sexta-feira, 12 de agosto de 2016

VÊM AÍ OS RUSSOS!




Incêndios. Os "superaviões" russos que vão ajudar Portugal

Dois aviões pesados Beriev chegam na madrugada a Portugal vindos da Rússia, ao abrigo do protocolo de proteção civil assinado entre os dois países. São dois pesos pesados do combate aos fogos.

Jornal de Noticias

BASTA DE PSEUDO UNIÃO EUROPEIA

Sanções e boicote ao comércio livre entre a Rússia e a UE a quem serve? Às políticas dos EUA!

Como sempre, os países europeus alinham na servidão cega às exigências e políticas dos EUA. O império do mal, se existe, decerto que tem a sua sede nos EUA. País algum no mundo fomenta e fomentou mais guerras e catástrofes humanitárias pelo mundo do que os EUA. Não precisamos de grande esforço para numa pesquisa chegarmos a essa conclusão óbvia. No entanto os EUA arrogam-se de berço da democracia, do humanismo e das liberdades. Uma grande falácia, um contracenso em que só os que andam distraídos podem acreditar.

Com a existência da União Europeia tudo se torna mais fácil para os EUA. Nesta formação de políticas ditadas pela UE todos os países devem alinhar nas suas políticas, sejam elas prejudiciais a países da UE ou não. O boicote ou embargo imposto pelos EUA com a servil obediência dos seus agentes instalados nas estruturas da UE só tem trazido e continuará a trazer prejuízos a esses mesmos países. É também o caso de Portugal.

Portugal, que há semanas está perante a catástrofe dos incêndios e que pediu os devidos apoios à UE nas estruturas e intervenções de combate às chamas, dali quase não obteve resposta efetiva e adequada. Da UE chegou um único meio aéreo de combate a incêndios, da Itália. Existem dois aviões especializados em combate a incêndios cedidos por Espanha que atuam ao abrigo de um acordo ibérico. Também Marrocos foi de uma prontidão impressionante ao ceder dois aviões de combate a incêndios Ou seja, da UE a resposta que foi obtida reduziu-se a um meio-aéreo, de Itália.

Investigar e saber que fogos estão a combater os aviões dos países da UE

Altos e ditos responsáveis da União Europeia alegam que não cederam mais meios aéreos de combate a incêndios em Portugal por serem necessários em outros países da UE que se confrontam com a mesma situação de incêndios. Importa esclarecer, para dissipar sérias dúvidas, que meios existem em toda a (des)união e em que países e alegados incêndios operaram ou estão a operar.

Com as limitações inerentes ao Página Global não conseguimos descortinar que vastos e dantescos incêndios na Europa ocupam toda a frota de meios aéreos de combate a incêndios. O que se sabe é que na Europa não descortinamos a quantidade de fogos que ocupe os vastos meios aéreos existentes nos países europeus. O que poderá querer dizer, a confirmar-se, que os altos e ditos responsáveis da UE estão a mentir e que provavelmente no intimo dizem de si para si e entre eles: “deixa arder que é Portugal.”

Uma investigação dos meios de comunicação social e do governo de Portugal deveria esclarecer esta situação, para assim, uma vez mais, podermos ter em linha de conta quanta prepotência e pesporrência impera nas estruturas de diretório da pseudo união que é obediente a Washington em prejuízo dos cidadãos europeus.

Vêm aí os russos com superaviões apesar do embargo ordenado pelos EUA

Dois superaviões de comabate a incêndios já chegaram da Rússia - ou estão prestes a chegar a Portugal. São máquinas poderosas que irão contribuir de forma notória e efetiva para debelar a catástrofe dos incêndios em Portugal.

Seguem-se algumas das características dos “bombeiros gigantes” que nos céus de Portugal vão despejar poderosas toneladas de água sobre os incêndios e assim contribuir para dar uma “folga” aos soldados da paz que já estão há muito exaustos mas sempre no combate ao inimigo, as chamas que nos consomem. Obrigado bombeiros de Portugal!

Basta de UE! Obrigado Espanha! Obrigado Marrocos! Obrigado Itália! Obrigado Rússia!

Os Beriev Be-200 têm quase o dobro da capacidade de transporte de água dos também aviões pesados Canadair. É uma aeronave anfíbia utilizada para combate a incêndios, busca e salvamento, patrulha marítima, carga e transporte de passageiros, que pousa na água ou em terra.

Estava prevista a sua chegada à base aérea de Monte Real esta madrugada mas apesar dos esforços envidados pelo PG para saber se os aviões já tinham chegado não conseguimos obter a confirmação por parte da Força Aérea nem do Ministério da Administração Interna.

Embargo à Rússia? Mas por que razão deve Portugal obedecer às diretivas da UE neste embargo se na realidade quem embargamos é quem nos auxilia num momento crucial e quem impõe a efetivação do embargo nos nega o auxilio que devia prestar?

Mário Motta / PG

DIRIGENTES DA UE AO SERVIÇO DOS EUA ATUAM CONTRA OS INTERESSES DOS POVOS EUROPEUS



A guerra das sanções: novas baixas na União Europeia

Pyotr Iskenderov

O Ministério do Desenvolvimento Económico russo publicou algumas estatísticas que muitos no ocidente preferem ignorar. Estas revelam que a União Europeia, EUA, Canadá, Noruega e Austrália perderam um mercado anual no valor de US$8,6 mil milhões devido às sanções que aprovaram contra a Rússia. Em tonelagem, as importações russas de alimentos daqueles países diminuíram 98,9% – de 4.331 milhões de toneladas para 46.500. "Poder-se-ia dizer que as vendas perdidas dentro do mercado da Federação Russa foram o equivalente à redução em importações agrícolas daqueles países", enfatizou uma declaração do ministro russo do Desenvolvimento Económico.

