domingo, 21 de agosto de 2016

A NOVA DOUTRINA ESTRATÉGICA TURCA



Thierry Meyssan*

Denunciando a interpretação do golpe de Estado militar na Turquia como uma manobra norte-americana contra Recep Tayyip Erdoğan, Thierry Meyssan propõe uma visão mais ampla integrando, ao mesmo tempo, a demissão prévia de Ahmet Davutoğlu e o restabelecimento das relações comerciais com Israel, o Irão e a Rússia. Desde já, ele antecipa o que deverá ser a nova estratégia turca.

Numerosos erros de interpretação foram cometidos quanto à evolução da Turquia no decurso dos três últimos meses, nomeadamente após a demissão do Primeiro-ministro Ahmet Davutoğlu (22 de Maio) e a tentativa de golpe de Estado militar (15 de Julho).

O falso golpe de Estado

Limpemos primeiro os absurdos a propósito do golpe de Estado. Todos os autores estão de acordo sobre dois pontos : 

- o golpe foi montado com os Estados Unidos a partir da base da Otan em Incirlik e apoiando-se, para isso, na Força Aérea, que é controlada pela multinacional Lockheed Martin, 

- ele estava desenhado para falhar, como o atesta a ausência de iniciativas contra todos os dirigentes do regime e do seu partido, tal como contra o Palácio presidencial, centro estratégico do poder. Por outro lado certos putschistas estavam combinados com o presidente Erdoğan, uma vez que dois aviões rebeldes escoltaram o Presidente no seu retorno a Istambul.

Por conseguinte, unicamente duas interpretações são possíveis : 

- Ou, os Estados Unidos enviaram um aviso ao Presidente Erdoğan para o tornar mais dócil. E, teriam então falhado ; 

- Ou, os Estados Unidos e o Presidente Erdoğan combinaram juntos o golpe de Estado de maneira a poder purgar o país de qualquer oposição.

Forçoso é constatar que, apesar das aparências e das declarações oficiais, esta purga vai de encontro aos interesses comuns dos Estados Unidos e do Presidente Erdoğan.

Com efeito, a Turquia é hoje o padrinho da Irmandade Muçulmana, no mundo, e do seu braço armado, ou seja do jiadismo internacional. Nesta posição, ela continua a puxar os cordelinhos dos «Rebeldes sírios», assim como do Daesh (E.I.), por conta de Washington. Infelizmente, esta posição é incompatível com a sua adesão à OTAN.

Num primeiro tempo, Washington pensou resolver o problema mudando o presidente Turco. A CIA apoiou, portanto, a transformação do HDP (partido das minorias, principalmente curda), mas este perdeu as eleições de Novembro de 2015, que o AKP grosseiramente falsificou [1]. Washington aceitou, então, a manutenção de Erdoğan, mas decidiu retirar a Turquia da OTAN.

A Aliança Atlântica havia sido criada no rescaldo da II Guerra Mundial a pedido das elites proprietárias da Europa Ocidental, as quais temiam ser varridas mais ou menos democraticamente pelos comunistas, como no modelo do «golpe de Praga». Transformou-se durante a Guerra Fria em máquina de guerra contra a União Soviética. Então ela tinha necessidade de exércitos muito grandes; razão pela qual fez a Turquia entrar em 1952. Isto revelou-se indispensável durante a guerra da Coreia, e depois aquando da crise dos mísseis (em Cuba- ndT). No entanto, após o desaparecimento da URSS a Aliança não foi dissolvida, antes, transformou-se, em 1999, em polícia do mundo unipolar (Novo conceito estratégico). A partir daí, todos os exércitos da OTAN foram adaptados qualitativamente a essa nova função: fim da conscrição e aquisição de equipamentos de alta tecnologia. Por conseguinte, a presença da Turquia na OTAN, que era necessária em 1952, é inútil hoje em dia.

Enquanto a Aliança realiza uma cimeira dos seus Chefes de Estado a cada dois anos, Washington convocou uma, em sessão extraordinária, para Julho de 2017 em Bruxelas. Aí, excluir-se-á então a Turquia de modo a que Washington possa negar toda a responsabilidade no terrorismo internacional.

Observemos de passagem que o AKP acusa regularmente o exército, em geral, de colaborar com os Estados Unidos. Produziu, assim, um filme de ficção sobre a Gládio, o serviço secreto da CIA/OTAN, e condenou mais de 200 oficiais superiores por complô contra o Estado (Processo Ergenekon) [2]. Na realidade eles tinham tentado estabelecer relações com o Exército chinês, portanto afastar-se do Pentágono. Claro, hoje em dia são acusados à toa de ser putschistas.

A única objecção que se pode emitir quanto à interpretação de conivência Washington-Erdoğan é o futuro do Hizmet, o movimento de Fehtullah Gülen. Este é indispensável para a CIA em África, nos Balcãs e na Ásia Central, ora, actualmente ele perde o seu financiamento turco. Veremos nos próximos meses qual a alternativa que Washington previu.

Sublinhemos, de passagem, que Gülen não tem nenhuma relação com este golpe de Estado já que ele pertence a uma outra escola islamista, enquanto os putschistas são kemalistas.

A demissão do Primeiro-ministro

Vejamos agora a demissão do Primeiro-ministro Ahmet Davutoğlu, a qual precedeu, em dois meses, a tentativa de golpe de Estado.

