segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Brasil. A RUA CONTRA O CAPITALISMO EM FÚRIA




Política é economia concentrada. Mais que nunca, a transparência para manejar decisões que concentram o futuro de um Brasil em crise de desenvolvimento, exige democracia ativa e Estado indutor. É tudo o que o golpe pretende evitar. A constatação, de implicações práticas óbvias, emerge das reflexões selecionadas para este Especial de domingo de Carta Maior. Composto de textos de articulistas e analistas, como Miguel Rossetto, Pedro Paulo Zahluth Bastos, Eduardo Fagnani , Rosa Maria Marques, Carlos Lessa, Roberto Requião e Paulo Kliass, entre outros, o conjunto convida à leitura engajada, com o olho na tela e o coração na rua.


SERÁS UM PATETA COM A MENTE CONTROLADA PELA CIA?



Paul Craig Roberts

Faz você um sorriso escarninho quando ouve alguém questionar as narrativas oficiais de Orlando, San Bernardino, Paris ou Nice? Sente-se você superior a 2.500 arquitectos e engenheiros, bombeiros, pilotos comerciais e militares, físicos e químicos, assim como a antigos altos responsáveis do governo que levantaram dúvidas acerca do 11/Set? Se assim é, você reflecte o perfil de um pateta com mentalidade controlada pela CIA. 

A expressão "teoria da conspiração" foi inventada e posta a circular no discurso público pela CIA, em 1964, a fim de desacreditar os muitos cépticos que contestavam a conclusão da Comissão Warren de que o presidente John F. Kennedy fora assassinado por um pistoleiro solitário chamado Lee Harvey Oswald, o qual por sua vez foi assassinado enquanto sob a custódia da polícia antes que pudesse ser interrogado. A CIA utilizou seus amigos nos media para lançar uma campanha a fim de tornar suspeições do relatório da Comissão Warren alvo de ridículo e hostilidade. Esta campanha foi "uma das iniciativas de propaganda de maior êxito de todos os tempos".

Assim escreve o professor de ciência política Lance deHaven-Smith, o qual no seu livro revisto por especialistas(peer-reviewed) Conspiracy Theory in America , publicado pela University of Texas Press, conta como a CIA teve êxito ao criar na mente do público a estigmatização reflexiva e automática daqueles que contestavam explicações do governo. Este é um livro extremamente importante e fácil de ler, um daqueles raros livros com o poder de arrancá-lo de The Matrix.

O professor deHaven-Smith pôde escrever este livro porque o original do CIA Dispatch #1035-960, o qual estabelece a trama da CIA, foi obtido através de um requerimento ao Freedom of Information Act. Aparentemente, a burocracia não encarou um documento tão velho como sendo de qualquer importância. O documento está marcado "Destruir quando não for mais necessário", mas por alguma razão não o foi. O Despacho #1035-960 da CIA é reproduzido no livro.

O êxito que a CIA teve ao estigmatizar o cepticismo a explicações do governo tornou difícil investigar Crimes de Estado Contra a Democracia (State Crimes Against Democracy, SCAD) tais como o 11/Set. Com a mente do público programada para ridicularizar "lunáticos da conspiração", mesmo no caso de eventos suspeitos como o 11/Set o governo pode destruir provas, ignorar procedimentos prescritos, atrasar uma investigação e a seguir formar um comité político para colocar o seu imprimatur sobre a narrativa oficial. O professor deHaven-Smith nota que em eventos tais como o assassinato de Kennedy e o 11/Set na investigação nunca são empregues os procedimentos oficiais da polícia.

O livro do professor deHaven-Smith's apoia o que tenho contado aos meus leitores: o governo controla a narrativa desde o princípio ao ter a explicação oficial pronta no momento em que ocorre o SCAD. Isto faz de qualquer outra explicação uma "teoria da conspiração". Isto é o modo como coloca o professor deHaven-Smith:

"Uma abordagem SCAD para memes [1] supõe mais uma vez que a CIA e outras possíveis agências participantes estejam a formular memes bem antes das operações e, portanto, memes SCAD aparecem e são popularizados muito rapidamente antes que quaisquer conceitos competidores entrem em cena".

O êxito da CIA no controle da percepção pública quanto ao que os nossos Pais Fundadores teriam encarado como eventos suspeitosos envolvendo o governo permite àqueles em posições de poder dentro do governo orquestrarem eventos que servem agendas ocultas. Os eventos do 11/Setembro criaram um novo paradigma de guerra sem fim em prol de um mundo dominado por Washington. O êxito da CIA no controle das percepções públicas tornou impossível investigar crimes da elite política. Consequentemente, agora é possível ser responsável da política do governo dos EUA para a traição.

O livro do professor deHaven-Smith contar-lhe-á a narrativa do assassinato do presidente Kennedy por elementos militares dos EUA, da CIA e do Serviço Secreto. Assim como a Comissão Warren encobriu o Crime de Estado Contra a Democracia, o professor deHaven-Smith mostra porque deveríamos duvidar da narrativa oficial do 11/Set. E de outras coisas que o governo nos conta.

Leia este livro. É curto. É barato. É preparação para a realidade. Ele o preservará de ser um americano idiota, indiferente e com o cérebro lavado. Estou surpreendido por a CIA não ter comprado toda a edição e queimado os livros. Talvez a CIA se sinta segura com o seu êxito em lavar os cérebros do público e não acredite que a democracia americana e um governo responsável possam ser restaurados. 

[1] Memes: idéia, prática social, conceito ou ação que se torna norma e é conscientemente repetido numa sociedade (termo cunhado por Richard Dawkins no livro "The Selfish Gene", 1976) 

O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

E A TEMPERATURA SUBIU (AINDA) MAIS À BOLEIA DE RENTRÉE POLÍTICA





Passos Coelho, Jerónimo de Sousa, Assunção Cristas e Catarina Martins dividiram este fim de semana o palco político e os quatro partidos deram início à rentrée política. Entre palavras duras – principalmente da líder do CDS – sobre a Esquerda, não faltou tempo de antena para o discurso anti-europa e Passos assegurou que não quer voltar para já para o Governo.

Foi um fim de semana marcado pelo calor, mas a temperatura subiu ainda mais nestes dois dias à boleia da rentrée política. Passos Coelho, Assunção Cristas, Jerónimo de Sousa  e Catarina Martins tiveram de dividir o protagonismo e não pouparam nas palavras, levantando o véu ao que nos espera nos próximos meses.

Foi no encerramento da Escola de Quadros do CDS, em Peniche, que a líder do CDS foi direta ao assunto e, num tom muito duro com os partidos que suportam o Governo socialista, afirmou que a Esquerda “vai buscar o dinheiro ao bolso da classe média”.

“A classe media que não se iluda: quando a esquerda unida vier dizer que só quer tributar os riscos, é ao bolso da classe média que vai buscar o dinheiro” e tudo “para satisfazer as clientelas das esquerdas unidas (…) Os campeões dos pedidos de demissão estão agora caladinhos, não vá alguém interromper a festança de esquerda”, acusou, referindo-se ao caso das viagens pagas pela Galp ao secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.

Já Passos Coelho, de acordo com a SIC, não cumpriu o previamente combinado e começou o seu discurso enquanto Cristas ainda falava, o que terá gerado algum mal-estar à Direita. Defendendo que Portugal precisa de recuar a visão “radical” de sair da União Europeia, Passos não mostrou pressa em regressar ao governo e assegurou que o mais importante “é salvar o país”.