Aquele serviço também apresentou uma estimativa aproximada da portagem financeira sobre os países da UE – chegam a 50 mil milhões de euros por ano. Isso é igual aproximadamente a 0,4% do produto interno bruto total da UE.

Trata-se de um número significativo, considerando que em 2015, segundo o Eurostat , o crescimento económico total na UE foi de 2& do PIB, mas apenas de 1,7% nos países da eurozona. Ainda mais reveladores são os números comparativos para a última década, os quais incluem nos seus cálculos não só o período da crise financeira e económica como também os anos "gordos" da UE.

De acordo com dados do Eurostat, a economia de toda a União Europeia cresceu a uma média de 1% ao ano desde 2004. Mas na eurozona esse crescimento foi apenas de 0,8%. A guerra das sanções contra a Rússia está a devorar cerca da metade do crescimento económico anual médio da UE.

Contudo, estes são dados médios de toda a UE. Pode-se obter um quadro ainda mais claro se isto for extrapolado para países individuais, considerando não só suas perdas directas como também as indirectas. Assim, de acordo com analistas da General Invest holding company, só em 2014 – o primeiro ano das sanções – os danos sofridos apenas pelas companhias italianas montaram a aproximadamente 20-22 mil milhões de euros. Isto inclui as perdas incorridas não só pelas companhias que comerciam directamente com a Rússia como também aquelas que mantêm uma presença indirecta no mercado russo através de outros estados membros da União Europeia.

O jornal italiano La Stampa tocou a campainha de alarme : a guerra de sanções com a Rússia transformou-se numa "tempestade perfeita" que provocou destruições no sector manufactureiro italiano. As exportações italianas para a Rússia realmente implodiram no ano passado, afundando 34% – de 10,7 mil milhões de euros em 2013 para 7,1 mil milhões em 2015. La Stampa escreve: "A construção de máquinas, as quais representavam 34% de todas as nossas exportações para a Rússia, perdeu 648 milhões de euros em 2015, ao passo que a indústria de confecções perdeu 539 milhões (uma queda de 31%), a de veículos motorizados 399 (queda de 60%), calçados 369 e mobiliário 230".

Peritos italianos foram, há muito, os primeiros a advertir quanto aos efeitos funestos da guerra de sanções com a Rússia. Nos próximos meses a Itália poderá vir a ser a "bomba" que explodirá a frágil estabilidade financeira (e portanto política) na União Europeia.

Federico Santi, analista do Eurasia Group, uma consultora de risco político, afirma que ao entrarmos no segundo semestre do ano a situação na Itália e as suas consequências para o resto da Europa pode demonstrar-se ser o maior risco macro-político. O sistema bancário italiano está vergado sob o peso maciço de empréstimos incumpridos e das políticas agressivas da Alemanha e do Deutsche Bank, os quais estão a utilizar a crise na eurozona para fortalecer suas próprias posições. Responsáveis do governo na Itália relataram um valor de 200 mil milhões de euros de empréstimos "podres" (cerca de 10% do seu total) e peritos independentes avançam com mais 160 mil milhões de euros (o que é um número sem precedentes para o sistema bancário nacional e só comparável aos números encontrados na Grécia).

Em 2015, o terceiro maior banco da Itália – Monte dei Paschi di Siena – possuía 46,9 mil milhões de euros de empréstimos atrasados. O gabinete de Matteo Renzi já lançou uma polémica feroz contra Berlim e Bruxelas, acusando-os pela incapacidade e falta de vontade de efectivamente tratarem dos problemas financeiros da eurozona e exigindo que aos governos nacionais seja dado o direito de tomar suas próprias medidas para combater a crise, tendo em vista suas situações sócio-económicas particulares, as quais incluiriam recapitalizar dívida.

Mas Nicholas Spiro, consultor junto à Lauressa Advisory, acredita que as apostas na Itália são demasiado altas para que os políticos não adoptem um plano de recapitalização dos bancos italianos. Ao mesmo tempo, Bruxelas e Berlim hesitam em tomar as suas próprias medidas de emergência para resgatar o sistema bancário italiano a expensas dos contribuintes europeus, considerando as eleições que estão para vir na Alemanha e em França.

Os resultados dos testes de stress às instituições bancárias da UE que foram efectuados pelo Banco Central Europeu e divulgados no fim de Julho mostram que o terceto siamês conhecido como Itália, França e Alemanha poderiam dentro em breve deitar abaixo todo o sistema financeiro da União Europeia. Apenas em poucos meses as acções do Deutsche Bank caíram 25%; as do banco francês Societé Générale 23%; e o banco italiano UniCredit quase 30%. E os 47 mil milhões de euros de empréstimos "podres" descobertos no balanço do Banca Monte dei Paschi di Siena representam mais do que 40% da carteira de crédito total do banco.

Problemas financeiros, a par do declínio na manufactura, tornam-se uma mistura verdadeiramente explosiva, não só para a Itália como para toda a União Europeia. Contudo, aparentemente Bruxelas ainda não está centrada nisso e sim na continuação da guerra de sanções contra a Rússia. 

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Portugal. Os media e a televisão portuguesa desmascarados por um ex oficial dos Comandos




Neste artigo, o coronel Carlos de Matos Gomes (reformado) que combateu como oficial dos Comandos na guerra colonial em Angola, na Guiné Bissau e em Moçambique arranca a mascara aos media e à televisão portuguesa.

Para que servem as primeiras páginas dos jornais e os grandes casos dos noticiários das TV?