Depois de ter ensinado ciência políticas na Malásia, ele publicou em 2001 a suaStratejik Derinlik: Türkiye’nin Uluslararası Konumu (Profundidade Estratégica). Apoiando-se nas teses de Dimitri Kitsikis, ele defende um neo-otomanismo que volte a tornar a Turquia numa potência regional. Segundo ele, a criação de um novo Império turco-mongol deve fazer-se em dois tempos. Primeiro, retomar as relações diplomáticas com seus vizinhos ( «zero problemas com os vizinhos»), depois apoiar o Islão nos vizinhos de maneira a unificá-los. Ele entrou para o gabinete do Primeiro-Ministro Erdoğan, em 2003, e tornou-se o seu conselheiro diplomático até 2009. Durante este período, implementa a primeira parte do seu programa e consegue efectivamente resolver todos os problemas de vizinhança herdados do período otomano (mas não a questão arménia datando dos Jovens Turcos, nem a questão cipriota herdada de Henry Kissinger). Nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros, em 2009, ele conclui esta primeira fase negociando o Mercado comum Síria-Turquia-Irão, depois passa à segunda fase do seu projecto. Após a disputa Erdoğan-Peres em Davos, (final de 2009), ele organiza a «Flotilha da Liberdade», para apoiar o Hamas, e entra em conflito directo com Israel que pirateia o Mavi Marmara, ostentando o pavilhão turco. Depois, apoia os Irmãos Muçulmanos na Líbia e participa no derrube da Jamahiriya Líbia (2011). Por fim, ele apoia ainda os Irmãos Muçulmanos na Síria, desta vez contra a República laica.

Forçoso é constatar que esta política falhou e conduziu a Turquia a um impasse. Aquando da segunda fase do projecto Davutoğlu, Ancara encontrou-se de novo em conflito com a totalidade dos seus vizinhos, salvo o Azerbaijão ( «zero problemas com os vizinhos»). Foi por isso que, em Maio passado, o Presidente Erdoğan decidiu mudar a estratégia e substituiu Davutoğlu por Binali Yıldırım. Trata-se sempre de fundar um novo Império turco-mongol, mas, desta vez, tentando unificar primeiro a Turquia, depois em estender o seu modelo sobre os seus vizinhos.

Yıldırım é um padrinho da máfia turca que assegurou o financiamento do AKP desde a sua criação. Ele estabeleceu relações de corrupção com a maior parte das grandes empresas turcas e purga hoje em dia as que lhe resistiram.

A nova doutrina estratégica Turca conduziu já Ancara a restaurar boas relações, pelo menos comerciais, com vários dos seus vizinhos.

No fim de Junho, a Turquia assinou um acordo, em Roma, com Israel restabelecendo as suas relações diplomáticas. Trocas a alto nível com Irão mantiveram intensos laços económicos apesar da guerra na Síria. Além disso, nos bastidores multiplicam-se as consultas sobre a questão curda. Finalmente, o Presidente Erdoğan apresentou desculpas ao seu homólogo russo a propósito do Sukhoi abatido e restabeleceu, na semana passada, os movimentos económicos.

A evolução futura

Restam em suspenso quatro questões :

- O apoio aos jiadistas na fronteira do Golã

Desde o fim de 2014, os capacetes azuis da Fnuod retiraram-se da No Man’s Land (terra de ninguém- ndT) instituída pela Resolução 338 (da ONU) e foram substituídos pela Al-Qaida, com o apoio do Tsahal (Forças de Defesa de Israel- ndT). Eu revelei a existência de um acordo entre Moscovo e Washington para obrigar Telavive a cessar de apoiar estes terroristas e a aceitar o regresso da ONU [3]. Poderia ser encarado que Ancara assumisse a substituição, mas na ausência de um corredor de comunicação da Turquia para o sul da Síria é impossível. Além disso, os Britânicos organizaram a mudança do nome da Al-Qaida na Síria («rebranding») provavelmente para tentar fazer durar esta situação.

- O apoio aos jiadistas no Leste de Alepo

A intervenção de Jeffrey Feltman para fazer passar os corredores humanitários para o contrôlo das Nações Unidas atesta que o cerco pelo Exército Árabe Sírio é eficaz. Ora, a propaganda ocidental pretende que o mesmo foi rompido. Após o fecho da via de comunicação desde a fronteira, a Turquia não poderá manter-se no Leste de Alepo senão com o apoio da população. Ela deverá, pois, desistir rapidamente.

- O apoio aos jiadistas em Rakka e Mossul

Apenas a população de Al-Anbar (Iraque) é exclusivamente sunita e favorável aos jiadistas. A Turquia deverá, portanto, lutar contra o Daesh(E.I.) em Rakka, mas continuar a apoiá-lo em Mossul. Em última análise, a manutenção de um Emirado Islâmico em Al-Anbar é a única maneira para Washington de cortar a «Rota da Seda», ao mesmo tempo afirmando apoiar a paz na Síria.

- A questão Curda

O projecto do AKP, apoiado por Paris e avalizado por Washington, é de criar um Estado curdo, fora da Turquia, e de para lá expulsar os curdos do PKK. No decurso dos últimos anos, foi combinado instalar este «Curdistão» no Norte da Síria, numa zona árabe-cristã, depois de a ter esvaziado dos seus habitantes históricos. Este projecto é apoiado por certos membros do PKK, os quais esperam ter um estado próprio, qualquer que seja o lugar, sem se preocuparem em se encontrarem numa situação tão ilegítima como a de Israel na Palestina, após a Nakba. Nos próximos meses, os Curdos deverão, portanto, clarificar a sua posição. Até ao momento eles foram os aliados de todos contra o Daesh (E.I.), o que lhes permitiu libertar a cidade árabe de Manbij e de a considerar como o embrião do seu novo Estado. Agora, eles deverão dividir-se entre pró-EU e pró-Russos. Será então possível avaliar a viabilidade de um «Curdistão» em terras não-Curdas.

Finalmente, assim que todas estas questões tenham sido resolvidas, e que a ditadura tenha sido instalada, a Turquia tentará, mais uma vez, estender o seu modelo aos vizinhos, provavelmente começando por aqueles que covardemente fecharam os olhos aos seus métodos.

Thierry Meyssan* - Voltaire.net - Tradução Alva

Foto: Durante o golpe de Estado, vários soldados foram decapitados pelos islamistas do AKP e as suas cabeças deitadas ao Bósforo. Aqui, um islamista espanca soldados que foram presos. O exército laico foi depurado, sem qualquer relação entre os soldados implicados na tentativa de putsch e aqueles que são castigados.

