. A sua filha Tchizé, deputada do MPLA, parece ter mais consciência social. Pena que não tenha mais calma e visão, assim como o apoio de V. Excia., enquanto pai, para fazer melhor no domínio público.

Como será possível manter a paz e a estabilidade política, que são os seus maiores trunfos de legitimidade, quando aqueles que deram a sua vida, sacrificaram a sua juventude e o seu futuro para proteger o poder de V. Excia. e defender a nação são hoje os principais perdedores da paz? Não são os soldados, justamente, os excluídos, o exército de ignorados? Excia., a questão fundamental que se coloca neste caso é o pão. Esqueçamos os hambúrgueres do KFC. O preço do pão já é proibitivo para muitas famílias, particularmente as dos soldados.

É compreensível a ideia enraizada da maioria dos dirigentes e militantes do MPLA segundo a qual o silenciamento dos críticos e o incremento da repressão e da propaganda podem servir de substituto adequado para o pão que falta ao povo. O MPLA sempre ganhou com essa estratégia. Porque perderia agora?

Para respondermos a esta questão, temos de observar primeiro a estrutura que sustenta o poder do MPLA. O poder, e por consequência, a coesão do MPLA assentam em quatro pilares: na sua pessoa, que comporta a sua autoridade e imagem; no poder da violência; na corrupção; na propaganda.

Sobre a sua pessoa e imagem, já há muito pouco para dizer que lhe seja favorável. Falemos então da sua autoridade. Para que esta seja exercida efectivamente, é necessário que o povo a reconheça como legítima e a aceite. Ora, a sua autoridade está a desmoronar-se, porque já não é exercida com base no reconhecimento dos cidadãos, uma vez que não está ao serviço do bem comum. É apenas força bruta.

Quanto ao poder da violência, estamos a falar especificamente das Forças Armadas Angolanas, dos soldados que agora lutam para comprar pão, e da Polícia Nacional, cujos agentes sobrevivem melhor porque diariamente extorquem dinheiro dos cidadãos por tudo e por nada. O que funciona a favor do regime não são as armas, mas sim a capacidade de difusão do medo, a aceitação da submissão por parte do povo. Porquê? Porque os soldados são, regra geral, filhos do mesmo povo a quem V. Excia. e o MPLA viraram costas. O povo está a despertar com a fome, o MPLA estagnou e o senhor foi ultrapassado pela realidade.

O que se verifica agora é o reverso do medo. O poder é uma ilusão. Entre os generais, começa a haver o receio, medo mesmo, de que a situação venha a complicar-se e eles não sejam capazes sequer de proteger os seus bens pessoais, caso nada seja feito para reverter a actual situação económica e garantir que os soldados ao menos tenham pão para a boca. É uma questão de sobrevivência.

Por sua vez, a corrupção, que lhe garantiu extraordinário poder e apoio na sociedade, agora ameaça derrubá-lo com a falta de dinheiro para manter o sistema clientelista que V. Excia. tão bem tem sabido gerir. Outrossim, V. Excia. há muito perdeu a capacidade de controlar a corrupção, e foi precisamente o saque desenfreado, levado a cabo pelos que são próximos de si e seus seguidores, na função pública e empresas públicas, que deixou os cofres do Estado vazios. Portanto, esse pilar está a ruir.

A propaganda merece menos palavras. Quem acredita nos seus raros discursos, dos dirigentes do MPLA, nos noticiários da TPA, da RNA e nos editoriais do Jornal de Angola? Isso explica os grupos de trabalho ao nível do MPLA e nos serviços de segurança para estudarem formas de controlar as mensagens nas redes sociais. Como a propaganda já não funciona, V. Excia. avança perigosamente para a repressão na internet. Esse pilar é uma luta perdida.

