quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Portugal. FORAM 10 MIL MILHÕES PARA O MANETA



Paulo Núncio, secretário de estado dos assuntos fiscais de Passos/Portas, militante do CDS, foi o tal da falada “Lista VIP” que guardava em segredo absoluto os podres de uns quantos sujeitos que ele ou alguém consideravam VIP e valia aquela de “o segredo é a alma do negócio”. Pois. Tendencioso, o sujeito da artimanha.

Agora há esta dos 10 mil milhões que “fugiram” para offshores, assim, sem mais nem menos… Pois. Era então o tal Pauulo Núncio o tipo que devia controlar essas “coisas”, mas, coitado, andou tão ocupado a organizar a tal “Lista VIP” que escapou-lhe esse pormenor. E os 10 mil milhões lá foram. Foram, foram, um ar que lhes deu.

E vêm uns quantos (ou muitos) falar disto e daquilo, porque blá-blá passarinhos ao ninho, treteutéu-treteutéu… Pois.

Falta dizer: e a culpa vai morrer solteira, apesar de ser uma avultada roubalheira isenta de aNúncio e seus sequazes e sistemáticos pingentes da alta finança – que é para quem Núncio trabalha por sistema. Só faz parte dos governos de vez em quando. E isso dá jeito.

Foram 10 mil milhões para o maneta, livres de impostos e de responsabilizações. Ora vão ver se não.

Pois.

MM / PG

Quem é Paulo Núncio?

Antes de chegar ao Governo, o dirigente do CDS assessorou multinacionais no offshore da Madeira e o fabricante dos blindados no caso das falsas contrapartidas. No governo, destacou-se pela amnistia fiscal aos Espírito Santo que “lavou” as luvas dos submarinos e pela isenção milionária aos grandes grupos económicos.

O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais pode mesmo vir a ser o único sobrevivente da vaga de demissões dos responsáveis pelo fisco português. Paulo Núncio foi o primeiro a desmentir a existência de uma “lista VIP” de contribuintes protegidos das consultas dos funcionários da administração fiscal, para depois se ver desmentido pelos factos. Mas esta polémica, em torno da proteção do cadastro fiscal de Passos Coelho, Paulo Portas, Ricardo Salgado, Cavaco Silva e muitos outros, não é a primeira em que o secretário de Estado está envolvido.

No seu currículo de advogado fiscalista tem as sociedades Morais Leitão, Galvão Teles & Associados (MLGTS) e Garrigues & Associados, desde 2007 até à entrada no Governo. Na primeira, esteve ligado ao ramo do escritório para o offshore da Madeira, sendo representante da MLGTS Madeira Management & Investment SA(link is external). Esta sociedade foi apontada no livro Suite 605 como a criadora de um grupo de 112 sociedades com o mesmo nome, operação de clonagem que levou a investigações judiciais com origem em Itália. Antes das eleições de 2011, foi chamado por Paulo Portas para as reuniões com a troika, na altura apresentadas como “negociações”.

A maior amnistia fiscal de sempre ao dinheiro escondido no estrangeiro

Logo no primeiro Orçamento de Estado, é criado o terceiro Regime Especial de Regularização Tributária (RERT III), que permitiu a quem escondeu dinheiro em contas no estrangeiro legalizar a situação e proteger-se de futuras condenações a troco de uma taxa de 7,5% sobre o montante declarado. Ao contrário dos dois RERT anteriores, sob o governo Sócrates, este não obrigou ao repatriamento dos capitais, servindo apenas para os amnistiar. A descoberta do esquema de fuga de capitais revelado pela investigação Monte Branco levou ao prolongamento do prazo de candidatura a esta amnistia fiscal. Foi um recorde: 3.4 mil milhões de euros legalizados, mais do que nos RERT I e II juntos.