No final da Universidade de Verão do PSD, Passos disse também não querer ser “cúmplice de uma situação em que o país tenha de passar por novos sacrifícios apenas para satisfazer a ideia de subsistência e sobrevivência político-partidária seja de quem for (…) Não venham no futuro aqueles que hoje tomam as decisões vir a responsabilizar pelos resultados os que chamaram à atenção para os erros que estavam a ser cometidos”, frisou.

Por sua vez, Catarina Martins – na Feira Nacional da Cebola, em Rio Maior - respondeu diretamente a Passos Coelho: “A cada mês que passa o Dr. Passos Coelho vê uma catástrofe e nós queremos o oposto. A visão que [o líder do PSD] tinha para o país falhou e agora far-se-á outro caminho”, relembrando o desemprego no momento do governo de direita e a dívida pública alta.

Na mítica do Festa do Avante, em que milhares são atraídos para a Amora ao som da conhecida ‘Carvalhesa’, Jerónimo apoiou a ‘Gerigonça’ mas apelou a mais ação nomeadamente no que diz respeito à precariedade no trabalho, afirmando que “é uma matéria em que não bastam as boas palavras. É preciso agir”.

Ao contrário dos defensores europeus, o líder do PCP reiterou que o Governo não pode ceder à “chantagem”. “(Eventuais sanções) Estão aí presentes, agora concentradas nas pressões e chantagem sobre o orçamento do Estado de 2017, para tentar esmagar a esperança aberta de que é possível sermos donos dos nossos destinos (…) E é exatamente por essa razão que o Governo tem de rejeitar esse pérfido plano”, vincou.

Inês Esparteiro Araújo, em Notícias ao Minuto - Foto Global Imagens

Portugal "condenado": "Custa mais ficar do que sair do euro" – diz Nobel da Economia



O Nobel da Economia Joseph Stiglitz defendeu, em entrevista à Antena 1 a divulgar hoje, que o melhor caminho para Portugal será sair do euro, já que se permanecer na moeda única irá ter dificuldades no futuro.

"Acho que a Europa, como um todo, devia começar a pensar num divórcio amigável com alguns países, para estes pensarem em formas para lidar com a saída. Não será um processo imune a dificuldades (...). Custa mais a Portugal ficar do que sair do euro", disse o economista em entrevista à rádio Antena 1.

Segundo Joseph Stiglitz, caso Portugal permaneça na moeda única "está condenado", salientando que a Europa "não tem, nem vai ter condições políticas para fazer as mudanças necessárias" e, como tal, aconselha os portugueses a sair do euro.

"Acho que cada vez é mais claro que ficar é mais custoso do que sair", referiu, lembrando que a ideia de ficar tem sido defendida "com base na esperança de que haverá uma posição mais suave na Alemanha".

No entanto, Stiglitz clarificou que as políticas de austeridade prescritas pelos alemães "vão continuar mesmo que a teoria económica e até o Fundo Monetário Internacional (FMI) demonstrem, claramente, que a austeridade nunca irá funcionar".

O economista lembrou que a saída do euro daria a Portugal condições para "crescer, criar emprego e um processo de restruturação da dívida", sublinhando que, "apesar de ser duro", uma vez a "dívida estruturada, a moeda cresceria".

Joseph Stiglitz, professor na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, foi distinguido com o Nobel da Economia em 2001.

Lusa, em Notícias ao Minuto

PATRIMÓNIO DO PCP NÃO SE DEVE “A FAVORES DO ESTADO” - Jerónimo de Sousa




O secretário-geral do PCP enalteceu hoje, no espaço da Festa do Avante!, a forma como o partido obteve o seu património, graças a contribuições de militantes e amigos e não devido a "favores do Estado" ou de "grupos económico-financeiros".

"Quando hoje alguns registam que o PCP tem um património significativo, omitem sempre como é que foi alcançado: não tivemos favores do Estado, nem de nenhum grupo económico-financeiro. Foi a contribuição de militantes e amigos do partido, de muitos democratas e amigos da festa", disse Jerónimo de Sousa numa ação junto dos muitos voluntários que preparam o espaço que acolherá a Festa do Avante!, a 2, 3 e 4 de setembro.

O dirigente comunista sublinhou que estas contribuições dos militantes e amigos do PCP "têm a garantia da regra de ouro" dos comunistas: "tais contribuições não são para beneficiar nem militantes, nem eleitos, nem dirigentes. São, no respeito pelo princípio ético que conquistamos na política, não para nos servirmos a nós próprios, mas para servir os trabalhadores e o povo português".

Presentes no local, várias centenas de voluntários, militantes, membros da Juventude Comunista e simpatizantes interromperam várias vezes o discurso de Jerónimo de Sousa com gritos de "Assim se vê, a força do PC".

Jerónimo de Sousa agradeceu a todos os que participam nos trabalhos da Festa do Avante!, em especial aos "construtores e aos que organizam, arquitetam, projetam e divulgam" a "maior festa da juventude" em Portugal.

"Este ano comemoramos o 40º aniversário da Festa do Avante! Uma Festa maior e melhor, com a aquisição da Quinta do Cabo", recordou Jerónimo de Sousa, acrescentando que essa aquisição resultou de uma "audaciosa campanha de fundos, num tempo em que os trabalhadores e o povo eram fustigados nos seus salários, nos seus rendimentos e nos seus direitos".

A integração da Quinta do Cabo nos terrenos tradicionais da Festa do Avante!, recordou o secretário-geral do PCP, implicou não só "a preparação do terreno", como também "movimentação de terras, uma nova vedação, uma nova entrada para a Festa".

"Colocaram-se de raiz todas as infraestruturas de energia, iluminação pública, de água, de esgotos, de comunicações. Construímos novos arruamentos, colocando lancis a pulso, plantámos novas árvores, preparamos o espaço para a colocação das organizações e espaços centrais, construímos o novo espaço criança. De ano para ano teremos uma Festa melhor", sublinhou o dirigente.

Lusa, em Notícias ao Minuto – 27.08.2016

“NÃO HÁ FESTA COMO ESTA” – Festa do Avante



AbrilAbril, editorial, em 02.09.2018

Decorridos 40 anos desde a primeira edição, na FIL, a Festa do Avante! mantém-se como acontecimento único no País.

Está prestes a começar a Festa do Avante! 2016 mas desengane-se quem pense que esta é só mais uma edição. A par dos 40 anos que se assinalam, a «terra dos sonhos», como a apelidou Jerónimo de Sousa no último fim-de-semana, está maior e mais capaz de acolher a versatilidade de propostas que o programa oferece.

Projectada pela primeira vez em 1976 à luz do que os comunistas franceses faziam acontecer na «Fête de l'Humanité», a primeira edição da Festa do Avante! inovou no plano nacional pela apresentação de espectáculos musicais ao vivo.

Acabado de sair da ditadura com que Salazar amarrou o país durante 41 anos, Portugal não estava habituado a festivais, nem preparado, particularmente em termos técnicos e de equipamento, a um evento cultural daquela dimensão. A reconhecida capacidade de organização dos comunistas deu cartas desde as primeiras edições, onde as tentativas de impedimento de realização da Festa do Avante! mais se fizeram sentir. 

Logo na primeira edição, realizada no espaço da antiga FIL, na Junqueira, depois de uma tempestade que em vésperas da abertura inundou o recinto, faltavam dois dias para a estreia quando uma bomba destruiu a energia eléctrica de toda Festa. O PCP deu mais uma vez provas da sua resiliência e a Festa foi um êxito em termos de participação.

