sexta-feira, 18 de novembro de 2016

UMA LONGA LUTA EM ÁFRICA – I



A ODISSEIA DA “VITÓRIA OU MORTE”


1 – A internacional fascista em África, no início da década de 60 do século XX, estava relativamente à vontade na África Austral, enquanto grande parte do continente estava mergulhado em profundo neocolonialismo (apesar da cosmética das independências de bandeira) e por isso no Congo, as aspirações mais legítimas de liberdade foram sacrificadas com o assassinato do desamparado e heroico Primeiro-Ministro Patrice Lumumba, com o desmantelamento dos escassos suportes progressistas que o apoiavam e com a sobrevivência durante três décadas, meio incógnita, meio isolada, de Laurent Kabila!

Nessa altura as linhas da internacional fascista estendiam-se continente adentro e sem obstáculos ou percalços de maior desde a emanação fulcral na África Austral, com ponto forte integrando os processos sócio-políticos do colonialismo entrosados com os do “apartheid”, garantindo um campo de manobra importante nas direcções em que grassava o neocolonialismo, com todo o cortejo de manifestações próprias, características dos países da cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano.

O quadro não poderia ser tão desafiador para o movimento de libertação em África, que procurava lançar-se na refrega de armas na mão perante o tão arcaico quão renitente colonialismo português, com o “apartheid” e o risco de neocolonialismo a nu e a cru, bem presente na expressão do seu “diktat” quotidiano, a ponto de por vezes se entrecruzar com as cenas próprias da sobrevivência, ou da morte.

Até sensorialmente o MPLA foi posto à prova nesse dilema, como se esse fenómeno se tratasse duma autêntica “prova de vida”!

O movimento de libertação efetivamente nacionalista e moderno, teve de enfrentar no seu dia-a-dia racismo, tribalismo, regionalismo, enfim, todo o tipo de divisionismos, além do obscurantismo e confusão própria das imensas massas populares analfabetas e brutalizadas pela barbárie escravocrata e colonial, expedientes que eram compulsados como armas ideológicas preferenciais dos interesses e conveniências das potências externas a África, ou aos fulcros retrógrados da África Austral à disposição dos interesses dominantes para depois se traduzirem e animarem nos extremos sanguinários e repressivos dos agentes-fantoches da ocasião.

Em 1963 e 1964 o MPLA sofreu uma ofensiva em Léopoldville (Kinshasa) que procurou alterar profundamente o seu carácter, conjugando-se duas linhas de impacto: uma interna, no rescaldo da cisão de orientação pró-chinesa com o resto do universo socialista, personificada por Viriato da Cruz e a outra externa, com Kasavubu a determinar a expulsão do MPLA do Congo e a proibição da guerrilha do MPLA poder passar por território congolês a fim de levar a cabo a luta no interior de Angola.

O objetivo era tornar o MPLA em mais um etno-nacionalismo dócil e vulnerável às ingerências, manipulações e ambiguidades de que o campo capitalista dava provas com expressão na prática por toda a África de então, sobretudo em Léopoldville com Kasavubu e Mobutu, agentes diletos da construção da base da hegemonia unipolar no continente.

Quando se chegou a meados da década de 60, tornou-se claro que era necessário reforçar a CONCP, Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, passando da unidade nos esforços político-diplomáticos, para uma unidade em luta no terreno e a quente, face a face às linhas favoráveis à arquitetura internacional fascista, cujo último ponto forte foi ganho em Léopoldville (Kinshasa), na sequência da sangrenta ascensão de Mobutu e das conjunturas que se desencadearam para alterar o MPLA, tendo como consequência a sua expulsão de Léopoldville!

Por essa altura a recém-formada Organização da Unidade Africana demonstrou o estado de confusão neocolonial que grassava no continente, reconhecendo apenas a etno-nacionalista UPA-FNLA (e o GRAE), como o legítimo representante da luta levada a cabo pelo povo angolano na sua ânsia de se libertar do colonialismo português.

Essa seria a sorte do MPLA, não fosse a clarividência, tenacidade e capacidade geoestratégica de Agostinho Neto enquanto líder do MPLA, que se apercebeu que os fatores externos procuravam por duas vias e aproveitando as conjunturas, alterar profundamente o carácter da luta, “domesticando-a”a favor de interesses cosmética e vagamente nacionalistas e aprontando-a para os desígnios que animavam, entre outros, os presidentes Kasavubu e Mobutu.

Os que seguiam Agostinho Neto, assumiram com coragem o “Victória ou Morte”, que ressoou como um grito de guerra nas fileiras, desde os CVAAR (Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados) à UNTA (União Nacional dos Trabalhadores Angolanos), passando pela própria organização e estruturas do MPLA.

Pouco a pouco atravessar o rio Congo entre Léopoldville e Brazzaville era assumir a vitória, caso se conseguisse alcançar o Congo, ou aceitar o risco de clandestinidade (conforme a de todos os militantes condignos), de prisão (conforme Chipenda e Toca), ou mesmo de morte (conforme o caso do Comandante benedito), caso sua detecção no espaço territorial do Zaíre.

Entre 1963 e 1966, em função da expulsão do MPLA de Léopoldville e a sua remissão à clandestinidade na capital do Congo, a FNLA assassinou, de acordo com o compêndio histórico do MPLA, citando várias fontes e o Memorando da Comissão de Reconciliação da OUA, 41 militantes, entre eles o Comandante Benedito.

2 – Alguns analistas, comentaristas e historiadores contemporâneos, argumentam de forma a “apagar” da visibilidade pública desde factos históricos segundo as experiências de vida individual, coletiva e institucional, pior ainda quando tendem a interpretar.

De facto esses analistas, comentaristas e historiadores, correspondem de forma “independente” (que predicado mais enganador) aos estímulos neoconservadores e neoliberais da época que estão a viver, beneficiando quantas vezes dos espaços públicos a que têm acesso (rádio, televisão, jornais, contactos de toda a ordem inclusive em fóruns, assembleias, etc.).

Correspondendo a conveniências, interesses, ingerências, ou manipulações de forma aberta, mas particularmente de forma velada, eles tendem a “apagar a história” com vista a impor narrações que em nada correspondem à época a que se reportam, tendendo a, por via de suas interpretações, “reinventar a história” em processos “revivalistas” que são úteis a quem servem… subvertendo de facto a história.

Fiquemos com esta extrapolação: se fosse possível levá-los à vida “transportá-los” à época a que se referem e apagar a sua vivência no presente como eles procuram “apagar” o passado histórico, eles estariam precisamente na pele das personagens mais retrógradas e mais negativas de África, no caso da experiência do MPLA em Léopoldville, ao nível provável dum Kasavubu, dum Mobutu, dum membro da cisão do grupo de Viriato da Cruz, ou dum Holden.

