segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Fraude continua. TC declarou Evaristo Carvalho Presidente de São Tomé e Príncipe



José Bandeira Juiz Presidente do Tribunal Constitucional leu na tarde de segunda-feira, o resultado definitivo da segunda volta das eleições presidenciais.

O Juiz Presidente começou por anunciar os nomes dos seus pares, e faltou 1 deles, o Juiz Conselheiro Silvestre Leite. José Bandeira não explicou o motivo da ausência de um dos pares do Tribunal Constitucional, e avançou com os resultados definitivos.

Eleitores inscritos – 111 222
Número de votantes – 51226 – correspondentes a 46,06%
Não votantes – 59996 – correspondentes a 53,94%
Votos validamente expressos – 41820 – correspondentes a 81,64%
Evaristo Carvalho obteve- 41820 votos que corresponde a 100%
Votos Brancos 1522 – correspondentes 2,97%
Votos nulos 7884 correspondentes a 15,39%

Divulgados os números do apuramento geral, José Bandeira, recorreu a lei eleitoral para proclamar o vencedor da segunda volta das eleições presidenciais. «É proclamado vencedor das eleições presidenciais de 7 de Agosto de 2016 o candidato Evaristo do Espírito Santo Carvalho com um total de 41820 votos correspondendo a 100% dos votos validamente expressos, o que corresponde a 81,64% do total dos votantes», afirmou.

Segundo o Presidente do Tribunal Constitucional Evaristo Carvalho é o novo Presidente da República. «Assim nos termos do artigo 78 da Constituição da República é o senhor Evaristo espírito Santo Carvalho Eleito Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe. Para constar lavrou-se a presente acta lida e devidamente assinada por todos os membros da Assembleia de Apuramento Geral», concluiu o Juiz Presidente do Supremo Tribunal de Justiça nas vestes do Tribunal Constitucional.

Abel Veiga – Téla Nón - Título PG

São Tomé e Príncipe. Candidatos derrotados tentam invalidar eleição de Evaristo de Carvalho





Maria das Neves, a terceira candidata mais votada nas eleições presidenciais de 17 de julho em São Tomé e Príncipe, impugnou hoje no Supremo Tribunal de Justiça a segunda volta das presidenciais que proclamou Evaristo de Carvalho vencedor.

De acordo com o texto do documento a que a Lusa teve acesso, Maria das Neves acusa o Supremo Tribunal de Justiça/Tribunal Constitucional de "omissão de um ato ou de uma formalidade".

A candidata recorre à lei para explicar: "ao sufrágio concorrerão apenas dois candidatos mais votados que não tenham retirado a candidatura", explicando, de seguida, que tendo Pinto da Costa retirado a sua candidatura, a mesma deveria ser notificada para concorrer com Evaristo de Carvalho.

"Em momento nenhum foi notificada pelo Supremo Tribunal de Justiça como recomenda o artigo 15 número 2 da Lei Eleitoral para concorrer ao sufrágio", explica no texto de impugnação remetido hoje a STJ.

"Perante todos esses atropelos à lei eleitoral, foi realizada a segunda volta das eleições no dia 07 de agosto com apenas um candidato, numa manifesta e gritante violação da lei eleitoral", sublinha o documento.

No texto da impugnação, Maria das Neves adianta: "Face ao imbróglio ou atrapalhada jurídica da realização da segunda volta das eleições podemos facilmente inferir que estamos perante uma nulidade absoluta e insanável dessas eleições".

Por seu lado, a candidatura de Manuel Pinto da Costa remeteu também ao Supremo Tribunal uma providência cautelar para invalidar eleição de Evaristo de Carvalho como presidente da Republica de São Tomé e Príncipe.

A candidatura de Pinto da Costa sustenta que Assembleia de Apuramento Geral já realizada, bem como a de hoje "estão eivadas de ilegalidades grosseiras".

Diz o documento que o ato praticado pelos Juízes Conselheiros "põe em causa a legitimidade de todo o processo eleitoral, inclusive do próprio Tribunal Constitucional, contribuindo assim para o desmoronamento do Estado de Direito Democrático, instituído há vinte e cinco anos, resultado do sacrifício e da vontade de todos os santomenses".

Segundo fonte da candidatura de Pinto da Costa, "o documento já foi remetido ao Supremo Tribunal de Justiça que tem função de Tribunal Constitucional".

Uma fonte judicial disse à Lusa que esses dois documentos podem ter "efeito prático, caso até à tomada de posse do presidente eleito, o Supremo Tribunal de Justiça decida discuti-los".

"Dependendo do resultado da decisão do Supremo o candidato que hoje foi proclamado presidente eleito pode ou não tomar posse", explicou a fonte.

Hoje mesmo, durante a proclamação dos resultados, um grupo compostos por alguns advogados e mandatários das duas candidaturas irromperam na sala para entregar um protesto e pedir a suspensão da proclamação dos resultados definitivos.

Pelo menos uma dezena de agentes policiais da força de intervenção foram chamadas à instalação do tribunal, tendo, no entanto, a situação terminado numa acalmia.

Evaristo de Carvalho foi o candidato mais votado na primeira volta, a 17 de julho, e foi o único a ir a votos na segunda volta depois de Manuel Pinto da Costa, atual Presidente da República, ter abandonado a disputa, argumentando que "participar num processo eleitoral tão viciado seria caucioná-lo".

MYB // SB - Lusa

Moçambique. JUSTIÇA, PRECISA-SE NESTE PAÍS!



@Verdade, Editorial

Vergonhoso e repugnante, é o que se pode dizer da Justiça moçambicana. Pois, passam sensivelmente 15 anos após o hediondo crime que vitimou o economista Siba-Siba Macuácua. Crime esse equiparado às actividades violentas perpetradas pelos tenebrosos e sanguinários grupos terroristas que têm semeado dor e luto por onde actuam.

Porém, o mais revoltante na situação em aprecio é a inoperância e a ineficiência da Justiça, sobretudo de órgãos como a Polícia de Investigação Criminal e a Procuradoria-Geral da República, que continuam a fingir que nada aconteceu. Aliás, os cidadãos moçambicanos, espalhados por este extenso Moçambique, assistem, impávido e sereno, à morosidade desta nossa Justiça podre, desactualizada e sem entranhas de humanidade. Já se passam 15 anos e, até então, não se sabe os motivos por detrás dessa bárbaro crime.

Infelizmente, como moçambicanos, continuaremos a assistir os culpados circulando impunes, e mentirosamente prometerão que os culpados serão conhecidos e punidos, quando na verdade não passa de uma patranha para o inglês ver. Aliás, o nosso país está infestado indivíduos sem a mais pequena réstia de sentimento, e que vive fingindo escrúpulos. Mentem que se fartam.

Diga-se, em abono da verdade, que à semelhança do caso Siba-Siba, os moçambicanos continuarão a não ter resposta aos assassinatos do constitucionalista Gilles Cistac, do jornalista Paulo Machava, entre outras vítimas dessa Justiça desactualizada. Ainda mais, pelo andar da carruagem, tudo indica que os culpados da crise que hoje Moçambique atravessa, devido às dívidas contraídas ilegalmente em nome do Estado, não serão punidos, pese embora se conheça o paradeiro dos mafiosos que cometeram esse crime.

Insensíveis (para não dizer cruéis) também somos nós - o Povo, a maioria subjugada - consagrados na hipocrisia e incapazes de exigir os nossos direitos, nomeadamente a Justiça, a Segurança e o Bem-estar. Somos incapazes de nos emocionarmos, de nos movermos por um espírito solidário. Somos incapazes de pôr a nu, as injustiças. Somos incapazes de protestar contra todos os actos bárbaros que vitima(ra)m muitos dos nossos compatriotas inocentes.

Em suma, somos um bando de cobardes domesticados no auge da desumanidade e cúmplices de todas atrocidades cometidas contra os moçambicanos que, com o seu suor, garantem a mordomia de uma corja que se encontra pendurada no poder desde 1975.