Entre outros negócios obscuros, o RERT III serviu para ilibar os dirigentes do Grupo Espírito Santo de qualquer acusação a respeito das luvas recebidas pela compra dos submarinos ao consórcio alemão, permitindo ao Ministério Público dar por encerrada a investigação. Paulo Núncio também esteve ligado aos RERT anteriores, mas então no apoio aos beneficiários, ao serviço da Garrigues & Associados. Em 2010, explicava esse regime aos seus clientes como uma “amnistia fiscal” que garante "um escudo protetor (relativamente aos valores declarados) de todas as obrigações fiscais e mesmo de todas as infrações cometidas”. Dois anos depois, falando ao Expresso sobre o RERT III, que criara enquanto governante, garantia que "o Governo rejeita expressões como 'amnistia fiscal' ou 'perdão fiscal'".

A isenção fiscal às SPGS

Poucos meses depois de entrar no governo, um despacho assinado por Núncio isentou os grandes grupos económicos do pagamento de milhões de euros em impostos. "Na prática, uma empresa que pague um euro de uma sua subsidiária pode estar isenta de milhões de euros das sedes dessas empresas", explicou na altura o deputado bloquista Pedro Filipe Soares.

O despacho sobre a tributação dos dividendos dos grupos com sociedades gestoras de participações sociais (SGPS) resultou da polémica venda da empresa telefónica Vivo por parte da Portugal Telecom, cujas mais valias avaliadas em 6 mil milhões de euros não pagaram um cêntimo de imposto. O labirinto montado para as SGPS por empresas de advogados como a de Paulo Núncio, com recurso a sociedades offshore ou paraísos fiscais como o Luxemburgo, permitia-lhes escapar a esta tributação. O despacho assinado pelo Secretário de Estado ajudou ainda mais as grandes empresas a escapar ao pgamento de milhões de euros em impostos. Em 2014, uma auditoria do Tribunal de Contas acusou o Governo de esconder a concessão de benefícios fiscais(link is external) às SGPS no valor de 1045 milhões de euros.

As contrapartidas dos negócios militares

Se foi com o RERT III de Paulo Núncio que os beneficiários do negócio dos submarinos escaparam à lei, o próprio Secretário de Estado teve um papel importante, enquanto representante da austríaca Steyr, no negócio-fantasma das contrapartidas pela aquisição de blindados para o exército. Na abertura do concurso, Paulo Portas era ministro da Defesa e coube também ao líder do CDS adjudicar a compra dos Pandur à empresa representada por Núncio. Essa decisão é tomada já depois de Jorge Sampaio ter demitido o seu governo e justificada com a promessa de que isso faria renascer a entretanto encerrada fábrica da Bombardier na Amadora. Sete anos depois, o acordo era denunciado por incumprimento de prazos e outras obrigações da Steyr, entretanto adquirida por um fabricante norte-americano. Só em 2014 houve acordo para terminar o litígio do Estado com a empresa.

Em declarações na comissão parlamentar de inquérito, em 2014, o empresário Francisco Pita, da Fabrequipa, empresa do Barreiro subcontratada para o fabrico dos blindados, afirmou ter sido “obrigado” a adquirir uma empresa sem qualquer atividade e que detinha os direitos das contrapartidas, a GOM. E quando a Fabrequipa é pressionada a assinar contrapartidas que não queria, Pita recorda a presença de Paulo Núncio em representação da Steyr. Já nessa altura, a maioria PSD/CDS protegeu Paulo Núncio, impedindo a sua audição e esclarecimento do seu papel neste negócio.

Esquerda.net - Foto Pedro Nunes/Lusa

Angola com 11 partidos e uma coligação reconhecidos a seis meses das eleições



Luanda, 22 fev (Lusa) - Angola conta com 11 partidos políticos e uma coligação de partidos legalmente reconhecidos, segundo a lista atualizada do Tribunal Constitucional a seis meses das eleições gerais no país, à qual a Lusa teve hoje acesso.

Esta listagem do Gabinete dos Partidos Políticos do Tribunal Constitucional indica os partidos que estão em condições de concorrer às eleições, como o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), presidido por José Eduardo dos Santos, no poder no país desde 1975, ou a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), presidida por Isaías Samakuva.

Igualmente com assento parlamentar na presente legislatura figuram nesta lista o Partido da Renovação Social (PRS), liderado por Eduardo Kuangana, e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), presidida por Lucas Ngonda.

Da lista oficial constam ainda o PADDA - Aliança Patriótica (PADDA-AP), o Partido de Aliança Livre de Maioria Angolana (PALMA), o Partido Nacional de Salvação de Angola (PNSA) e o Partido Pacífico Angolano (PPA).