Ao procurar “apagar a história” para contá-la à sua maneira, essa gente assume um comportamento em tudo similar aos “jihadistas” do Estado Islâmico, que por causa da ideologia que os norteia destrói monumentos históricos milenares; as ideologias indexadas aos expedientes de capitalismo neoliberal, permitem a existência dessas pontes fundamentalistas, conforme aos conceitos neoliberais da “nova vaga pop” com o nome de Francis Fukuyama (“O fim da história e o último homem”)!…

De facto seguir entre 1963 e 1966 um líder como Agostinho Neto não era um processo fácil e nada tinha a ver com caprichos, por que naquela época havia toda a admissibilidade internacional, por reflexo neocolonial e sob pressão da internacional fascista, abrindo caminho na direcção etno-nacionalista (conforme à projecção conferida à UPA-FNLA, GRAE), ao mesmo tempo que se procurava a todo o transe, seguindo trilhas ideológicas repressivas mais diversas e processos de inteligência, processos policiais, ou processos militares, “apagar do mapa” sócio-político africano, o movimento de libertação!

Em 1963 e 1964 o MPLA teve uma verdadeira “prova de vida” face à expulsão e perseguições de que foi alvo em Léopoldville e uma das armas que o salvou numa fronteira de “Vitória ou Morte”, foi precisamente a doutrina e a ideologia materialista dialética com que Agostinho Neto fez a gestão a quente e enfrentando obstáculos de toda a ordem, que se saldaram na sobrevivência da maioria dos militantes como da instituição e isso ninguém poderá “apagar”!

Percebeu a revolução cubana, percebeu o Che, pelo que em 1965, a unidade de luta entre a revolução cubana e o movimento de libertação em África, abria uma página singular no âmbito do Não Alinhamento ativo, “multiplicando os Vietnames” então e garantindo hoje a lógica com sentido de vida que anima as relações fraternais entre Angola e Cuba!

Os iluminados pelas ideologias indexadas à terapia neoliberal preferem o “apagar da história” o carácter da trajetória do MPLA, para hoje introduzir a narração à sua maneira e respondendo docilmente aos incentivos das correntes dominantes (que lição a dos reflexos de Pavlov): assumem o mercenarismo tal e qual Francis Fukuyama, em 1989, no fim da chamada “Guerra Fria” e precisamente quando em África se aprestava o início do choque neoliberal (que em Angola teve impacto entre 1992 e 2002)!

Como cobardes não pegaram em armas, nem dum lado, nem de outro, enquanto durou o choque neoliberal (a guerra para eles não dava lucro e Fukuyama abria o caminho a iniciativas mercenárias de outro tipo)… pegam portanto agora nas canetas em plena terapia neoliberal (o que vai dando algum lucro, não ao nível de Francis Fukuyama, mas pelo menos na esteira dele, formatados pelos mesmos donos)!

Martinho Júnior. Luanda, 17 de Novembro de 2016, 41º ano de independência de Angola.

Imagens
- Mapa de África mostrando a expressão geográfica da internacional fascista com seu fulcro na África Austral e as independências de bandeira prontas, muitas delas, para a ambiência neocolonial. 
- “O fim da história e o último homem” e o “iluminado” Francis Fukuyama: a anestesia antes do choque neoliberal e um dos produtos injetáveis nas espectativas da terapia neoliberal!

Angola. I’M IN A DREAM (Estou num sonho)




Comemora-se hoje o Dia da Dipanda, os 41 anos da nossa Independência Nacional.

Normalmente há por hábito analisar o passado, o que se fez, o que se poderia e deveria ter feito e, principalmente, o que não se fez. Vou-me permitir ultrapassar este ramerrão e, aproveitando a época que se avizinha, o Natal, entrar na pele do Fantasma do futuro, o terceiro fantasma do autocrata, avarento e solitário Ebenezer Scrooge, personagem do livro “Contos de Natal”, de Charles Dickens.

Estou num sonho onde…

– As próximas eleições tiveram um comportamento normal numa democracia, onde a contestação, é a habitual, ou seja, onde todos ganharam, e os outros é que não ganharam e, no fim, todos ficaram satisfeitos com os resultados;

– Os deputados eleitos pugnam por defender os seus eleitores e os eleitores nacionais, mesmo que isso contrarie alguns interesses instalados dentro das cúpulas partidárias;

– Vamos ter eleições autárquicas e provinciais, com eleitos locais pelo Povo e não impostos pelo Poder Central ou pelos impulsos partidários;

– O nosso País entrou no Índice de Desenvolvimento Médio e caninha a passos largos para ser um País de forte desenvolvimento, com uma população onde a iliteracia é quase nula e a pobreza quase erradicada;

– O nosso Povo é muito farto, seja a nível cultural, seja a nível político, seja a nível económico. A Cultura, os Livros, estão totalmente à disponibilidade dos espectadores e dos leitores porque os preços assim já o permitem, dado que a nossa economia é forte, florescente e dinâmica;

– O Poder político e o poder económico complementam-se, dado que já não estão dependentes um do outro, nem colidem um com outro, e ambos respeitam e não se intrometem, no Poder Judicial;

– A Justiça é prenhe, rápida e justa, como é normal num País desenvolvido e respeitado, dado o inatacável carácter dos nossos juízes, totalmente soberanos, face a naturais pressões externas, e sempre equitativos nas suas decisões;

– O poder da escrita, da oralidade e da imagem do jornalismo ajuda a governar melhor o País, as autarquias, as províncias e deixaram de ser meios de transmissão destes ou de partidos, bem como deixaram de acobertar os interesses de cada um, e só defendem o interesse geral, do Povo;

– Porque as cidades, as vilas, as aldeias, as comunas estão todas com excelentes arruamentos, arborizadas, o saneamento básico que demorou mais do que era expectável, é já um dos melhores de todo o Continente. Ninguém tem falta de água canalizada, ligações aos esgotos com estes a serem tratados em excelentes estações de tratamentos de águas residuais antes de serem lançados para os rios e o mar, e, por esta via, as antigas doenças endógenas estão quase erradicadas; a energia eléctrica e o gaz estão em todas as nossas casas sem quaisquer impedimentos ou interrupções;

– As ligações ferro, aero e rodoviárias ligam o País de tal forma que conseguimos nos deslocar de um ponto ao outro sem entraves de índole alguma, principalmente desde que as linhas férreas foram todas electrificadas o que nos trouxe mais comodidade e segurança nas deslocações;

– A corrupção, que sabemos ser impossível de extirpar, é quase invisível; se há e provavelmente há, deve ser tratada em salas tão abscônditas que nem os mujimbos ou Mídias abordam.