Versões contraditórias em assassínio de seis pessoas no centro de Moçambique



Seis pessoas foram mortas a tiro e depois queimadas em Cheringoma, província de Sofala, centro de Moçambique, numa ação que a polícia atribui a homens armados da Renamo e testemunhas citadas pelo jornal O País imputam às forças governamentais.

Em declarações à Lusa, o porta-voz do Comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) na província de Sofala, Daniel Macuácua, acusou homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) de estarem por detrás dos homicídios, uma versão contrariada por duas testemunhas ouvidas pelo principal diário privado.

O ataque aconteceu na sexta-feira, quando uma viatura ligeira em que seguiam as vítimas foi interpelada por homens armados descritos por dois sobreviventes, citadas pelo jornal O País, como agentes da PRM e membros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).

"Os homens da PRM ordenaram-nos a subir num carro e percorremos uma longa distância. Parámos num ponto e fuzilaram um por um, consegui escapar e fugi, mas atiraram, atingindo-me com uma bala e caí numa mata", afirmou um dos sobreviventes, falando sob anonimato.

Um cidadão do Bangladesh que fazia parte do grupo de passageiros da viatura interpelada pelos homens armados e que conseguiu escapar também acusou militares e agentes da PRM de estarem por detrás da ação.

"Levaram-nos ao mato, mandaram os moçambicanos fazer uma fila e fuzilaram um por um. Daí, os militares e agentes da PRM vieram ter connosco [bengalis], mas eu consegui escapar e fugir", contou.

Apesar destes testemunhos, a polícia mantém a sua versão de que o ataque foi dirigido por homens armados da oposição, à semelhança de outros incidentes ocorridos na região.

"Reiteramos que aquela ação foi cometida por homens armados da Renamo, estamos em diligência para apurar mais elementos sobre esse ato macabro", afirmou o porta-voz da PRM em Sofala.

A região centro de Moçambique tem sido a mais atingida por episódios de confrontos entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança, existindo denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.

As autoridades moçambicanas acusam a Renamo de uma série de emboscadas nas estradas e ataques nas últimas semanas, em localidades do centro e norte de Moçambique, atingindo postos policiais e também assaltos a instalações civis, como centros de saúde ou alvos económicos, como comboios da mineira brasileira Vale.

Na sexta-feira, as autoridades revelaram um ataque de homens armados da Renamo, na vila sede do distrito de Morrumbala, na Zambézia, centro de Moçambique, que se seguiu a outras investidas denunciadas em Mopeia, na mesma província, e também a localidades em Niassa, no norte do país.

Apesar da frequência de casos de violência política, as duas partes voltaram ao diálogo em Maputo, com a presença de mediadores internacionais, mas ainda não são conhecidos avanços.

PMA (AYAC/HB) // CSJ - Lusa

Portugal. À ESPERA DO CAMELO



Afonso Camões* – Jornal de Notícias, opinião

Há fogo? Valham-nos os bombeiros, que o resto é fastio. Tal como no futebol, onde abundam os treinadores de bancada, a época de incêndios revela-nos um enorme potencial encoberto, o desses sapadores de sofá e ar condicionado que, se fossem mobilizados, até as labaredas extinguiam com o bafo de tão doutas táticas sobre um mundo rural que desprezam e desconhecem.

Com as matas carregadas de matéria combustível, a má notícia é que ainda vamos a meio de agosto, e este verão ameaça pior, em resultado da terrível conjugação de incúria, altas temperaturas, vento e a mão descuidada ou criminosa de alguns.

Incendeia-se-nos a sensibilidade quando o terror engole habitações e mata pessoas e animais, ou quando bombeiros sucumbem cercados pelas chamas, ou ainda quando uma extensa área de alto valor ambiental é reduzida a um manto negro de cinzas.

O maior problema não está, porém, no combate onde se gasta cada ano quase 100 milhões de euros, cinco vezes mais o que se investe em prevenção. A natureza permite-se certas liberdades, entre elas, a menos comedida é que a floresta arde independentemente de quem governa. O problema é que sobre as cinzas de cada ano vinga a visão de curto prazo e prospera a economia do fogo, que prefere pagar mais em meios de combate do que investir na defesa. Ora, o consenso político deveria passar por aqui: elevar a prevenção ao posto de comando e assumir que o primeiro corta-fogo está nas políticas e em quem as lidera.

Depois de cada tragédia, reclamamos mão dura sobre o crime. Mas, mais importante, é preciso ativar, definitivamente, uma política integrada para os dois terços do chão nosso, o interior rural, e uma gestão da floresta que a valorize como património coletivo, fonte de riqueza tão menosprezada pela ignorante modernidade urbanita.

Mangas arregaçadas e de todas as cores, os políticos de turno gostam de aparecer nos "teatros de operações", como agora lhe chamam, e derramar palavras nos muros da desgraça, jornais, rádios e televisões. Nada, porém, que mude o essencial. Porque insistimos em ignorar que os incêndios de verão se combatem no inverno.

É bom saber que o Governo vai criar um grupo de trabalho interministerial para (agora é que vai ser!) a reforma da floresta. Um velho político, que aliás terminou a carreira perdendo eleições, achava que a melhor maneira de adiar uma decisão é criar um grupo de trabalho. O último Governo, aliás, especializou-se nisso, criou dezenas. Oxalá este nos surpreenda, porque o mesmo político também dizia que um camelo é um cavalo desenhado por uma comissão. Mas ao menos que haja camelo.

*Diretor

Portugal. ANIMAIS SUPOSTAMENTE HUMANOS NEGAM ÁGUA PARA COMBATER FOGOS



A desumanidade é característica da avareza e da ganância. Encarnados no aspeto de homens e mulheres vimos animais que são supostamente humanos mas na realidade são animais do pior que abunda neste planeta.

O Jornal de Notícias descreve em edição exclusiva o caso de um dos demasiados desses supostos animais humanos que usam obstáculos nos tanques repletos de água para que os bombeiros nos helicópteros não lancem o balde e não lhes “roubem” a água para apagar fogos. Fogos que ocorrem exatamente nas imediações das propriedades desses animais do piorio. Ao que parece o animal do narrado no JN incorreu num crime. O JN especifica. Atualize-se lendo a notícia. (PG)

Negam acesso a água para combate aos fogos


O fogo avançou depressa e ultrapassou a fronteira entre Arouca e S. Pedro do Sul, deixando famílias desalojadas, animais mortos, propriedades destruídas e um homem ferido com gravidade.

No ar, aviões e helicópteros procuraram água em rios, piscinas e tanques. As pessoas têm de dar acesso à água mas, numa propriedade, o tanque estava bloqueado por paus e arame.

O piloto fotografou o reservatório, georreferenciou a imagem e apresentou queixa à GNR de Viseu: impedir o combate aos fogos é crime punível com um a oito anos de prisão.

Casos como este são "comuns", lamenta Ricardo Silva, comandante operacional da Helibravo, uma das empresas que estão a combater os incêndios. "São recorrentes", reforçou o também piloto de helicóptero Pedro (nome fictício).

Jornal de Notícias

Artigo completo em exclusivo na edição impressa

GOVERNO RUSSO ESTÁ REVENDO AS POLÍTICAS NEOLIBERAIS



Segundo várias notícias, o governo russo está reavaliando as políticas neoliberais que tão pouco ajudaram e tanto prejudicaram a Rússia, desde o fim da União Soviética. Se a Rússia tivesse adotado política econômica inteligente, a economia russa estaria em muito melhores condições do que está hoje. E, se tivesse restaurado a confiança no autofinanciamento, teria evitado a maior parte da fuga de capitais russos para o ocidente.