Estes quatro partidos formam atualmente a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), coligação que concorreu pela primeira vez a eleições em 2012 e que é também reconhecida pelo Tribunal Constitucional.

O Tribunal Constitucional chumbou em janeiro o pedido de transformação da CASA-CE em partido político, conforme requerimento entregue pela direção daquela coligação.

A decisão ficou a dever-se aos desentendimentos demonstrados entre os partidos que constituem a coligação, liderada por Abel Chivukuvuku, que assim vão concorrer novamente coligados às próximas eleições.

O Bloco Democrático (BD), presidido por Justino Pinto de Andrade, que se viu impedido de concorrer às eleições de 2012, figura agora da lista de partidos reconhecidos em Angola.

O Partido Democrático para o Progresso de Aliança Nacional de Angola (PDP-ANA), presidido por Simão Makazu, e a Aliança Patriótica Nacional (APN), de Quintino Moreira, este último formado em 2015, fecham a lista de partidos reconhecidos pelo Tribunal Constitucional.

As eleições gerais em Angola ainda não foram convocadas, tendo sido anunciadas pelo Presidente angolano para agosto. Legalmente, tendo em conta a data da tomada de posse para o atual mandato, em setembro de 2012, as eleições devem ser agendadas no limite até 27 de agosto.

Apenas o MPLA divulgou até ao momento as listas de candidatos (círculos nacional e provinciais) às eleições, lideradas pelo vice-presidente do partido e ministro da Defesa, João Lourenço. De fora das listas, que ainda carecem de validação do Tribunal Constitucional, está José Eduardo dos Santos, chefe de Estado desde 1979.

PVJ // EL

Angola. A TODOS OS SAIAGOS DO MEU PAÍS!



Martinho Júnior, Luanda 

Todos os dias na ASPAR, Acção Social Para Apoio e Reinserção, Instituição de Utilidade Pública, enquanto Secretário-Geral tenho constatado quadros como este da pequena família Saiago, a que desejo ardentemente pôr fim!...

OS RESULTADOS ATÉ HOJE ESTÃO MUITO LONGE DE SER JUSTOS PARA COM MUITOS CAMARADAS QUE, SENDO DOS PRIMEIROS NAS MAIS DIVERSAS LINHAS DA FRENTE NA DEFESA DA INDEPENDÊNCIA E SOBERANIA DE ANGOLA, POR SUA MORTE JAMAIS BENEFICIARAM DUM MÍNIMO QUE FOSSE, EM NOME DA DIGNIDADE QUE MERECEM TODOS OS HOMENS!...

O camarada José Saiago era um dos decanos da comunidade (morreu com 82 anos e sua esposa, que morreu de desgosto logo a seguir, faleceu com 70) e o que aconteceu a ele e à sua esposa, jamais recebendo uma pensão de reforma por pequena que fosse, é humana, patriótica e solidariamente intolerável!...


FUI UM DOS FUNDADORES DAS FORÇAS ESPECIAIS DO BIÉ, SEI DO QUE FALO ATÉ À MEDULA, ATÉ POR QUE, ENQUANTO OFICIAL INSTRUTOR E COMBATENTE, SEI O QUE FOI EXIGIDO DESSES COMBATENTES QUE SE TORNARAM INDOMÁVEIS A PONTO DE, MESMO TENDO SIDO DISPONIBILIZADOS SEM PASSAGEM SEQUER DUM DOCUMENTO, DEFENDERAM A CIDADE DO CUITO DURANTE MESES, COM A CORAGEM QUE LHES É HISTORICAMENTE RECONHECIDA... MAS COM A INDIGNIDADE DE HOMENS DEIXADOS NO DESAMPARO, NO ABANDONO E NO ESQUECIMENTO!...

Além da foto do camarada ora desaparecido, imagens do cemitério-monumento dos defensores ignotos, caídos para que o Cuito não fosse tomado pelas mãos daqueles que sanguinariamente em Angola foram os instrumentos mercenários do "somalizador" CHOQUE NEOLIBERAL, entre 1992 e 2002, na sequência do tão malparado Acordo Bicesse!...