Há um outro problema fundamental com a narrativa política do MPLA. V. Excia. transformou-o num partido reaccionário. O MPLA hoje não defende nada de substancial, excepto o seu poder e o statu quo da sua elite predadora. Nas ruas, o povo descontente sussurra que os militantes mais engajados passaram apenas a emular o papel de cipaios, capatazes e de agentes coloniais que se manifestam contra o exercício pleno da cidadania. Apartaram-se da realidade ou protegem apenas os seus interesses pessoais e fingem não perceber a gravidade do momento actual. Por essa razão, muitos acreditam internamente que a saída de V. Excia. poderá levar ao desaparecimento gradual do MPLA.

Uma vez que os militantes do MPLA constituem a maioria dos cidadãos nacionais adultos, é fundamental iniciar a conversa sobre como poderão ser convertidos à realidade para que sejam agentes activos da mudança que todos nós ansiamos, incluindo V. Excia.

Aproveite, portanto, o congresso do seu partido para anunciar três medidas que muito contribuiriam para a sua segurança e a tranquilidade de todos os angolanos.

Reforme o seu partido, adequando-o ao pluralismo de ideias para que possa estar preparado a debater com a sociedade, sem armas na mão. Veja: o MPLA teme que, mesmo controlando 72% do Parlamento, o povo oiça o que os 28% dos deputados da oposição têm para dizer.

Estabeleça uma agenda nacional sobre os direitos humanos, a luta contra a corrupção, a boa governação e a justiça social, em concertação com toda a sociedade.

Prepare-se para entregar o poder depois das eleições de 2017.

Acredito que o sr. presidente preferirá lutar contra a corrente, até ao seu fim, ao invés de optar pela humildade e por uma saída harmoniosa e de irmandade com o povo sofredor.

Desta vez, não haverá mais reservas na luta pela liberdade de expressão e de imprensa, que são indispensáveis para a defesa do exercício pleno da cidadania, de defesa dos direitos humanos e do combate à corrupção. O povo precisa de luz, de pão, de saúde, de educação, de liderança e da defesa vigorosa dos seus interesses comuns.

Celebremos, em paz, este mês do seu aniversário. A luta será dura.”

De Maka Angola, em Folha 8

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Portugal. SEIS MIL HOMENS E 52 AVIÕES COMBATEM 150 FOGOS


Cerca de 150 incêndios estavam ativos em Portugal continental às 18:00 de hoje, sendo combatidos por perto de seis mil homens e 52 meios aéreos, disse o comandante nacional da Proteção Civil.

"Neste momento, estão 5.975 operacionais empenhados nos combate aos incêndios florestais em Portugal", afirmou José Manuel Moura, em declarações aos jornalistas no comando operacional da Proteção Civil, em Carnaxide, concelho de Oeiras.

José Manuel Moura adiantou que no combate às chamas também estavam envolvidos 52 meios aéreos, dos quais 47 são portugueses, a que se juntaram um avião 'canadair' italiano, dois marroquinos e dois espanhóis.

VAM // ZO - Lusa

A Industria dos incêndios. PORTUGAL ESTÁ A ARDER MAS HÁ MUITO QUEM GANHE COM ISSO




A evidência salta aos olhos: o país está a arder porque alguém quer que ele arda. Ou melhor, porque muita gente quer que ele arda. Há uma verdadeira indústria dos incêndios em Portugal. Há muita gente a beneficiar, directa ou indirectamente, da terra queimada.

Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas.

Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:

1 – Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?

Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?

Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?

Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?

Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?

2 – A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios…

3 – Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.

4 – À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: “enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder”. Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.

5 – Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.

Há cerca de um ano e meio, o então ministro da Agricultura quis fazer um acordo com as direcções das três televisões generalistas em Portugal, no sentido de ser evitada a transmissão de muitas imagens de incêndios durante o Verão. O argumento era que, quanto mais fogo viam no ecrã, mais os incendiários se sentiam motivados a praticar o crime…

Participei nessa reunião. Claro que o acordo não foi aceite, mas pessoalmente senti-me indignado. Como era possível que houvesse tantos cidadãos deste país a perder o rendimento da floresta – e até as habitações – e o poder político estivesse preocupado apenas com um aspecto perfeitamente marginal?