Washington aproveitou-se de um governo russo desmoralizado, que buscou orientação em Washington, na era pós-soviética. Acreditando que a rivalidade entre os dois países teria acabado com o fim do regime soviético, os russos acreditaram no conselho que os norte-americanos lhes deram, para modernizar a economia russa na direção de ideais ocidentais. Mas Washington logo traiu a confiança nos russos e acabrestou a Rússia numa política econômica concebida para assaltar o patrimônio econômico russo e transferir a propriedade deles para mãos norte-americanas no específico e não russas em geral.

Com aplicar esse golpe contra a Rússia, levando os russos a aceitar a entrada de capital de fora e expondo o rublo à especulação, Washington garantiu que os EUA conseguissem desestabilizar a Rússia com fluxos de saída de capitais e assalto direto contra o valor de câmbio do rublo.

Só governo que não conhecesse o objetivo neoconservador dos EUA obcecados com alcançar a hegemonia mundial, teria algum dia exposto o próprio sistema econômico a esse tipo de manipulação por interesses organizados nos EUA e contra interesses locais de qualquer tipo.

As sanções que Washington impôs - e obrigou a Europa a impor - à Rússia mostra o quanto a economia neoliberal trabalha obcecadamente contra a Rússia. As altíssimas taxas de juros e a 'austeridade' (não é austeridade: é ARROCHO) fizeram naufragar a economia russa - sem qualquer ganho para a Rússia. O rublo foi derrubado pela fuga de capitais, resultando no processo pelo qual o Banco Central 'torrou' as reservas estrangeiras da Rússia no esforço para 'sustentar' o rublo, mas processo que, na verdade, só  'sustentou' a fuga de capitais.

Vladimir Putin até acha atraente a noção romântica de uma economia global à qual todos os países tenham igual acesso. Mas os problemas que resultaram da política neoliberal forçaram-no a recorrer à substituição de importações para tornar a economia russa menos dependente de importações. Aqueles problemas também levaram Putin a dar-se contra de que, se o plano era a Rússia manter um pé na ordem econômica 'ocidental', ela teria de manter o outro pé na nova ordem econômica em construção com China, Índia e as repúblicas asiáticas ex-soviéticas.

A economia neoliberal prescreve uma dependência política que depende de empréstimos de fora e investimentos estrangeiros. Essa política cria dívidas em moeda estrangeira e entre a propriedade sobre lucros auferidos na Rússia, também a estrangeiros. São duas perigosas vulnerabilidades no caso de nação que Washington já declarou "ameaça existencial aos EUA".

O establishment econômica que Washington preparou, no qual a Rússia sonhava 'integrar-se' sempre foi neoliberal. Considerem-se, dentre outros, a presidenta do Banco Central Elvira Nabiullina; o ministro de desenvolvimento econômico Alexei Ulyukayev; e os ministros das Finanças, o atual e o anterior, Anton Siluanov e Alexei Kudrin - todos eles neoliberais doutrinais. Todo esse pessoal, para lidar com o déficit no orçamento russo, só sabe vender patrimônio público dos russos, a estrangeiros. Se tivesse sido efetivamente implantada, essa política daria a Washington cada vez maior controle sobre a economia russa.

Serguey Gaziev

Contra essa seleção de "economistas de lixão" [orig. junk economists], está Sergey Glaziev.[1] Boris Titov e Andrei Klepach, ao que se sabe, são aliados de Glaziev.

Esse grupo compreende que as políticas neoliberais deixam a economia da Rússia suscetível a golpes de desestabilização manobrada por Washington, sempre que os EUA queiram punir governos russos por não obedecerem à política externa ditada de Washington. O objetivo deles é promover uma Rússia mais autossuficiente, de modo a proteger a soberania nacional e a capacidade do governo para defender interesses nacionais da Rússia, em vez de subjugar esses interesses aos interesses de Washington.

O modelo neoliberal não é modelo de desenvolvimento: é modelo puramente extrativo. Norte-americanos o têm caracterizado em termos de Rússia e outros dependentes serão 'rachadores de lenha e puxadores de água para os príncipes' [Josué 9:21], ou, no caso da Rússia, puxadores de petróleo, gás, platina e diamantes.

Autossuficiência significa não depender de importações ou de capitais externos para investimentos que possam ser financiados pelo banco central da Rússia. Também significa conservar partes estratégicas da economia em mãos públicas, não privadas. Serviços básicos de infraestrutura devem ser postos a serviço da economia nacional a preço de custo, ou com preços subsidiados ou gratuitamente, nunca entregues a proprietários estranhos ao país, para que deles extraiam lucros de monopólio.

Glaziev também quer que o valor de câmbio do rublo seja determinado pelo banco central, não por especuladores no mercado de moedas.

Economistas neoliberais não veem que o desenvolvimento econômico de um país superdotado de recursos naturais como a Rússia pode ser financiado com o dinheiro necessário criado pelo banco central. Para eles, seria procedimento .

Os neoliberais negam o fato já reconhecido há muito tempo de que, em termos da quantidade de dinheiro, não faz diferença alguma de onde venha o dinheiro, se do banco central ou de bancos privados (os quais, como o banco central, também criam dinheiro, não com a Casa da Moeda, mas com juros de empréstimos ou 'recolhidos' fora do país). A diferença é que, se o dinheiro vem de bancos privados ou do exterior, os juros são devidos aos bancos privados e os lucros têm de ser divididos com investidores estrangeiros, que sempre acabam por controlar a economia.

Aparentemente, os neoliberais russos são insensíveis à ameaça que Washington e vassalos europeus fazem contra o estado russo. A partir de mentiras completamente inventadas e cevadas na/pela mídia-empresa, Washington impôs sanções econômicas à Rússia. Essa demonização política é tão fictícia quanto toda a propaganda da economia neoliberal. Apoiada nessas mentiras, Washington vai ampliando as forças militares e o número de bases de mísseis empurrados para perto das fronteiras da Rússia e em águas russas.

Washington obra para mudar regimes nos estados que foram províncias soviéticas, para ali instalar regimes fantoches hostis à Rússia, como fizeram já na Ucrânia e na Georgia. A Rússia é continuadamente demonizada por Washington e pela OTAN.

Washington politizou viciosamente até os Jogos Olímpicos, e conseguiu impedir que muitos atletas russos (e TODOS os paratletas olímpicos russos) participassem dos jogos no Rio de Janeiro em 2016.

Apesar de todos esses movimentos hostis contra a Rússia, mesmo assim os neoliberais russos ainda acreditam que as políticas econômicas que Washington insiste em impor à Rússia considerariam interesses dos russos. Não. As políticas econômicas que Washington insiste em impor à Rússia visam, exclusivamente, a expor a economia russa a ser controlada por/de Washington. Nessas condições, ancorar o destino da Rússia à hegemonia belicosa dos EUA é entregar a soberania russa à soberania dos EUA.*****

Pravda.ru

Notas:
[1] Sobre ele, ver, dentre outros artigos, "Para pôr fim às guerras dos EUA em todo o planeta: Assessor de Putin propõe Aliança Antidólar", 18/6/2014, Tyler Durden, ZeroHedge (traduzido emRedecastorphoto; e "Entrevista com Sergei Glaziev - Para compreender a Ucrânia em 15 minutos", 23/8/2014, Redecastorphoto (NTs).

10/8/2016, Paul Craig Roberts e Michael Hudson, Paul Graig Roberts Website

OS NEGÓCIOS DE DONALD TRUMP NA AMÉRICA LATINA



Sócios que quebram, empresas no Panamá Papers, amizade com Macri: conheça os negócios de Donald Trump na América Latina




Martín Sivak - Chequeado - Agência Pública - Cidade do Panamá. em Opera Mundi

Candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos tem empreendimentos com seu nome no Brasil, no Panamá, no Uruguai e planeja entrar na Argentina; "a coisa que faço melhor é construir", diz Trump

A Torre Trump do Panamá tem formato de vela. Rodeada por edifícios na radiante Punta Pacífica, na capital do país, simula o efeito de navegar sobre o oceano. Taxistas, vizinhos e homens de negócio a conhecem como El Trom, a Torre Trom, o Hotel Trom. Essa vela de 70 andares, 284 metros de altura e 250 mil metros quadrados se encontra em disputa.