«Desalojada» da FIL, a Festa do Avante! foi instalar-se, primeiro, no Jamor e, em 1980, no Alto da Ajuda, onde ficou até que Krus Abecassis, eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa pelo CDS, ameaçou com a construção da Faculdade de Arquitectura e impediu a realização da Festa do Avante!.

O ano de 1987 acabaria por ser, ao longo dos 40 de história, o único ano sem Festa do Avante!. Do Alto da Ajuda, a Festa passou para Loures e, em 1989, surgiu a notícia da aquisição da Quinta da Atalaia, no Seixal. A sabedoria do povo permite-lhe afirmar que «há males que vêm por bem» e o percurso da Festa do Avante! é disso exemplo.

A emoção que viveram todos os que ergueram e visitaram a Festa pela primeira vez na Atalaia será semelhante à daqueles que durante os últimos meses transformaram a Quinta do Cabo, contígua à da Quinta da Atalaia e nova entrada principal. Acontecimento ímpar no panorama político-partidário português, a Festa do Avante! ergue-se na alegria do trabalho militante inspirado na construção de um mundo novo.

Seguem-se três dias de encontros e reencontros ao som da «Carvalhesa» (o hino da Festa que faz vibrar milhares de jovens), e com um programa pleno de cinema, teatro, arte, exposições, política, ciência, desporto, um espaço criança inclusivo, música, folclore, gastronomia e muito, muito mais.

“O POVO NÃO QUER O REGRESSO DO PSD E DO CDS” – Jerónimo na Festa do Avante



Segundo o líder do PCP, a acção e intervenção do PSD e do CDS visa promover uma campanha que associa a devolução de direitos e rendimentos a tragédias e iminentes catástrofes.

No comício de encerramento da Festa do Avante!, Jerónimo de Sousa, num discurso de cerca de cinquenta minutos, fez um percurso onde abordou múltiplos aspectos da política nacional, nomeadamente a luta dos trabalhadores, o desemprego, salários e pensões, e o crescimento económico. Sublinhou ainda a posição e a análise do PCP sobre a actualidade e eventuais desenvolvimentos da situação internacional.

Numa tarde de intenso calor, perante uma imensa e colorida plateia que enchia por completo o espaço do palco do comício, o secretário-geral do PCP falou da evolução da nova fase da vida política nacional, que caracterizou como «de consolidação e aprofundamento do caminho percorrido de devolução de direitos e rendimentos e a solução dos problemas nacionais», chamando a atenção para o facto de esta se confrontar com duas ameaças que intimamente se articulam, «a que resulta da insidiosa acção dos partidos do revanchismo, PSD e CDS, apostados que estão na desestabilização do País a todo o custo, a pensar no seu rápido regresso ao poder, e a ameaça que se desenvolve a partir da União Europeia com o mesmo objectivo de fazer implodir qualquer solução que ponha em causa a orientação da política dominante».

Mas Jerónimo de Sousa falou também de uma perigosa ilusão que permanece, «tão perigosa quanto as ameaças, de que é possível avançar de forma decidida na solução dos problemas de fundo do País com simples ajustamentos ao modelo imposto pelo processo de integração capitalista da União Europeia e sem o libertar das amarras da política que o conduziu à crise e à ruína».

Para o secretário-geral do PCP, «as opções do PS e a sua assumida atitude de não romper com os constrangimentos externos – sejam as imposições da União Europeia, a submissão ao Euro ou a renegociação da dívida, seja a não ruptura com os interesses do capital monopolista – são um grave bloqueio à resposta aos problemas do País. Mas também uma forma de favorecer as forças que querem impor o regresso ao passado e continuar a levar o País pelo caminho da crise e ao declínio».

No palco do comício estavam também presentes membros da direcção do PCP e representantes de dezenas de partidos comunistas e outras forças progressistas de todo o mundo, convidados a participar nestes três dias de festa.

AbrilAbril - ontem

CAMPANHA CONCERTADA ANTI-PCP NAS BOCAS DOS “DEMOCRATAS” E NA MÍDIA DOS GRUPOS



As férias podem permitir-nos readquirir estaleca para o que der e vier. Vamos à luta. Mais um ano, mais uma viagem para melhorar esta sociedade regida por malditos que se vendem ao ver, sentir e possuir umas migalhas do vil metal, sem pensarem que afinal são transformados em canídeos a dar à cauda e a dizerem “sim senhor” aos seus donos, mesmo quando os atropelam e lhes desativam a coluna vertebral, condenando-os a seres curvados e rastejantes.

Não sou militante do PCP, nem militante partidário. Há os que preferem ser livres e ideologicamente de esquerda, na cultura e na postura, nos atos. Sou um desses. Também não estou aqui para escrever sobre o “meu eu”. Quero somente deixar claro que estou absolutamente à vontade para começar esta prosa depois das férias gozadas (de uma semana) em abordagem sobre a falsa democracia e os falsos democratas que abundam em Portugal (na Europa e no mundo). E esses falsos democratas mais perigosos acoitam-se na direita portuguesa (no exemplo a abordar). E são eles que detêm os grandes grupos de mídia que transformam jornalistas em escribas “sim, senhores patrões”. Para além de enxamearem os grandes órgãos de comunicação social com conteúdos que podemos classificar de “produtos brancos”, todos iguais - mais coisa, menos coisa. Lemos no Jornal de Notícias o que podemos ler no Diário de Notícias, ou escutar na TSF, ou ver na SIC, e no Expresso… e por aí adiante. Nas colunas de opinião abundam gentes da direita e o equilíbrio não existe com a exclusão de gente de esquerda, realmente de esquerda. Estes são só alguns exemplos. Exemplo que deviam envergonhar diretores de jornais (p.ex.) e os jornalistas, perdão, os escribas de serviço. Não são todos mas são demasiados.

É através desses produtos brancos que estão a ser concertadas ações que não podem somente ser consideradas ataques às políticas do governo – como é natural em sã democracia por uma oposição realmente democrata. Os ataques têm a profundidade do anti-comunismo primário que vimos e sentimos na era salazarista-nazi-fascista. Um Paulo Rangel no lugar a que pertence e sempre pertenceu mascarou-se de democrata e pulou para deputado do PSD, serviu uns quantos ali e guindou-se para o parlamento europeu. Lá está, a mamar e a destilar o seu anti-comunismo primário de jaez semelhante ao que lhe pespegaram no ADN salazarista e nazi-fascista. Declarou ele que: “A festa do Avante diz-nos que temos de ter muito cuidado com os comunistas, eles estão a crescer e caímos no risco de sermos entregues aos soviéticos…”. Pois. O mamão, da estirpe de tantos outros mamões, usa os argumentos de sempre e com os objetivos de sempre: a mentira e o medo. Antes, no salazarismo-fascista, diziam que “os comunistas comem criancinhas ao pequeno-almoço”, entre outras mentiras. Agora, na modernidade, Rangel usa os mesmos métodos e os mesmos argumentos com outras palavras que significam o mesmo. Até parece Salazar ou Hitler a falar. E é este fulano deputado no parlamento europeu por Portugal!

Além disso existem muito mais Rangel, e muitos mais escribas a veicular e martelar até à exaustão o que é declarado ou inventado, ou manipulado. Sempre com um objetivo no caso de Portugal: campanha concertada anti-PCP, anti-comunista primária. E eles já nem se moderam. E eles estão a acelerar o passo com botas cardadas. A campanha difamatória e manipuladora está em marcha em grandes proporções. O que não dizem é que no PCP não cabe corrupção como nos partidos “democráticos” a que pertencem – como é o caso dos do tal Arco da Governação. Nem cabe no PCP a exploração desenfreada aos trabalhadores, nem cabem injustiças e impunidades que ao longo de quatro décadas têm sido semeadas pelos tais do malfadado Arco da Governação. Não vimos no PCP aqueles que têm prosperado à custa dos roubos praticados contra o povo. Não vimos ali ponta por onde se pegue de desonestidade. O mesmo não acontece nas fileiras dos Rangeis, dos Coelhos, dos Cavacos, dos Portas (etc.) e de outros tantos ou mais do PS. Esses têm sido os que se governam em vez de governarem (bem) o país.