Estranhamente, voltamos a ser confrontados com sugestões de responsáveis da administração pública no sentido de se evitar a exibição de imagens de todos os incêndios que assolam o país.

Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo – destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime.

Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:

1 – Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.

2 – Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).

3 – Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores.

4 – Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.

5 – Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.

6 – E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.

Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.


Portugal. Incêndios. A MADEIRA EM CHAMAS E ALBUQUERQUE EM ALUCINAÇÃO



Custa-me escrever isto: Alberto João Jardim dificilmente faria, numa situação desta gravidade, esta figura.

Ana Sá Lopes – jornal i, opinião

Não é normal que um presidente de governo regional venha declarar, às 16 horas de terça-feira, que a situação dos incêndios na Madeira está sob controlo para, passadas umas horas, o centro do Funchal estar transformado num cenário apocalíptico. Ou Miguel Albuquerque estava mal informado – um desastre para quem ocupa aquele cargo – ou, na ânsia de acalmar a população, subvalorizou os sinais. Ou, afinal, é completamente inexperiente, logo, incapaz de ocupar o cargo para o qual foi eleito. 

É evidente que o presidente do Governo Regional da Madeira não é responsável pelo atear dos incêndios. Mas a demora em pedir ajuda é da sua responsabilidade. Quando, a meio da tarde de terça-feira, Miguel Albuquerque fez a conferência de imprensa a agradecer as ofertas de ajuda e a recusar porque, disse, “neste momento, a região tem os meios necessários”, cometeu o primeiro gigantesco erro de avaliação – que, num político, é sempre um erro político – do seu mandato.

Como é possível que Albuquerque tenha agradecido o telefonema que recebeu da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, “disponibilizando todos os meios caso a situação se agrave”, e tenha, do alto de uma arrogância que ainda está para se entender, recusado o que o governo central ofereceu, dizendo que “a situação está perfeitamente controlada” e “relativamente consolidada”? Só uma enorme ignorância, arrogância e autossuficiência – habitualmente, as três coisas andam ligadas – permitem a Miguel Albuquerque dar aquela conferência de imprensa quando a Madeira já está às portas do inferno. 

Mais grave que um erro de avaliação é persistir no erro depois das consequências. Depois de ver a Madeira devastada, Miguel Albuquerque continua a insistir que não existiu qualquer atraso nos pedidos de ajuda para combater os incêndios. Isto vai para além do erro – é incapacidade completa e dissociação da realidade. 

Custa-me escrever isto: Alberto João Jardim dificilmente faria, numa situação desta gravidade, esta figura.

Portugal. Incêndios. Governo esperava "maior solidariedade" dos parceiros europeus



A ministra da Administração Interna mostrou-se esta quinta-feira insatisfeita com a resposta dos parceiros europeus ao pedido de ajuda português para ajudar a combater os incêndios no país.

"Estava à espera de uma maior solidariedade dos parceiros europeus", afirmou Constança Urbano de Sousa, sublinhando que Marrocos, apesar de não pertencer à União Europeia, respondeu 

A governante falava em Arouca, um concelho do distrito de Aveiro que desde sábado tem sido fustigado pelas chamas. "Ontem [quarta-feira] à noite, às 19:30, falei com o ministro do interior marroquino e hoje de manhã já estavam os dois Canadair marroquinos a operar aqui em Castelo de Paiva", disse a ministra.

A governante adiantou ainda que estão a operar no distrito de Viana do Castelo dois Canadair espanhóis e espera-se que durante a parte da tarde esteja a operar um Canadair italiano, na sequência do acionamento formal do mecanismo europeu de proteção civil pelo Governo português.

A ministra da Administração Interna anunciou na quarta-feira ter sido acionado o protocolo bilateral estabelecido com a Federação Russa para a vinda de mais meios, sem especificar, porém, quantos são ou quando chegam.