Imagens: Foto do camarada José Saiago, tirada por mim em 2013 (durante uma assembleia de combatentes) e imagens do cemitério-monumento da cidade do Cuito.

Angola. OS JOVENS E AS ELEIÇÕES



Jornal De Angola, editorial

Em Angola, onde a maioria da população é jovem, o maior segmento com participação expressiva nos processos eleitorais é igualmente aquele formado pela  juventude. Inclusive o processo de sensibilização e mobilização de boa parte das formações políticas conta com o papel activo da juventude, a montante e a jusante. Acredita-se que as lideranças actuais, fruto da sua própria experiência enquanto jovens militantes, compreendem exactamente o papel que os jovens desempenham como mobilizadores e mobilizados.


Grande parte das condições para que Angola vá às urnas em Agosto está a ser largamente preparada pela juventude, razão pela qual vale a pena apelar sempre aos mais velhos no sentido de olharem mais para este importante segmento. Escusado será dizer os sacrifícios que os jovens consentiram largamente para que Angola se mantivesse una, indivisível e inviolável de Cabinda ao Cunene. Não há dúvidas de que os actuais frutos da paz, estabilidade e da reconstrução devem reverter, de alguma forma, para a população maioritariamente jovem, tal como sucede em grande medida noutras esferas. Tem havido um esforço muito grande para a efectivação deste desiderato que constitui uma aposta permanente da governação, que deve continuar a aumentar e a melhorar com a participação dos próprios jovens.  

Numerosos apelos têm sido feitos para que os nossos jovens não se sintam marginalizados, não esperem quando podem ir ao encontro das soluções e que estejam sempre à altura dos desafios e oportunidades que as instituições e o país proporcionam. Fica mais fácil às instituições do Estado ajudarem quem verdadeiramente se ajuda a si mesmo em detrimento de quem cruza completamente os braços.  

O engajamento político dos jovens é importante para que os mesmos estejam devidamente esclarecidos, tenham maturidade cívica e política para a compreensão plena dos fenómenos que regem a vida em sociedade. Muitas das reclamações protagonizadas pelos nossos jovens, embora naturais e normais, resultam em grande medida da injustificada aversão à política e distanciamento para com os fenómenos políticos, entre outros factores. São, regra geral, estes factores que se constituem como ingredientes para a transformação de numerosos jovens como cobaias de formações políticas cuja actuação muito se baseia no imediatismo, oportunismo e demagogia. 

Os jovens precisam de estar presentes ali onde muitos dos seus problemas são avaliados, ali onde as soluções para os problemas são planeadas e onde o seu futuro é decidido. Não devem sentir-se adversos à política porque esse procedimento, a ausência completa do maior segmento da população na política, contribui para adiar a resolução dos seus problemas. 

As instituições juvenis dos partidos políticos têm uma grande responsabilidade porque não apenas constituem viveiros onde são preparados os futuros responsáveis, mas porque podem igualmente ser importantes plataformas para engajar os jovens. Acreditamos que se tivermos jovens muito bem informados, bem preparados do ponto de vista da concepção do papel da política na sociedade, vamos ter sucessivamente processos eleitorais exemplares no continente. E como a democracia depende menos dos ciclos eleitorais e mais do que efectivamente se passa ao longo destes intervalos, com a participação cívica e política activas, os jovens podem fazer a diferença.

As formações políticas devem continuar a apostar na juventude porque como disse há dias o candidato do MPLA a Presidente da República nas  próximas eleições, João Lourenço, referindo-se à crença do seu partido na juventude, “acreditamos que os nossos jovens, hoje ainda estudantes, tal como no passado, também nesta fase de desenvolvimento económico e social devem jogar um papel determinante para a construção de um futuro melhor para os angolanos.”

É também nossa crença que todos os partidos políticos, com pretensões de conquista, exercício e manutenção do poder, tenham os jovens como “razão de ser” de numerosas formulações para o desenvolvimento de Angola. 

Contar com os jovens pressupõe fazer bom proveito da força intelectual e da capacidade de empreender dos mesmos, tendo sempre Angola acima de todos os outros interesses. Aproximam-se as próximas eleições e temos certeza de que, mais uma vez, os partidos políticos vão contar com os jovens para as mais variadas tarefas, como o fizeram aquando do processo de actualização e registo eleitoral.