Se pensarmos no que as primeiras páginas e as aberturas dos telejornais nos disseram enquanto decorriam as traficâncias que iriam dar origem aos casos do BPN, do BPP, dos submarinos, das PPP, dos SWAPs, da dívida, e agora do Espírito Santo, é fácil concluir que servem para nos tourear.

Desde 2008 que as primeiras páginas dos Correios das Manhas, os telejornais das Moura Guedes, os comentários dos Medinas Carreiras, dos Gomes Ferreiras, dos Camilos Lourenços, dos assessores do Presidente da República, dos assessores e boys dos gabinetes dos ministros, dos jornalistas de investigação, nos andam a falar de tudo e mais alguma coisa, excepto das grandes vigarices, aquelas que, de facto, colocam em causa o governo das nossas vidas, da nossa sociedade, os nossos empregos, os nossos salários, as nossas pensões, o futuro dos nossos filhos, dos nossos netos. Que me lembre falaram do caso Freeport, do caso do exame de inglês de Sócrates, da casa da mãe do Sócrates, do tio do Sócrates, do primo do Sócrates que foi treinar artes marciais para a China, enfim que o Sócrates se estava a abotoar com umas massas que davam para passar um ano em Paris, mas nem uma página sobre os Espírito Santo! É claro que é importante saber se um primeiro ministro é merecedor de confiança, mas também é, julgo, importante saber se os Donos Disto Tudo o são. E, quanto a estes, nem uma palavra. O máximo que sei é que alguns passam férias na Comporta a brincar aos pobrezinhos. Eu, que sei tudo do Freeport, não sei nada da Rioforte! E esta minha informação, num caso, e falta dela, noutro, não pode ser fruto do acaso. Os directores de informação são responsáveis pela decisão de saber uma e desconhecer outra.

Os jornais, os jornalistas, andaram a tourear o público que compra jornais e que vê telejornais.

Em vez de directores de informação e jornalistas, temos novilheiros, bandarilheiros, apoderados, moços de estoques, em vez de notícias temos chicuelinas.

Não tenho nenhuma confiança no espírito de auto critica dos jornalistas que dirigem e condicionam o meu acesso à informação: todos eles aparecerão com uma cara à José Alberto de Carvalho, à Rodrigues dos Santos, à Guedes de Carvalho, à Judite de Sousa (entre tantos outros) a dar as mesmas notícias sobre os gravíssimos casos da sucata, dos apelos ao consenso do venerando chefe de Estado, do desempenho das exportações, dos engarrafamentos do IC 19, das notas a matemática, do roubo das máquinas multibanco, da vinda de um rebenta canelas uzebeque para o ataque do Paiolense de Cima, dos enjoos de uma apresentadeira de TV, das tiradas filosóficas da Teresa Guilherme. Todos continuarão a acenar-me com um pano diante dos olhos para eu não ver o que se passa onde se decide tudo o que me diz respeito.

Tenho a máxima confiança no profissionalismo dos directores de informação, que eles continuarão a fazer o que melhor sabem: tourear-nos. Abanar-nos diante dos olhos uma falsa ameaça para nos fazerem investir contra ela enquanto alguém nos espeta umas farpas no cachaço e os empresários arrecadam o dinheiro do respeitável público.

Não temos comunicação social: temos quadrilhas de toureiros, uns a pé, outros a cavalo.

Uma primeira página de um jornal é, hoje em dia e após o silêncio sobre os Espírito Santo, um passe de peito.

Uma segunda página será uma sorte de bandarilhas.

Um editor é um embolador, um tipo que enfia umas peúgas de couro nos cornos do touro para a marrada não doer.

Um director de informação é um “inteligente” que dirige uma corrida.

Quando uma estação de televisão convida um Camilo Lourenço, um Proença de Carvalho, um Gomes Ferreira, um João Duque, um Judice, um Marcelo, um Miguel Sousa Tavares, um Ângelo Correia, devia anunciá-los como um grupo de forcados: Os Amadores do Espírito Santo, por exemplo. Eles pegam-nos sempre e imobilizam-nos. Caem-nos literalmente em cima.

As primeiras páginas do Correio da Manhã podiam começar por uma introdução diária: Para não falarmos de toiros mansos, os nossos queridos espectadores, nem de toureios manhosos, os nossos queridos comentadores, temos as habituais notícias de José Sócrates, do memorando da troika, da imperiosa necessidade de pagar as nossas dividas.

Todos os programas de comentário político nas TV deviam começar com a música de um passo doble. Ou com a premonitória “Tourada” do Ary dos Santos, cantada pelo Fernando Tordo.

O silêncio que os “negócios “ da família “Dona Disto Tudo” mereceu da comunicação social, tão exigente noutros casos, é um atestado de cumplicidade: uns, os jornalistas venderam-se, outros queriam ser como os Espirito Santo. Em qualquer caso, as redacções dos jornais e das TV estão cheias de Espiritos Santos. Em termos tauromáticos, na melhor das hipóteses não temos jornalistas, mas moços de estoques. Na pior, temos as redacções cheias de vacas a que se chamam na gíria as “chocas”.

O que o silêncio cúmplice, deliberadamente cúmplice, feito sobre o caso Espirito Santo, o que a técnica do desvio de atenções, já usada por Goebels, o ministro da propaganda de Hitler, revelam é que temos uma comunicação social avacalhada, que não merece nenhuma confiança.

Quando um jornal, uma TV deu uma notícia na primeira página sobre Sócrates( e falo dele porque a comunicação social montou sobre ele um operação de barragem pelo fogo, que na altura justificou com o direito a sabermos o que se passava com quem nos governava e se esqueceu de nos informar sobre quem se governava) ficamos agora a saber que esteve a fazer como o toureiro, a abanar-nos um trapo diante dos olhos para nos enganar com ele e a esconder as suas verdadeiras intenções: dar-nos uma estocada fatal!

