Domingos
de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião
Rui
Rio e Santana Lopes deveriam estar preparados para vencer dois grandes desafios
na corrida à liderança do PSD: reconciliar o partido com o país e ter uma ideia
de futuro. Ganhe quem ganhar, que é o objetivo último, os dois já perderam onde
não podiam perder. O caminho do próximo líder será sempre mais difícil.
Tudo
o que podia correr mal está a correr pior. O debate enviesado e de dentro para
dentro, e não de fora para dentro. Os ataques diretos, ou por via da libertação
de informação para tentar comprometer o adversário. A fronteira ténue entre o
que defendem as candidaturas, resumindo a disputa eleitoral à escolha de um
perfil com base num cenário presente em que ambos estão fora do contexto.
Explicando.
O que é que Rui Rio, alavancado na mensagem do rigor das contas que todos lhe
reconhecem, tem para oferecer a um país que atravessou os dias duros da troika
com um partido no poder que anunciou o descalabro quando saiu do poder? E cujo
discurso, esvaziado pelos sucessos europeus de Mário Centeno, se aparenta tanto
com o passado?
E
em que é que Pedro Santana Lopes, o afetivo, se diferencia tanto do
"menino guerreiro" primeiro-ministro, que deixou o país de todas as
cores a suspirar de alívio com a sua saída do Governo, apesar do lastro que
entretanto os anos com certeza lhe deram?
Não
basta aos dois candidatos juras de recentrar o partido, descolando-o da Direita
onde ambos negam que esteja. Ou maiores promessas de equidade social, olhando
mais para as camadas desfavorecidas da sociedade, os idosos, as crianças, o
número elevadíssimo de pessoas que sobrevive à conta dos apoios sociais.
E
não basta porque o Governo PS, suportado pelos partidos à sua esquerda, tem uma
existência fundada na ideia de devolver aquilo que foi retirado. Ao Governo PS
basta ter os ventos da economia a soprar favoravelmente e não cometer muitos
erros. O que, convenhamos, não tem sido tarefa fácil nos últimos meses.
No
fim de contas, o que a campanha interna do PSD evidencia é que tudo se resume
aos sindicatos de votos e à capacidade que cada candidato teve de mobilização
no pagamento de quotas. Para chegar ao poder. É a campanha do multibanco e da
má língua. Não podia haver pior para expor a cegueira de um partido.
*Diretor-executivo
do JN
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