– E outros factos que por ora não me ocorrem, mas que colocam o nosso País na linha do que todos os angolanos desejam.

O pastor protestante e ativista político Martin Luther King Jr. clamava “I have a dream” ou seja, tinha um sonho; eu não, “I'm in a dream”, eu vivo, eu estou no sonho!

E como Scrooge, que quando acordou do sonho que o 3º fantasma lhe proporcionou, também eu verei que pude realizar o que me foi predito e tudo o que acima descrevi aconteceu ou está a acontecer desde que entrámos no ano 42 da nossa Independência.

Quando um Homem sonha, o Mundo gira e acontece; quando um País faz sonhar o seu Povo este torna-o mais País e melhor!

Publicado no semanário Novo Jornal, edição 457, de 10 de Novembro de 2016, pág. 15 (saiu na véspera por razões técnicas)

*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

Esclarecimento PG: Alguns dos artigos que estamos a publicar (tal como este) foram cedidos ao PG em data atempada, só não foram publicados imediatamente devido a impossibilidades físicas da edição do PG que estamos a procurar superar para o regresso à normalidade. Aos autores e colaboradores, assim como aos leitores, apresentamos as devidas desculpas.

Guiné-Bissau. TIRAR O VÉU DA CARA DE UMA SUPOSTA E DITA “BOA DECISÃO”…


... DO NOSSO SO PRESI, SAÍDA DA REUNIÃO DO CONSELHO DE ESTADO

Abdulai Keita*, opinião

Eis minha gente toda, bissau-guineenses (Mulheres e Homens), mais um episódio da nossa presente saga; de mais uma vaga; de mais uma nossa situação de crise de governação; mas esta vez, uma das mais desnecessárias de todas as mais desnecessárias tidas até aqui, em curso no nosso país já há 15 meses e pico. E, que episódio de novo?

Citação: “[…] o Presidente da República tomou uma BOA decisão (boa, sublinhada por mim) de dar mais uma oportunidade para que a direção do PAIGC e o Grupo dos 15 se entendam em torno de uma figura para o cargo do Primeiro-Ministro” (fim da citação; cif. in: http://www.odemocratagb.com/conselho-de-estado-jomav-recomenda-o-dialogo-entre-o-paigc-e-os-15-para-apresentar-candidato-ao-primeiro-ministro/#com ments e http:// www.rispito.com/2016/11/reuniao-de-conselho-de-estado-outra-vez.html#comment-form; acessados, 10.11.2016 e os comentários apostados no dia 11.11.2016).

Este procedimento ou iniciativa do So Presi, saída de uma reunião do Conselho de Estado, um Órgão consultivo do So Presi; procedimento ou iniciativa devendo visar cumprir os ditames da atual, mais uma iniciativa de mediação da CEDEAO em curso, no tocante ao cumprimento do estabelecido no Acordo de Conakry; classificada num dos artigos dos dois aqui comentados, de “BOA decisão”, pelo So Nado Mandinga (um dos membros Conselheiros do So Presi no dito Órgão, dirigente do PCD e um dos dois Deputados deste Partido na ANP"); esta suposta e dita “BOA decisão” é uma asneira e ao mesmo tempo uma simples manobra de diversão. Porque senão vejamos.

O Acordo de Conakry e o Comunicado final da visita da S. Exa. Presidente da República da Libéria e Presidente da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, Sra. Ellen JOHNSON SIRLEAF mandam em uníssono, entre outros, a reintegração incondicional dos integrantes do dito “grupo dos 15” no PAIGC e sob o respeito irrestrito dos Estatutos deste Partido. Quais são as mensagens contidas neste ponto referente aos integrantes deste “grupo” nestes dois documentos?

Ao PAIGC: ‘que este Partido FAÇA UMA TABULA RASA sobre tudo aquilo que acha e constata ter sido, na base dos seus Estatutos, infrações muito graves de indisciplina, segundo ele mesmo, cometidas pelos integrantes deste dito “grupo dos 15” e, que, consequentemente, anule todas as medidas de castigos tomadas e aplicadas contra estes e outros seguidores do seu exemplo no seio deste Partido.

Que o benefício de uma tal concessão será para esta formação, a garantia da retomada da sua participação na governação do país, segundo a sua representatividade na ANP. A representatividade estabelecida pelos resultados do veredito das urnas, obtidos nas eleições legislativas de 13 de Abril de 2014’.

Ao “grupo dos 15”: ‘que todos os integrantes deste “grupo”, tal como o seu Partido, também FAÇAM UMA TABULA RASA sobre todas as razões tendo-lhes movidos e levados, segundo eles mesmos, à dissidência; e, que reintegrem a Bancada Parlamentar deste seu Partido na ANP, sem exigências de condições nenhumas deste ato. E que essa reintegração significa automaticamente a sua reintegração plena e total na vida partidária e parlamentar desta sua agremiação política.

Que o benefício de uma tal concessão para cada um dos integrantes deste “grupo” será, de um lado, a suspensão total e definitiva das sanções então pronunciadas contra cada um e, de outro lado, a retomada normal das suas funções e atividades normais dos Deputados da Nação no quadro da Bancada Parlamentar do PAIGC e consequentemente, no quadro da Estrutura Orgânica e do Funcionamento legal da ANP’.

Ao PAIGC e aos integrantes do “grupo dos 15”, juntos: 'que são exigidas a este Partido e seus 15 Militantes/Deputados dissidentes, o compromisso do respeito e/ou da aplicação, irrestritos, pelo menos até ao fim da presente IX Legislatura em Junho de 2018, de todas as normas estatutárias e demais regras regulamentais e procedimentais deste Partido’.

Ao país e ao povo em geral: ‘que, vendo tudo correr tal como exigido nos dois documentos em relação à reintegração dos integrantes do “grupo dos 15” no PAIGC, ver-se-á garantida doravante na Guiné-Bissau a governabilidade do país inteiro, pelo menos, até ao fim da presente IX Legislatura em Junho de 2018; sem que ninguém mais se tema dos eventuais casos de instabilidades de governação, tendo a ANP como o palco, e, partindo dos conflitos do relacionamento Deputado/Partido na Bancada do PAIGC’.  

Ora, em vez de se velar agora e primeiramente no Conselho de Estado a aconselhar, com vista ao seguimento destas claras mensagens, contidas como visto, naquele referido ponto dos dois documentos, está-se efetivamente encorajar os integrantes do dito “grupo dos 15” a outra coisa, a saber: ir negociar com o PAIGC, sua (atual e/ou ex-) formação, fora de qualquer enquadramento legal ou legítimo (cada um no seu bel-prazer?) a proposta de um candidato de consenso ao posto do Primeiro-Ministro. Antes da integração incondicional desta gente toda neste Partido sob o respeito irrestrito da disciplina interna deste mesmo. Tal como previsto e manda o Acordo de Conakry.

