Díli,
08 fev (Lusa) - O Presidente da República timorense defende um reforço do
ensino do português em Timor-Leste, contestando a política de introdução das
línguas maternas no ensino público, "inventada" por líderes que, eles
próprios, não querem os seus filhos nesse sistema.
Citado
pela imprensa timorense, Taur Matan Ruak afirmou num encontro comunitário a
sudoeste de Díli que alguns dos "grandes" líderes do país podem
"dar-se ao luxo" de tentar aplicar a política de línguas maternas ao
"povo pequeno" porque os seus filhos não estudam em Timor mas no
estrangeiro.
"Este
programa [língua materna] foi apoiado pela esposa do grande irmão Xanana, mas
os filhos deles estudam em Austrália", disse no encontro que decorreu numa
igreja no suco de Maliubu, posto administrativo de Bobonaro, cerca de 120
quilómetros sudoeste da capital.
Taur
Matan Ruak referia-se à ex-mulher de Xanana Gusmão, Kirsty Sword-Gusmão, uma
das maiores defensoras da política de introdução das línguas maternas nos
primeiros anos do ensino escolar em Timor-Leste.
No
seu diálogo com a população local, e em respostas a perguntas concretas sobre
este tema, Taur Matan Ruak disse, segundos os jornais timorenses de hoje, que é
importante que as crianças saibam a língua oficial, o português, e que as
autoridades educativas não "deviam estar a inventar para ensinar as
crianças em língua materna".
Considerando
o português e o inglês armas para o desenvolvimento do país, o Chefe de Estado
disse que ele próprio tem os filhos a aprender na Escola Portuguesa de Díli e
não os obriga a saber falar a língua materna da sua região, o makassae.
"Os
meus filhos não são obrigados a saber falar a língua makassae, mando-os a
estudar na escola portuguesa, por isso eu quero que os professores ensinem os
estudantes em língua portuguesa", disse, citando no jornal Independente.
A
política de línguas maternas tem causado bastante polémica em Timor-Leste
apesar de haver entre os principais líderes do país um consenso maioritário de
defesa do ensino do português e do tétum, as duas línguas oficiais.
Individualidades
como José Ramos-Horta ou Mari Alkatiri, entre outros, contestam a política, com
este último a afirmar que a promoção do ensino em línguas maternas contribui
para "balcanizar" o país.
Timor-Leste
enfrenta sérias carências educativas, com falta de recursos humanos e materiais
e os críticos da introdução das línguas maternas argumentam que introduzir mais
línguas no ensino colocaria ainda mais pressão sobre o sistema.
Os
defensores desta política argumentam que ajuda a fortalecer as capacidades de
aprendizagem das crianças timorenses nos primeiros anos de escolaridade.
De
referir que os currículos atualmente em vigor em Timor-Leste só preveem que o
português comece a ser língua de instrução para componentes curriculares a
partir da 4.ª classe, dedicando ao ensino do português apenas 25 minutos por
semana no 1.º ano.
O
tempo real de ensino do português - que aumenta para 01:15 horas na 2.ª classe
e 02:30 horas na 3.ª e 4.ª classe - pode ser ainda mais reduzido, já que muitas
das escolas públicas, por falta de professores e demasiados alunos, usam um
sistema de turnos.
Apesar
dos currículos preverem períodos letivos de 25 horas semanais (5 por dia),
muitas escolas públicas dividem os muitos alunos - e ainda assim com salas
cheias - em dois turnos, pelo que os estudantes apenas têm 12 ou 13 horas
letivas semanais.
ASP
// SB
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