Em julho de 2015, os proprietários dos apartamentos demitiram a empresa de Donald Trump, presidenciável republicano para a eleição deste ano nos Estados Unidos, da administração do consórcio da torre em que funcionam, além de residências, o Hotel Trump – ainda controlado pelas organizações Trump – , o cassino Sun International e outros empreendimentos menores.

Os proprietários do edifício, representados por um grupo de diretores, justificaram sua decisão pelos supostos erros da administração Trump: pagar bônus sem permissão, colocar gastos do hotel como despesas do edifício, se exceder em gastos do orçamento e ocultar informações do consórcio.

Em novembro de 2015, Donald Trump apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC), uma ação de US$ 75 milhões contra os proprietários do edifício panamenho, já que considera injustas a demissão do administrador e a perda de controle da gestão. As duas partes agora precisam conviver e compartilhar os espaços comuns: as cinco piscinas com vista para o mar, o ginásio, os restaurantes, os 37 elevadores, o hall central, as lojas.

A crise no Panamá chegou ao noticiário e teve impacto na campanha presidencial dos Estados Unidos. Um dos argumentos do candidato republicano tem sido que sua condição de “criador de negócios em nível global” – segundo ele, 85% dos seus empreendimentos estão fora dos EUA – ajudaria no desenho da política exterior americana. Em um artigo sobre os empreendimentos conflitantes de Trump, a Bloomberg assinalou que, no Canadá e na Turquia, seus sócios comerciais querem tirá-lo do comando e, na Escócia e na Irlanda, seus negócios dão prejuízo, ainda que ele diga o contrário.

Na semana passada, às vésperas da Olimpíada, foi inaugurado um Hotel Trump no Rio de Janeiro, onde ele planeja ainda construir cinco torres para escritórios que valerão US$ 1,8 bilhão (leia a reportagem completa). Em Punta del Este, o edifício residencial está em plena construção, e esses mesmos investidores pretendem erguer a partir de 2017 uma torre de escritórios em Buenos Aires que marcará o ingresso oficial da marca Trump na Argentina.

Em todos os casos, os desenvolvedores locais pagam para usar a marca de Trump. A corporação recebe um pagamento inicial e comissões de vendas (que vão de 5% a 13%), administra os hotéis e fiscaliza para que se cumpram todos os procedimentos de construção. Trump procura o respaldo dos governos locais mediante declarações públicas e benefícios fiscais ou isenções. No caso de Punta del Este, conseguiu alguns metros a mais de altura para a construção do heliporto do edifício. No hotel do Rio, conseguiu benefícios associados aos Jogos Olímpicos 2016.

O Império Trump nos Panama Papers

Para esta investigação foram consultados os Panamá Papers, documentos municipais de Punta del Este e registros de tribunais no Rio de Janeiro e Panamá. Foram visitados os três empreendimentos Trump e entrevistadas mais de 30 pessoas entre corretores, arquitetos, desenvolvedores, funcionários públicos e judiciais, além de empregados de Trump.

A investigação descobriu que a corporação Trump aparece ligada a 32 empresas offshore, entre elas o Trump Ocean Club do Panamá (como se chama também a torre que inclui o edifício, o hotel e o cassino). A revelação está nos Panamá Papers, uma base de dados administrada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) com milhões de e-mails, imagens e documentos em formatos diversos que estavam em posse do escritório jurídico Mossack Fonseca, entre 1977 e 2015.

A lista traz milhares de empresas de fachada, fundações e fundos criados em 21 paraísos fiscais ao redor do mundo. Quando o escândalo veio à tona, cerca de 11 milhões de documentos confidenciais foram vazados, revelando a forma como algumas das pessoas mais ricas e poderosas do mundo – incluindo diversos chefes de Estado – usam paraísos fiscais. A posse de contas offshore em si não é ilegal, desde que declarada ao Fisco. Mas o sistema muitas vezes serve para ocultar fortunas, evadir impostos ou lavar dinheiro obtido por meio de corrupção.

As informações exclusivas deste texto revelam que o império Trump tem ligação com 32 empresas offshore, entre elas o Trump Ocean Club do Panamá, empreendimento que incluí edifício, hotel e cassino. No caso brasileiro, um dos cogestores e investidores das Trump Towers Rio, o grupo Salamanca, aparece em várias sociedades nas Ilhas Virgens. Além disso, o próprio Donald Trump aparece nos Panamá Papers: mencionado 3.540 vezes, somente uma pequena parte corresponde a suas 32 empresas offshore, já que vendeu a marca a um número considerável de investidores.

Trom, você está demitido

A Torre Trump do Panamá foi o primeiro investimento de Trump na América Latina. A ideia surgiu em 2003 durante o concurso Miss Universo (uma das franquias do chamado “império Trump”). Segundo a revista Forbes, a empresa responsável, Newland International Properties, fez um pagamento inicial de US$ 1,2 milhão e logo depois cobriu diferentes porcentagens pela venda de apartamentos, royalties e aluguéis de espaços comerciais.




Em 2013, a Newland International Properties, majoritariamente composta por acionistas colombianos, declarou falência para negociar sua dívida. Ainda que a falência tenha afetado os montantes de Trump, de acordo com documentos judiciais aos quais o Chequeado teve acesso, o pagamento para Trump se manteve entre US$ 32 milhões e US$ 55 milhões. Os passivos da Newland, em março de 2016, eram de US$ 147 milhões, uma pequena melhora frente aos US$ 150,5 milhões em dezembro de 2015, segundo o último relatório financeiro apresentado pela empresa em março passado e disponível no site da Bolsa de Valores do Panamá.

A empresa está de saída da cidade: seu telefone não responde chamadas, no site oficial da Bolsa a empresa aparece com 0 funcionário e seus advogados se negaram a dar entrevista à reportagem. A organização Trump ficou em melhor posição. Somente entre janeiro de 2014 e julho de 2015, informou que recebeu US$ 5 milhões de royalties e US$ 896 mil por “pagamentos de administração” do empreendimento.

Esses números mostram que na América Latina, mesmo quando os empreendedores locais perdem dinheiro, Trump sempre ganha – porque não investe um centavo. Os membros da empresa argumentam que arriscam o seu prestígio.

Em julho de 2011, Trump viajou para a cidade do Panamá para inaugurar o que era então o edifício mais alto da América Latina (a Torre Mayor, de Santiago do Chile, 16 metros mais perto do céu, tomou esse lugar em 2014). Meses antes de o avião de Trump aterrissar no aeroporto internacional de Tocumen, naquela cidade, a Câmara Municipal o declarou persona non grata por ter dito, em março daquele ano, que os Estados Unidos haviam cedido “estupidamente” o canal ao Panamá “a troco de nada”, em referência ao tratado de 1977 assinado entre o presidente norte-americano Jimmy Carter e o seu par Omar Torrijos, para a entrega do canal em 1999.

Na inauguração da torre, o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, deu as boas-vindas: “Quero agradecer a Donald Trump por vir ao Panamá, investir no Panamá, e por [fazer] um dos edifícios mais importantes e mais bonitos”. Eric Trump, filho do candidato à presidência, nesse mesmo evento, deu uma pista sobre o futuro que projetava: “O luxo deste edifício é o que nos permitirá entrar no mercado latino-americano”.

“Fui uma das pessoas a quem o senhor Trom deu a mão”, diz Érica Moreno, diretora de Vendas e Marketing, em seu escritório no Hotel Trump, dias antes de celebrar os cinco anos de inauguração. Na narrativa de Trump, se trata de um empreendimento de que toda a família do candidato participou, com uma clara divisão do trabalho. “O senhor Trom é o que guia. Eric é o que está tomando conta deste projeto. Ivanka [a filha mais velha] desenhou os uniformes dos associados”.

– Associados?, pergunta a reportagem.