Notas
[1] « Trucage des élections législatives turques », Réseau Voltaire, 3 novembre 2015.
[2] “Turquia : O Golpe de Estado Judicial do AKP”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Diário Liberdade (Portugal) , Rede Voltaire, 19 de Agosto de 2013.
[3] « Le Conseil de sécurité s’apprête à enjoindre à Israël de rompre avec al-Qaïda », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 2 juillet 2016.

*Thierry Meyssan - Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Médio Oriente. Iêmen: 900 mil pessoas protestam contra bombardeios liderados pela Arábia Saudita



Concentração foi bombardeada pela coalizão árabe; 7 mil pessoas, sendo metade civis, morreram entre março de 2015 e julho deste ano

A coalizão árabe realizou bombardeios contra os manifestantes. Até o fechamento desta matéria, não havia informações sobre número de possíveis mortos os feridos decorrentes da ação.

O presidente do conselho, Saleh al Samad, que disse ter a intenção de formar governo do país e o presidente do Parlamento, Yahia al Radi, estiveram presentes na marcha.

Os manifestantes içaram bandeiras do Iêmen e fotos de Samad. Eles também pediram unidade entre os iemenitas, como afirmou a agência Efe.  

Nesse sentido, Samad afirmou que “a formação do governo pretende unificar todos os esforços para chegar a uma situação estável e a celebração de eleições gerais”.

Negociações

Desde março de 2015, o presidente Abdo Rabu Mansur Hadi vive exilado na Arábia Saudita. O mandatário conta com apoio militar da coalizão liderada pela Arábia Saudita que combate os houthis.

A aliança militar começou em 2015, mas os ataques foram intensificados no início do mês, após as negociações de paz no Kuwait sob a égide das Nações Unidas, falharem.

O fracasso se deveu ao anúncio, feito por Samad, de que seria criado o Conselho Político para administrar país. Tanto Hadi, como a ONU, criticaram o anúncio.

Os manifestantes presentes nas praças de Sana neste sábado, no entanto, criticam o silêncio da comunidade internacional e das Nações Unidas quanto às mortes que estão ocorrendo pelas ações da coalizão árabe.


Cerca de sete mil pessoas, sendo mais da metade civis, morreram no Iêmen entre março de 2015 e julho deste ano. O número de feridos ultrapassa 30 mil. Além disso, cerca de 2,5 milhões de pessoas fugiram para evitar a violência.

Opera Mundi, São Paulo

Portugal. LUCROS DE EMPRESAS PRIVATIZADAS PAGAVAM METADE DO DÉFICE PÚBLICO



Cinco empresas garantiram 1,36 mil milhões de euros em lucros durante a primeira metade de 2016. A lista é encabeçada pela EDP, que lucrou mais de 600 milhões de euros no primeiro semestre. A energética portuguesa foi sendo privatizada entre 1997 e 2013. Depois da venda de pouco mais de 20% à China Three Gorges por 2,7 mil milhões de euros no final de 2011, o Estado saiu do capital da empresa em Fevereiro de 2013, vendendo 4,1% das acções por 356 milhões de euros.

A Galp é a senhora que se segue no top das empresas que mais lucraram no primeiro semestre de 2016, com 247 milhões de euros. O Estado deixou de ser o accionista de referência em 2006, quando vendeu 23% do capital por 1,1 mil milhões de euros. O maior accionista da petrolífero é a Amorim Energia, uma empresa do grupo Amorim sedeada na Holanda.

No sector financeiro, o Santander Totta destaca-se ao duplicar os lucros em relação ao mesmo período do ano passado. A sucursal do gigante espanhol fez 211 milhões de euros, superando o valor pago pelo Banif no final do ano passado (150 milhões) em apenas meio ano. A instituição nasceu em 2004, depois da fusão entre o Banco Totta & Açores e o Crédito Predial Português, ambos privatizados pelo governo de Cavaco Silva. Também o BPI fez crescer os seus lucros para acima dos 105 milhões de euros, muito à custa da sua sucursal angolana. Dois terços do capital do banco está dividido entre a Santoro, da angolana Isabel dos Santos, e os espanhóis do CaixaBank.

A Jerónimo Martins, dona da cadeia Pingo Doce, chegou aos 182 milhões de euros de lucro e é a outra empresa com resultados acima dos 100 milhões de euros de todas as que tornaram públicos os seus resultados semestrais. A holding da família Soares dos Santos em Portugal vendeu a sua participação na Jerónimo Martins à sua empresa na Holanda, um dos maiores paraísos fiscais da Europa.


A lista de empresas com lucros acima dos 10 milhões de euros conta, ainda, com outras cinco empresas privatizadas nos últimos anos. A Navigator (ex-Portucel) registou lucros de mais de 85 milhões de euros, depois de um longo processo de privatização que foi concluído em 2006. A maior fatia do capital da papeleira, 30% das acções, foi vendido em 2006 à Semapa por 334 milhões de euros.

A REN, empresa que gera a rede de distribuição eléctrica nacional, facturou 40,5 milhões de euros. A venda de 40% do monopólio em Fevereiro de 2012 foi concretizado por pouco mais de 590 milhões de euros à State Grid (China) e à Oman Oil. Um relatório do ano passado do Tribunal de Contas apontou para perdas na ordem dos 400 milhões de euros para o Estado português com o negócio e a perda de dividendos futuros. Também o caso da EDP é apontado no relatório, com uma perda estimada de 1,6 mil milhões de euros. Só a EDP Renováveis, subsidiária da energética, lucrou 71,9 milhões de euros nos primeiros meses do ano.

Os CTT – Correios de Portugal lucraram 31,7 milhões de euros, apesar do investimento na criação do Banco CTT. A empresa, que detém outro monopólio no País, foi vendida em duas fases de privatização durante os anos da troika por cerca de 900 milhões de euros. Já a Brisa, comprada pelo Grupo Mello no final dos anos 1990, teve uma das maiores subidas nos seus lucros: mais 27%, chegando aos 26,7 milhões de euros.

Em apenas seis meses de 2016, um conjunto de oito empresas privatizadas nos últimos 20 anos (EDP, Galp Energia, Santander Totta, Navigator, EDP Renováveis, REN, CTT e Brisa) tiveram 1,33 mil milhões de euros em lucros, quase metade do défice público no mesmo período (2,8 mil milhões de euros).