Porque será que comentadores e seus patrões, tão lestos a opinar sobre pensões de reforma, TSU, competitividade, despedimentos, aumentos de impostos, gente tão distinta como Miguel Júdice, Proença de Carvalho, Ângelo Correia, Soares dos Santos, Ulrich, Maria João Avilez e esposo Vanzeller, não aparecem agora a dar a cara pelos amigos Espirito Santo?

Porque será que os jornais e as televisões não os chamam, agora que acabou o campeonato da bola?

Um grande Olé aos que estão agachados nas trincheiras, atrás dos burladeros!

*Carlos de Matos Gomes, em  O Diário 

Nascido em 24/07/1946, em V. N. da Barquinha. Coronel do Exército (reforma). Cumpriu três comissões na guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné, nas tropas especiais «comandos».

Portugal. Incêndios. CRESÇAM, POR FAVOR




David Pontes* – Jornal de Notícias, opinião

Então, digam-me lá outra vez porque é que os meios aéreos não são da responsabilidade da Força Aérea? Vá lá, mas expliquem-me devagarinho, como se eu fosse uma criança.

Os anos de profissão, aliados à capacidade de prever os ciclos informativos ou mesmo, simplesmente, o bom senso, permitem dizer que quem já viu este filme sabe como ele acaba e o extraordinário seria que, desta vez, as coisas se passassem de forma diferente. Este é o texto cansado de quem já viu muitas vezes as chamas do debate público sobre incêndios erguerem-se para, em poucos meses, se reduzirem ao silêncio das cinzas.

Cansado, especialmente pelo nível de infantilização que o discurso público conseguiu atingir nos últimos dias. Sim, eu sei que quem tem de levar diariamente com as declarações de Donald Trump, com a discussão em torno do sol e do IMI ou teve de perceber como se chegou ao Brexit, já se deveria ter habituado ao facto de a tabloidização ser uma maleita global, alimentada de redes sociais e que nada aponta para dias melhores.

Mas, perante mais uma crise de incêndios, ouvir outra vez agitar o papão dos incendiários, defendendo o aumento das penas, olhar, como fez o presidente do Governo Regional da Madeira, para os meios aéreos como a panaceia milagrosa ou descobrir agora que deveria existir prevenção ou ordenamento florestal, é perceber que mesmo depois de tanta área ardida há quem não queira aprender nada.

Será que os políticos não podem fazer um voto de silêncio até ao fim da época de incêndios, no que diz respeito a promessas? Acima de tudo, não nos tratem como crianças. Nós sabemos que este é o país do eucalipto, do abandono do interior e da decadência da agricultura. Nós vivemos no país onde a floresta entra pelas povoações dentro e os proprietários não limpam terrenos, e já por cá andávamos quando foi aprovado, em 2006, o Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios. E, sim, nós também sabemos, mesmo que façamos de conta que não, que temos um quadro legal duro para com os incendiários e que, mais do que com mangueira, os incêndios se têm de combater de enxada e machado.

São muitos assuntos e tudo baralhado, não é? Pois, a infantilização e a tabloidização não gostam disso, preferem um tipo que pegou fogo à Madeira e já está. Mas é assim a questão dos incêndios: complexa, com várias frentes e com muitos anos de discussão em cima. Por isso, eu já não acredito em milagres e ficava contente se, no fim disto tudo, me ajudassem a perceber e a resolver um só assunto. Posso escolher? Então, digam-me lá outra vez porque é que os meios aéreos não são da responsabilidade da Força Aérea? Vá lá, mas expliquem-me devagarinho, como se eu fosse uma criança.

*Subdiretor

Portugal. BOMBEIROS EXAUSTOS. "SE SAIRMOS DAQUI O FOGO DEVORA TUDO"



Bombeiros e população quase não dormem nem comem há dias para proteger bens e pessoas. Famílias que ficam em casa temem todos os dias não voltar a ver quem vai para a frente de batalha.

Pelo país fora há bombeiros e outros voluntários que deixam tudo, incluindo família e filhos, para combater incêndios até à exaustão. Passam dias sem dormir, horas sem comer, abdicam de férias e até de compromissos profissionais, para poder responder a um apelo que, afirmam, é "mais forte" do que eles. Ao fim de quase uma semana sem tréguas, bombeiros e população dão sinais de exaustão.

A luta é injusta e as chamas levam a melhor. Ontem, ao início da noite, mais de 4300 bombeiros combatiam 147 incêndios, sendo 11 aqueles que mais dores de cabeça davam, em especial nos distritos de Aveiro, Viana do Castelo, Porto, Viseu e Braga.

"Isto é uma espécie de um gene. Algo que nos chama", afirma João Camilo, 36 anos, voluntário na corporação de Caminha e casado com a colega Carla Vasconcelos, de 37.

Pais de dois filhos, Joana, com 11 anos, e Dinis, com dois, Carla tem uma loja de informática e João é técnico de informática no Instituto Politécnico de Viana, e está de férias. Desde domingo, dia em que começou o inferno dos fogos no Alto Minho, passaram a ser constantemente acionados. Estiveram em todos os fogos da região. De noite e de dia. "Tem sido complicado. Andamos os dois e a sorte é que a minha sogra está de férias e toma conta dos meninos. Temos dormido duas, três horas", desabafa a voluntária, referindo que, sempre que podem, aproveitam "as pequenas pausas, quando as há", para ver os filhos. "Custa-nos deixá-los, mas sabemos que estão bem. Custa-nos muito mais deixar as pessoas aflitas com tudo a arder", afirma Carla, admitindo: "A minha filha já chegou a dizer à avó que a abandonamos para ir para os bombeiros. Não compreende muito bem. Isto não compensa nada, mas é como o João diz: É mais forte do que nós".

