Afonso
Camões* - Jornal de Notícias, opinião
Um
certo dia, passando revista às nossas tropas, milicianas e pouco disciplinadas,
o general comentou: "Não sei se meterão medo ao inimigo, mas a mim
fazem-me estremecer". O desabafo é atribuído ao duque de Wellington, um
dos estrategos britânicos que comandaram a resistência portuguesa às invasões
napoleónicas. Diante de uma ameaça, é dos clássicos que até por medo somos
capazes de matar só para não morrer. E hoje, é caso para estremecermos? Estamos
mesmo à beira de um novo conflito global?
A
inquietação é tão mais premente quanto se sabe que desde o final da Guerra Fria
que não se vendiam tantas armas no Mundo. A revelação consta de um relatório do
Instituto Internacional de Investigação para a Paz, com sede na Suécia, um país
tradicionalmente neutral, mas que, sete anos depois de ter acabado com o
serviço militar obrigatório, volta agora a convocar os seus jovens para a
tropa. Primeira incorporação já a partir de junho. E aos suecos juntam-se os
noruegueses e finlandeses no desejo de aderirem à NATO, o que, a acontecer,
alteraria profundamente a geopolítica dos últimos 70 anos. O pretexto destes
três países, entre os mais progressistas da Europa, é a vizinhança russa e a
sua histórica ambição imperial, no acesso e controlo do Báltico e agora também
sobre os recursos do Ártico.