Nestas eleições, marcadas para Agosto, os jovens vão ter uma presença massiva, quer no arranque e realização das campanhas eleitorais, quer nas assembleias de voto, quer  ainda como votantes. Por isso, apelamos aos jovens no sentido de uma tomada de consciência sobre as responsabilidades e desafios que impendem sobre si. 

Em respeito à Constituição, à Lei dos Partidos, à Lei Eleitoral e a outros regulamentos que regem o processo eleitoral, na sua fase inicial ou posterior, esperamos que os partidos políticos sejam os primeiros a respeitar as leis do país ao contarem com a juventude. Pretendemos todos que o jogo político em Angola, sobretudo neste ano eleitoral, não fique refém de práticas que não dignificam a nossa democracia.

RISCO DE O BRASIL SE TORNAR UMA GRÉCIA É REAL, ALERTA ECONOMISTA



Com políticas de destruição do sistema de bem-estar social e de indução do desenvolvimento, país pode chegar a desemprego e recessão profundos, avalia Esther Dweck

Eduardo Maretti, da RBA – Brasil Atual

São Paulo – A estimativa do Banco Mundial de que a crise econômica brasileira pode levar, ou devolver, numa projeção mais pessimista, até 3,6 milhões de cidadãos a um patamar abaixo da linha de pobreza até o fim de 2017 pode impressionar, mas não é uma surpresa. Porém, a causa não é só a crise. Aliado a ela, cumpre papel importante para a previsão o desmonte das políticas públicas. Juntos, os dois fatores têm o potencial explosivo não só de consolidar, como também agravar a previsão e aumentar a tensão social.

De modo geral, as previsões não são nada otimistas. O mercado projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça apenas 0,5% em 2017. A professora Esther Dweck, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e secretária de Orçamento Federal entre 2015 e 2016 avalia que o risco de o Brasil viver uma situação similar à vivida pela Grécia é real. "Nã oestou nem um pouco otimista. Se o país crescer 0,5% este ano, o desemprego aumenta. Precisa crescer 2%, 3% para ter uma queda de desemprego razoável. A Grécia foi proibida de fazer política anticíclica pela Troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). No nosso caso, estamos abrindo mão pelas políticas de destruição do nosso sistema de bem-estar social e da indução do desenvolvimento". 

Entre outras consequências, os oito anos de austeridade fiscal imposta pelo sistema financeiro à Grécia levou a uma redução de cerca de 30% do PIB do país. Com isso, o desemprego está há cinco anos acima dos 20%, com impacto dramático sobre os mais jovens – 44% dos gregos até 24 anos.

"No médio prazo, medidas como a PEC que estabelece limites aos gastos públicos e a reforma da Previdência, tendem a eliminar o 'colchão', a rede de proteção social que, no Brasil, é bastante consolidada para um país em desenvolvimento, apesar de pequena em comparação com países desenvolvidos", diz Esther. "Eliminado esse 'colchão', o país fica mais vulnerável a convulsões sociais em caso de crise econômica, como a de agora."

Emblemático é o caso do Bolsa Família. O programa beneficia cerca de 14 milhões de famílias no país, foi importante não apenas como parte da "rede de proteção" como ajudou a movimentar a economia do país, mas foi estigmatizado por setores da população como "bolsa esmola". O governo Michel Temer parece estar de acordo com esses últimos. Embora não admita que quer diminuí-lo, está tentando acabar com uma das lógicas do programa, que fazia uma avaliação sobre se a simples saída da chamada "linha de pobreza" é motivo imediato da saída do beneficiário do Bolsa Família.

Para o governo atual, se a pessoa saiu da linha da pobreza, tem que deixar o programa. Mas essa política é uma das que subvertem sua lógica. "Quem está muito perto da linha da pobreza pode ter algum revés, perder a renda e precisar continuar no benefício. Havia um mecanismo mais sensível a quem está nesse limiar. O governo quer acabar com isso porque diz que a pessoa recebe assistência indevida, quando na verdade é uma preocupação com as flutuações de renda que acontecem com qualquer um", diz Esther.