Por isso eu me pergunto, discernindo bem claramente e vendo tudo isto. Mas então, negociar como e fundamentando-se na qual estrutura política institucional legal ou legítima. Negociar em nome do que? Com cada um, um por um? Porque?! Para beneficiar o país inteiro e interesses comuns de todos nós? Não. Aí já se viu tudo no decorrer dos últimos 15 meses e pico. Neste sentido, nada foi até aqui, não é e nem será. Isto já se sabe. Por isso, mais uma vez, agir de tal maneira, pelos benefícios visados para quem? E já agora. Então, cada um dos integrantes deste “grupo dos 15”, já é uma instituição, sobretudo para o PAIGC e em geral?

Pois, até aqui, nunca ninguém ouviu falar destes integrantes dos “15” terem-se juntado e se constituído num Partido. Eles até aqui foram tidos e são Deputados individuais e isolados sem Bancada Parlamentar no seio da ANP (cif., Acórdão N°. 4/2016 do STJ do 14 de Julho de 2016), ou são Militantes/Deputados desviantes e expulsos do PAIGC. Ir negociar então assim com o PAIGC à luz dos dois documentos referidos mais acima, como?

Vê-se portanto. Com esta tal “BOA decisão”, quer-se é apenas contornar este um dos elementos centrais do Acordo de Conakry: “o respeito irrestrito da disciplina interna do PAIGC” no processo de reintegração incondicional dos integrantes deste “grupo dos 15” neste Partido. Repito. Uma exigência imperativa do Acordo de Conakry por razões evidentes bem claras, muito benéficas ao país inteiro e aos interesses comuns de toda gente que este alberga e toda sua gente da diáspora e amiga lá no estrangeiro. 
   
E eis sendo e visto assim, tudo se torna logo e com todas as evidências então muito claro. Quer dizer, TIRA-SE O VÉU DA CARA DESTA SUPOSTA E DITA “BOA DECISÃO”. Porque pois, vê-se logo que, com efeito, este ato vendido de ser a “BOA decisão”, afinal, não passa o nível de uma brincadeira! Ou mesmo e isto nesta atual situação e em relação ao assunto in causa, não passa o nível de uma asneira grande (que me desculpem pela expressão, mas não me vem outra possibilidade de caraterização do tal ato na mente neste momento). Portanto, nada de “BOA decisão” minha gente.

Mas há mais para além disto. Registar a formulação e a transmissão pública de uma tal suposta e dita “BOA decisão” (iniciativa ou procedimento), saída da reunião do Conselho de Estado, já foi dito antes, um Órgão de consulta do So Presi; é estar a atribuir agora a este Órgão prerrogativas executivas estranhas ao seu funcionamento. Eh? E, como isso? Sabe-se. Não é nada um Órgão executivo. Quem é político bissau-guineense que não sabe isso?!  Tenham paciência!

Essa suposta e dita “BOA decisão”, por isso, não vai surtir em nada. Mesmo que venha haver aqui e acolá uma ou outra reação seguindo o seu espírito. E eis por isso e porque repito. Esta ou cada outra tentativa qualquer indo neste mesmo sentido não passa de um simples ato de diversão. De, pelos seus protagonistas, com toda a probabilidade, em pleno conhecimento da causa; de se fingir estar a cumprir o Acordo de Conakry, sem estar a cumprir nada no seu sentido e espírito. Di-ver-são!

Mas eu ainda me pergunto, porque é que se está a tentar sempre criar casos de precedência deste género sem parar, desde já há 15 meses e pico? Porque reparem só, assim sendo, amanhã, amanhã, um outro grupinho, tal como este dos “15”, por interesses mesquinhos (pois, no meu ponto de vista, estes tornaram-se dissidentes por meros interesses mesquinhos), também vai fazer seus arranjos, saí por exemplo, do PRS ou de uma outra agremiação política qualquer (este género de situação está neste exato momento em curso também no seio do próprio PCD, Partido dirigido atualmente pelo So Vicente FERNANDES, já foi dito mais acima, cujo So Nado Mandinga é um dos dirigentes e Deputado da Nação na ANP); sai portanto fora da disciplina interna da sua agremiação política, e o nosso So Presi manda esta ir negociar com o tal grupinho. Fora de todas as regras de funcionamento interno da mesma. Para onde é que vamos ainda parar com estas asneiras todas?

Desde a eclosão (des-ne-ces-sá-ri-a) desta presente vaga da situação de crise há 15 meses é sempre assim. Sem parar! Em vez de resolver um problema imediato e urgente colocado à frente de todos sobre mesa por uma solução simples, efetiva e duradoura, também à vista de toda gente, cria-se é um outro problema ou bases institucionais estruturais de criação (fontes) de uns futuros outros problemas. Basta, minha gente.

Cumpram os Acordos assinados e plenamente assumidos junto da CEDEAO e da Comunidade Internacional e, diante do Povo bissau-guineense, e ponto final.

Bom, fica aqui esta última esperança minha neste assunto. Espero que o PAIGC e sobretudo a sua atual Direção não entre nesta asneira e mais uma manobra de diversão do So Presi. O Grande Dono de toda esta presente vaga da atual situação de crise e, neste preciso momento, do Bloqueio institucional total do país. Que isso, registado aqui, em como a verdade “seko kan” seja dita, pela honestidade intelectual e tudo mais da minha parte.

Obrigado. Boa sorte para todos nós bissau-guineenses (Mulheres e Homens). Que reine o bom senso.  Amizade. A. Keita

*Pesquisador Independente e Sociólogo (DEA/ED); este texto foi publicado primeiramente nas suas duas versões iniciais de rascunho nos Blog “Rispito” e em “O Democrata”, no dia 11 de Novembro de 2016. 

Esclarecimento PG: Alguns dos artigos que estamos a publicar (tal como este) foram cedidos ao PG em data atempada, só não foram publicados imediatamente devido a impossibilidades físicas da edição do PG que estamos a procurar superar para o regresso à normalidade. Aos autores e colaboradores, assim como aos leitores, apresentamos as devidas desculpas.

Angola. A FACE OBSCURA DA DITADURA



Raul Diniz, opinião

Angola não é, nunca foi e jamais será um estado de direito democrático enquanto José Eduardo dos Santos permanecer no poder. Apesar do MPLA, partido que sustenta o poder oligárquico afirmar reiteradas vezes, que existe no país um regime democrático, a sociedade sabe que num país democrático não se discutem sucessões de presidente da república.
A sucessão presidencial é por si só uma zona cinzenta difícil de transpor por estar revestida de uma relevante inconstitucionalidade gravosa.