São estes e aqueles descarados que nos causam vómitos… E os escribas, a dar à cauda, mansos, fotocopias formados em universidades dúbias que distribuem “canudos” dúbios.

E assim vai Portugal, ao ritmo da globalização chamada neoliberal – antecâmara do nazi-fascismo.


Tenham um bom dia, se conseguirem esse “milagre”. Olhos bem abertos e cérebro a funcionar, por favor.

Mário Motta / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Martim Silva – Expresso

Bom dia,

Não há propriamente uma data oficial, mas este fim-de-semana marca de facto a rentrée política nacional. Ele foi o PCP, com a Festa do Avante, ele foi o CDS e o seu encontro de quadros. Ele foi o PSD, com a habitual Universidade de Verão em Castelo de Vide. Todos se acotovelaram para marcar espaço mediático e dizer ao que vêm nos próximos meses.

Na Quinta da Atalaia, no Seixal, Jerónimo de Sousa pautou o encerramento da 40ª Festa do Avante com um discurso semelhante a um caderno de encargos (salário mínimo, pensões, carreiras da Função Pública) ao executivo socialista. Um discurso que trouxe este ano a novidade de ser feito com os comunistas numa situação na qual nunca tinham estado antes: nem bem no poder, nem bem na oposição - uma coisa em forma de assim.

Ainda sobre os comunistas, vale a pena ler este texto do Expresso, escrito pela Rosa Pedroso Lima, sobre os 40 anos do Avante.

Igualmente ao final do dia foi o encerramento da Universidade de Verão do PSD. Passos Coelho falou, num discurso em que voltou a vaticinar catástrofes para o país em caso de continuidade desta política da geringonça de Costa. Uma intervenção em que aproveitou para revisitar as suas célebres palavras do 'que se lixem as eleições'.

Noutro ponto do país, foi a vez de Assunção Cristas concluir o encontro de quadros do seu partido. Igualmente com bicadas à esquerda, e ainda com propostas em cima da mesa, como a ideia dos benefícios fiscais para startups e novos negócios.

A relação Passos Cristas é recente mas já parece necessitar de alguma terapia...

Curioso é o ângulo que dois jornais (o DN e o i) hoje escolhem para as rentrées de PSD e CDS, dizendo que as intervenções praticamente à mesma hora, e sobrepondo-se, dois dois líderes da direita, é mais uma pedra na engrenagem da relação dos dois partidos.

Claro que mal Passos acabou de falar, já o PS voltava a afiar as facas contra o líder do PSD, com o presidente do partido, Carlos César, a classificar a sua liderança de "fiasco".
Também Catarina Martins aproveitou a oportunidade para 'malhar' em Passos e na direita.

Marques Mendes, na SIC, no seu habitual comentário, afirma que os números económicos mais recentes são uma chapada no Governo e que verdadeiramente o INE é que se torna o grande opositor de António Costa. Aqui pode ler o essencial das palavras do comentador e antigo líder do PSD.

Jornal de Negócios avança que as negociações em torno do salário mínimo podem mesmo ser um dos temas políticos fortes dos próximos tempos.

E Costa? Bem, o primeiro-ministro vai hoje para uma viagem de quatro dias ao Brasil.

Não tem que ver diretamente com o regresso em força da política nacional, mas merece nota este estudo agora divulgado e que mostra uma proximidade excessiva entre políticos e bancos no nosso país. Com os efeitos que bem se conhecem.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro,

No ano passado, Portugal já tinha conseguido 14 prémios mas este ano o número foi largamente superado e o país trouxe 24 "Óscares" europeus do Turismo.

Os espanhóis do Caixa Bank estão a ponderar retirar a OPA sobre o BPI.

Depois da resolução do imbróglio da Caixa Geral de Depósitos, ainda vale a pena ler a entrevista de Cristina Casalinho, a líder do IGCP, hoje ao Jornal de Negócios. Nela admite que parte do valor que o Estado tinha previsto utilizar para reembolsar empréstimos do FMI podem ser desviados para o banco estatal.

O Estado está em atraso com os pagamentos aos colégios com ensino especial, situação que se repete pelo segundo ano consecutivo.

Com o abrandamento dos últimos anos no sector da construção civil, está a deixar de haver mercado para escoar o cimento produzido.

Um militar morreu durante o treino no curso de Comandos, alegadamente devido ao pico de calor sentido nos últimos dias.

Vera Jardim lidera a Comissão de Liberdade Religiosa, que tem de zelar pelo cumprimento e respeito da liberdade religiosa no nosso país. E já faz declarações, como esta, a propósito da recente polémica em França em torno do burquini: "proibir vestuários ou obrigar vestuários é coisa que não me convence como modo de convivência sã entre pessoas".

Sem bola este fim de semana, porque amanhã é dia de jogo da seleção, o que marcou foi a entrevista de Jorge Jesus ao Record, cuja primeira parte foi publicada ontem. O que mais deu que falar foi a confissão do treinador do Sporting ao dizer que ao fim de um mês em Alvalade já pensava ir-se embora.

Quem está de volta e em busca de um novo começo, depois de passar muitas dificuldades, é a antiga estrela do Benfica Isaías. Um amigo proprietário de um restaurante deu-lhe a mão e o caso já chegou aos jornais e televisões.

A jovem estrela do Porto, e agora também da seleção, André Silva, estará na mira do Atlético de Madrid.

Lá fora,

Horas depois de o presidente chinês ter dito que era contra a instalação na Coreia do Sul de sofisticado sistema antimíssil pelas mãos dos EUA, o país Kim Jong-un, mais a norte, lançou três mísseis balísticos para o mar do Japão. Mais um desafio da Coreia do norte numa ação lida como uma tentativa clara de chamar a atenção da cimeira do G20 que decorre na China.

No Brasil prosseguiram, pelo sétimo dia consecutivo, as manifestações contra Temer e contra a destituição de Dilma. Um record, afirma a BBC.

Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, tem dúvidas sobre a exequibilidade das propostas para controlo da imigração que foram avançadas pelos partidários do Brexit.

Em França, milhares protestaram exigindo o desmantelamento da chamada 'selva' de Calais, um campo de refugiados improvisado na localidade francesa.

No Vaticano, mais de 100 mil pessoas assistiram às cerimónias decanonização da Madre Teresa de Calcutá.

O QUE ANDO A LER

Regressado de férias, hoje é mesmo o primeiro dia de mangas arregaçadas em vez de pernas estendidas ao sol, deixo-lhe aqui duas sugestões que me preencheram nos últimos dias, e que bem valem a pena.

A primeira, mais curta, mas deliciosa sobretudo para, como eu, os amantes de Roma, é o livro "Histórias de Roma", de Enric González. Antigo correspondente na capital italiana, leva-nos num percurso delicioso sobre a política, a gastronomia, o futebol, os hábitos e manias dos italianos. Ou melhor, dos romanos. Se está a pensar ir ou voltar a Roma, este pode ser uma espécie de guia alternativo bem interessante.

