quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Angola. COLOLO DESMENTE SAKALA


João Cololo foi representante da UNITA na Holanda. Em entrevista ao Jornal de Angola, revelou o motivo por detrás da sua saída do partido do galo negro.

João Dias – Jornal de Angola

Diz ter trabalhado arduamente para o engrandecimento da UNITA no exterior, mas a desorganização, falsos compromissos e promessas vazias da parte dos dirigentes levaram-no a perceber definitivamente que não havia futuro ali. João Cololo revelou que o que mais o preocupa ao olhar para um partido da dimensão da UNITA é o modo como pretende levar a abordagem política do país numa perspectiva de tribalismo que mal conseguem camuflar.

Jornal de Angola - O que o faz desistir da UNITA?

João Cololo - Em primeiro lugar, o tribalismo e em segundo lugar a falta de transparência, os falsos compromissos e a desorganização… Estou agora no MPLA e muita gente dirá: foi comprado. Errado. Não estou no MPLA por dinheiro. Não faço política por dinheiro. Quero trabalhar no MPLA para contribuir para o bem do povo e acima de tudo, me revejo nesse grande partido. É preciso esclarecer que o motivo por detrás da minha saída da UNITA, não tem que ver com dinheiro. O que me fez sair desse partido é sobretudo o tribalismo. Mas além disso, está o falso compromisso. Se se é nomeado para um cargo, então devem ser dadas as condições para trabalhar com vista a conseguir resultados.

Jornal de Angola -  Alcides Sakala e Adalberto da Costa Júnior dizem que João Cololo nunca chegou a ser representante do partido na Holanda.

João Cololo -  A UNITA só demonstra que prefere a via da mentira. É incrível! Quanto ao pronunciamento de Alcides Sakala e de Adalberto da Costa Júnior, só posso dizer que é puro descaramento. No país e fora dele, conhecem-me como representante desse partido na Holanda e estou credenciado como tal e existem provas documentais que o atestam. Além disso, existem pessoas que testemunharam o acto de empossamento, falo do próprio Júlio Muhongo, que é representante do partido na Bélgica, a secretária da Jura na Holanda, o próprio filho do Sakala que é representante da Jura na Bélgica, bem como o representante da FNLA na Holanda, entre outros, marcaram presença neste acto. Portanto, parece-me que mais uma vez, a própria a UNITA revela o seu cinismo.
Diante disso tudo, o que me deixa tranquilo é o facto de dispor de documentos que contrariam todas estas alegações que a UNITA anda por aí a dizer a meu respeito. Tenho comigo o despacho de nomeação oficial assinado pelo presidente Samakuva e datado de 21 de Novembro de 2014. Ao longo de 2013 tinha sido indicado para o cargo, mas em 2014 fui oficialmente nomeado. Tenho também comigo uma declaração para tratar do passaporte de serviço datada de 7 de Dezembro de 2016. Documentos não faltam para desmentir a UNITA.
Além dos documentos, participei em diversos eventos do partido, como no congresso e fui apresentado aos militantes como representante do partido na Holanda, viajei com o Massanga ao Uíge nessa qualidade e quando cheguei receberam-me na qualidade de representante do partido. Quando tentam desmentir, apenas revelam quão mentirosos são.

Jornal de Angola - Sente que vai encontrar espaço no MPLA?

João Cololo - Com certeza. Cresci no MPLA e conheço o partido há bastante tempo. Não há dúvidas de que me vai dar espaço. Como partido maioritário, começou a jornada para democracia há muitos anos, isto é, desde 1978, quando o saudoso Presidente Agostinho Neto dizia que o MPLA era um partido socialista em vias de democratização. Este projecto não é de hoje. É já antigo. Democracia é liberdade nas suas mais diversas manifestações. E isso já existe no MPLA. Mas as pessoas confundem tudo isso, além de que muitas querem atingir o poder através da desorganização. Democracia não se compadece com violação sistemática da lei e falta de respeito à personalidade dos outros. Também não significa fazer manifestações nas quais se atentem contra o bom nome dos órgãos de soberania ou mesmo do Chefe de Estado. Manifestações desenfreadas são uma ameaça a estabilidade. Ainda temos partidos que se querem aproveitar da desorganização. Por isso incitam a instabilidade através de manifestações. Temos de esclarecer bem as coisas. Que o povo angolano tenha muito cuidado, nesta fase em que as eleições estão à porta. Já sofremos muito com a guerra e por isso não existe família alguma que não tenha perdido alguém na guerra. Todos nós perdemos familiares. Vamos escolher o MPLA que é um partido unificador e conhece a matéria governativa.