AbrilAbril – Foto: António Mexia lidera a empresa mais lucrativa, a EDP, com um salário de 2,5 milhões de euros anuais

Portugal. BANCA JÁ CUSTOU 20,3 MIL MILHÕES. E FATURA ESTÁ LONGE DO FIM



Desde 2008, sistema bancário já custou 20,3 mil milhões aos contribuintes. Em sentido contrário chegaram 6 mil milhões. Prejuízo vai em 8% do PIB

A despesa pública com a banca ascendeu a 20,3 mil milhões de euros entre 2008 e 2015, o equivalente a 11,3% do PIB português, numa soma que cresce a cada ano que passa. As contas à fatura que a banca entregou até ao momento aos contribuintes inclui já o agravar do buraco do Banco Português de Negócios (BPN) registado no ano passado e também o efeito do colapso do Banif, de acordo com os números calculados esta semana pelo Tribunal de Contas.

Mas estes apoios do Estado à banca não trazem apenas custos, resultando também em receitas para os contribuintes, ainda que em muito menor medida. Assim, e seja pela via dos juros pagos pelas obrigações contingentes (CoCos) ou fruto das receitas obtidas com ativos ou com as garantias cedidas aos mesmos bancos, nos últimos anos o Estado encaixou 6 mil milhões de euros com as diversas medidas de apoio cedidas à banca.

Contas feitas, o peso líquido do sector suportado pelos contribuintes entre 2008 e 2015 ronda assim os 14,25 mil milhões (8% do PIB). Nestas contas foram tidos em conta todos os fluxos financeiros, positivos e negativos, entre o Estado e a banca, desde aquisição de participações de capital e de obrigações, à concessão de empréstimos ou a prestação de garantias.

De acordo com o Banco Central Europeu, e em contas feitas sobre o período de 2008-2014, o esforço financeiro bruto dos Estados da moeda única com o sistema financeiro foi em média de 8% do PIB, valor do qual encaixaram o equivalente a 3,3% do PIB. Estes valores comparam com o custo bruto de 11,3% do PIB em Portugal de 2008 a 2015 (ou 9,8% se considerarmos apenas 2008-2014), para receitas equivalentes a 3,3% (ou 3,2%).

Fatura subiu 21% em 2015

Apesar de todas estas contas, a verdade é que esta fatura não tem fim à vista, tendo aliás dado um dos maiores saltos de sempre em 2015, ano em que coincidiram a queda do Banif, a nova subida do buraco do BPN e o não reembolso de CoCos.

A conjugação destes fatores levou a que a fatura líquida da banca desse um salto de 20,8% em 2015, carregando as contas públicas com mais 2,45 mil milhões em encargos – de 11,8 mil milhões para os 14,25 mil milhões, segundo contas do Dinheiro Vivo. Só no ano passado, o Banif exigiu 2,25 mil milhões e o BPN mais 590 milhões, impactos em parte compensados pelos juros pagos pelos bancos ainda a contas com as CoCos e pelo Fundo de Resolução.

 Já em 2014 se tinha verificado um colapso bancário, ao mesmo tempo que surgiam novas exigências por parte dos destroços da banca: além dos 4,9 mil milhões exigidos pelo Novo Banco, os contribuintes foram chamados a dar mais 530 milhões para o BPN e outros 32,5 milhões para o BPP. Contudo, e ao contrário de 2015, em 2014 houve reembolsos significativos de CoCos – BCP devolveu 2,25 mil milhões e o BPI 920 milhões -, verbas que juntamente com os juros pagos por estes instrumentos acabaram por limitar o impacto do colapso do BES e dos buracos BPN e BPP nos custos líquidos totais. Em 2014, este custo cresceu 15%, de 10 para 11,8 mil milhões.

Futuro? The only way is up

Olhando para os próximos anos não se consegue vislumbrar quando é que esta fatura irá parar de crescer. Não só a banca continua debilitada e a operar num ambiente agressivo como os ativos tóxicos continuarão a exigir centenas de milhões anualmente – destaque para as sociedades Par, do BPN, que acumulam mais de três mil milhões em capitais próprios negativos.

Pelo lado das receitas, o cenário também não melhora: além de os juros com os CoCos estarem em queda, o Estado decidiu recentemente cobrar menos juros ao Fundo de Resolução, que assim dará menos receita ao Estado. A estes fatores podíamos acrescentar as vendas de ativos abaixo dos seus valores e lembrar que está aí à porta uma injeção de capital no banco público.

Filipe Paiva Cardoso – Dinheiro Vivo

PCP diz ser ilusão Governo acreditar em crescimento e respeitar imposições da UE



O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou hoje que o Governo "vive na ilusão" de que será possível promover o crescimento económico do país e ao mesmo tempo respeitar as "imposições e ameaças" da União Europeia.

"O Governo (PS) continua com uma certa ilusão de que é possível neste malha apertada dar um jeito, com alguma flexibilidade, e continuar uma política de desenvolvimento. Ora, não bate a bota com a perdigota e a contradição vai acentuar-se", alertou o líder comunista.

Jerónimo de Sousa, que falava esta tarde na localidade de Vialonga, durante um piquenique organizado pela concelhia de Vila Franca de Xira do partido, referia-se assim às ameaças da União Europeia de aplicar sanções a Portugal em caso de incumprimento da meta do défice.

Na sua intervenção, que durou mais de meia hora, Jerónimo de Sousa falou também do entendimento de governação que o PCP fez com o PS ressalvando que a durabilidade deste Governo depende da capacidade dos socialistas responderem aos "anseios do povo português".

"No que se refere ao Orçamento do Estado para 2017 estamos disponíveis para examinar e propor as soluções que sejam necessárias para repor os direitos perdidos pelo povo português. Tudo aquilo que for negativo e nos empurrar para trás votaremos contra", sublinhou.

O líder comunista aproveitou também para "lançar farpas" aos partidos mais à direita, nomeadamente ao PSD e ao CDS-PP , acusando-os de estarem "furibundos" com a reposição de direitos que está a ser levada a cabo pelo atual Governo.