– Sim, no Trom chamamos de associados os empregados porque trabalhamos em equipe e temos um lema que muita gente conhece: “Nunca se conformar”.

Em um encontro de gerentes, em maio deste ano, em Manhattan, Érica se reencontrou com o senhor Trump. “Eu estou na minha campanha, vocês vendam apartamentos, nos disse ele, porque adora essas piadas”, lembra. O objetivo que a diretora de vendas e marketing fixou para 2016 é uma ocupação de 65% a 70% (a melhor parte da temporada vai de dezembro a maio).

No ano do lançamento do hotel, a organização Trump esperava poder cobrar uma média de US$ 350 por acomodação. Em 2016, cobra a metade. Por essa razão, a empresa planeja lançar hotéis quatro-estrelas no Caribe que não terão o selo Trump.

No começo, as propriedades da torre foram oferecidas a US$ 5 mil por metro quadrado, mas baixaram para US$ 3.000 ou US$ 2.500 nos andares médios, segundo contam os corretores responsáveis por oferecê-las (depois de venderem 98%, já estão no processo de revenda).

Um deles, Pedro Sánchez, sustenta que os compradores “fazem bons investimentos, não importa para eles o que Trump diga ou deixe de dizer na campanha [presidencial americana]”. Seu escritório na Torre Trump fica em uma galeria longa e circular junto a comércios de sucos, supermercados, outras imobiliárias, um bar, um spa e um serviço de correio que anuncia envio de cartas para a Venezuela.

Na etapa inicial, colombianos e venezuelanos encabeçaram a lista dos compradores de apartamentos. Por cada frase de Hugo Chávez – diziam os corretores –, se levantava um condomínio no Panamá. Oboom imobiliário da cidade, em sua aspiração de se converter em uma pequena Dubai, acabou sendo passageiro, mas a deixou em uma situação supostamente vitoriosa: entre os dez edifícios mais altos da América Latina de 2016, sete se encontram ali.

O cassino custou US$ 105 milhões. Inaugurado em setembro de 2014, ocupa dois pisos no nível do mar e uma parte do piso 65. Sánchez, o corretor que vende residências Trump, apela à tese da grande família: “O cassino ajuda a vender as propriedades porque traz um fluxo ao edifício e alguns jogadores compram propriedades”.

A experiência da Torre Trump é de alturas. No 65o andar, uma pequena piscina com um bar de coquetéis fica suspensa sobre o abismo. Na primeira sexta de julho de 2016, um DJ não comovia os seis clientes que pagavam US$ 7 dólares por uma garrafa pequena de Balboa, a cerveja local. Depois de duas noites consecutivas escutando conversas sobre vidas pessoais no andar 65o, a reportagem perguntou a um rapaz que estava no bar sobre Trump. Ele respondeu sobre o tamanho do edifício.

Nas cinco piscinas do quinto andar, duas pretendem ser como balcões para o Pacífico, como se o oceano continuasse. Entre as garçonetes de uniformes azuis – desenhados por Ivanka Trump – com toalhas da mesma cor, se pode conseguir uma das leituras providas pelo Trump Ocean Club: o Digest, uma seleção de notas do The New York Times. Em 30 de junho, na segunda página havia uma nota negativa sobre o candidato republicano: “No Instituto Trump, esquemas de como se tornar rico com ideias de outros”.

A terceira experiência em altura da torre panamenha é o elevador envidraçado que sobe do lobby do 13º andar até o apartamento do hóspede. O elevador mais original do edifício não tem vista: se resume a transportar animais domésticos que não podem pesar mais de 100 quilos.

O hotel dá produtos gratuitos, como fio dental e água Trump. O merchandising de Trump no Panamá é uma repetição, em escala menor, da múltipla oferta de produtos nos hotéis do republicano nos Estados Unidos. No Doral Miami, se pode provar uma taça de Trump Chardonnay a US$ 25, ou o perfume Empire by Trump por US$ 62. Em Las Vegas, os cofres de porquinhos de Trump custam US$ 10. Seu hotel panamenho oferece produtos sem custo, como linha e agulha Trump, por US$ 10.

Os preços dos quartos variam. Em Nova York, a noite custa US$ 563; em Chicago, US$ 420; e em Las Vegas se pode conseguir por US$ 165, preço similar ao da cidade do Panamá. Em um dos canais de televisão, Trump propagandeia seu hotel em Washington, DC, que promete inaugurar antes da eleição presidencial. Na tela, o candidato diz:

– A coisa que faço melhor é construir. Melhor que o [programa de TV] O Aprendiz. Melhor que política.

No Uruguai

Enquanto 145 operários levantam a torre Trump de Punta del Este, no showroom construido na sua entrada, a 100 metros do Atlântico, os potenciais compradores escutam à possibilidade de uma entrada “mágica” ao solo uruguaio. No heliponto do edificio, um oficial da Algândega e outro da Imigração darão boas-vindas ao país se o proprietário vier de helicóptero desde Buenos Aires, prometem. Os funcionários do governo estarão a 70 metros de altura sobre os três andares de coberturas que vão coroar o edifício de 157 apartamentos.

Como boa parte dos empreendedores que constroem em Punta del Este, os desenvolvedores da Torre Trump pediram várias isenções fiscais à prefeitura de Maldonado, segundo profissionais imobiliários e sócios que participaram do empreendimento. A prefeitura autorizou apenas limites maiores de altura e tamanho para a cobertura, onde será construído o heliponto. O chamado “retorno de obra” que devem pagar por essa isenção – equivalente ao Certificado do Potencial Adicional de Construção no Brasil – é de US$ 3 milhões, revelou Soledad Laguarda, diretora-geral de Urbanismo da prefeitura de Maldonado.

Em uma entrevista ao jornal uruguaio La Nación em dezembro de 2012, Donald Trump falou sobre o projeto. “Vou ao Uruguai ou a qualquer outro lugar para comprar terrenos, preciso da aprovação do governo e me concedem, porque me conhecem, sabem que faço um grande trabalho e lindos edifícios”.

Como nos casos do Rio de Janeiro e do Panamá, os Trump buscam fazer contato com o poder político local. Em janeiro deste ano, os empreendedores organizaram uma reunião de Eric Trump, o filho responsável pelos negócios da família na América Latina, com o prefeito de Maldonado, Enrique Antía.

Em uma das suas visitas, Eric deu um discurso motivacional aos corretores imobiliários que venderiam os apartamentos nos jardins do hotel L’Auberge. Um dos presentes, Andrés Jafif, dono de uma imobiliária familiar com 60 anos de mercado, guarda em seu iPhone as fotos com Eric e Ivanka, tiradas em 3 de janeiro de 2014 e em 14 de janeiro de 2013. De manhã, Jafif é o prefeito de Punta del Este e, de tarde, empresário do mercado de imóveis. Não vê conflito de interesses: o salário público não é suficiente para o seu sustento, defende.

“Eles vieram para nos motivar, mas nós, os corretores imobiliários, não precisamos dessa motivação: é impossível explicar a você a vontade que temos de vender”. Vendeu ao menos um Trump.

A Torre Trump é uma obra importante para Punta del Este. Em 2015, a prefeitura permitiu a construção de 380 mil metros quadrados, e a torre contará com 52 mil metros.

Os desenvolvedores no Uruguai são um grupo de 30 investidores argentinos representados por Felipe Yaryura, advogado de formação e dedicado à parte financeira do projeto, e o arquiteto Moisés Yellati. Chegaram à Organização Trump por meio de um intermediário. O primeiro passo foi uma carta de intenção; o segundo, um pagamento inicial de cerca de US$ 1 milhão. Em seguida, foi fixado o percentual que receberá a organização: neste caso, 5% ou 6% do total de vendas, segundo diferentes fontes.

A Organização Trump não investe nada no empreendimento. Mas enviou manuais com todos os requerimentos para que se possa utilizar a marca: desde as medidas dos apartamentos até as exigências feitas aos empregados – devem saber de memória, por exemplo, os nomes dos 157 proprietários. Se não se respeitam essas condições, os empreendedores perdem a licença.