O instituto da presidência da republica, não lhe atribui o direito de articular a possibilidade constitucional aceitável, da sucessão presidencial. Para se chagar ao poder, a constituição prevê a realização de eleições livres e justas, esse é o único quesito regulamentado, que visa possibilitar a alternância do poder.

Por outro lado, a constituição não se omite em relação à alternância do poder. Mas, em relação à sobreposição da sucessão imposta pelo MPLA não possui a solidariedade da sociedade civil inteligente ativa.

Além de controversa, a sucessão presidencial gera conflitos institucionais por transpor polemicas variável, que visa em absoluto silenciar a constituição e a lei.

Esse propositado silêncio é propositado, oportuno, e necessário, por tratar-se de um ato de rebelião institucional, resultante de uma severa inconstitucionalidade, expressamente antirrepublicana.

Pensar Angola é um estado de direito democrático, é o mesmo que concordar que os países administrados por sociedades secretas e/ou as organizações criminosas secretas, sejam igualmente consideradas democracias.

Aqueles que afirmam existir em Angola uma democracia sã e estável, são autênticos maníacos desequilibrados, e ilustres refratários patéticos que vive em fragilizadas redomas exotérica.

De confusas realidades surrealistas. Justiça poética

Algumas dessas pessoas protegidas do regime vivem assustadas, rodeadas de uma extensiva confusão surrealista. Elas disseminam sentimentos desprezíveis envenenados de ódio inaceitáveis, contra a maioria do cidadão que não se reveem nas suas politicas destorcidas.

Por fazerem parte de um reduzido grupo de pessoas privilegiadas, elas são facilmente identificáveis.

Eles apoiam a recondução do ditador JES para continuar a paralisar o país e as liberdades democráticas por mais 4 anos. Como considerar essa gente fantasmagórica? Socialmente essa gente não passa de parasitários serviçais e bocas de aluguer do regime, e da família do ditador.

A conduta politica do chefe da ditadura é a de um vulgar proscrito criminoso que a muito o deveria estar na cadeia, lugar para onde tem enviado injustamente os seus adversários.

O poder em Angola é modulado e conduzido por mentes acrofobias com medo de cair do alto do poder. Aliá, os defensores da absurda tese surrealista de Angola ser um estado de direito e democrático, são os mesmos obtusos antirrepublicanas, que transformaram o país um estado permissivo, e subliminarmente corrosivo.

Aprendi a duras penas e entendi que sou eu que tenho sempre que escolher as batalhas que tenho que travar em meu beneficio e do próximo.

Porém, para entrar numa guerra, o único modo de vencer, é entrar para ganhar.

Como pôde um governo totalmente derrotado na guerra da inclusão social ao longo de 37 anos de poder vir agora pregar que é forte e está preparado governar o país por mais 4 anos? Em politica não existe milagres para realizar a tão sonhada economia autossustentada.

Em mais de três décadas e meia o governo do MPLA, não conseguiu satisfazer sequer as necessidades mínimas do povo, que magica utilizará para retira-lo da crise profunda em 4 anos!

Por si só isso é uma extremoso indicador comprovativo de que a conduta politica do MPLA partido social do partido que sustenta a ditadura que controla o regime em Angola na sua gênese é imoral e antissocial.

Improcedente, e inegavelmente contraproducente na sua melhor e mais extensa avaliação da situação sociopolítica e econômica e financeira.

Por outro lado, a vontade do ditador querer a todo custo tentar permanecer no poder com jogadas dúbias, demonstra uma gritante falta de escrúpulos e inegavelmente criminosa sem solides democrática nenhuma.

O MPLA não pode continuar a brincar nem a fingir que governa o país, quando na verdade açambarca toda riqueza financeira resultante da comercialização do crude e dos diamantes, transferindo-as para inúmeras contas offshore no exterior do país, em beneficio dos governantes.

De facto, a única realidade em concreto criada pelo partido que governa o país há mais de 40 anos, é a desesperança infletida na fome e na miséria, motivo, que fundamenta a desunião.

Honestamente fica difícil entender a motivação que estão por detrás do anuncio do governo, que cria o “Programa de redistribuição do Rendimento”, com a finalidade de articular uma maior inclusão social.

Como acreditar na eficácia desse enunciado fundo, uma vez o país estar afundado em dividas até o pescoço?  Os credores externos não param de cobrar as dívidas contraídas pelo regime.

Por outro lado, o regime tem a perna os estados Unidos da América, que o pressiona todo o instante a clarificar sua politica fiscal e bancaria. Washington está deveras descontente com as sucessivas violações do regime às regras de compliance.

Os bancos e empresas nucleares de grande dimensão estão nas mãos dos filhos do presidente da republica, assim como as finanças do país.

A pergunta que não quer calar é: Aonde irá o governo buscar dinheiro para esse publicitado fundo?

Esquisito mesmo é o silêncio sequioso face á dimensão ampliada da crise que atropela o país em todas as esferas de desenvolvimento integralizado da economia. Ainda que o PR a apelide de crisezinha temporária, Porém, esse sentimento de JES não é partilhado pela maioria absoluta dos angolanos.  

Em breve conheceremos o verdadeiro nome dessa proclamada crisezinha segundo o presidente do regime, o nome real e/ou verdadeiro dessa crise, em absoluto se chamar em breve hiper-recessão.   

Esclarecimento PG: Alguns dos artigos que estamos a publicar (tal como este) foram cedidos ao PG em data atempada, só não foram publicados imediatamente devido a impossibilidades físicas da edição do PG que estamos a procurar superar para o regresso à normalidade. Aos autores e colaboradores, assim como aos leitores, apresentamos as devidas desculpas.

Angola. ANÁLISE AO DISCURSO SOBRE O ESTADO DA NAÇÃO




Na sessão solene de abertura da quinta sessão legislativa da III legislatura referente ao ano parlamentar 2016-2017, antes das previstas eleições do próximo ano, o senhor Presidente José Eduardo dos Santos proferiu a o habitual discurso do Estado da Nação de que respigo alguns dos principais pontos e os comento.

Reportam, única e exclusivamente, a minha visão e análise do seu discurso e, como tal, assim devem ser lidos os pontos que segue, sendo que a cada ponto corresponde uma citação do senhor Presidente Eduardo dos Santos a que segue o meu comentário:

1. Reafirmou uma vez mais que «tanto o clima de paz como o normal funcionamento das instituições são já uma realidade [que contribuem para] o pleno desenvolvimento económico e social do nosso país.»