Esse é apenas um exemplo. Na verdade, o que é mais urgente é a recuperação da economia. "Mas para isso é preciso que se tomem medidas concretas de retomada do crescimento, e também de medidas distributivas. Este ano o salário mínimo não teve aumento real. O Bolsa Família teve um aumento no ano passado, mas neste ano não foi anunciado nada."

A economista entende ainda que outras iniciativas poderiam ajudar a estender a proteção aos cidadãos atingidos no momento de crise. Por exemplo, a ampliação das parcelas do seguro desemprego, como foi feito em momentos de crise no passado, como em 2009. Outro exemplo: a devolução, pelo BNDES, de R$ 100 bilhões ao Tesouro Nacional em janeiro, dinheiro que poderia estar sendo usado para o investimento e o crescimento, inclusive no seguro-desemprego.

"Numa faixa no limiar da linha da pobreza, a pessoa fica muito mais exposta à crise com qualquer revés, por isso precisamos de mais mecanismos de proteção. Como todas as ações estão sendo feitas para tirar o que tem, e não para ampliar, a situação tende a ser bastante preocupante."

Crises nos estados

Enquanto isso, as crises nos estados pouco a pouco vão pipocando, como no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. A economista ressalta que existem particularidades nos estados, mas a queda de arrecadação em todoo país agrava as situações locais. "O Espírito Santo  é emblemático, porque de fato os policiais ficaram anos sem reajuste. Isso claramente tem ligação com o ajuste fiscal forte feito no estado (pelo governador Paulo Hartung, do PSDB)."

Já no Rio há o movimento dos servidores, que, como lembra a economista,  estão pagando a conta decorrente da enorme queda de arrecadação com a baixa dos preços do petróleo, já que a receita do estado é muito dependente dos royalties (o Espírito Santo também, embora em menor grau). "Em todos os estados e municípios está havendo queda de arrecadação muito forte. Com cada vez mais cortes nos gastos, vamos indo cada vez mais para o buraco", conclui a professora da UFRJ.

Ironicamente, em sua página da internet, o Banco Mundial, que não é nenhum organismo marxista, diz o seguinte sobre o Brasil: "Entre 2003 e 2014, o Brasil viveu uma fase de progresso econômico e social em que mais de 29 milhões de pessoas saíram da pobreza e a desigualdade diminuiu expressivamente (o coeficiente de Gini caiu 6,6% no mesmo período, de 58,1 para 51,5). O nível de renda dos 40% mais pobres da população aumentou, em média, 7,1% (em termos reais) entre 2003 e 2014, em comparação ao crescimento de renda de 4,4% observado na população geral. No entanto, desde 2015 o ritmo de redução da pobreza e da desigualdadeparece ter estagnado".

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EQUADOR. REBELDIA E ÊXITOS DE ESQUERDA SEM MEDO





Rafael Correa está muito próximo de eleger seu sucessor. Seu segredo: desprezar o “ajuste fiscal”, realizar política econômica contrária ao que exigiam os “sábios” neoliberais

Mark Weisbrot – Outras Palavras - Tradução: Cauê S. Ameni

Em uma mudança apoiada e bem recebida por Washington, a América Latina está vivendo, nos últimos anos, uma guinada à direita. As três maiores economias da região – Brasil, Argentina e Peru – têm agora presidentes de direita com estreitas relações com Washington e sua política externa. A narrativa-padrão do “Consenso de Washington” ignora qualquer envolvimento dos EUA na região. Para ela, os governos de esquerda eleitos na América do Sul nas duas últimas décadas surfaram no boom das commodities para conquistar vitórias populistas, promovendo assistência aos mais pobres e um gasto supostamente insustentável. Quando este boom entrou em colapso, prossegue a narrativa, também desabaram as finanças dos governos de esquerda e, consequentemente, seus destinos políticos.

Mas isso esta narrativa é exagerada e interesseira demais. O Equador é um bom exemplo de como um governo de esquerda obteve sucesso na última década por meio de mudanças positivas e criativas na economia política, assim como em reformas financeiras, institucionais e regulatórias.