Depois, e por 'sugestão' do Henrique Raposo, atirei-me de cabeça ao magnífico épico do dinamarquês Carsten Jens "Nós, os Afogados". Uma espécie de Odisseia com base no porto dinamarquês de Marstal. Um romance extraordinário.

Por hoje é tudo, as nossas desculpas por este Curto que já sabe quase a café do meio da manhã. Tenha uma excelente segunda-feira.

PARABÉNS AO CIDADÃO JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS



Victor Carvalho – Jornal de Angola*, opinião

Escrever sobre José Eduardo dos Santos, abordando tanto a sua qualidade de Presidente da República como a de simples cidadão, tem tanto de fácil como de complexo.

Fácil, porque se trata de uma figura consensualmente aceite como possuidora de uma personalidade forte e de um carisma que o torna tão popular como discreto, naturalmente aceite como parte integrante da família de cada angolano.

A complexidade de se escrever sobre José Eduardo dos Santos resulta, afinal de contas, da soma dos factores que o tornam unanimemente aceite por todos os angolanos. É que, afinal das contas, se fica sem saber por onde começar, tal a riqueza e a variedade dos temas que a sua personalidade suscita.

Numa altura em que se comemora a passagem do 74 º aniversário de José Eduardo dos Santos aquilo que talvez mais importe destacar é a sua faceta enquanto cidadão. Um cidadão amado e respeitado pelo seu povo, que cedo hipotecou a sua juventude para se entregar de corpo e alma à missão de dirigir os destinos de Angola.

Quem com ele conviveu na infância e na juventude reconhece-lhe o mérito de, ao longo dos anos, se ter mantido fiel a si mesmo. Amigo dos seus amigos, nunca esqueceu de onde veio e muito menos de onde nasceu e com quem conviveu nos bancos da escola. Sempre disponível para ajudar quem a si recorre nas mais variadas circunstâncias, José Eduardo dos Santos é o rosto da generosidade e da determinação que caracteriza o povo angolano. 
Homem de paz e de uma só palavra, José Eduardo dos Santos nunca se sentiu muito à vontade debaixo dos holofotes de uma excessiva mediatização, optando pela discrição para fazer passar a sua mensagem no sentido de obter os consensos necessários para a resolução dos problemas mais intrincados da governação e que ele, na qualidade de simples cidadão, acaba por sentir de um modo muito próprio.

A sua dedicação à família é assumida sem grande alarido, mas com uma total devoção, fazendo sempre questão de separar claramente aquilo que é a sua vida pública da privada, recusando protagonizar actos de mera propaganda pessoal que lhe poderiam valer alguns importantes dividendos políticos.

Ainda hoje, quando completa 74 anos, o cidadão José Eduardo dos Santos revela-se como um dos políticos nacionais com ideias mais jovens, apontando rumos e caminhos inovadores para a resolução dos problemas que a governação coloca ao país e que carecem de soluções ajustadas aos dias de hoje.

Homem de uma só palavra, José Eduardo dos Santos carrega consigo o segredo de ser amado pela esmagadora maioria do seu povo e respeitado pelos seus opositores políticos, que não encontram no seu exemplo de cidadania argumentos suficientemente fortes para o beliscar. Antigo praticante de futebol, acompanha com entusiasmo e muita atenção todas as peripécias que envolvem os grandes acontecimentos desportivos nacionais e internacionais cumprindo, até muito recentemente, um ritual de preparação física diário que compartilhava com alguns contemporâneos. Mas, uma das grandes virtudes de José Eduardo dos Santos é a de ao mesmo tempo que exerce a dura missão de dirigir os destinos de Angola conseguir, de modo igualmente empenhado ser um cidadão comum, com gostos e desejos iguais aos de muitos outros homens.

Isto faz dele, para lá de Presidente da República (com todas as responsabilidades inerentes ao cargo), uma pessoa normal, de carne e osso, de quem nunca se ouviu uma palavra a evidenciar qualquer tipo de complexo de superioridade em relação ao seu semelhante.

Mas, mesmo melhor que todas estas palavras, é mesmo o depoimento feito pelo seu irmão, Avelino dos Santos ao jornalista Cândido Bessa e que hoje publicamos nas páginas 4 e 5, onde ele retrata, de modo muito intimista, aquilo que foi a infância e a juventude de José Eduardo dos Santos e o seu percurso como cidadão comum, despido das funções oficiais de Presidente da República.

De José Eduardo dos Santos, mais importante do que destacar a sua dimensão como estadista é sublinhar o seu enorme valor humano expresso nas reacções que suscita, tanto no seio familiar como no coração dos angolanos.

Por isso, nesta altura de parabenizar José Eduardo dos Santos pensamos ser mais justo destacar agora a sua faceta de cidadão comum que a de Presidente da República, pois esta é sobejamente conhecida e tem sido justamente sublinhada dentro e fora das fronteiras angolanas numa homenagem perfeitamente justificada, tal o valor da obra feita.

*Em 28.08.2016

Paulo Portas diz que não cabe a Portugal explicar como se deve ser angolano



O ex-líder do CDS-PP Paulo Portas afirmou no sábado que não é uma "atribuição de Portugal explicar aos angolanos como é que eles devem ser angolanos", defendendo que "esse tempo passou quando o império caiu".

Juntamente com o socialista António Vitorino, Paulo Portas participou no sábado à noite na Escola de Quadros do CDS-PP, que decorre até domingo em Peniche, no jantar conferência sobre "Desafios de Portugal no presente contexto internacional", onde começou por assegurar que as opiniões que ia expressar seriam "apenas e só sobre política externa".

O antigo vice-primeiro-ministro realçou que há "em Angola mais de 100 mil portugueses, duas mil empresas nacionais e cerca de 10 mil empresas a exportar" e por isso dá razão à escola diplomática que entende que a missão do Estado português é defender os interesses de Portugal e que "não têm razão os que acham que é uma atribuição de Portugal explicar aos angolanos como é que eles devem ser angolanos".

"Esse tempo passou quando o império caiu", disse, avisando que se Portugal não assumir a sua posição em termos económicos outros países vão tomar essa parte.

Portas foi perentório: "quem sabe o futuro dos angolanos, são os angolanos. Respeitemos isso".

Outro país cujas relações são importantes para Portugal é, na opinião do antigo governante, o Brasil, defendendo que independentemente da "opinião sobre o que se sucedeu no processo do 'impeachment'" que cada uma possa ter, não é competência "dar lições aos brasileiros de direito constitucional".

Segundo Portas, "é bastante importante para Portugal que o Brasil possa fazer um caminho de maior abertura comercial", antecipando que isso vai acontecer e que "é uma oportunidade para as empresas portuguesas".

"Dediquemo-nos ao essencial e não a juízos ideológicos sobre estados soberanos há muito tempo e que são por natureza necessários à nossa política externa", apelou.

As eleições nos Estado Unidos não ficaram de fora deste percurso pelas diversas questões internacionais, cujas opiniões de pessoas com "certezas absolutas" devem merecer desconfiança, avisou o centrista.

"Como alguém dizia, qualquer dos candidatos só poderá ser melhor presidente do que candidato, mas uma presidente em concreto será certamente melhor presidente do que o outro", disse, num apoio claro a Hillary Clinton.

Defendendo a ideia de que "se a Europa não quer perder o mundo tem que perceber que o mundo não é apenas o que se passa na Europa", Portas falou ainda do impasse que se vive em Espanha, do 'Brexit' e da guerra na Síria.

"Porque é que em Espanha não houve até agora uma solução de Governo por parte daqueles que impediram que o nosso amigo Rajoy fosse encarregue em plenitude de funções do Governo de Espanha, conforme vontade eleitoral porque ganhou duas vezes as eleições?", questionou.