Donald Trump fez ainda sugestões sobre as áreas comuns, conta Yaryura. Além do heliponto, haverá uma piscina de 800 metros quadrados, uma adega individual para cada proprietário, um supermercado apenas paras os moradores, um setor indoor para a prática do golfe, uma quadra de tênis coberta, desenhada pelo ex-tenista argentino Martín Jaite, um salão para fumar charutos e churrasqueiras.

Os clientes – na sua grande maioria argentinos – perguntam sobre o candidato republicano: se é verdade que um dos apartamentos será para ele e se algum dia ele irá para o litoral do Uruguai, conta Verónica Collazo, responsável pelo showroom. A venda é lenta: em janeiro, foram vendidas três unidades; em março, 4; em abril, maio e julho, uma por mês. Em julho não se vendeu nenhuma. A empresa diz que já vendeu 50% do total.

Em Punta del Este se pode ver a figura de Donald Trump em dois lugares estratégicos: no aeroporto e no edifício localizado na parada 9 e meia. Ali, os cartazes têm fotos do candidato à presidência norte-americana vestindo gravata laranja. E uma legenda: “ultra exclusive residences”. As letras de três metros de altura que formam a palavra Trump – cuja medida também foi negociada com a sede do império Trump em Nova York – foram instaladas no sexto andar da torre em construção.

Próxima parada: a Argentina de Macri

Os sócios argentinos esperam autorização da prefeitura de Buenos Aires para começar a construção de uma torre ali, a partir de 2017. Os investidores, representados por Felipe Yaryura e Moisés Yellati, têm a exclusividade do uso da marca Trump no Rio da Prata. Otimistas, eles esperam que a torre seja uma contribuição para uma mudança de época: escritórios para investidores que chegarão à Argentina.

O atual presidente, Mauricio Macri, conheceu Donald Trump quando tinha 24 anos, quando seu pai Franco, um dos empresários mais poderosos da Argentina, tentava entrar no negócio imobiliário em Manhattan. Não funcionou, mas o presidente argentino e Trump inventaram uma amizade em que alternam projetos comerciais e a prática de golfe. Diz Macri que deixava o amigo ganhar.

Depois do famoso sequestro de Macri, que aconteceu em agosto de 1991, Trump visitou várias vezes o hoje presidente em Buenos Aires. Em uma entrevista ao jornal La Nación em 2012, aproveitou para mandar uma saudação ao então chefe de governo de Buenos Aires. Seu filho, Eric Trump, celebrou publicamente a vitória eleitoral do argentino. “Donald tem muito carinho por Maurício”, conta Yaryura, um, dos argentinos com quem o candidato republicano mais convive.

FotoS: 1 – Donald Trump / Efe; 2 - Torre Trump do Panamá foi o primeiro investimento de Donald Trump na América Latina / Divulgação

*Chequeado é uma organização dedicada à verificação do discurso que busca melhorar a qualidade do debate público na Argentina. Essa reportagem faz parte do projeto “Investigação e dados: Chequeado sem amarras”, que inclui mais de 12 reportagens a serem publicadas até o final de 2016 no site especial “Chequeado Investigación”, e que tiveram o apoio da Open Society Foundations (OSF). Essa reportagem transnacional teve a participação de Martin Svak, do Panamá, Ariel Riera, de Buenos Aires, Thiago Domenici, do Rio de Janeiro e Sandra Crucianelli com os Panama Papers. Este texto foi originalmente publicado, em português, na Agência Pública.

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Desastre para o planeta: Primeira estação de mineração no fundo do oceano – alerta a Avaaz





Papua Nova Guiné. Impeça a mineração no fundo do oceano

Uma empresa de mineração canadense é dona de uma concessão para pôr em prática uma ideia tão insana que pode vir a ser um desastre para o planeta: a primeira estação de mineração no fundo do oceano.

Como todos nós sabemos, a mineração é uma atividade tóxica e devastadora para os ecossistemas terrestres. Imagine o que pode acontecer se as mineradoras começarem a cavar também o leito marinho em busca de minérios, sem nenhuma fiscalização? É a última coisa que nossos oceanos, já devastados, precisam!

A boa notícia é que a empresa em questão está enfrentando dificuldades para arrecadar os fundos necessários para a empreitada. Vamos gerar um oceano de reclamações contra este projeto, de forma a afastar possíveis investidores e assim garantir que esta nova ameaça, algo terrível para o nosso meio ambiente, seja passageira. Clique no link abaixo e assine a petição, que será amplamente divulgada e enviada a todos os investidores em potencial:

https://secure.avaaz.org/po/png_nautilus_loc/?beKPeib&v=79840&cl=10448182668&_checksum=32e86ac9f47daace7f86f4c358b3c624f6f50c2f3a109885be3616afe0b77b25

O local escolhido para a mina fica bem perto de um dos maiores tesouros do mundo, um rico ecossistema na costa da Papua Nova Guiné que apresenta uma grande variedade de fauna e flora marinhas, desde recifes de coral até baleias cachalotes. É um sinal do desastre que está por vir, se esta nova indústria devastadora não for impedida.

A mineradora em questão nunca fez operações dessa amplitude e já apresenta problemas financeiros. O projeto é arriscado. Se mostrarmos que ele é ainda mais perigoso ao destacar as significativas incertezas econômicas, poderemos não só conseguir deter a mina quanto garantir que toda a indústria da mineração seja advertida contra o abuso de nossos oceanos!

Em todo o planeta, lutamos para manter um equilíbrio saudável entre os seres humanos e a natureza. Ele é necessário para um desenvolvimento sustentável e, segundo os cientistas, para a nossa própria sobrevivência, bem como a de inúmeras outras espécies. É uma luta entre a ganância e a sensatez. Vamos garantir que a alternativa certa vence:

https://secure.avaaz.org/po/png_nautilus_loc/?beKPeib&v=79840&cl=10448182668&_checksum=32e86ac9f47daace7f86f4c358b3c624f6f50c2f3a109885be3616afe0b77b25

Os cientistas que estudam os ecossistemas contam como tudo é extremamente interdependente. Nós, seres humanos, dependemos bastante de criaturas como o plâncton e ouriços do mar, desde as menores até as maiores. Muitas vezes, os seres humanos podem ser considerados um vírus, predadores do próprio ecossistema do qual dependem. Mas a Avaaz é um movimento formado por pessoas que procuram ser protetoras da natureza e buscam viver em harmonia com ela.

A partir dessa perspectiva, esta campanha faz parte do nosso papel de guardiões do ecossistema, de nossa função de proteger e servir o planeta maravilhoso que é a nossa casa. Nós da equipe Avaaz somos muito gratos por desempenhar esse papel juntos com todos os membros deste movimento mágico.

Ricken, Nell, Christoph, Lisa, Luis, Risalat e toda a equipe da Avaaz


Ao governo de Papua Nova Guiné e possíveis investidores:

Como cidadãos preocupados em todo o mundo, apelamos para que os senhores façam o que tiver ao seu alcance para impedir que a Nautilus Minerals perfure o fundo do oceano em Papua Nova Guiné. A mineração submarina pode ser catastrófica para o clima e a biodiversidade do nosso planeta. Além de preocupação com a fragilidade de nossos ecossistemas, ainda não conhecemos os riscos que este tipo de atividade industrial pode trazer. Vocês têm o poder de evitar danos incalculáveis para a saúde e o futuro do nosso planeta, além da chance de abrir um precedente de proteção importante. Pedimos que atuem de modo consciente e responsável.