Comentário: Das suas palavras ressalta que só na Via Expresso, de Luanda, ainda poderão ocorrer actos de “ataques bombistas”(??!!), e em todo o resto do País, está tudo calmo; será? não é isso o que transpira da província de Cabinda, dado as constantes palavras que as autoridades políticas e militares da província fazem para reforçar que há Paz: teria sido oportuno que o senhor Presidente tivesse aproveitado a sua alocução para pôr fim a eventuais e persistentes especulações!

2. Reafirmou que «Um dos caminhos escolhidos para sairmos dessa crise é a diversificação da economia», por sinal não é uma ideia nova e que muitos já a haviam pedido factores diversos a atrasou como «o levantamento e a sinalização das zonas minadas» sendo que estas impediam o «desenvolvimento da agricultura familiar ou da agricultura comercial» e reconstruir as vias rodoviárias e o aparelho habitacional, pela via de «Desminar, reconstruir, reequipar e reorganizar.»

Comentário: Há muito que, de facto, se vem rogando essa diversificação e a mesma, assumamos, não se verifica; mantém-se a forte dependência do petróleo. Espera-se que a crise tenha servido para as autoridades económicas se decidirem em apontar as directrizes para outros ramos económicos rentáveis, sejam minerais, industriais ou – até porque temos excelentes condições para isso – o turismo! A questão da desminagem do País e o desenvolvimento subsequente tem vindo a ser tratados ao longo dos anos, desde a implantação da Paz em 2002.

3. Ainda sobre esta matéria afirmou não podermos « falar do nosso país como se estivéssemos a falar de Portugal, de Cabo Verde ou do Senegal. A nossa história não é igual nem parecida com a dos outros.»

Comentário: Como comparar países e locais não comparáveis, nomeadamente Cabo Verde, um país sem recursos naturais, que possam ser comparados com os nossos.

4. «A implementação dos Projectos Estruturantes de Investimento Público aprovados durante o mandato está em curso e a bom ritmo» ressaltando os andamentos da 2ª fase da Barragem de Cambambe, a construção da de Laúca, bem como a construção da Central do Ciclo Combinado do Soyo, de gás natural, todas para 2017.

Comentário: Como Roma e Pavia não se fizeram num dia e porque a recuperação das infra-estruturas hidroeléctricas não são passíveis de rápida resolução, compreende-se que só agora as mesmas comecem a dar o seu pleno contributo para a tão desejada e carecida (re)electrificação do País; ainda que algumas pequenas já pudessem ter dado um maior e mais rápido contributo, como, no caso de Luanda, a barragem das Mabubas, para não ter acontecido o que muitos luandenses fartaram-se de reclamar: a falta de energia eléctrica no momento que o senhor Presidente ia falar!

5. Sobre a nossa posição no IDN o Presidente firmou que registámos «um crescimento apreciável do Índice de Desenvolvimento Humano (…), graças (…) às melhorias verificadas nos domínios sanitário e educacional» e que o nosso IDH «está (…) acima da média dos países da África Subsariana» sendo o objectivo entrar «até 2025 ao Grupo dos Países de Desenvolvimento Humano Elevado».

Comentário: O estar acima da média da maioria dos Estados subsarianos é irrelevante quando nos encontramos na posição 149º com um valor de 0,532, considerado como índice de “Desenvolvimento Humano baixo”, inferior, por exemplo a São Tomé e Príncipe (0,555), Zâmbia ou Guiné-equatorial, os mais próximos! Todavia, é expectável muito em breve, apesar da crise económica e subsequente natural crise social, possamos rapidamente estar no índice de “Desenvolvimento Humano médio” face ao valor de STP que é o último deste índice!

6. «O Governo adoptou um Programa de Formação e Redistribuição do Rendimento, a fim de criar condições que possibilitem uma maior inclusão social.»

Comentário: Ainda deve aguardar que seja transposto para o papel a fim de ser devidamente implementado.

7. Na questão da habitação recordou que o «Executivo elaborou o Programa Nacional de Urbanismo e Habitação» e que no período entre 2013 e 2015, dada a conjuntura orçamental favorável, o Executivo apoiou, o investimento em novas centralidades.

Comentário: É indubitável que surgiram várias centralidades pelas principais cidades provinciais, mas longe dos valores já prometidos em outros anteriores discursos; recordo o 1 milhão de casas prometidas. E as críticas que arreigadamente se fazem ouvir e ler, seja nas páginas sociais ou de pessoas cuja honorabilidade é inquestionável, sobre, p.ex., Kilamba Kiaxi, faz-me a concluir que muito ainda há por fazer.

8. Ainda sobre a economia referiu o forte crescimento em 2014 e a retracção em 2015 devido à «queda brusca do preço do petróleo no mercado internacional», e que 2016, com o crude muito abaixo do previsto provocar «uma significativa redução das receitas fiscais do Estado» pelo que OGE 2016 foi revisto tendo por base um preço médio de 40 dólares/barril o que aliado à queda das receitas fiscais «levou a contracção da procura agregada da economia» e, com ela, à queda dos níveis de «actividade da economia não petrolífera» sendo que o sector não petrolífero que teve um crescimento de 8,2 % em 2014, cair para 1,3 % em 2015 e dever ficar no 1,2 % em 2016.

Comentário: Mais uma prova que a diversificação da economia já deveria ter sido real e efectivamente implementada há vários anos o que nos teria protegido, pelo menos o suficiente para que o impacto fosse menorizado, deste efeito sistémico que o senhor Presidente tão bem caracterizou.

9. Sobre a taxa inflação acumulada anual que estava num dígito e voltou a fixar-se em dois dígitos, em 2015, o Presidente citando o INE disse que «a taxa de inflação mensal que, em Julho, estava em cerca de 4%, baixou em Agosto para cerca de 3% e em Setembro para 2,14 %» levando a baixa dos preços de bens de consumo no mercado e um apreciável aumento do poder de compra dos salários e que a «nossa meta é conseguir uma taxa de inflação mensal de 1% ou menos.»

Comentário: Saúde-se que a taxa de inflação esteja a baixar. Ora, não esqueçamos que ainda recentemente ao mesmo INE no relatório do Índice de Preços no Consumidor (IPC), dizia que Luanda mostrava em Setembro uma inflação acumulada, a um ano, de 39,4%, um pouco acima dos 38,1% de Agosto e dos previstos 38,5% que o Governo inscreveu na revisão do OGE de 2016.

10. Sobre a criminalidade referiu que a «nível interno enfrentamos também o aumento da criminalidade violenta, a imigração ilegal e os crimes de natureza económica, em relação aos quais têm estado a ser tomadas medidas concretas de combate» pelo que há urgência de criar vontades visando aprofundar e consolidar a execução autonómica das devidas autoridades «com vista à efectiva implementação das medidas de natureza preventiva e repressiva de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo.»