Segundo o antigo líder centrista, "não é que as esquerdas ou as extremas esquerdas num país tenham mais facilidade de diálogo do que noutro", mas "em Espanha existe uma questão chamada integridade territorial".

Sobre o 'Brexit', Portas considerou que foi "o pior momento para pedir um sim à Europa", sendo "os ingleses o povo menos indicado para o dar" e advogou que "interessa a Portugal que haja um acordo razoável com o Reino Unido".

"Não vejo nenhuma forma de resolver o problema da Síria sem conseguir um acordo com a Rússia no Conselho de Segurança", defendeu ainda.

António Vitorino, por seu turno, começou por dizer que sobre a atual conjuntura internacional só tem dúvidas, não tem certezas, manifestando-se muito preocupado com as eleições dos Estados Unidos, apreensão que "está para lá do que é o senhor Trump como tal", mas por haver "um conjunto de eleitores dispostos a votar na base do ressentimento social".

O antigo comissário europeu pediu uma maior aposta de Portugal na CPLP, que deve ser vista "como uma plataforma que tem um valor acrescentado", criticando o Brasil por "nunca ter sido verdadeiramente uma alavanca do projeto coletivo" da comunidade lusófona.

JF//FV - Lusa

Presidente Evaristo Carvalho defende "profunda reforma" de São Tomé e Príncipe



O novo presidente de São Tomé e Príncipe, Evaristo Carvalho, empossado hoje no cargo, declarou apoio ao governo para "profundas reformas e modernização" do país, visando o "bem estar económico social e cultural" para todos os são-tomenses.

De acordo com a STP Press - Agência Noticiosa de São Tomé e Príncipe, na cerimónia realizada na Praça da Independência, no centro de São Tomé, Evaristo Carvalho reafirmou que pretende "tudo fazer" para promover o bem-estar económico, social e cultural do povo são-tomense.

Na sua primeira mensagem à nação, também prometeu que tudo fará para "que reine a estabilidade política, o bom e são relacionamento institucional e coesão social", no arquipélago.

No sentido de adaptar São Tomé aos "novos desafios" de desenvolvimento, o novo Chefe Estado são-tomense garantiu que estará "sempre disponível para apoiar o governo [de Patrice Trovoada] na sua política de reformas".

Além de ter prometido ser um "guardião da constituição", Evaristo Carvalho sublinhou que tudo fará para que "a lei seja cumprida, e os direitos de todos sejam salvaguardados, incluindo os das minorias e da oposição política".

Reafirmou o compromisso de trabalhar para a construção da estabilidade visando "um país mais próspero, mais justo, mais coeso, sem ódio e rancores, capaz de oferecer um futuro mais seguro à sua juventude", noticia a STP Press.

Apontando "desilusões" sobre o cenário económico do país, o novo presidente reconheceu também algumas "conquistas", como o nível académico, a luta contra o paludismo e o sistema do governo democrático.

Evaristo Carvalho prestou homenagem aos seus antecessores, os antigos presidentes, Manuel Pinto da Costa e Fradique de Menezes, tendo sublinhado que as respetivas presenças no ato da sua investidura "dignificam e credibilizam" o sistema democrático são-tomense.

Manuel Pinto da Costa, Presidente cessante, disputou a primeira volta do escrutínio e recusou-se a participar na segunda, tendo apresentado no Supremo Tribunal uma providência cautelar para invalidar a eleição de Evaristo de Carvalho, com o argumento de que as conclusões da Assembleia de Apuramento Geral estavam "eivadas de ilegalidades grosseiras".

A providência cautelar sustentava ainda que o ato praticado pelos juízes conselheiros põe em causa a legitimidade de todo o processo eleitoral, inclusive do próprio Tribunal Constitucional, contribuindo assim para o "desmoronamento do Estado de Direito Democrático, instituído há vinte e cinco anos, resultado do sacrifício e da vontade de todos os santomenses".

Na quarta-feira passada, o Presidente cessante convidou Evaristo de Carvalho para um encontro no palácio presidencial destinado à passagem de pastas, e o novo Presidente descreveu-o como "uma conversa amigável" com Pinto da Costa, de quem foi colaborador.
Cerca de três dezenas de entidades estrangeiras participaram na cerimónia, de Portugal, a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro.

Ausentes da cerimónia de posse do novo chefe de Estado estarão os deputados do maior partido da oposição, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), que se justificaram em comunicado com "as irregularidades nas eleições", agravadas com a reprodução pela televisão pública de um texto publicado no semanário 'O Parvo', intitulado "Em São Tomé e Príncipe cai o poder dos colonos negros".

A cerimónia de investidura decorreu pela primeira vez num local público, e o ato foi precedido de uma sessão solene da Assembleia Nacional (parlamento são-tomense) na Praça da Independência, seguido de leitura da Ata de Apuramento da Eleição e leitura do Auto de Posse.

AG (ANC/MYB) // APN - Lusa

Comissão de Eleições da Guiné-Bissau inspira-se na experiência autárquica de Cabo Verde



Uma equipa da Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau encontra-se em Cabo Verde para se inspirar na experiência autárquica cabo-verdiana, que hoje realiza as suas sétimas eleições municipais em 25 anos de democracia

A equipa, que se está no arquipélago cabo-verdiano há mais de uma semana, é composta por José Pedro Sambú, secretário executivo, António Iaia, diretor administrativo, e Manuel Sami, chefe de Gabinete do presidente da CNE guineense.

Em declarações à agência Lusa na cidade da Praia, José Pedro Sambú adiantou que a equipa guineense já realizou encontros de trabalho com várias entidades cabo-verdianas ligadas ao processo eleitoral, como a Comissão de Eleições e as comissões de recenseamento eleitoral.

A equipa, que permanece no país até terça-feira, espera ainda reunir-se com responsáveis da Direção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE).

"Viemos aqui acompanhar o processo eleitoral cabo-verdiano no quadro das boas relações que temos com a Comissão de Eleições (CNE) de Cabo Verde. A Guiné-Bissau ainda não realizou estas eleições e viemos aqui inspirar na experiência cabo-verdiana", adiantou o responsável, indicando que a Guiné poderá realizar as suas primeiras eleições autárquicas em 2017.

José Pedro Sambú disse que já tem boa impressão do processo eleitoral em Cabo Verde, país que realiza as suas sétimas eleições autárquicas, e que a atual eleição está a decorrer de forma transparente e organizada.

"O fundamental é observar o andamento do processo em diferentes fases, até ao apuramento dos votos", prosseguiu o secretário executivo da CNE guineense, que falava à Lusa no átrio de uma escola primária na cidade da Praia onde funcionam duas mesas de voto.

Depois desta missão, José Pedro Sambú não descarta, por isso, o regresso a Cabo Verde, para acompanhar as eleições presidenciais, marcadas para 02 de outubro próximo.

Cerca de 320 mil eleitores cabo-verdianos estão hoje a votar para as sétimas eleições autárquicas realizadas no país desde 1991, numa disputa em que 57 candidatos concorrem à presidência de 22 câmaras e assembleias municipais.

Segundo dados atualizados da Direção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE), estão inscritos 316.292 eleitores, sendo 313.915 cidadãos nacionais e 2.377 estrangeiros.

As mais de mil mesas de voto (1019 segundo atualização da DGAPE) abriram às 8:00 locais (10:00 em Portugal) e fecham às 18:00 (mais duas horas em Lisboa).

Os primeiros resultados provisórios serão divulgados uma hora depois pelo Núcleo Operacional da Sociedade de Informação (NOSi) de Cabo Verde na página da Internet www.eleicoes.gov.cv.