Jornal de Angola - Então a matriz ideológica do MPLA marcada pela unidade do povo angolano é a ideal para um país revestido de um assinalável “mosaico cultural”?

João Cololo - Sem dúvida. O MPLA tem uma matriz ideológica que é sobretudo agregadora, na medida em que não pretende deixar ninguém de parte ao contrário da UNITA que sugere uma pretensa protecção aos Ovibundos e a então UPA aos Bakongos. Agostinho Neto refutou, já naquela altura, todas estas posições ao afirmar “de Cabinda ao Cunene e do mar ao Oeste, somos um só povo e uma só nação”. Era para acabar com uma tendência, que caso pegasse, ia perigar a estabilidade da nação angolana e não teríamos o que temos hoje do ponto de vista de coesão social. O Presidente Agostinho Neto conseguiu unir o angolano num só povo. Pode crer que se fosse a UNITA a ganhar, hoje teríamos graves problemas de índole tribal, se fosse a UPA, seria a mesma coisa.

Jornal de Angola – Mas a UNITA tem quadros de diversas regiões.

João Cololo - Os que dirigem o partido são apenas pessoas do sul. O Raul Danda, que é de Cabinda e que assume a pasta de vice-presidente da UNITA, é apenas um toque para maquiar esta realidade. Já é tradição naquele partido ser dada a pasta de vice-presidente a pessoas do norte só para tapar a vista das pessoas sobre o tribalismo. Mas o vice-presidente é apenas uma estátua e existem reuniões em que nem sequer participa e ele nem conhece os segredos desse partido. Os únicos que conhecem a UNITA são alguns generais na reforma e aqueles que não sei por que razão combateram o Nfuka Muzemba.

Jornal de Angola – Então na sua opinião o futuro dos angolanos é com o MPLA?

João Cololo - Sim. O futuro dos angolanos é com o MPLA e digo: o MPLA poderá perder um dia, mas não agora. Tenho certeza que se o MPLA deixasse o poder, Angola entraria em colapso.

Jornal de Angola - Fala insistentemente numa questão algo delicada que tem a ver com o tema do tribalismo. Como se manifesta esse tribalismo dentro do partido?

João Cololo - Tentam esconder isso, mas essa é uma questão que vem sempre ao de cima. Trabalhei com o Osvaldo Sakala que é representante da JURA na Bélgica. Apesar de representante da Jura, era ele a quem os dirigentes pediam informações em detrimento do representante que seria a pessoa indicada. É que a informação dele era mais valorizada que a de um representante do partido. Quando uma delegação do partido ou um dirigente fosse ao exterior ou nos países de Benelux, a pessoa a quem pediam informação sobre o funcionamento da representação na Bélgica, era o Osvaldo, o filho de Alcides Sakala, que parece-me ser do Huambo, se não estou em erro. Outro caso caricato tem a ver com o mano Júlio, o sobrinho do Samakuva, que fez cair o partido na Bélgica. Ainda assim, foi a ele a quem recaiu a nomeação numa segunda ocasião. Vai chocar muita gente falar desse aspecto do modo como falo, mas é importante saber a verdade tal como ela é. Nisso tudo, se fosse um Bakongo, podes crer, a história seria diferente. Quando num partido a atribuição de cargos tem como critério o local de nascimento ou de onde se é natural, estamos perante um quadro que pede mudanças imediatas.

Jornal de Angola - Nunca lhe ocorreu chamar a atenção para este aspecto?

João Cololo - Quando se está numa casa e quando mal conheces as suas regras, enquanto as absorvemos, o melhor é engolir muitos sapos e aceitar muitas coisas. Tudo para podermos, no fundo, perceber como é o modo de funcionamento desta ou daquela organização. Foi o que tentei fazer ao longo destes anos. Mas se você estiver na sua casa e vires que o seu pai está a fazer coisas pouco adequadas, você pode dizer qualquer coisa para corrigir, pois tem certeza que o seu pai não te vai maltratar ou bater. Alguns partidos políticos aqui no país ainda não são democráticos, mas falam de democracia.

Jornal de Angola - O que quer dizer com esta afirmação?

João Cololo - Acho que democracia tem como base as diversas expressões da liberdade, o que permite entre outros aspectos, a que as pessoas se expressem livremente, mas sem abusar disso. Hoje o discurso sobre democracia não é tudo. O mais importante é a prática.

Jornal de Angola – Fala de desorganização num partido que se propõe ascender ao poder?