O colega de corporação, Jorge Alves, 38 anos, arquiteto e ultramaratonista, deixa a mulher em casa com os filhos, Gonçalo, de três anos, e Rodrigo, com oito. Natural de Vilar de Mouros e apaixonado pela natureza, não resiste ao apelo do combate ao fogo. Desde sábado, dormiu "duas a três horas" para se aguentar. "Hoje (ontem) teve de ser mais. Houve dias que fiquei sem dormir", diz.

Em casa, a mulher, Anabela, de 37 anos, passa os dias com o coração apertado. "É difícil por causa dos miúdos sempre a perguntar: O pai? O pai? O pai? Eu respondo sempre: Deve estar a chegar. Mas o pai depois não vem", conta, acrescentando: "Para nós, mulheres, também não é fácil, passamos o tempo stressadas, sempre à espera de uma má notícia. Tudo a arder e nós a pensar, onde é que ele andará, como é que estará?...".

De tanto ver o pai sair porta fora, ao tocar da sirene dos bombeiros, Gonçalo, o filho mais novo, já canta a música da série de animação infantil "Bombeiro Sam".

De olhos mal abertos

Serafim Almeida não tem ido trabalhar e mal tem fechado os olhos para descansar desde que começou o incêndio em Águeda, na segunda-feira de madrugada. Anteontem, caiu de um muro de cinco metros, quando ajudava a defender uma fábrica, em Massadas. O ferimento no braço, a somar ao cansaço, não o impedia de, ontem, aguardar pelas chamas no lugar de Serra de Cima para defender três casas. "É impossível abandonar. Se sairmos daqui, o fogo devora tudo", explica. Cristiano Ferreira, 20 anos, não dorme desde domingo, altura em que tirou a farda da banda onde toca para vestir a da Unidade Local de Proteção Civil. O colega Bruno Oliveira, que à tarde combatia ao seu lado um reacendimento numa vacaria, dormiu quatro horas, "em cima de um camião. Já não aguentamos mais". "É uma calamidade, há tanto lume que não temos hipótese. Só pára com tudo queimado", desabafa Fernando Oliveira. "Não temos meios suficientes", lamentava o autarca de Préstimo e Macieira de Alcoba, Pedro Vidal.

Fonte da Unidade Local de Proteção Civil estima que tenha ardido "metade" do concelho de Águeda. "Havia uma frente que devia ter cerca de 20 quilómetros, pelo meio da serra, entre Alcafaz e Serra de Cima", descreve.

Ao cansaço junta-se a revolta, porque os meios no terreno não são suficientes para a dimensão da tragédia. No lugar de Serra de Cima, "esteve complicado porque o dono de um aviário não deixou fazer um aceiro para proteger as casas, mas quase por milagre não aconteceu nada", descreve Fernando Oliveira.

Em Vila Nova de Monsarros, Anadia, "o fogo é o diabo, não dá tréguas a ninguém", desabafa Daniel Matos, que anteontem teve de fugir pela vida. Carlos Sousa viu o clarão de madrugada. "Fui regar a casa. Tive de me atirar para o chão, junto ao muro, e o fogo passou-me por cima", relembra.

Na Mealhada, as chamas que lavram há dias chegaram perto da mata do Bussaco e, anteontem, o hotel foi evacuado.

Ana Peixoto Fernandes e Zulay Costa – Jornal de Notícias

Liga dos bombeiros. "Onda terrorista" organizada na origem dos incêndios em Portugal



O presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares, considera que há uma "onda terrorista devidamente organizada" que provoca incêndios florestais.

Depois de uma audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, Jaime Marta Soares não classifica de incompetência política o tempo em que foi feito pelo Governo o pedido de ajuda dos meios aéreos, mas admite ter sido "um erro estratégico".

Sobre o que diz ser uma "onda terrorista" que provoca os incêndios florestais, o presidente da Liga considera impossível haver ignições de fogo com uma frente tão vasta como as que se têm verificado nestes últimos fogos na zona norte e centro do país e Madeira.

Jornal de Notícias

SE HÁ GATO NOS INCÊNDIOS ESCALDE-SE-LHE O RABO

As declarações de Jaime Marta, homem experiente na matéria, são preto no branco. Não dá mais para o Ministério Público ficar a dormitar e não desmontar e conduzir à punição os "terroristas" que impunemente entregam Portugal ao pasto das chamas. Nem dá este governo protelar as medidas adequadas que governos anteriores têm protelado ou iludido com o maior dos descaramentos e impunidade. Há um negócio de muitos milhões de euros nos incêndios e Portugal não pode continuar a dar-se ao luxo de ser consumido pelo fogo sem apurar as responsabilidades que hão-de recair sobre criminosos que nos depauperam as florestas, as casas, um vasto património e ainda aforram milhões e milhões obtidos à custa da desgraça de outros, dos portugueses na generalidade e nos mais ou menos parcos haveres de alguns que vêem o que lhes pertence arder como um fósforo.

Feito o rescaldo e o balanço dos prejuízos é costume os governos soltarem algumas verbas para ajudas e indemnizações. Este ano vai ser a mesma coisa. E bem. Pois quem precisar de ajudas deve tê-las. O que não pode continuar na mesma é esta grandiosa negociata dos fogos. Nem podem continuar a meter na gaveta os C130 de Força Aérea, nem os militares que os sabem operar para combater fogos. Nos fogos desta natureza o material de combate no ar, prioritariamente, deve estar entregue a especialistas que temos, tão bons e até melhores que de outras nacionalidades. Esses são os bombeiros e os especialistas da Força Aérea para estes casos específicos. A prevenção e segurança do parque florestal tem também de ser protegido em terra por militares, além das polícias. Militares que também poderão colaborar na  limpeza do mato e na carga incendiária que jaz nos solos.

