Macau,
China, 08 fev (Lusa) -- Mário Mesquita Borges, autor do livro "Macau, as
Últimas Memórias de Portugal", considera que Lisboa manteve ao longo de
quase 20 anos um "desapego" e "desinteresse" em relação ao
antigo enclave, onde hoje apresentou a obra.
Macau
é desde 20 de dezembro de 1999 uma Região Administrativa Especial da China com
autonomia administrativa, executiva e judicial.
"O
que existe atualmente é uma perspetiva de completo desinteresse", disse à
agência Lusa o académico da Universidade Católica Portuguesa, que centrou o seu
estudo no período pós 1999, após a transferência de soberania de Portugal para
a China.
"Portugal
neste momento está virado para a Europa e sabemos que o futuro está algum na
Europa, mas também está no resto do mundo e, como é evidente, muito na região
da Ásia. Por isso penso que inclusivamente para a economia portuguesa seria de
muito interesse ter aqui interesses mais firmados e mais sedimentados, quer a
nível de estudos, quer da promoção da língua portuguesa 'per si'", afirmou.
Natural
de Macau, e com uma ligação familiar ao território desde os anos 1950, Mário
Mesquita Borges quis aprofundar essencialmente as questões da língua e do
património.
"Há
algum trabalho já feito a nível histórico, mas a nível interpretativo e de
estudos de cultura há muito pouca coisa especificamente sobre o caso de Macau,
e foi isso que procurei fazer", afirmou.
O
livro "Macau, as Últimas Memórias de Portugal" é publicado pela
editora COD em Macau.
O
académico diz que, "mais do que uma visão pessimista", tem "uma
visão realista" sobre o seu objeto de estudo: "E porquê? Porque nós
vemos que, infelizmente, no que toca por exemplo à administração portuguesa, o
que se verificou foi que a lógica era de facto de abandonar o território. Não
houve uma perspetiva de longo prazo que deveria ter havido".
"Estivemos
em Macau durante 400 anos (...), mas é por parte das autoridades chinesas que
se está a verificar essa vontade e essa procura da cultura portuguesa e o
interesse pela língua, muito também em virtude dos negócios que a China
desenvolve com os países de língua portuguesa, como é óbvio", observou.
Para
o académico, Portugal, "já antes do final do século passado devia ter
deixado instrumentos ou instituições que proporcionassem" a cooperação em
várias áreas numa lógica de continuidade. "Ou seja, mesmo que as
autoridades chinesas tivessem este manifesto interesse, agora nós também já
estávamos preparados nesse sentido", afirmou.
"Se
houvesse uma instituição criada pela administração portuguesa, mas que ficasse
como instituição de Macau, ou que fosse uma instituição ligada ao Estado
português numa ação de cooperação com o território, penso que seria mais
positivo, porque proporcionaria esse contínuo", adiantou.
Mário
Mesquita Borges vê como evidente "o interesse das autoridades chinesas em
virtude dos negócios que envolvem os países em língua portuguesa".
"Mas
daqui para a frente não sabemos se esse interesse se vai manter e, enquanto
participantes na história de Macau durante quatro séculos, acho que seria para
nós muito interessante termos essa possibilidade", acrescentou.
Questionado
sobre os esforços de Portugal para o estreitamento dos laços com Macau e a
China nos últimos tempos, Mário Mesquita respondeu: "Infelizmente, na
maioria das vezes há uma grande diferença entre o que é o discurso político e o
que é feito de facto".
"Mas
pergunto eu: será que vamos a tempo, vinte anos depois de termos deixado o
território? Sinceramente não sei. É importante fazer, não estou a defender uma
posição derrotista e dizer que não vale a pena nada fazermos porque isso seria
falacioso, mas questiono-me (...) nomeadamente com o desapego que Portugal teve
com o território durante todos estes anos", disse.
FV
// FPA
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