RYPE // APN - Lusa

Partido no poder em Cabo Verde com 11 das 22 câmaras nas autárquicas -- Resultados provisórios



O Movimento para a Democracia (MpD), no poder em Cabo Verde, segue na frente da contagem de votos nas autárquicas no país, conquistando até ao momento 11 das 22 câmaras municipais.

Segundo os primeiros resultados provisórios divulgados no site oficial sobre as eleições autárquicas (www.eleicoes.gov.cv), o MpD está na frente com 50 por cento das câmaras municipais, quando estavam contabilizadas 4,4% das mesas de voto.

Já o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, maior da oposição), segue com seis câmaras municipais.

Segundo os primeiros dados divulgados, na Boavista o grupo independente liderado pelo deputado nacional do MpD José Luís Santos segue na frente.

No Maio, segue na frente o grupo independente, apoiado pelo PAICV.

A taxa de abstenção situava-se nos 34,3%.

Cerca de 320 mil eleitores cabo-verdianos estão hoje a votar para as sétimas eleições autárquicas realizadas no país desde 1991, numa disputa em que 57 candidatos disputam a presidência das 22 câmaras e assembleias municipais.

RYPE // APN - Lusa

A SEXTA EXTINÇÃO E O CAPITALISMO GLOBAL




Ritmo atual de eliminação de espécies na Terra só é comparável ao que liquidou dinossauros. Quais as causas da crise. Como ela se relaciona à privatização do Comum

Ashley Dawson – Outras Palavras - Tradução: Antonio Martins

O texto a seguir é a introdução de Extinction: A Radical History [“Extinção: uma história radical”], de Elizabeth Kolbert

Sua face havia sido retalhada. Prostrado sobre a poeira rubra, para ser devorado pelos abutres, seu corpo permanecia intacto, exceto pela fenda obscena no lugar onde antes estavam seus magníficos dentes de dois metros. Satao era um dos chamados “dentuços”, um elefante africano com uma cepa genética rara, que produz dentes tão grandes que chegam a tocar o chão, o que os torna uma grande atração do Parque Nacional Tsavo East, no Quênia.

As belas presas também tornaram Satao particularmente valioso para os traficantes de marfim, que o atingiram com setas envenenadas, cavocaram sua face para chegar a seus dentes e abandonaram sua carcaça às moscas. A horrível morte de Satao, um dos maiores elefantes da África, é parte de uma onda violenta de caça clandestina que varre o continente. Em 2011, 25 mil elefantes africanos foram massacrados por seu marfim. Outros 45 mil foram mortos nos anos seguintes. Se o ritmo atual continuar, uma das duas espécies de elefantes africanos, o elefante das selvas, cujas populações declinaram em 60% desde 2002, terá desaparecido da África em uma década.

A imagem de Satao, estendido sem face na poeira, é chocante. Embora o elefante, enquanto espécie, provavelmente não esteja fadado à extinção (alguns indivíduos permanecerão livres em reservas e zoológicos), a dizimação de suas populações selvagens lembra-nos da onda maior de extinções, a sexta já testemunhada pelo planeta Há apenas algumas dezenas de milhares de anos, durante o Pleistoceno, a Terra abrigava uma imensa variedade de animais muito grandes e espetaculares. De mamutes peludos a tigres de dente de sabre e a animais menos conhecidos, mas igualmente exóticos, como preguiças gigantes e tatus do tamanho de carros, uma megafauna vagava livremente pelo mundo. Hoje, quase todos estes enormes animais estão extintos: mortos, a maior parte das evidências sugere, por seres humanos. À medida em que se espalhava pelo planeta, o Homo Sapiens dizimou populações da megafauna em todos os lugares onde se fixou. A humanidade, em essência, devorou os degraus imediatamente abaixo, na cadeia alimentar, ao varrer a biodiversidade. A África, nosso lar ancestral, é praticamente o único continente a reunir alguns remanescentes da biodiversidade pleistocênica. Na morte cruel de Satao e seus iguais, testemunhamos a destruição final da megafauna remanescentes, o jogo final de uma época de defaunação épica, ou massacre animal.

Mas não é apenas a megafauna carismática, como elefantes, rinocerontes, tigres e pandas que está sendo empurrada para a extinção. A humanidade vive em meio, e á a causa de dizimação maciça da biodiversidade global. De humildes invertebrados como besouros e borboletas a várias populações de vertebrados terrestres, como morcegos e pássaros, as espécies estão caminhando para a extinção em ritmo recorde. Por exemplo: desde 1500, 322 espécies de vertebrados terrestres desapareceram, e as populações das que não pereceram mostram uma redução de cerca de 25%, em todo o mundo. As populações de invertebrados estão igualmente ameaçadas. Os pesquisadores normalmente concordam que a atual taxa de extinção deve ser considerada catastrófica: ela ocorre numa velocidade entre mil e dez mil vezes maior que a verificada antes que o ser humano começasse a exercer pressão significativa sobre o ambiente. A Terra está perdendo cerca de cem espécies por dia. Além desta onda de extinções, que os biólogos consideram capaz de eliminar 50% das espécies animais e vegetais existentes, também está declinando de modo dramático a abundância de espécies em regiões específicas, o que ameça o funcionamento dos ecossistemas. Esta extinção em massa é, portanto, uma expressão – e causa – pouco percebida da crise ambiental contemporânea.

Embora a onde de extinção em massa seja global, a destruição de espécies está concentrada num pequeno número de núcleos geográficos. Isso deve-se ao fato da diversidade estar distribuída de maneira não uniforme. Em terra firme, as florestas tropicais são seu principal berçário. Embora cubram apenas 6% da superfície terrestre, seus habitats terrestres e aquáticos abrigam mais de metade das espécies conhecidas do planeta. Conforme explica E.O.Wilson, os trópicos são o principal abatedouro da extinção, suas grandes extensões verdejantes divididas em fragmentos que minguam rapidamente, suas espécies animais e vegetais lutando para se adaptar à destruição de habitats, às espécies invasivas, à penetração da agricultura e, cada vez mais, às mudanças climáticas provocadas pelo homem. Da grande Bacia Amazônica às florestas tropicais da África Central e Ocidental, às florestas da Indonésia, Malásia e outras partes do Sudeste Asiático, os seres humanos estão eliminando os lares de milhões de espécies. Ao fazê-lo, não estamos apenas condenando à extinção vasto número de espécies (a grande maioria das quais sequer foi identificada, ainda), mas também colocando em risco nossa própria presença no planeta.

A publicação de obras acessíveis de jornalismo científico, tais como The Sixth Extintion [“A Sexta Extinção”], de Elizabeth Kolbert, o ataque à flora e fauna do planeto começou a se tornar conhecido. O livro de Kolbert conduz os leitores a uma viagem aterrorizantes. Ela entrevista botânicos que seguem a trilha da destruição nas montanhas andinas, e biólogos que acompanham a acidificação dos oceanos. A atual onda de extinções, explica Elizabeth, segue-se a cinco eventos anteriores de extinção em massa, que devastaram o planeta no último mio bilhão de anos.

Pode-se pre ver que a onda atual seja a pior catástrofe para a vida na Terra desde o impacto de asteroide que destruiu os dinossauros. Ao refletir sobre esta realidade melancólica os acadêmicos começaram a escrever sobre “culturas de extinção”. Em resposta a esta preocupação crescente, o governo de Obama, nos Estados Unidos, constituiu há pouco uma força de trabalho sobre o tráfico de espécies selvagens, e começou a discutir as redes de comércio que ligam o massacre de elefantes e rinocerontes a sindicatos do crime como o Janjaweed e o al-Shabab, que usam os altos lucros obtidos no mercado ilícito de espécies selvagens para financiar suas operações.