"A direita está furibunda. A cada direito reposto, a cada privatização que é travada a direita reage com raiva e vem dizer que estão a estragar tudo o que tinham feito", concluiu.

FYS // PNG - Lusa

Portugal. UMA NOVA ELITE JORNALÍSTICA



Fernando Correia [*]

1. Uma das características que melhor definem a actual situação da nossa comunicação social, desde logo a imprensa, é a sua transversal uniformidade, gerando a convicção de que é quase indiferente ler este ou aquele jornal, ver este ou aquele telejornal. Os temas e as abordagens poderão não ser os mesmos (geralmente até são), mas estamos longe do que seria se tivéssemos – e isso aconteceu, em democracia, até ao fim dos nos 80 – órgãos de informação com visões e interpretações próprias e diferenciadas daquilo que se passa no país e no mundo.

A homogeneidade de conteúdos, independentemente do tipo e da dose de sensacionalismo a que se recorre, encaixa na identidade de interesses dos grupos económicos proprietários, assentes no crescimento das tiragens que leva ao aumento da publicidade e dos lucros, e no poder de influência dosmedia nos meandros da política, dos negócios – e, naturalmente, na opinião pública.

Esta situação implica da parte dos responsáveis editoriais que a isso se disponham não uma organização do trabalho jornalístico atenta aos leitores, ouvintes e telespectadores na perspectiva da sua valorização integral (informativa, cultural, humanística, cívica…), mas sim orientada para o cumprimento dos objectivos empresariais – que, na comunicação social, também são sempre político-ideológicos, principalmente quando publicamente o negam. Recorrem não aos saberes jornalísticos, mas sim a competências gestionárias acima de tudo atenta às estratégias jornalístico-comerciais.

2. Surge assim um novo tipo de elite jornalística (tradicionalmente composta pelos profissionais que ocupam os lugares de maior responsabilidade dentro da sala de redacção – directores e outros responsáveis editoriais) que se destaca pelos seus contactos nos meandros da política (de direita) e dos negócios, e pela sua disponibilidade para adaptar a agenda jornalística aos interesses dos patrões e dos gestores. O objectivo é o da noticia que vende bem (e o lucro até pode ser, mal ou bem disfarçado, essencialmente político-ideológico…), desprezando a clássica concepção do jornalismo enquanto bem social.

Em geral, esta elite denota duas características complementares que se revelam altamente compensadoras: uma inesperada e suspeita polivalência mediática, que lhe permite ocupar o cargo tanto na imprensa como na rádio, na TV ou no online, em órgãos generalistas ou especializados, de desporto ou de economia, diários ou semanários, populares ou ditos de referência; e uma não menos inesperada e suspeita competência para ser comentadora de política em qualquer canal de grande audiência, onde, aliás, manifesta uma amena divergência nos cenários e uma indisfarçável convergência nas convicções.

Tudo isto num deplorável e cuidadosamente escondido contexto: o crescente povoamento das redacções por jovens precários e por estagiários rotativos, que acrescentam a sua fragilidade laboral à dos mais antigos há muitos anos sem aumentos, obrigados a horas extraordinárias não pagas ou ameaçados pelo despedimento – por "mútuo acordo", se possível…

3. É neste quadro que não se podem considerar surpreendentes as mudanças recentes de directores nas últimas semanas noticiadas na imprensa. Dois exemplos: o novo membro da direcção de informação da RTP era director doDiário de Notícias, depois de um percurso feito no Diário Económico, Sábado, Correio da Manhã, Focus e Record; o novo director do Público, que era director da TSF, foi um dos fundadores do Observador, com passagens pelo Jornal de Notícias, Sol, TSF e Diário Económico, tendo também sido assessor de Durão Barroso.

Omitimos os nomes deliberadamente – a omissão é simbólica, porque são públicos – para enfatizar que mau seria se sobrevalorizássemos a importância dos indivíduos e dos seus currículos, esquecendo o mais significativo e simultaneamente mais esclarecedor sobre o terreno da batalha em curso: a crescente relação estrutural de interdependência entre o sistema mediático e a sociedade capitalista.

Nota final: lamenta-se ver o Serviço Público, através do caso citado, metido nestas andanças. 

 [*] Jornalista

Ver também: 

O original encontra-se em abrilabril.pt/uma-nova-elite-jornalistica

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Portugal. BLOCO E PCP DIZEM NÃO ÁS BARAFUNDAS DA CAIXA… SEM SURPRESA DO PS




A barafunda é enorme relativamente à Caixa Geral de Depósitos e o responsável é o governo PS, leia-se António Costa. Competia-lhe não permitir que metessem os pés pelas mãos e as mãos no traseiro das desculpas de que não tem culpa da barafunda causada. Como alguém disse: “Até parece que estão a fazer de propósito para destruir e privatizar a CGD”. E é verdade. Realmente até parece que sim.

Se Costa assumisse realmente os acordos que fez com os partidos que lhe dão apoio parlamentar à esquerda nunca lhe passaria pela cabeça querer aumentar sobremaneira os gestores que quer lá meter. Muito menos alterar a lei de modo a produzi-la à medida daquilo que teimosamente quer. É evidente que nem Bloco nem PCP se atrevem a apoiar o governo de Costa nas suas pretenções. E disso fizeram declarações que vão nesse sentido. Bloco e PCP estão cansados de engolir elefantes para aguentar o governo PS porque o objetivo é evitar o mal maior: o regresso dos neoliberais-fascistas que por quatro anos miserabilizaram Portugal e os portugueses, vendendo ao desbarato e roubando descaradamente os que trabalham no duro para depois darem de caras com a fome e as carências a todos os níveis, a perda de empregos, a perda de casas, a destruição de famílias inteiras…

Costa teve e tem o apoio parlamentar à esquerda para governar efetivamente à esquerda… e nada de golpadas neoliberais. Compreende-se que tente fazer isso por tal fazer parte do ADN do PS mas os partidos que apoiam parlamentarmente o governo é que não devem consentir isso. Dispensar alguma tolerância está muito bem, apoiar políticas igualmente neoliberais e de vícios à PS é que não pode ser. Então para isso Passos e a sua trupe podem voltar se acaso os portugueses insistirem em ser trouxas e bandos de asnos desprovidos de cérebros. 