Comentário: Não será só com o combate ao crime do “colarinho branco” que a criminalidade violenta, nomeadamente nas grandes cidades, vai diminuir. A Polícia terá de ser melhor apetrechada e os seus elementos objecto de uma formação mais avançada em termos de combate eficaz ao crime violento a que, também, não deve ser esquecida, a necessidade de melhor remuneração dos efectivos da Polícia Nacional para evitar casos como os apresentados recentemente e que terão levado ao suicídio de um dos seus membros visados.

11. «No plano externo há a considerar as ameaças latentes constituídas pelas crises e conflitos da África Central e da Região dos Grandes Lagos e pela pirataria marítima no Golfo da Guiné, para além dos novos paradigmas de crime organizado que se manifestam através da expansão do fundamentalismo religioso, do terrorismo transnacional, do tráfico de armas, drogas e seres humanos e dos crimes cibernéticos» a que, segundo o senhor Presidente «o Sistema de Segurança Nacional (Inteligência, Defesa e Interior) tem dado resposta capaz a todas essas situações de risco, internas e externas …)» e que a «defesa do território nacional, a garantia da paz e estabilidade e a preservação das nossas fronteiras, exigem que tenhamos Forças Armadas e de Segurança Nacional capazes, bem equipadas e bem treinadas» pelo que exigem um cuidado devido pelos seus orçamentos.

Comentário: É reconhecida a capacidade diplomática que temos evidenciado nestes dois polos críticos do continente africano, ainda que na proximidade da região dos Grandes Lagos, nomeadamente entre o Corno de África e esta região, se venha a verificar uma deterioração político-militar entre a Etiópia e o Quénia, como a ocorrida no passado domingo com eventual penetração de forças etíopes no país de Jomo Kenyatta. Todavia, e no que toca ao Golfo da Guiné é minha expectativa que ainda possamos fazer muito mais, tendo em conta o facto de termos a sede da Comissão do Golfo da Guiné no nosso País e da nossa marinha de Guerra estar em vias de ser melhor apetrechada, o que nos garantirá uma maior e melhor presença no Golfo para defesa das rotas marítimas e o combate à pirataria marítima, bem assim a defesa da nossa Plataforma Continental. Relativamente às nossas Forças Armadas e independentemente do que produziram e têm produzido em defesa do País e do Estado, há uma inequívoca necessidade de defesa da sua imagem perante as acusações que se vão reproduzindo relativo a eventuais presenças não bem-quistas de eventuais elementos das mesmas nos países vizinhos.

12. O Presidente Eduardo dos Santos na sua alocução sobre o actual sistema político global e face ao despontar das novas «várias potências com peso no plano internacional, em especial a Rússia e a China» podendo o mundo tender a se tornar multipolar, ainda que ressalvando a liderança dos EUA no pós-Guerra Fria e no sistema unipolar, não deixou de os criticar pelo uso da força interventiva «em várias partes do mundo para impor os seus próprios valores políticos, com resultados adversos [acabando por essa via] gerar mais instabilidade no Médio Oriente, na Ásia e em África» sem que com isso houvessem impor a paz ou desencorajar os movimentos terroristas, em particular durante as administrações de George W. Bush e de Obama, «cada um com as suas especificidades e com o beneplácito dos seus aliados» questionando qual será o rumo que «seguirá a política externa americana com o novo presidente que será eleito em Novembro» e quais serão as reacções da Rússia e de outras potências de desenvolvimento médio, se haverá um mundo mais seguro e qual o papel das Nações Unidas, sabendo que esta deveria ser a que melhor poderia construir na base do diálogo e do entendimento entre estes dois grupos uma «neutralidade mais activa.»

Comentário: Estranha esta tomada de posição tão crítica do Presidente Eduardo dos Santos aos EUA e apoiar um dos "contendores" no actual "conflito" russo-americano, quando a nossa linha diplomática mais recente mostrou saber bem como estar equilibrada face aos blocos políticos e económicos desta actual globalização. Ainda que expectante face ao próximo inquilino, parece perigoso, criticar os EUA estando este entre os nossos principais parceiros financeiros e económicos, mormente agora que a China parece ter deixado de conceder mais financiamentos SONANGOL?

13. Sublinhou a necessidade de ver «mantidos e reforçados os princípios da União Africana» quer no que toca ao não reconhecimento de governos saídos de processos anti-constitucionais, bem como sobre o acompanhamento e fiscalização dos processos eleitorais.

Comentário: Um sublinhar que, não fosse os caos recentes do continente africano de adulteração – pela via de alterações constitucionais a pedido – de processos eleitorais visando a permanência de alguns líderes no Poder; não são Golpes anti-constitucionais porque derivam de alterações constitucionais, mas são política e moralmente iníquos.

14. «Que o registo eleitoral em curso, bem como as Eleições Gerais [de 2017] (…) se pautem pela lisura e transparência, (…) expressem e correspondam, de facto, à real vontade dos eleitores do país. Que cada um (…) livremente a escolha [quem] entendem que devem governar o país» e que «não só o Estado, mas também os Partidos Políticos, a Sociedade Civil, as Igrejas e todos os cidadãos assumam com responsabilidade (…), para que o processo seja realmente democrático e livre e decorra com normalidade e de modo exemplar» para que «possam corresponder às expectativas do Povo angolano no sentido de continuar a ter uma vida cada vez melhor.»

Comentário: Esperemos que todos os actores políticos nacionais tenham apreendido estas palavras do senhor Presidente! Os eleitores e o País agradecem!

©Artigo de Opinião publicado no semanário angolano Novo Jornal, ed. 455 de 28-Outubro-2016, Análise, página 14 e 15. (ver pdf).

*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

Esclarecimento PG: Alguns dos artigos que estamos a publicar (tal como este) foram cedidos ao PG em data atempada, só não foram publicados imediatamente devido a impossibilidades físicas da edição do PG que estamos a procurar superar para o regresso à normalidade. Aos autores e colaboradores, assim como aos leitores, apresentamos as devidas desculpas.

Angola continua sem voz activa na Comissão do Golfo da Guiné e na ZOPACAS



A presença de Angola na Comissão do Golfo da Guiné e na Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul motivou a presença dos docentes José Francisco Pavia e Gustavo Plácido dos Santos num debate organizado pelo moderador Eugénio Costa Almeida com o apoio do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE.

O colóquio serviu para explicar a importância de Angola nas duas organizações, bem como as dificuldades que se instalaram na região por causa da instabilidade política, mas sobretudo devido aos diferentes pontos de vista para terminar com a criminalidade que cresceu nos últimos anos.

