Vítor
Santos* | Jornal de Notícias | opinião
António
Costa colocou, ontem, durante o debate do estado da nação, aquilo que parece
ser um ponto final na crise do Governo, ao anunciar uma pequena reformulação,
que hoje apresentará a Marcelo Rebelo de Sousa. O desnorte durou meia dúzia de
dias. Veremos, no futuro, como será, porque a partir de agora a estrada
encolheu bastante para o primeiro-ministro. Qualquer desvio pode ser fatal.
Certo
é que, "obviamente", António Costa não demite nenhum dos seus
ministros. Também, era o que faltava... Se quanto ao trágico incêndio de
Pedrógão Grande ainda não conseguimos chegar a conclusões e, portanto, a
responsabilidades inequívocas, no anedótico, e preocupante, assalto a Tancos
percebemos à primeira, como se pode ver na edição de hoje do "Jornal de
Notícias", que a culpa está longe de ser do ministro da Defesa. Se assim
fosse, qualquer cidadão que deixa a janela aberta e vê a casa ser assaltada
poderia exigir a demissão chefe da esquadra mais próxima. Como bem sabemos, as
coisas não podem ser tratadas assim, apesar de as cabeças já terem rolado há
muito nas redes sociais e, sobretudo, ao nível do comentário político. Assumir
as falhas fica-nos bem a todos, ainda mais aos titulares de cargos públicos,
mas só faz sentido quando verdadeiramente somos responsáveis por elas. Ora,
seguramente no caso de Tancos, a tutela de Azeredo Lopes só por má-fé ou
interesse político pode ser colocada em causa. O mesmo não se pode dizer em
relação às cúpulas do edifício militar.
O
tema foi, claro está, passado a pente fino no debate de ontem. Com todo aquele
"swing" parlamentar, o estado da nação até parecia o Estado danação.
De um lado, o Governo e a defesa dos que o seguram, do outro a oposição, com
Cristas e Passos Coelho ao ataque. Do Executivo já falamos, resta perceber o
desempenho da alternativa. Não sendo extraordinário, é animador. Pelo menos, no
que respeita ao líder do PSD. O ex-primeiro-ministro continua a evoluir. E isso
é bom para o país. Constato que está, pelo menos, melhor aconselhado, bebendo
inspiração em fontes credíveis e com mensagens descontaminadas. Como Poiares
Maduro, evidentemente. Se pensarmos que, no rescaldo dramático de Pedrógão,
Passos Coelho se apoiou nas indicações fornecidas pelo provedor da Misericórdia
local para revelar informações falsas sobre pessoas que se suicidaram por falta
de apoio psicológico, desta vez socorreu-se de um post no Facebook do seu
ex-ministro Poiares Maduro, para discursar no Parlamento. Foi uma ótima ideia,
porque, pelo menos desta vez, não terá de pedir desculpa ao país.
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Editor-executivo-adjunto
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