Já está a ser intolerável que Costa não ponha cobra aos milhões e milhões que certos e incertos gestores recebem anualmente e que em vez disso ainda queira fazer com que recebam mais milhões, enquanto que para a vasta maioria dos portugueses considera que mais 20 ou 30 euros que recebam de aumento por mês é o esforço possível e que mesmo assim já é muito bonzinho… Bonzinho é reduzir o fosso abismal que existe nas desigualdades entre os que comem tudo e não deixam nada para a maioria dos portugueses. Ou melhor, deixam carências, fome, miséria. Essa foi a política de Passos-Portas-Cavaco que urge revertê-la completamente sem sofismas. É que a paciência esgota-se.

António Costa e o seu governo tem pelo menos três soluções à vista: Demite-se e vamos novamente a eleições. Denuncia o acordo com a esquerda parlamentar e abraça o PSD. Ou cumpre os acordos e governa o mais possível e impossível à esquerda.

Os portugueses não querem sustentar mais bandidos, mais corruptos, mais “gulosos”, mais chulos, como tem acontecido durante décadas. Sabendo-se que muitos desses chulos, a maior parte desse bando de malfeitores, fazem parte das famílias dos partidos do célebre e nefasto Arco da (des)Governação. Nem Bloco nem PCP devem temer exigir ao governo de Costa que se contenha na deriva neoliberal-fascista que a UE quer impor. É que se o fizer será indiferente governar Costa ou Passos. Só não será indiferente aos portugueses porque esses estão a ver que o governo de Costa não ata nem desata a descolar das políticas neoliberais-fascistas. A UE não serve mais de desculpa. 

PCP e Bloco têm o dever (para com os seus militantes e seus eleitores) de confrontarem o governo quando se verifica que as políticas de Costa estão a ser semelhantes às de Passos e seus mafiosos nas ilhargas.

Basta de engolir elefantes. Basta de ilusionismos. Ou sim, ou sopas!

Por isso mesmo, como diz a notícia de ontem, é público que Bloco e PCP dizem não às barafundas da Caixa Geral de Depósitos. Um não àquela “coisa” da caixa que não deve constituir surpresa para o PS. Basta de governações à direita e a desbravar caminhos para que os gestores salafrários acumulem cargos e vencimentos dourados enquanto a maioria dos portugueses continua a ver cavarem o fosso enorme das desigualdades. Basta.

Já agora, para terminar e passarem à notícia que se segue, quando é que se começa e equacionar e debater a saída de Portugal do Euro?

Mário Motta / PG

Bloco e PCP não aceitam mudança na lei por causa da CGD

Catarina Martins está contra qualquer alteração que beneficie determinadas pessoas. Jerónimo de Sousa diz que "não resulta" fazer um "remendo" legislativo.

Em declarações aos jornalistas à margem da Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria de Lagoa (FATACIL), que decorre no Algarve, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) criticou as alterações legislativas feitas à medida e considerou que não correspondem às exigências do atual quadro político.

"Mudar de lei para servir alguns nomes em cima da hora não é algo que se deve fazer", destacou Catarina Martins, acrescentando que tais alterações "não correspondem às atuais exigências políticas".

A líder do BE considerou ainda que a CGD "não deve ser notícia" por causa do seu conselho de administração e afirmou que o Governo e o Banco Central Europeia têm "culpas repartidas" na gestão deste processo.

Em causa estão os planos do Governo para alterar o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (RGICSF) e conseguir recuperar alguns dos nomes que ficaram de fora da administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter aprovado 11 nomes propostos pelo Governo, mas rejeitado outros oito por excederem o limite de cargos em órgãos sociais de outras sociedades, confirmou na quarta-feira o Ministério das Finanças.

Também este sábado, o secretário-geral do PCP disse que "não resulta" fazer um "remendo" legislativo para contornar a recusa dos administradores não executivos da Caixa Geral de Depósitos pelo BCE, apontando que os comunistas não vão apoiar o PS nessa medida.

"Consideramos que qualquer remendo em relação à adaptação das regras e normas não resulta. O problema de fundo é outro. Nós queremos readquirir a nossa soberania para poder determinar o futuro desta instituição bancária pública", referiu Jerónimo de Sousa, que falava aos jornalistas em Gondomar, distrito do Porto.

"O problema não está nos conteúdos e nas propostas do BCE. O problema está no mandonismo, a imposição, é ser o BCE a determinar o que nós temos de fazer. Isto demonstra que a nossa soberania está a ser alienada. Devia ser o Governo, as instituições nacionais a determinar o futuro da administração da CGD", acrescentou.

O líder dos comunistas confirmou que o PCP não vai acompanhar o PS numa eventual alteração à lei, porque, vincou, "isso não resolve".

Do seu ponto de vista, "o problema está na união bancária" e "quem votou a favor, designadamente PS, PSD e CDS, tem de responder como foi possível aderir a um processo que levou a esta alienação".

"Agora não se queixem. Não se teve em conta a importância que é para o país podermos ter decisões soberanas na área financeira", disse, sublinhando que "o PCP foi o único partido, quando foi decidida a união bancária, que alertou para o perigo real de perda de soberania".

"Inevitavelmente o Banco de Portugal acabaria por ser uma espécie de filial do BCE", lamentou.

Questionado sobre se não teme que este tema enfraqueça a relação entre os partidos de esquerda, Jerónimo de Sousa rejeitou e referiu que o PCP tem sobre a matéria uma posição "autónoma" e "manterá a palavra dada" em relação às matérias nas quais "convergiu".

TSF com Lusa

Portugal. REGRESSO DA FORÇA AÉREA AO COMBATE AOS FOGOS É “INEVITÁVEL”



O ministro da Defesa, José Alberto Azeredo Lopes, disse que considera inevitável o regresso da Força Aérea (FAP) ao combate aos incêndios florestais, numa entrevista publicada hoje pelo Jornal de Notícias.