Os detalhes também merecem ser observados. A experiência equatoriana mostra que boa parte da retórica sobre como a “globalização” restringe as escolhas dos governos e os obriga a agradar os investidores internacionais é falaciosa. Mesmo um país em desenvolvimento, relativamente pequeno e com renda média, pode adotar opções alternativas de política viáveis – desde que se elejam governos independente e responsáveis a ponto de considerar tais opções.

Os resultados de uma década de governo de esquerda no Equador (2007-16) incluem reduções de 38% na pobreza e 47% na extrema pobreza. Os gastos sociais, assim como o PIB, duplicaram – o que incluiu um aumento nos gastos com Educação e Saúde. A matrícula escolar aumentou radicalmente entre os jovens. As despesas com ensino superior, em relação ao PIB, tornarm-se as mais altas na América Latina. O crescimento da renda média anual per capita foi muito maior do que nos 26 anos anteriores (1,5% versus 0,6%). A desigualdade foi consideravelmente reduzida.

O investimento público mais que dobrou como percentual do PIB. Os resultados foram aparecendo amplamente em novas estradas, hospitais, escolas e acesso à eletricidade.

Rafael Correa foi eleito presidente do Equador em 2006 e assumiu o cargo em janeiro de 2007. Ex-ministro da Economia que estudou nos Estados Unidos, ele resolveu enfrentar alguns dos problemas estruturais e institucionais que impediam o país de avançar. A ação política do Estado havia sido tolhida devido à adoção, pelo Equador, do dólar norte-americano como moeda própria, em 2000. Isso significa que o governo não podia influenciar sua taxa de câmbio e estava limitado em sua política monetária. Isso reduziu a capacidade de agir do Banco Central como um credor de última instância para o sistema bancário.

Significa que o governo precisava ser mais eficiente e criativo, para exercer mais controle sobre o sistema financeiro. Em 2008, uma nova Constituição foi aprovada em referendo e o Banco Central – que antes era “independente” e limitava-se ao controle da inflação – agora fazia parte da equipe econômica do governo. Isso foi muito importante na coordenação da política econômica. O senso comum entre a maioria dos economistas – e um dos pilares do neoliberalismo – é que os Bancos Centrais devem ser independes dos governos eleitos. Na prática, isso significa geralmente que eles não precisam se reportar ao povo, mas a poderosos interesses financeiros.

Uma nova lei exigiu, em 2009, que os bancos equatorianos trouxessem 45% de seus ativos líquidos para o país; essa exigência aumentou para 60% em 2012, e o nível foi para 80% em 2015. Essas e outras reformas, que evitaram a fuga de divisas, foram essenciais para superar o primeiro desafio sério do novo governo: a crise financeira de 2008 e a recessão mundial em 2009. O Equador foi um dos países mais atingidos no hemisfério, já que os preços do petróleo despencaram e o governo dependia deles para manter a maior parte de sua receita. Outras grande fonte de dólares, as remessas – principalmente o dinheiro enviado para o país por equatorianos que trabalham no exterior – também entrou em colapso durante a recessão. Esse duplo choque poderia ter causando uma recessão prolongada ou uma enorme depressão, mas isso não ocorreu – graças ao aumento nos gastos do governo e um a uma vasta política de estímulo, em 2009. A recessão durou menos, custando cerca de 1,3% do PIB.

O outro grande choque econômico foi a queda, muito mais prolongada, nos preços do petróleo, que começou no terceiro trimestre de 2014. Então, o governo foi ainda mais criativo. Além de adotar políticas fiscais expansinistas (ou seja, de viver em déficit fiscal) o Banco Central criou dinheiro, comprando títulos públicos, em política semelhante ao “quantitative easing” praticado pelo Federal Reserve (o BC dos EUA). Mas os recursos foram usados como empréstimo, para mais investimento e gastos do governo. Foi uma ação inesperada, para um governo que sequer tem sua própria moeda – mas provou-se muito útil na recuperação da economia.

A decisão mais importante, porém foi talvez a mais heterodoxa. O governo impôs um leque de tarifas sobre as importações, utilizando a brecha oferecida pela Organização Mundial do Comércio (OMC) para salvaguardar países em situação de emergência em seu balanço de pagamentos. A redução das importações, em 2015-16, provocou um crescimento de 7,6 pontos percentuais no PIB, durante estes anos. Isso compensou reduções de gastos que o governo teve de adotar, quando as receitas caíram.