João Cololo - Em Kikongo há uma expressão que pergunta: “se a mosca fugir a ferida vai comer o quê? Isso significa que os hábitos das pessoas não são abandonados com facilidade. Ninguém abandona as suas atitudes de um dia para outro. Isso para dizer que todas as atitudes da UNITA são tidas como uma espécie de tradição e que tenho dúvidas que sejam capazes de abandona-las. Mesmo dentro do próprio partido há algo estranho. É que entre eles, diga-se, os do sul, o comportamento é bem diferente em relação a partidários de outras regiões do país.

Jornal de Angola - O que isso tem a ver com o provérbio?

João Cololo - Com o provérbio Kikongo quero apenas realçar que dificilmente a UNITA vai abandonar o que tem no seu ADN, ou seja, a sua atitude enquanto partido vai continuar. Com isso, quero chamar atenção para o que eles designam de projecto sul e que teimam em esconder. Eles têm um projecto sul, embora queiram demonstrar que é nacional para conseguir aceitação junto da população. É o alcance desse provérbio tomado numa perspectiva de analogia.

Jornal de Angola - Foi notando falhas ao longo destes anos que militou neste partido que o despertaram a ponto de desistir dele. Fez alguma coisa para mudança?

João Cololo - Sim. Mas a minha luta é em prol do angolano. Quando entro para um partido não o faço em nome de interesses pessoais ou dinheiro. Agora, para se encontrar soluções para o bem-estar do angolano temos de ser pessoas e partidos sérios e transparentes. Se não formos sérios, ainda que tenhamos bons discursos, o tempo vai encarregar-se disso. A desorganização que reina no seio da UNITA mostra, à partida, o grande problema que tem entre mãos, mas que tem pouco interesse em ultrapassá-los. É preciso que se perceba em definitivo, que por conta disso, a UNITA não está a altura dos desafios de Angola. Não está a altura de governar o país e não sei se há-de estar um dia.

Jornal de Angola- Há sempre uma e outra coisa que escape nas organizações e partidos, isso é natural e até humano haver uma e outra situação de desorganização. Não acha?

João Cololo - A UNITA não está a altura de governar Angola. Neste partido reina muita desorganização e olhe que é ainda um grupito. Não está a governar o país com 24 milhões de habitantes. Mas mesmo assim já vemos grandes sinais de falta de organização. Agora imagine a UNITA numa dimensão macro. A UNITA está vestida de pele de cordeiro, porque tem interesses. Mas se ganha o poder, já vão ver no que se transforma.

Jornal de Angola - Hoje os tempos são outros e olhando para aquilo que é a UNITA, acha que o cidadão o vê como partido alternativo ao poder ou a vencer eleições num futuro próximo?

João Cololo - Já falei com muita gente, o que permitiu notar que o povo angolano gosta muito do MPLA. Mas a crise está a provocar muita apatia. Por isso é que costumo a dizer que a UNITA quer aproveitar-se da crise para se agigantar. Acho que não vale à pena confundir isso com a afirmação de que o povo tem simpatia pela UNITA. A crise não é motivo para deixar de votar e tenho dúvidas de que alguém deixe de votar no MPLA para ir votar num outro partido.

Jornal de Angola - Olhando para tudo quanto disse, acha haver espaço para uma aposta da população na UNITA, ou seja, acha que a UNITA tem futuro?

João Cololo - A UNITA, quando perder mais estas eleições de 2017, tenho certeza que vai se começar a desenhar o seu fim. Ao perder, a UNITA vai “estragar-se”, porque as pessoas que fizeram a guerra pela UNITA e os que sempre o apoiaram, suportaram e alimentaram já esperaram muito. Tem muita gente que aos poucos vai perdendo a esperança nesse partido.
Acho mesmo que a CASA-CE vai superar a UNITA. O povo aos poucos vai percebendo que estava a aderir a um partido sem futuro. O Projecto da UNITA está prestes a cair. Mesmo o próprio Missanga Savimbi que estão a preparar para a futura presidência em 2019, não me parece ter capacidade para unir o angolano.

Jornal de Angola - Sente que o angolano está atento ao problema do tribalismo?

João Cololo - Os angolanos sabem. Mas é preciso lembrar que o povo funciona um pouco, permita a analogia, como capim que segue a direcção do vento. Para onde for o vento, o capim segue-lhe a direcção. O povo muda de cor num ápice. É complicado lidar com o povo. Mas sabe que a UNITA é separatista, divisionista e tribalista. Mas a crise dá-nos a falsa sensação de que eles ganham algum apoio. É mesmo ilusório. O tribalismo cria guerras e isso não é bom. Veja o que se passa na Líbia, Síria e Iraque ou em outros países africanos. São exemplos que devemos ter todos bem presentes.

Foto: Contreiras Pipas - Edições Novembro

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