"A Força Aérea não dispõe, neste momento, de capacidades instaladas para participar ativamente no combate aos incêndios. E essa descontinuação do papel da FAP é já antiga. Mas tenho como inevitável que a FAP venha a ser dotada dessa capacidade e o primeiro-ministro [António Costa] coincide nessa abordagem", afirmou Azeredo Lopes ao diário.

Para o ministro, o regresso da FAP é inevitável porque se está agora num "momento crítico de reequipamento".

"Através da Lei de Programação Militar (LPM) ou de outros meios, estamos perante dois desafios categóricos -- mais em relação ao combate aos incêndios", sublinhou.

Segundo o ministro, é necessário, em primeiro lugar, fazer a substituição dos helicópteros Alouette III da FAP, que desempenham funções de treinamento para a FAP e a Marinha e que serão descontinuados em 2018.

"Há uma necessidade imperiosa e que passará, com toda a certeza, pela antecipação da substituição. Tanto mais que o tempo de entrega de um novo helicóptero é no mínimo de 12 meses", avaliou.

"Uma das características desses helicópteros é poderem ser dotados de meios para combate a incêndios. Ou seja, com um custo suplementar mínimo, dota-se o novo helicóptero de uma capacidade que lhe permitirá matar dois coelhos de uma cajadada. E é esse pensamento estratégico que tenho pena que já não tenha sido validado nos últimos anos", acrescentou.

Sobre as estimativas de custos para os aparelhos, Azeredo Lopes afirmou, que "para os helicópteros, há uma estimativa que resulta da LPM: 20 milhões de euros, mais IVA".

Questionado sobre se haveria uma esquadra específica para esta participação no combate aos incêndios, o ministro da Defesa declarou que "não é um modelo organizacional específico".

"Há, sim, meios da Força Aérea e esses meios, na gestão da FAP, implicam um patamar de utilização e eficiência muito superiores", comentou.

Azeredo Lopes indicou que será preciso "otimizar a utilização dos pilotos", com a devida capacitação e, se for preciso, colocá-los "diretamente no combate aos incêndios".

Sobre os custos dessa operação da FAP nos fogos, o ministro disse que serão "custos públicos".

Já a eventual utilização dos helicópteros do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) "é uma questão que pode vir a colocar-se".

"Ao contrário do que se pensa, não é revolução nenhuma. As forças armadas já têm um papel importantíssimo nas missões de interessa público, na busca e salvamento, no transporte de doentes [...]", referiu ainda.

A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, também já demonstrou o seu apoio à possibilidade de a Força Aérea vir a ter capacidade para fazer o combate a incêndios.

No dia 13 de agosto, a ministra sublinhou que será preciso formar os pilotos e também equipar os meios aéreos.

A 14 de agosto, a Força Aérea esclareceu que "não possui meios aéreos que permitam a realização de missões de combate a incêndios", mas admitiu que a capacidade para realização destas missões poderá "vir a materializar-se faseadamente, num futuro próximo".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. Madeira. O PARAÍSO QUE JÁ FOI INFERNO E QUER VOLTAR A SER PARAÍSO



Madeira avança com casas para realojamento mesmo sem financiamento do Estado


Miguel Albuquerque diz que vai tentar obter parte dos 2,5 milhões de euros necessários ao “nível nacional”. De qualquer forma, avança já com a construção

O governo da Madeira vai avançar com a construção de 30 fogos em São Gonçalo, no Funchal, para realojar algumas das famílias que perderam a casa nos incêndios da semana passada, mesmo que o Estado português não financie o projeto, avança a agência Lusa este sábado.

“Vamos tentar obter parte do financiamento a nível nacional. Mas, independentemente, venha financiamento ou não venha financiamento, isto vai ser para construir e é 2,5 milhões de euros”, afirmou Miguel Albuquerque, durante uma visita ao terreno, junto ao Bairro Social de São Gonçalo.

Lusa, em Expresso - Foto: Madeira. Um bombeiro sapador de Lisboa, enviado para ajudar no combate aos incêndios do Funchal, inspeciona uma casa na zona da Pena / Gregório Cunha


Turismo da Madeira vai ter apoios imediatos superiores a 10 milhões de euros


Não houve cancelamentos de maior a registar e os operadores turísticos continuam a vender férias na ilha. Turismo da Madeira vai ter apoios imediatos superiores a 10 milhões de euros

É hora de olhar para a frente e avançar para a recuperação “de mãos dadas entre todos” - é o apelo do presidente da câmara do Funchal, Paulo Cafôfo. Após os incêndios violentos que assolaram a Madeira em plena época alta de turismo, “é a altura de inverter e de aproveitar aquilo que foi uma calamidade”. Em particular na área de reabilitação urbana, a câmara do Funchal está empenhada em resolver o problema dos prédios devolutos no centro da cidade e “substituir-se aos privados, adquirindo prédios, recuperando-os e depois vendendo-os ou concessionando-os para exploração comercial, hoteleira ou até arrendamento”.

No imediato, o turismo da Madeira vai contar com linhas de crédito superiores a 10 milhões de euros para apoiar a recuperação dos danos mais graves acusados com os incêndios, independentemente de “outros apoios mais complexos e fortes” envolvendo fundos comunitários - segundo anunciou Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, no domingo, ao visitar a região para apurar os impactos dos fogos no terreno.

O ministro da Economia elogiou aqui o trabalho das equipas da hotelaria, salientando que “houve hotéis em que até os funcionários se ofereceram para os turistas irem para casa deles”.

ATIVIDADE TURÍSTICA “PRATICAMENTE NA NORMALIDADE”

“Os operadores turísticos estrangeiros e nacionais com programação para a Madeira mantêm inalteradas as suas operações, não se tendo registado nem cancelamentos, nem regressos antecipados de turistas, em número que coloque em causa o sucesso deste destino turístico, na sequência dos trágicos incêndios ali ocorridos”, adianta a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).