Governo criou grupo de trabalho para fazer reforma da floresta

Constança Urbano de Sousa anunciou ainda que o Governo decidiu criar um grupo de trabalho para fazer a reforma da floresta.

"Hoje mesmo o Conselho de Ministros aprovou a criação de um grupo de trabalho, composto pelos ministérios da Agricultura, do Ambiente, da Administração Interna e da Justiça, para tratar, de uma vez por todas, da prevenção estrutural e de fazer a reforma da nossa floresta", disse a ministra.

"A nossa prioridade atual é combater estes incêndios e depois pensarmos a sério na reforma da nossa floresta", vincou a ministra, lembrando que há dez anos foi feita uma reforma na proteção civil.

Lusa, em TSF - Foto: José Coelho/Lusa

Portugal. ASSOBIAR PARA O LADO



Inês Cardoso* - Jornal de Notícias, opinião

Nasci na zona do país que já foi classificada como a maior mancha contínua de pinheiro-bravo da Europa. Conheço a angústia causada pelo toque insistente da sirene dos bombeiros, o pânico perante o agigantar das chamas, o cheiro a queimado colado à pele. Sei o que se sente ao tocar o tronco enegrecido de uma árvore que plantámos. O meu avô começou a morrer no dia em que um incêndio varreu a terra a que ele pertencia. Se fosse para escrever com emoção, seria fácil. Mas as vítimas das chamas e dos seus danos merecem que se vá além da emoção quando se aborda o tema.

É tempo de ultrapassarmos os mitos. E o maior é o de que somos um país de pirómanos e incendiários movidos por interesses económicos. Uma petição posta a circular exigindo pena mais pesada para incendiários conseguiu em poucas horas 11 mil assinaturas. Mesmo lavrando em vários equívocos. A pena máxima do crime não é de oito, mas pode ir até 12 anos. E havendo vítimas, entra noutras molduras penais, nomeadamente homicídio por negligência - tivemos em 2014 incendiários condenados a 18 anos de cadeia.

Ao noticiarem a petição, houve meios de comunicação a dizer que 75% dos fogos têm "mão humana". O que é apenas uma meia verdade. A mão remete para a intencionalidade. Têm, isso sim, origem humana. A principal causa dos fogos em Portugal é a negligência: 56%, na média das causas apuradas na última década. Também não somos um país de pirómanos. E o perfil traçado demonstra que são escassos os fogos postos por motivos económicos. A maior parte nasce de vinganças entre vizinhos ou outros motivos fúteis.

Há, depois, o mito de que não temos conseguido definir uma política florestal. O primeiro-ministro veio agora prometer que em setembro é de vez e será feito o que nunca foi. A verdade é que só desde 2003, pior ano de sempre em área ardida e vítimas mortais, foi feita mais de uma dezena de diagnósticos e produzida abundante legislação com medidas transversais de ordenamento, fiscalização e reorganização do combate.

Não precisamos de mais diplomas ou estratégias. Precisamos que decisores políticos e não só cumpram as leis que já existem. E desta vez, ao contrário de tantas outras áreas em que podemos apenas bater em quem nos governa, precisamos mesmo todos de agir. Incluindo os proprietários, porque é deles o primeiro dever de cuidar do que é seu. E todos os que andamos pelas matas e nem sempre identificamos os nossos próprios comportamentos de risco. Se isto se resolvesse com mais prisão e mais leis, a tarefa estaria facilitada. Mas talvez seja melhor pararmos de assobiar para o lado.

*Subdiretora

Portugal. Oficiais das Forças Armadas criticam "negócio" aéreo do combate aos fogos



O presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas, António Mota, diz que é um "crime de lesa-pátria" a atribuição a empresas privadas do combate aéreo aos fogos florestais.

"O poder político afastou por completo a Força Aérea do combate aos incêndios e isso ninguém entende. É um crime de lesa-pátria", critica o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas, António Mota, em declarações ao "Jornal de Notícias".