No entanto, iniciativas como as de Obama resultam muito frequentemente numa “guerra a pequenos gatunos”, que ignora as causas estruturais por trás da destruição dos habitats e morte devastadora de animais. Os núcleos de biodiversidade dos, afinal, estão localizados no que Christian Parent chama de “trópicos do caos”. Nas latitudes tropicais do planeta, Parenti identifica uma convergência catastrófica, uma alinhamento extremamente destrutivos, de três fatores: 1) militarização e fragmentação étnica, relacionadas com o legado da Guerra Fria em nações pós-coloniais; 2) falência dos Estados e ruptura social ligada às políticas de “ajuste estrutural” impostas aos países do Sul por instituições como o Banco Mundial, desde 1980; e 3) fenômenos alimentados pela mudança climática, como a desertificação. Parenti escreve sobre o impacto desta convergência catastrófica sobre povos e Estados, mas o quadro que ele oferece, sobre as tensões que afetam o Sul Global, fica incompleto quando não se considera as relações entre a humanidade e o mundo natural, em seu sentido mais amplo. Não é possível entender a convergência catastrófica sem discutir a dizimação da biodiversidade em curso no Sul Global. Nem, inversamente, compreender a extinção sem uma análise da exploração e violência às quais as nações pós-coloniais foram submetidas.

A extinção é o produto de um ataque global sobre os bens comuns: o grande tesouro de ar, água, plantas e criações culturais coletivas como as línguas, que foram tradicionalmente vistas como herança de toda a humanidade. A natureza, a maravilhosa e abundante vida selvagem do mundo, é essencialmente um repertório livre de bens e trabalho que o capital tenta capturar. Conforme argumentaram crítico como Toni Negri e Michael Hart, políticas agressivas de liberalização comercial propõem a privatização dos Comuns – transformando ideias, informação, espécies animais e vegetais e mesmo o DNA em propriedade privada. Subitamente, coisas como as sementes, que antes circulavam livremente em todo o mundo, pelas mãos dos camponeses, tornaram-se commodities escassas. As corporações do agrobusiness modificam-nas, para que se tornem estéreis após a primeira geração. Os agricultores no Sul global chamaram-nas de “sementes suicidas”. A destruição da biodiversidade global deve ser vista, em outras palavras, como um enorme – e talvez derradeiro – ataque contra a riqueza comum do planeta. A extinção de espécies deve ser vista, junto com a mudança climática, como a principal fronteira das contradições co capitalismo contemporâneo.

O capital precisa expandir-se a um ritmo cada vez maior, ou mergulha em crises, gerando a queda de valor de ações, títulos e propriedades – além de fechamento de fábricas, desemprego em massa e revolta política. À medida em que o capitalismo expande-se, porém, ele converte cada vez mais em mercadoria o planeta, eliminando sua diversidade e fecundidade – basta pensar nas sementes suicidas. Se a tendência inerente do capital a criar o que Vandana Shiva chama de “monoculturas da mente” já gerou muitas crises ambientais localizadas, esta tendência insaciável consume agora ecossistemas inteiros, ameaçando o ambiente do planeta como um todo. Não há, hoje, nenhuma instituição efetivamente capaz de lidar com a “degradação cancerosa” do ambiente, que segundo David Harvey é produzida pela obsessão do capital por crescimento contínuo.

Ainda assim, o capital precisa transformar continuamente a natureza em mercadoria, para sustentar seu crescimento. O ritmo catastrófico das extinções de hoje, e o grande declínio da biodiversidade, representam uma ameaça concreta à própria reprodução do capital. A Sexta Extinção é o exemplo mais claro da tendência da acumulação de capital a destruir suas próprias condições de reprodução. À medida em que o ritmo da especiação (a evolução de novas espécies) é cada vez menor que o ritmo de extinção, tornam-se mais visíveis os riscos de devastação – ou mesmo aniquilação –, pelo capital, das bases biológicas de que ele depende.

O livro Extinção: uma História Radical pode ser visto como uma obra essencial sobre a extinção para ativistas, cientistas e estudiosos da Cultura, assim como para membros do público geral que buscam compreender um dos grandes acontecimentos de nossa época – ainda que frequentemente desprezado. A extinção é uma realidade material e, ao mesmo tempo, um e discurso cultural. Eles modelam as percepções populares do mundo e legitimam uma ordem social desigual. Para responder adequadamente a esta crise planetária, precisamos transgredir as fronteiras que separam a ciência, o ambientalismo e a política radical. Inclusive porque a extinção não pode ser compreendida isolada de uma crítica ao capitalismo e ao imperialismo.

Extinção: uma História Radical começa com um debate sobre a noção do Antropoceno. Utiliza este termo não apenas para lançar questões fundamentais sobre quando começou a sexta onda de extinções em massa, mas também sobre quem, exatamente, é responsável por ela. O segundo capítulo sublinha as diferentes facetas da extinção que são produtos do capitalismo – das primeiras formas modernas de devastação da fauna, como a caça às espécies dotadas de pelos aos episódios de massacre em massa, como a caça às baleias, que emergiu em sintonia com a revolução industrial. Este capítulo também discute formas de ecocídio colateral, como a devastação de corais e a extinção relacionada com espécies invasivas, assim como formas de guerra ecológica, como o uso de agente laranja no Vietnã e a poluição do delta do Niger. O terceiro capítulo do livro lança um olhar sobre o biocapitalismo de desastre: a multiplicidade de respostas políticas, econômicas e ambientais do capital à crise de extinção.

Este capítulo destaca não apenas os fracassos evidentes dos esforços para enfrentar a extinção em meio a lógicas capitalistas, mas também a tendência crescente a abrir uma nova rodada de acumulação, usando a biologia da síntese para enfrentar a crise. Ao final, o capítulo sobre conservação radical explora várias soluções anticapitalistas para a crise de extinção, baseadas em justiça social e ambiental.

O espectro da extinção assombra a imaginação popular de hoje. A cultura contemporânea está cheia de representações de zumbis, pragas e outras representações espetaculares da catástrofe ambiental. Para os que habitam as nações rigas do Norte Global, tais representações são fantasmas de um mundo terrível à espreita. Mas para bilhões de pessoas em todo o mundo, que Ranajit Guha e Juan Martinez-Alier chamam de “pessoas dos ecossistemas”, cuja sorte está intimamente imbricada com a fauna e flora do plenta, a questão da extinção está diretamente relacionada com sua própria sobrevivência presente e futura.

A carnificina com um elefante como Satao pode enriquecer alguns gatunos, mas ela empobrece dramaticamente o ecossistema que habitamos. Só estamos começando a compreender o impacto da liquidação da grande vida selvagem, como os elefantes nos seus habitats. Mas está ficando claro que estes buracos abertos na rede da vida têm efeito dramático, em cascata. À medida em que milhões de espécies são descartadas a biodiversidade que sustenta o sistema planetário, nós mesmos e os ancestrais que comecemos entra em risco. Esta catástrofe não pode ser reduzida – muito menos revertida – sob a atual lógica capitalista. Enfrentamos uma escolha clara: transformação política radical ou extinção em massa cada vez mais profunda.

— Professor de Inglês em Cuny, Nova York. Autor de Mongrel Nation eThe Routledge Concise History of Twentieth-Century British Literature, e do as well as a short story in the anthology Staten Island Noir.

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