Esta conclusão, segundo a APAVT, decorre de contactos realizados junto dos seus associados, “que representam os maiores operadores turísticos internacionais, bem como os operadores turísticos portugueses, responsáveis por centenas de milhares de dormidas na Madeira”.

A associação das agências de viagens destaca ainda que “de acordo com as informações recebidas quer dos nossos associados, quer das próprias autoridades turísticas da região, a atividade turística regressou praticamente à normalidade na Madeira, pelo que permanece um destino a todos os títulos atrativo para os nossos potenciais turistas”.

MELHOR HOTEL DE CHARME DA EUROPA DESTRUÍDO PELO FOGO

Em termos turísticos, uma das maiores perdas dos incêndios que deflagraram na Madeira a 8 de agosto foi a destruição do hotel Choupana Hills, que nos últimos dois anos foi eleito “o melhor resort boutique da Europa” no âmbito dos World Travel Awards, prémios de nível mundial considerados os 'óscares' do turismo.

Inserido numa propriedade com 17 hectares, no topo de uma colina e ao lado do Jardim Botânico, o Choupana Hills foi concebido pelo arquitecto francês Michel de Camaret e pelo arquiteto decorador Didier Lefort, e era considerado um oásis de “luxo tranquilo”, seguindo a sua decoração princípios de 'feng shui'.

O hotel de cinco estrelas da Madeira enfrentou dificuldades financeiras até entrar em insolvência em 2014, mas manteve-se em funcionamento e até a ganhar prémios sob gestão da Amazing Evolution, empresa especializada na recuperação de ativos turísticos.

No dia a seguir à destruição do Choupana Hills pelo incêndio, a Amazing Evolution informava que “não foi possível ainda avaliar os prejuízos, mas a gestão do hotel está já a tomar todas as diligências necessárias, tendo já acionado todos os seguros”. E pedia “a todas as pessoas que tenham feito reservas no hotel que contactem os seus agentes de viagens”, salientando que “naturalmente, o hotel assegura o reembolso, assim que possível, de todos aqueles que consigam confirmar O presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, elogiou o facto de 95% das reservas efetuadas no Choupana Hills terem sido reencaminhadas para outros hotéis do Funchal “logo no dia seguinte” a ter sido atingido pelas chamas.

“Dá a ideia de como o destino é forte, porque apesar de tudo as pessoas aceitaram ficar noutros hotéis, e de como os operadores, hoteleiros e agentes de viagens da Madeira estão empenhados no destino”, frisou o presidente do Turismo de Portugal. “Agora é preciso virar a página e prosseguir, porque a Madeira continua a ser o melhor destino insular do mundo”.

Conceição Antunes – Expresso – Foto: Recuperação. A Madeira está a mobilizar todos os esforços para “virar a página” e manter a operação turística após o incêndio

COVA DA MOURA É TEMA DE LIVRO



O bairro português mais cabo-verdiano de todos serve de pano de fundo à obra de Jorge Humberto, a ser apresentada em Lisboa a 30 de Setembro próximo.

“Bairro Cova da Moura nos títulos de imprensa” resulta da tese que Jorge Humberto defendeu em 2011 no âmbito do seu mestrado em Comunicação Organizacional pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

“Sendo o bairro da Cova da Moura um território de muita fama, este livro é o resultado da análise do conteúdo informativo sobre o bairro nos títulos de imprensa, na tentativa de vermos como é que os assuntos relacionados com o mesmo são retratados na comunicação social”, explica o autor.

Os jornais diários portugueses Público e Correio da Manhã e o semanário Expresso foram os escolhidos para a investigação do autor, que analisou e comparou os títulos referentes a Janeiro de 2006 a Dezembro de 2007 e em 2011 e 2012. Um trabalho que busca permitir aos leitores “ajuizar melhor sobre a imagem que o bairro da Cova da Moura tem no espaço público; a importância da imprensa na construção da imagem do bairro e constatar através dos resultados quais os temas que mais se destacam”.

Humberto avança ainda que para além de ser um contributo sério como documento de estudo para futuros investigadores, o livro “destina-se ao público em geral que tenha o interesse e a curiosidade em conhecer os factos que estão por trás dos títulos de imprensa, e a relevância do bairro da Cova da Moura como fonte de notícias”.

Segundo o autor, cinco editoras portuguesas manifestaram interesse em publicar o livro mas, tendo em conta alguns aspectos, optou por avançar para uma edição de autor.

Sobre a apresentação de “Bairro Cova da Moura nos títulos de imprensa”, haverá uma primeira, no lançamento e depois um cronograma de apresentações nas associações luso-africanas e de imigrantes de outras origens. Será também apresentado em diversas universidades, locais de cultura, esperando ao autor ser possível marcar presença na Feira do Livro de Lisboa.

“O importante agora é pô-lo nas mãos dos diversos públicos”, diz, para acrescer mais adiante que “O tema da imagem acometida a um bairro, território e consequente comunidade é transversal à sociedade. A Cova da Moura surge como um exemplo...”.

Jorge Humberto, que nos últimos anos também se tem dedicado ao ciclo de conferências AmarCulturas, quer também trazer o livro a Cabo Verde de modo a fazê-lo chegar a um público de estudantes universitários, professores, investigadores, agentes de comunicação social, “e todos os que se interessam pelas matérias da comunicação, imagem, jornalismo, sociologia, antropologia e cultura”.

Quanto ao AmarCulturas que, coordena desde 2010 e já vai na sua 7ª edição, tem ganho visibilidade no seio da comunidade lusófona em Portugal com a realização de conferências de diversas personalidades, sobre os mais variados temas. Neste momento a equipa está a trabalhar numa edição do evento para Cabo Verde.

Filho de cabo-verdianos ( a mãe de Santo Antão e o pai da ilha do Fogo), Jorge Humberto Ramos Fernandes nasceu em Angola, em 1970 e foi criado em Portugal, tendo sempre mantido a ligação ao país de origem dos pais.

Licenciado em Ciências da Comunicação e especialista em Marketing e Relações Públicas, é uma figura de destaque na Amadora, onde sempre residiu e onde exerce activismo em prol da melhoria das condições de vida da comunidade cabo-verdiana.  


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