Aquele tenente-coronel diz que não faz sentido os portugueses estarem a pagar o combate aos incêndios a empresas privadas depois de existir uma rede da Força Aérea capaz de responder ao flagelo, com aeródromos e profissionais.

"Os pilotos são pilotos o ano todo e não apenas no verão. São custos que os portugueses já têm. O piloto tanto sai para fazer o transporte de bombeiros para a Madeira, como está a acontecer agora, como segue para apagar um fogo em Arouca", disse.

António Mota acrescenta que "os militares estão preparados e interessados nessa missão, mas alguém decidiu retirar essa competência à Força Aérea. É um negócio que envolve muitos milhões de euros".

Críticas no Facebook

As declarações do presidente da AOFA surgem horas depois de ter surgido na página oficial da associação no Facebook uma publicação assinada por um coronel que critica o "negócio" aéreo que envolve o plano de combate a incêndios em Portugal.

O texto, assinado por João Marquito, deixa clara a crítica à forma como foi retirada às Forças Armadas a função de operar os meios aéreos envolvidos no combate aos incêndios.

"O MAI (Ministério da Administração Interna) recusou entregar à Força Aérea, a gestão e operação dos meios aéreos de combate a incêndios, bem como os de emergência médica, optando por manter o actual estado de coisas, com várias entidades, várias frotas, cada uma no seu "interesse" e custos acumulados para todos, incluindo contratação dentro e fora do país", pode ler-se na publicação.




Coronel João Marquito (Vogal do Conselho Nacional da AOFA)

FOGOS / FORÇA AÉREA 

"Parece impossível... No final do século passado, enquanto o combate aos incêndios florestais foi uma "Missão", a Força Aérea Portuguesa operava os meios aéreos em Portugal, mas quando esse combate passou a ser um "Negócio" arrumaram-se os C-130, os kit MAFFS para os equiparem ficaram a apodrecer, os bombeiros exaustos, os meios de substituição não aparecem e....o flagelo continua.

Quais as vantagens? A centralização dos meios aéreos na Força Aérea com custos reduzidos para o erário público, bem como a poupança em termos de manutenção (dado o background existente) e uma logística dos meios incomensuravelmente mais rápida e operacional. 

Parece que, conforme noticiado em 09jun2016, o MAI recusou entregar à Força Aérea, a gestão e operação dos meios aéreos de combate a incêndios, bem como os de emergência médica, optando por manter o actual estado de coisas, com várias entidades, várias frotas, cada uma no seu "interesse" e custos acumulados para todos, incluindo contratação dentro e fora do país. 

Espanha, EUA, Grécia, Croácia, Marrocos, são exemplos de países onde os meios aéreos de combate a incêndios são operados pela Força Aérea local. Parece impossível..."

O coronel acrescenta ainda na publicação que "quando esse combate passou a ser um "Negócio" arrumaram-se os C-130, os kit MAFFS para os equiparem ficaram a apodrecer, os bombeiros exaustos, os meios de substituição não aparecem e....o flagelo continua."

"Quais as vantagens? A centralização dos meios aéreos na Força Aérea com custos reduzidos para o erário público, bem como a poupança em termos de manutenção (dado o background existente) e uma logística dos meios incomensuravelmente mais rápida e operacional", pode ler-se ainda no texto publicado na página oficial da AOFA.

Estudo na gaveta

O anterior governo pediu um estudo sobre a resposta aérea de combate aos incêndios, que defende o regresso dessa competência para a Força Aérea.

A garantia é reiterada pelo presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), António Mota, que explicou ao JN que nesse relatório se identificam os meios que a Força Aérea precisaria de voltar a ter para assumir a responsabilidade.

O relatório, "que continua numa gaveta", nas palavras do presidente da AOFA, estima que "a partir de 2018 haveria um lucro para o erário público (2016 e 2017 seriam anos de investimento), uma vez que deixaria de ser necessária a contratação de meios privados para fazer o ataque aéreo às chamas".

Joana Almeida Silva – Jornal de Notícias

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