Que o assunto é complexo, que urge existir um cadastro atualizado e fiável dos terrenos... Mas enquanto não há nada disso qualquer propriedade privada deve ser legalmente considerada de acesso por direito das autoridades caso os proprietários não cumpram com as medidas adequadas e reguladas para prevenção de incêndios. 

O que é urgente é agarrar o toiro pelos cornos. O que é urgente é os investigadores criminais descobrirem e agarrarem os incendiários e os que lucram com os incêndios. Neste pandemónio que são os incêndios não basta somente deter o Zé da Esquina, os mais ou menos doentes mentais, os que são pagos para incendiar. Importa sobretudo deter. inculpar com provas sólidas, aqueles que ganham milhões com a desgraça das populações e da destruição das florestas de Portugal.

O Presidente da Liga dos Bombeiros deixou o mote. Como quem diz: aqui há gato. Pois se há gato urge escaldar-lhe o rabo, a cauda. Até porque, como diz também o ditado, gato escaldado de água fria tem medo.

Senhores, façam tudo e mais alguma coisa para dar por findos estes fogos dantescos. Façam alguma coisa e bem! Não como têm feito, de improviso em improviso.

Mário Motta / PG

O BARCO LUSITANO NO MAR DAS CHAMAS E DAS NEGOCIATAS



Ricardo Marques, jornalista, do Expresso, serve o Curto com boa cafeína, daquela que dá tesão e levamos os dia cheios de speed. Os diretores do Expresso e das ilhargas dessa condição estão mais recatados neste período… de férias, andam na sorna ou estão de férias? É que nestes últimas semanas há mais jornalistas a servir o Curto. Sabem, por aqui não existe nenhuma aversão especial a diretores, sejam eles de onde forem, o que existe é o conhecimento que há muitos que não adquirem aquela categoria por mérito profissional mas sim por serem lambe-botas e estarem desprovidos de coluna vertebral.

Olhai, para certos e incertos exemplos e era assim. Ainda é assim? Por exemplo, olhai prá RTP de há tempos (e de agora?) Olhai como eram promovidos por vezes verdadeiros fulanos obtusos, quase analfabetos, com mais faces quadradas que um cubo. E pronto, lá tínhamos alguns “senhores diretores” que, como a canção, “Sobe, sobe, balão sobe” iam por ali acima até estourarem ou passarem para secretários de Estado e mais(?), e etc. Porquê? Porque eram objetos assimilados, verdadeiros seres gelatinosos para com os seus chefes de partidos e o que mais conviesse para “subir na vida”. E lá iam (lá vão) de “tacho” em “tacho” até se esturricarem ou já nem poderem ser usados de tanto sarro que adquiriam. 

Atenção, não estou a afirmar que no Expresso é assim. Só divaguei porque vivi e sobrevivi a ver que em muitos sítios é assim que a “peste” funciona. Uns maloios mentecaptos e chefes, e diretores e… Por aí acima. E elas, algumas, talvez poucas, subiam na vida por causa daquilo mais abaixo (no corpo), quando outras é que tinham todo o mérito intelectual, profissional e de caráter, mas ficavam a marcar passo. Pronto. Já sei que agora me vão desancar. Vá, que eu não fujo às balas. Já estou habituado, velho e de pele curtida, grossa como a de um dinossauro. Fogo!

Agora por fogo… Uma boa entrada ou abertura está aqui no Curto que vem a seguir e é lavra de Ricardo Marques, jornalista (só) do Expresso. Ele pega num barco para se embrenhar no fogo cíclico que é negócio de uns quantos. Além disso há os “más-línguas” ou clarividentes. Uns que dizem que os partidos do Arco da Governação – que são quem tem partilhado os governo há décadas - fazem sempre as coisas para haver fogos monumentais sempre que possível e que depois sempre entra algum € nos cofres lá dos burgos, no Caldas, na Lapa, no Rato. Irra, que são mesmo más-línguas. Outros lembram aquela moda de quando os campos e florestas começavam a arder quando passavam aviões e avionetas (já foi há uns anos atrás). E agora ainda é assim? Tempos idos era disso que muito falavam: “Passou o aviãozinho, ouvi uma pequena explosão… e pouco depois começaram a aparecer labaredas.” A descrição era quase sempre neste estilo.

Quem montou a banca do negócio dos fogos em Portugal? Quem deliberou e ordenou que a Força Aérea se arredasse para montarem o negócio? Foi um dos governos mas a minha memória já lá vai em certos pormenores. Só tenho a certeza que era um governo do Arco da Governação, ou PS, ou PSD, ou CDS, ou todos juntos… Ena, “todos juntos”. Até parece uma canção. Pois. Uma canção dos bandidos. Uma negociata? Pois. Quanto rendeu? Quanto renderá? Ou tudo isso são só más-línguas? São? Pois.

Basta. Aqui já não canto mais. Senhores e senhoras, agora vai cantar o jornalista do Expresso que excecionalmente está a servir o Curto com muito creme e cafeína da melhor. Tio Balsemão, faça desta exceção uma regra, por favor. O poder aos jornalistas no Expresso Curto. Atenção, mesmo jornalistas. Eles existem e até muitos são muito bons, se deixarem. Pois.