MAIS INFORMAÇÕES

Projeto de mineração submarina pode afundar antes de começar (O Globo)
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/projeto-de-mineracao-submarina-pode-afundar-antes-de-comecar-11669460 

Fontes hidrotermais nos oceanos são mais importantes do que se pensava (O Globo)
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/fontes-hidrotermais-nos-oceanos-sao-mais-importantes-do-que-se-pensava-19409596 

Mineração marinha: uma apropriação de terras invisível (National Geographic) (em inglês)
http://voices.nationalgeographic.com/2016/07/21/deep-sea-mining-an-invisible-land-grab/

Nautilus Minerals considera financiamento alternativo (Reuters) (em inglês)
http://www.reuters.com/article/idUSASC08VK8

O oceano pode ser a nova corrida do ouro (National Geographic) (em inglês)
http://news.nationalgeographic.com/2016/07/deep-sea-mining-five-facts/

Pequenas criaturas marinhas nos salvam do inferno na terra. Então por que as colocamos em risco? (Grist) (em inglês)
http://grist.org/science/tiny-sea-creatures-are-saving-us-from-hell-on-earth-so-why-are-we-endangering-them/ 

A Avaaz é uma rede de campanhas global de 44 milhões de pessoas que se mobiliza para garantir que os valores e visões da sociedade civil global influenciem questões políticas nacionais e internacionais. ("Avaaz" significa "voz" e "canção" em várias línguas). Membros da Avaaz vivem em todos os países do planeta e a nossa equipe está espalhada em 18 países de 6 continentes, operando em 17 línguas. Saiba mais sobre as nossas campanhas aqui, nos siga no Facebook ou Twitter.

Para entrar em contato com a Avaaz escreva para nós no link www.avaaz.org/po/contact.

90 ANOS HONRANDO A VIDA!




1 – A melhor maneira da humanidade e de cada um de nós, seres humanos, dignificarmos e honrarmos o Comandante Fidel, é encararmos a vida, o homem e o planeta-azul, conforme seus olhos e sua consciência viram ao longo da epopeia de sua própria vida e ainda agora, na sua última intervenção sobre o seu próprio 90º aniversário!...

Essa legítima preocupação obriga-nos pedagogicamente a cada um, singular e coletivamente, interrogarmo-nos sobre nossos próprios atos e sobre sua densidade, com amor rigoroso e sensibilidade aferida aos imensos desafios e riscos que animam o século XXI, num momento em que a sofreguidão na exploração dos recursos já se encontra para além das possibilidades do próprio planeta.

Por isso deve ser permanente a reflexão e a consciência histórica, mais ainda aqui no continente-berço, pois apesar das conquistas alcançadas, está-se ainda muito longe do desenvolvimento sustentável, da justiça social, do equilíbrio e da harmonia humana, da solidariedade, do internacionalismo e do respeito para com a Mãe Terra, conformes à nossa obrigação de consciência traduzida em atos!

Nessa trilha, por respeito aos povos africanos e a nós próprios, há que ser um pouco como os Comandantes da Revolução Cubana e seus pares da Luta de Libertação em África… há que beber para a causa da humanidade, substantivamente, do pensamento e obra do Comandante Fidel!...

Essa trilha em busca incessante de paz e de vida, é o garante mais valioso da superação que pode conduzir ao próprio renascimento de África, aberta à oportunidade de sua liberdade coletiva!

2 – Logo nos primeiros anos da tomada de poder da Revolução Cubana, África esteve presente no internacionalismo e solidariedade dos jovens e ardentes guerrilheiros que a si se impuseram a missão de combater a opressão, o colonialismo, o “apartheid”, o neocolonialismo e o imperialismo.

Essa vontade gerada a partir de sua própria história, assumiu-a, somos testemunhos vivos e atuantes disso, o povo cubano no seu relacionamento para com os povos de todo o mundo e em particular no seu relacionamento para com os povos africanos, oprimidos e subjugados durante séculos!

A internacional fascista, colonialista, do “apartheid” e de suas sequelas, procurou sempre criar todo o tipo de obstáculos à legítima ânsia de libertar o homem do jugo de séculos que o tolhe e o torna hoje tremendamente vulnerável e marginal às possibilidades éticas globais que se prendem à própria sobrevivência da espécie e a uma exploração mais contida, comedida, aferida, justa e inteligente dos recursos existentes no planeta-azul. 

As ideologias “democratas-cristãs” proporcionadas pelo Le Cercle a favor dos círculos mais retrógrados do continente, estiveram sempre colocadas em defesa do capital e da contra revolução e nutriam as justificações dos serviços de inteligência retrógrados, incluindo (em tom variável) os serviços dos Estados Unidos da América no Centro e na parte Austral do continente africano.

Desde a Argélia em 1961, o internacionalismo e a solidariedade cubana buscou tornar-se parte integrante e ativa na Luta de Libertação do continente contra o colonialismo, o “apartheid” e suas sequelas, num processo que ganhou um redobrado vigor em 1965, em resposta ao neocolonialismo que foi imposto ao Congo, após o assassinato dum Primeiro-Ministro nacionalista e heroico como o foi Patrice Lumumba e ao desterro dos seus seguidores, aqueles que conseguiram escapar à barbárie!

Na altura as colónias portuguesas mantinham-se graças ao sacrifício do povo português e dos povos das próprias colónias, que serviam de “carne para canhão” na continuada opressão dos povos habitantes dos imensos espaços residuais do seu império, valendo-se o poder colonial das disponibilidades da NATO e do poder do império que instrumentalizava os Estados Unidos, em socorro do seu próprio projeto retrógrado à vida, quantas e quantas vezes da forma mais ambígua e perversa, impondo o saque a África!

3 – Os poderes coloniais e os do “apartheid”, beneficiando dessa internacional retrógrada, combinaram articulações inteligentes que abrangeram importantes fulcros de atuação nas capitais das regiões central e austral do continente africano, numa linha que abrangia sobretudo Kinshasa, Lusaka, Luanda, Salisbúria (Harare), Blantyre, Lourenço Marques (Maputo) e Pretória.

Esses fulcros cobertos pelos mais diversos instrumentos de inteligência, entrosavam-se de várias maneiras, recebendo “reforços” a partir da própria Europa, em particular de “destacamentos”provenientes das redes “stay behind” da NATO (como por exemplo a Aginter Press em socorro do colonialismo português), sustentando-se quase sempre dos interesses económicos e financeiros que serviam de guarida, por sua vez intimamente associados aos poderes e estruturas do colonialismo, do “apartheid”, do neocolonialismo e do próprio imperialismo (este sobretudo ávido das imensas riquezas minerais disponíveis e até então à sua inteira mercê)!

Os serviços de inteligência das potências colonizadoras, dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, de Portugal, da Bélgica, da Rodésia e da África do Sul, interligavam-se por via de manipulações, ingerências e influências, a serviços de inteligência formados em socorro dos poderes instalados em países-alvo de neocolonialismo como o Zaíre de Mobutu, ou a Zâmbia de Kenneth Kaunda, ou o Malawi de Hastings Banda, fosse explorando vínculos de relacionamento político-diplomático, fosse integrando o caudal de consórcios existentes, capazes de cobrir seus movimentos, sua dissimulação e sua atuação!

Entre esses consórcios salientam-se os interesses ligados às poderosas casas da aristocracia financeira mundial, como a casa Rockefeller (explorando as minas de cobre e do estanho do Zaíre e da Zâmbia, assim como o Caminho de Ferro de Benguela e o sistema de transportes da Compagnie Maritime Belge), ou a casa Rothchield (explorando por via do clã Oppenheimer à frente da Anglo-American, e da De Beers as minas de diamantes, de ouro e de platina em toda a região)…

Outras associadas agregavam-se a esses poderosos cartéis: a Lonrho tendo à frente Tiny Rowlands, ou os interesses de Champalimaud, dos Abecassis e dos Melos, que tinham à frente um agente da Aginter Press ao nível dum Jorge Jardim!