No caso do Golfo da Guiné, o professor de Relações Internacionais da Universidade Lusíada, José Francisco Pavia, não teve medo em afirmar que se trata de “uma das áreas marítimas mais perigosas do mundo porque o objectivo passa por roubar petróleo e outro tipo de mercadorias“. No entanto, o maior problema daquela zona é o total desprezo pela vida humana por parte dos piratas que cometem ilícitos dentro das 12 milhas. Ou seja, nas águas territoriais. O docente português destaca a zona como sendo rica em “recursos naturais, embora em termos políticos seja marcada pela instabilidade política“.

Angola não tem tido uma voz importante na Comissão do Golfo da Guiné, mesmo que a sede da organização seja em Luanda. José Francisco Pavia entende que o governo angolano “poderia trazer a questão do alargamento da plataforma continental porque se trata de um tema com potencial futuro para o país“.

O funcionamento e relevância da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) mereceu destaque por parte do investigador do Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança, Gustavo Plácido dos Santos. Os problemas identificados para a cooperação na Comissão do Golfo da Guiné são os mesmos que não permitem a integração dos membros organização. O investigador destaca as “rivalidades regionais, disputas territoriais e a instabilidade económica e financeira” como obstáculos para o bom funcionamento. Gustavo Plácido dos Santos considera que “tem de haver um entendimento entre as várias organizações regionais“. Contudo, as respostas à pirataria, narcotráfico e pesca ilegal vai ser dificultada “por causa do aumento do comércio mundial no Oceano Atlântico“.

Fonte: Blog Democrat - Vídeo da Conferência aqui.

Na foto: José Francisco Pavia e Gustavo Plácido dos Santos num debate organizado pelo moderador Eugénio Costa Almeida com o apoio do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE.

DOIS MUNDOS DISTINTOS



Thierry Meyssan*

Aquando de uma importantíssima reunião do Conselho de Segurança —passada em silêncio pela imprensa ocidental—, a 28 de Outubro, os Estados Unidos opuseram-se a que a ONU coopere com as organizações regionais compreendendo a Rússia, e de facto a China. Recusando cooperar com outros, e portanto admitir que estes outros sejam parceiros iguais, Washington tomou a via de uma divisão do mundo em duas esferas distintas, e do fim da globalização económica.

Moscovo convocou uma reunião especial do Conselho de Segurança, a 28 de Outubro de 2016, para debater a cooperação entre a ONU e as organizações regionais. O embaixador Vitaly Churkin, que presidia o Conselho na altura, convidou os representantes da Comunidade dos Estados Independentes (o russo Sergey Ivanov, pela CEI), da Organização do Tratado de Segurança Colectiva (o general russo Nikolai Bordyuzha, pela OTSC) e a Organização de Cooperação de Xangai (o tajique Rashid Alimov, pela OCS).

Os três Secretários-gerais expuseram o trabalho das suas organizações: a cooperação entre os Estados da antiga União Soviética pela parte da CEI, uma aliança militar pela da OTSC, e de uma cooperação regional para estabilizar a Ásia Central no que diz respeito à OCS. Eles enfatizaram a sua contribuição junto das Nações Unidas em matéria de luta contra os tráficos de drogas e contra o terrorismo; dois temas que fazem a unanimidade da retórica internacional quando toda a gente sabe que estes flagelos são criados e controlados pelos Estados Unidos.

Quando tudo tinha começado bem, e os diferentes embaixadores, membros do Conselho de Segurança, se congratulavam com este novos ares, a reunião morreu após as intervenções dos embaixadores da Ucrânia e dos Estados Unidos. Preocupados em evitar que estas três Organizações não viessem perturbar o monopólio da OTAN e da União Europeia, eles acusaram a Rússia de todo o tipo de crimes e acusaram estas Organizações como sendo coberturas visando mascarar o expansionismo russo. A embaixatriz dos Estados Unidos concluiu que, nestas circunstâncias, não era possível encarar a menor cooperação da ONU com estas Organizações, aí incluída a OCS, quer dizer, igualmente com a China.

Reencontramos aqui a posição mantida por uns e outros durante a Conferência de Genebra 2: se em teoria todos estão juntos contra o terrorismo, Washington não concebe este problema como prioritário, antes coloca em primeiro lugar as exigências do seu imperialismo. Salvo que, desta vez, ela não atacou a Síria, mas vergastou a Rússia e a China.

O mundo paga assim a bruma que envolve a luta contra o terrorismo desde 2001. Lembremos que o terrorismo não é um inimigo, mas, sim um método de luta usado por inimigos.

Washington fechou, portanto, a porta de saída que lhe fora aberta. A administração Obama recusa reconhecer o desenvolvimento da Rússia, primeira potência militar convencional, e da China, primeira potência económica. Ela recusa deixar cair a organização unipolar do mundo que se instituiu a partir da «Tempestade do deserto», em 1991, e prossegue suas guerras no Levante e na Ucrânia, com o único propósito de cortar as duas vias de aprovisionamento terrestre da China para a Europa Ocidental.

Sabendo que a sua posição é insustentável a curto prazo e não desejando uma Guerra Mundial, Washington prepara-se para dividir o mundo em dois. Não deverá tratar-se de um regresso à Guerra Fria, onde o mundo era único, muito embora governado a dois. Mas, antes de uma estruturação nova: de um lado um mundo unipolar governado em exclusivo pelos Estados Unidos, do outro Estados independentes e insubmissos cooperando entre si em torno da Rússia e da China, e com o mínimo de pontes possíveis entre estes dois mundos. O que implica o fim das livres-trocas mundiais, da organização mundial do do comércio, da globalização económica e, portanto, de um gigantesco passo atrás.

Se persistir nesta direção, Washington deverá retirar-se militarmente da Síria e permitir que aí regresse a paz —salvo à fronteira Iraquiana onde manterá o corte da Rota da Seda—. Devido à acção dos Estados Unidos, desta vez, uma barreira intransponível deverá abater-se sobre o mundo e dividir a Humanidade do mesmo modo que o muro de Berlim tinha dividido a população da antiga capital alemã e separado suas famílias, durante quase um meio-século. Tornar-se-á, assim, muito difícil para os Sírios que fugiram dos jiadistas para o exterior retornar a casa e reunir-se às suas famílias. Será impossível para um ocidental ir de férias a Moscovo ou comprar computadores chineses.

Thierry Meyssan* - Tradução Alva - Fonte Al-Watan (Síria) – em Voltaire.net

Na foto: Os Estados Unidos recusaram, a 28 de Outubro de 2016, que a Onu coopere com a Organização de Cooperação de Xangai, aqui representada pelo seu secretário- geral, o tajique Rashid Alimov, com a desculpa da presença da Rússia na mesma. A OCS representa mais de 40 % da população mundial. - © UN Photo/Evan Schneider

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Mais lidas da semana