Mário Motta / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Ricardo Marques – Expresso

A cidade e as cinzas

Imagine que todos os anos o obrigam a entrar num barco velho e esburacado, sempre o mesmo, para uma viagem de dois meses, e que todos os anos lhe dizem que, mais cedo ou mais tarde, mais depressa ou mais devagar, por culpa própria ou do mar, que está bravo, o barco acabará no fundo. E não, não há volta a dar – tem mesmo de subir a bordo.
Os mais avisados poderão levantar a hipótese de começar a reparar o barco com a colaboração de todos, aos poucos e por muito trabalho que dê, ainda que demore uns anos e que, pelo meio, a coisa vá mesmo ao fundo uma ou duas vezes.


O problema é que ninguém os quererá ouvir, porque o resto da malta, já com água pela cintura, estará, pelo enésimo ano seguido, a aplaudir de pé o tipo que se lembrou, outra vez, de comprar mais boias - mesmo sabendo que nunca haverá boias suficientes.

E no ano seguinte, como em todos os anteriores, resgatado o barco às profundezas e pronto para deixar o cais com os buracos do costume e ainda mais alguns, a discussão sobre a compra de boias recomeçará.

Nisso, a água é igual ao fogo.

Vejamos três frases da época:

A) “Meios obsoletos e falta de legislação são cúmplices dos incendiários.”

B) “O país assiste, impotente e perplexo, à progressiva destruição da sua imensa riqueza florestal.”

C) “Por mais meios que tenham (e serão sempre insuficientes), eles não permitirão colocar um vigilante junto de cada árvore, com equipamento de primeira intervenção, 24 horas por dia.”

Eis as palavras que acompanham os dias das cinzas, das paisagens negras e do cheiro a terra queimada. As serras ficam de luto e a cidade olha-as horrorizada. Chegam pela televisão aqueles segundos de pânico, de gente a chorar, a correr e a ver o fogo levar em segundos o que lhes levou uma vida inteira a conquistar numa aldeia de nome estranho. O horror. O barco a ir ao fundo diante dos nossos olhos e nem uma boia por perto.

Estes são os dias que sempre foram, porque nunca foi de outra maneira. Ouvimos o que se diz hoje com a incómoda sensação de estarmos a escutar um eco. Ou a repetitiva balada das cigarras, que cantam sempre no verão.

Não há prevenção. Ninguém cuida da floresta. Os bombeiros não têm meios. Os bombeiros estão cansados. Os aviões não chegam. Casas ameaçadas. Aldeias cercadas, em risco, destruídas. Pessoas que perdem tudo. Pessoas que perdem a vida. É o inferno e o pesadelo e o terror, quando não os três ao mesmo tempo. Mas para o ano será melhor, nunca mais será tão mau, vamos estudar isto e apostar naquilo. Que Diabo, vamos gastar mais. Vem de Lisboa o ministro e o secretário de Estado, vem a homenagem e a solidariedade à gente das serras. Das cinzas. Fazemos contas à área ardida. Eesperamos encolhidos de medo que passe essa onda de fogo que grassa – para nossa desgraça.

É tudo verdade, porque já lemos coisa igual há dez anos e porque daqui a vinte não será mentira, e lá estarão os jornais para o confirmar.

“Os efeitos da catástrofe que na última semana atingiu o País em chamas são terríveis. Mas quando chegar a estação das chuvas, o pesadelo esbater-se-á, como de costume, na memória de todos nós. E o País só se voltará a lembrar do pesadelo no Verão seguinte da prevenção, do ordenamento da floresta, dos incendiários e pirómanos, da falta de civismo dos que atiram cigarros pela janela dos automóveis e dos desnecessários foguetes das romarias.”

Eis o retrato do país nesta sexta-feira, 12 de agosto de 2016 – só que foi escrito por Cáceres Monteiro, o eterno repórter, num dia de agosto de 2004.

Lembra-se das três frases que vieram antes, a A, a B e a C? Leia de novo, se for preciso. A primeira é um título do Expresso de outubro de 1977. A segunda foi escrita há 30 anos, por Nuno Brederode Santos. A última tem treze anos, escreveram-na Fernando Páscoa e Rui Silva.

O verão das águas calmas é sempre o das chamas furiosas. É o das cidades desertas que choram na praia a sorte das aldeias cheias.

O verão é o dos números marcados na página que conta os incêndios.Às 08h00 havia seis situações graves: nos concelhos de Mondim de Basto, Sever do Vouga, Anadia, Caminha, Arouca e Águeda. Ao todo, estavam ativos 82 incêndios. O verão é o das promessas feitas no chão queimado, das histórias de solidariedade (esta é nacional e há outra, que vem de Arouca, aqui) e das polémicas que nos fazem olhar para o lado.

Sim, o verão é isto tudo, e mais o canto das cigarras.

Mas já não consegue ser uma surpresa.

OUTRAS NOTÍCIAS

Segue-se uma volta rápida pela atualidade na véspera do fim de semana mais longo de agosto.

Em última hora, uma série de explosões na Tailândia. Nove rebentamentos - que as autoridades classificam como atos de sabotagem sem qualquer relação com terrorismo internacional - registados em cinco cidades diferentes nas últimas horas. Pelo menos duas pessoas terão morrido e cerca de duas dezenas ficaram feridas nos ataques que atingiram zonas turísticas. Há um ano, a 17 de agosto, um ataque na capita tailandesa provocou 20 mortos.

Quem é mais rápido? Marcelo a promulgar diplomas ou o P3-C da Força Aérea que ontem voou baixinho junto à praia da Costa Nova, em Aveiro e deixou muita gente assustada?

O que é mais quente? O calor que este fim-de-semanapromete ou a temperatura que parece estar a subir outra vez na Crimeia? Depois de mais uma troca de acusações entre Moscovo e Kiev, as autoridades ucranianas decidiram colocar as tropas em alerta.