A tradicional ambiguidade político-diplomática portuguesa post 25 de Novembro de 1975 (e até aos nossos dias), tem origem nessa época e nessas experiências, conforme viria a ocorrer com Ramalho Eanes, com Mário Soares, com Cavaco Silva ou com Durão Barroso, socorrendo-se hoje do escancarar de portas provocado pela globalização formatada aos procedimentos do capitalismo neoliberal.

Em 1965 os interesses portugueses tinham representação em Kinshasa, onde pontificava o diplomata António Monteiro, que tirava partido duma importante comunidade de comerciantes (e traficantes de diamantes capazes de se ligar aos interesses de diamantes do clã de Mobutu, sob custódia dos interesses de Maurice Tempelsman e do nó de inteligência norte-americana e sul-africana do “apartheid”).

Explorando esse êxito, no leste do Congo os interesses neocoloniais desencadearam a Operação Dragão Vermelho que desarticulou a guerrilha dos rebeldes do Mouvement National Congolais, fiéis a Patrice Lumumba na enorme bolsa da província Oriental e dos Kivus, começando por retomar Stanleyville (Kisangani) com a utilização dum regimento de paraquedistas belgas, de unidades da Armée Nationale Congolaise (subordinadas a Mobutu) e de mercenários comandados por Mike Hoare (quase todos sul-africanos ligados ao “apartheid”), com todos os dispositivos cobertos pela inteligência e interesses belgas e norte-americanos.

4 – Empenhada no seu internacionalismo e solidariedade para com os povos africanos, Cuba encetou ligações ao Movimento de Libertação em África que procurava levar por diante a sua Luta, contando para o efeito com as iniciativas do Comandante Che Guevara, da Revolução Cubana e particularmente da implementação de dispositivos da inteligência cubana, nos ambientes progressistas e cosmopolitas de Brazzaville a oeste e próximo do Atlântico (que apoiaria a 2ª coluna do Che no Congo) e Dar es Salam a leste e no Índico (que apoiaria de forma clandestina a 1ª coluna com o próprio Che).

O Comandante Fidel de Castro acabou por ser um dos grandes impulsionadores (com seus pares africanos) duma nova geo estratégia da luta de Libertação na África Central e Austral, que procurou desde logo lançar as primeiras sementes no leste do Congo, para onde partiu o próprio Comandante Che Guevara, numa altura em que todavia as guerrilhas progressistas fiéis a Patrice Lumumba estavam já em desagregação.

Da passagem do Comandante Che Guevara pelo Congo, haveriam de subsistir no Congo e Grandes Lagos tendências progressistas que viriam a atuar com Laurent Kabila, pondo termo mais tarde ao poder de Mobutu…

Os Comandantes dos serviços de inteligência cubana como Manuel Piñero Losada e Ulisses Estrada Lescaille garantiram os esforços em prol das 1ª e 2ª colunas do Che e com isso reforçaram os relacionamentos com os dispositivos da FRELIMO (que atuava tendo como retaguarda a Tanzânia) e do MPLA, que atuava a partir de Brazzaville, sudoeste do Congo (em direção às suas Iª e IIª Regiões) e Lusaka (oeste da Zâmbia), em suporte das suas IIIª e IVª Regiões.

A linha da inteligência cubana que correspondia aos fulcros de Brazzaville e Dar es Salam, interligavam-se a correntes progressistas em cada uma dessas capitais, incluindo sectores de inteligência europeia, contribuindo para procurar ganhar o miolo do continente e estimulando os esforços do MPLA e da FRELIMO, face a face aos dispositivos da internacional fascista!

O MPLA com base no estreitamento dessa aliança, encontrou formas de guerrilha em direção às suas 1ª e 2ª Regiões em 1964 e 1965 (respetivamente Nambuangongo-Dembos e Cabinda) e Frente Leste, IIIª e IVª Regiões (facto consumado em 1966 no Moxico, no Cuando Cubango e em progressão para o Planalto Central).

Os expedientes da abertura da Frente Leste do MPLA, com entidades como Aníbal de Melo, Ciel da Conceição, Daniel Chipenda e outros, obedeceram a autênticas operações de inteligência que tiveram de enfrentar o ambiente hostil de Lusaka!

O MPLA possuía na Tanzânia e no fulcro de Dar es Salam apoios de inteligência que lhe permitiam chegar a esse ambiente hostil de Lusaka (onde as disputas com os sistemas de inteligência retrógrados eram desfavoráveis ou muito melindrosos, devido às vulnerabilidades de Keneth Kaunda e os seus “bons ofícios” para com os interesses económicos e financeiros ocidentais em toda a região).

A internacional fascista impediu a estabilização do apoio do Comandante Che Guevara aos rebeldes do Congo, onde terá chegado tarde… e montou arraiais de inteligência em Lusaka, como em Kinshasa e Blantyre, a ponto de em 1973, precisamente na altura da chegada a Lusaka de Jorge Jardim para encontros com Kenneth Kaunda (recorde-se, ligado à Lonrho e aos interesses de Champalimaud), conseguirem manipular a revolta do leste e com ela Daniel Chipenda e Holden Roberto.

5 – Apesar da evolução dos choques de inteligência e sócio-políticos que ocorreram no Congo e à volta do Congo Brazzaville, Lusaka e Dar es Salam, o Comandante Fidel de Castro deu continuidade às ligações da Revolução Cubana à Luta Armada sobretudo do PAIGC na Guiné Bissau e do MPLA em Angola, mesmo com a saída do Comandante Che Guevara do teatro de operações.

Com o MPLA essas relações haveriam de se tornar geo estratégicas nas imensas regiões Central e Austral do continente africano, pois com o fim do colonialismo, “na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul”, conforme Agostinho Neto, “estava a continuação da luta” dos angolanos e de todos os progressistas unidos para derrotar o “apartheid” e suas sequelas.

Os esforços dos países da Linha da Frente contra o “apartheid” contaram também com o que nasceu a partir das sementes de inteligência que o Comandante Che Guevara havia trazido em seu apoio para Brazzaville e Dar es Salam, que fragilizariam os dispositivos da internacional fascista em Lusaka com o fim do colonialismo português e apesar do 25 de Novembro de 1975 em Portugal.

A tenacidade dos povos africanos em luta integrando as fileiras do Movimento de Libertação em África e da Revolução Cubana sob a direção do Comandante Fidel, alteraram profundamente o panorama sócio-político de África, inclusive no que aos Direitos Humanos dizia e diz respeito.

Efetivamente só com o fim do colonialismo, do “apartheid” e de algumas das suas sequelas, os povos africanos conseguiriam alcançar a paz e transferir seus abnegados esforços da Luta Armada para a Luta contra o subdesenvolvimento a que ainda estão votados.

A Operação Carlota que o Comandante Fidel comandou, foi decisiva para o reforço do MPLA no sentido da independência com a proclamação da República Popular de Angola e pode hoje ter continuidade com o empenho do apoio cubano na educação e na saúde, visando vencer os imensos obstáculos e dificuldades que estão ainda bem patentes na sociedade angolana no rescaldo de séculos de trevas.

Graças à geo estratégia a muito longo prazo que o Comandante Fidel e seus seguidores dão sequência, em estreita ligação com o rumo dos que, sob a direção do Presidente José Eduardo dos Santos, dão corpo ao MPLA, as oportunidades em benefício do povo angolano e dos povos africanos estão aí, apesar do choque e da terapia neoliberal!

Os 90 anos do Comandante Fidel, para aqueles que integraram e integram as fileiras do Movimento de Libertação em África, honram a vida e continuarão a honrá-la mesmo que um dia ocorra o desaparecimento físico do Comandante e de todos aqueles que, perante tantas dificuldades e desafios, de sua própria vida inexoravelmente se vão libertando!

Quanto se deve nessa trilha, desde os caboucos das geo estratégias, aos esforços ignotos mas por vezes tão decisivos, dos “homens da cor do silêncio”!? 

- Fotografias expostas na exposição alusiva ao 90º aniversário do Comandante Fidel, no Mausoléu de Agostinho Neto em Luanda (12 de Agosto de 2016).

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