O governo de Correa e seu partido (Aliança País) foi capaz de alcançar assim progresso social e econômico consideráveis, apesar de duas recessões causadas por choques externos graves. Ao contrário do que prega a narrativa do Consenso de Washington, esta ação foi possível graças a grandes reformas institucionais, regulação financeira e decisões políticas inteligentes, muitas delas contrárias às receitas econômicas do neoliberalismo.

O fato de próprio presidente ser um professor de Economia e saber o que estava fazendo contribuiu com sua opção por um governo progressista, desde o primeiro momento. O governo de Correa, ainda assim, foi obrigado a enfrentar interesses econômicos poderosos – inclusive os banqueiros, que eram controlava a maior parte das emissoras de TV, no início do mandato. Em 2011, um referendo proibiu os bancos de possuírem canais (e vice-versa). Isso ajudou a reduzir a força dos banqueiros no debate público. Mas a mídia continuava a ser uma força partidarizada e de direita, como em outros países governados pela esquerda – a exemplo do Brasil, onde a mídia comercial liderou um esforço bem-sucedido para derrubar a presidente Dilma Rousseff.

O legado do governo de Correa foi testado nas eleições destes domingo, para a presidência e a Assembleia Nacional [Lenin Moreno, vice-presidente e candidato da Aliança País à reeleição lidera as apurações, com quase 40% dos votos. Caso atinja este percentual, não haverá segundo turno (Nota de Outras Palavras)]. Moreno é conhecido por seu ativismo, nacional e internacional, em favor dos portadores de deficiência (ele próprio está em cadeira de rodas desde foi atingido por uma bala num assalto, em 1998). Popular em seu partido e entre a população, promete ampliar as conquistas sociais e econômicas da última década.

O oponente mais próximo de Moreno é Guillermo Lasso – previsivelmente, um grande banqueiro – que promete redução de impostos, inclusive a eliminação dos tributos sobre ganhos de caital, o que pode beneficiar os grupos sociais enriquecidos. Lasso foi derrotado por Correa em 2014, por amplíssima margem. Outra oponente é a deputada Cynthia Viteri, que propõe desmantelar algumas das principais reformas de Correa, inclusive para restaurar a “autonomia” do Banco Central, remover os impostos sobre remessas de dinheiro ao exterior e reduzir o poder do governo central.

Qual a importância desta eleição? Como frisou Noam Chomsky, mês passado, “no início deste século, a América Latina começou, pela primeira vez em 500 anos, a livrar-se do imperialismo ocidental”. A “onda rosa” na Améria do Sul – cidadãos de países em desenvolvimento obtendo progressos sociais e econômicos por meio de eleições – é também um evento raro na história mundial. Muito poucas das histórias de desenvolvimento bem-sucedidas no século 20 e depois (China, por exemplo) deram-se em democracias eleitorais. Entre 2002 e 2014, a taxa de pobreza na América Latina aiu de 43,9% para 28,2%, depois de ter crescido nos vinte anos anteriores.

Tem sido difícil manter todos estes ganhos – soberania nacional, progresso social, democracia. A região depara-se com a desaceleração das economias mundial e regional; uma direita ressurgente que ainda controla a maior parte da riqueza, da renda e da mídia dos países; e, em alguns casos, os próprios erros dos governos de esquerda. Se tudo isso fosse pouco, há Washington, que teve, nos últimos 16 anos, uma única estratégia: livrar-se dos governos de esquerda que for possível eliminar, e assegurar-se de que eles não voltarão. Ninguém espera atitude melhor do novo ocupante da Casa Branca.

Não haverá alarde algum na mídia, mas tanto os apoiadores quanto os oponentes do movimento da América Latina rumo à independência e a governos progressistas no século 21 estarão muito atentos a esta eleição.

Foto: Professor de Economia, Correa apostou que era preciso ampliar o gasto social, em vez de cortá-lo. Os resultados deram-lhe razão; os eleitores parecem dispostos a fazê-lo também

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