O que aconteceu aos quatro argelinos que há umas semanas desataram a correr pela pista do aeroporto de Lisboa? Após três dias de julgamento, foram condenados a quatro anos de pena suspensa.

Os media norte-americanos, escrevi aqui há uma semana, estão completamente obcecados e em estado de alerta máximo com Donald Trump. Vale a pena perder cinco minutos a espreitar as notícias em destaque em sites como o do New York Times, da CNNou do Washington Post e perceber que até quando falam de Hillary estão na verdade a falar de Trump. Por este andar, correm o risco de chegar a dezembro e o único assunto ser mesmo o Donald.

Da terra do empresário-milionário que quer ser presidente, vem também a história de um casal que tem empregos normais, casa própria (com sete quartos), carro (na verdade, um mini-autocarro), 13 filhos e dinheiro para os enviar a todos para a faculdade e planos de reforma antecipada. A única coisa que este casal não tem é dívidas. Saiba como é possível.

Em Espanha, Mariano Rajoy e Albert Rivera parecem cada vez mais próximos e já fazem planos para a tomada de posse – algures no final do mês ou na primeira semana de setembro. Antes, claro, o líder do PP tem de garantir que o partido aprova as seis condições impostas pelo homem que lidera o Ciudadanos.

Lembra-se dos ingleses, aqueles que votaram para sair da União Europeia? A discussão por estes dias é quando devem fazê-lo. O Independent olhou para o calendário e chegou à conclusão de que a primeira-ministra Theresa May está a ser pressionada para rapidamente desencadear o processo, uma das condições do Tratado de Lisboa. Ela garantiu que não será antes de 2017, mas há quem defenda (os mais preocupados em sair) que não pode ser depois: o processo demorará dois anos e ficará concluído em 2019, um ano antes das próximas eleições britânicas – que podem levar ao poder um Governo menos disposto a sair.

Como o tempo parece correr devagar, atrevo-me a sugerir uma ligação para o que promete ser um excelente artigo do The New York Times sobre o mundo em que vivemos. Foram 18 meses de investigação para escrever uma história que começa com a invasão do Iraque, em 2003, e que termina com a ameaça do Daesh e com a imensa crise dos refugiados que atinge a Europa.Verifique a bateria antes de abrir a ligação para “Fractured Lands: How the arab world came apart”.

Já que se falou no início de barcos que vão ao fundo, tenho de confessar que “tiburón” é uma das minhas palavras preferidas em espanhol. Hoje tenho também de agradecer a um jornal espanhol, o El Pais, por este artigo que conta a vida de um tubarão que vive quatro séculos. Como eles dizem acerca de um destes bichinhos capturado por acidente há uns anos: “Nació antes de que Velázquez pintara Las Meninas” (1656). Conheça aqui a história do tubarão da Gronelândia (inclui ligação para o artigo original, da Science).

Manchetes

Correio da Manhã: "96 mil jovens sem estudo nem trabaho"

Diário de Notícias: "Governo pressiona juízes para prender mais incendiários"

Jornal de Notícias: "Há mais jovens que nem estudam nem trabalham"

Público: "Governo vai contactar pais de alunos sem vaga na rede pré-escolar"

I: "Toda a história de Paulo, o homem de 24 anos que decidiu acabar com a Madeira"

O QUE ANDO A LER

Hoje é mais o que ando a ver (há uma série de portugueses a competir esta sexta-feira). E o que ando a pensar sobre o que o ando a ver. E sendo que na última semana tenho dormido pouco por ficar horas a ver os Jogos Olímpicos, dei comigo a pensar por que razão tenho perdido tantas horas de sono. A culpa, concluí, é da câmara lenta. Da câmara superlenta. Tão lenta que na repetição de uma jogada ténis de mesa conseguimos perceber a rotação da bola enquanto se encaminha em direção à raquete de uma tenista que nem sequer pestaneja (juro).

O desporto, qualquer desporto, quando praticado ao mais alto nível é espetacular. Que sorte é estar vivo numa altura em que Michael Phelps atravessa piscinas à velocidade de uma lancha, em que Simone Billes diz adeus ao tapete e se lança no ar, e em que Usain Bolt acaba de correr 100 metros nove segundos depois de começar – assistir a tudo isto é mesmo um privilégio.

Mas o melhor mesmo é a certeza de que podemos ver tudo outra vez, em câmara lenta, atentos a cada pormenor, a cada movimento dos olhos, dos músculos. É a certeza de que, tal como nós, os próprios atletas e treinadores estudam cada imagem à exaustão e que, por isso, corrigirão as imperfeições e serão ainda melhores – tal como serão as mais espetaculares as imagens que veremos.

Este fascínio pela câmara lenta é a coisa mais estranha dos nossos dias vividos a mil à hora.

Adiante, que se faz tarde.

Esta noite começa a Liga Portugal, com um Rio Ave – Porto (20h30) e nada melhor do que ler sobre o jogo, e o campeonato todo, na Tribuna – onde só tem lugar o melhor jornalismo desportivo e, claro, os leitores do Expresso. A Tribuna é a mais recente aposta do seu jornal de sempre, já está em campo e não é um mero candidato ao título. Faz parte dele.

Há Diário às seis da tarde, há Expresso na banca amanhã(com Novelas do Minho, de Camilo Castelo Branco), e disponível online toda a informação e mais a da Tribuna, a qualquer hora.

Tenha um dia descansado, um excelente final de férias, se for o caso, um excelente início de férias, se for o caso contrário, mais um bom fim de semana e um extraordinário feriado. Terça-feira cá estaremos.

Talvez já haja alguém a pensar que não é mesmo má ideia perder tempo a arranjar o barco.

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