domingo, 5 de março de 2017

CÉU CINZENTO SOB O ASTRO MUNDO


Afonso Camões* - Jornal de Notícias, opinião

Um certo dia, passando revista às nossas tropas, milicianas e pouco disciplinadas, o general comentou: "Não sei se meterão medo ao inimigo, mas a mim fazem-me estremecer". O desabafo é atribuído ao duque de Wellington, um dos estrategos britânicos que comandaram a resistência portuguesa às invasões napoleónicas. Diante de uma ameaça, é dos clássicos que até por medo somos capazes de matar só para não morrer. E hoje, é caso para estremecermos? Estamos mesmo à beira de um novo conflito global?

A inquietação é tão mais premente quanto se sabe que desde o final da Guerra Fria que não se vendiam tantas armas no Mundo. A revelação consta de um relatório do Instituto Internacional de Investigação para a Paz, com sede na Suécia, um país tradicionalmente neutral, mas que, sete anos depois de ter acabado com o serviço militar obrigatório, volta agora a convocar os seus jovens para a tropa. Primeira incorporação já a partir de junho. E aos suecos juntam-se os noruegueses e finlandeses no desejo de aderirem à NATO, o que, a acontecer, alteraria profundamente a geopolítica dos últimos 70 anos. O pretexto destes três países, entre os mais progressistas da Europa, é a vizinhança russa e a sua histórica ambição imperial, no acesso e controlo do Báltico e agora também sobre os recursos do Ártico.

QUE SUMAM! – POR SEGREGAÇÃO, PRECONCEITO OU BALA (com vídeo)


Baseado em livro de James Baldwin e em suas lembranças sobre Luther King e Malcolm X, documentário revela arsenal usado pela sociedade norte-americana para ocultar presença negra

José Geraldo Couto, no blog do IMS – Outras Oalavras

“A história do negro na América é a história da América – e não é uma história bonita.” A frase, dita pelo escritor James Baldwin (1924-87) a certa altura de Eu não sou seu negro, sintetiza muito bem o espírito do esplêndido documentário de Raoul Peck que concorreu ao Oscar da categoria.

O filme tem como eixo, ou ponto de partida, o livro que Baldwin estava começando a escrever quando morreu, Remember this house, baseado em suas lembranças pessoais de três ativistas negros assassinados entre 1963 e 1968, todos eles antes de completar quarenta anos: Medgar Evers (1925-63), Malcolm X (1925-65) e Martin Luther King (1929-68).

Não há, no documentário, narração em terceira pessoa, nem entrevistas recentes, nem letreiros explicativos. Todas as imagens são de arquivo e todo o texto que ouvimos é de James Baldwin, na voz do próprio escritor, em entrevistas e discursos de época, ou na do ator Samuel L. Jackson, quando se trata de trechos extraídos de seus livros e artigos.

O CARDÁPIO DE JUNCKER



Manuel Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Os cinco cenários apresentados esta semana pelo presidente da Comissão, como possíveis opções de rumo da União Europeia (UE) não passam, até agora, de um mero exercício retórico. Na apresentação de Jean-Claude Juncker ficou claro que os dirigentes europeus - desde logo a Comissão - não trabalharam o conjunto de questões a considerar para se poder definir uma visão de futuro para a UE. Os pronunciamentos que entretanto vão surgindo, vindos de governantes e outros políticos de diversos países e famílias políticas, confirmam-no. Ora, se tivermos presente que as "escolhas", agora apresentadas por Juncker, não estavam nos programas eleitorais com que os atuais governantes dos países se apresentaram aos respetivos eleitorados e que é impossível uma discussão e pronunciamento sérios por parte dos cidadãos a partir daquele cardápio, devemos perguntar: o que se vai discutir? Quem, como e quando se vai pronunciar sobre o futuro da UE?

No próximo dia 25, em Roma, os líderes europeus vão reunir-se e, por certo, tentar passar uma imagem e mensagens positivas sobre os "compromissos" que assumirem, mas isso não eliminará o somatório de fracassos e negações que o "projeto europeu" em curso vem acumulando. Seria um milagre surgir dali alguma proposição séria e positiva a apresentar aos povos.

Francisco Louçã: "Continuarei a dizer o que penso sobre os fracassos do Banco de Portugal"




Francisco Louçã está a caminho do conselho consultivo do Banco de Portugal mas isso não muda a sua opinião: o Banco de Portugal e o seu governador viveram "fracassos" graves na supervisão do BES e do Banif.

Francisco Louçã continua igual a si próprio, e nem a nomeação para o conselho consultivo do Banco de Portugal acalma as suas críticas à actuação da instituição. "Disse e continuarei a dizer o que penso sobre os fracassos do Banco de Portugal", afirma o economista em entrevista à Conversa Capital, do Negócios e da Antena 1.

O antigo líder do Bloco de Esquerda defendeu que Carlos Costa devia ter saído do supervisor no final do primeiro mandato, mas este acabou reconduzido por Passos Coelho. António Costa tem protagonizado alguns momentos de tensão com o governador, mas este é praticamente inamomível devido ao estatuto do banco central.

Quanto ao seu papel no conselho consultivo do Banco de Portugal, Louçã afirma que irá dar o seu melhor "para contribuir para um sistema bancário que seja credível". "Acho que é importante fazer esse trabalho. Acho que é importante dar esse contributo em todos os níveis em que ele seja possível".

O também professor universitário reconhece que, formalmente, o conselho consultivo do supervisor tem competências limitadas e restritas, mas considera haver margem para influenciar positivamente as práticas da regulação bancária.

A Conversa Capital pode ser escutada este domingo a partir das 13 horas na Antena 1, e lida na edição de segunda-feira (06.03.2017) do Jornal de Negócios.

Tiago Freire (Jornal de Negócios) – Rosário Lira (Antena 1), em Negócios

Catarina Martins: "Governo deve iniciar processo" de substituição do governador do Banco de Portugal




Catarina Martins considera que há falhas graves suficientes para destituir Carlos Costa, e garante que não vai aceitar constrangimentos orçamentais na regularização dos precários do Estado.

Em entrevista à TSF e Diário de Notícias, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) defende que existem "falhas de três tipos: falhas que permitiram pessoas serem enganadas aos balcões do BES, falhas que permitiram o banco continuar a ser gerido por quem não tinha condições para o gerir e falhas na prestação de informação na comissão parlamentar de inquérito".

Para Catarina Martins, o Governo deve iniciar um processo com base em falha grave: "A lei explica que é complicado mas não é impossível. A lei diz que a fundamentação para substituir um governador do Banco de Portugal (BdP) tem de se basear em falha grave, e pergunto de quantas mais falhas graves precisamos para iniciar um processo que nos parece essencial para proteger o país".

CARLOS COSTA “NÃO TEM CONDIÇÕES” PARA SE MANTER NO BANCO DE PORTUGAL




O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse hoje que o governador do Banco de Portugal (BdP) "não tem condições" para exercer as funções e que esta instituição não pode ser "uma sucursal do Banco Central Europeu".

"Há aí um facto que alguns descobriram agora e que o PCP afirmou desde há muito. O atual governador do BdP [Carlos Costa] não tem condições para exercer as funções", considerou o líder comunista, em Moura (Beja), no almoço comemorativo no Alentejo do 96.º aniversário do partido.

Perante mais de mil militantes e simpatizantes do PCP, segundo a organização, Jerónimo de Sousa argumentou que o partido "tinha razão quando se opôs à recondução" de Carlos Costa como governador do BdP "pelo anterior governo PSD/CDS".

E o PCP, continuou, "tem razão quando afirma que é preciso recuperar a soberania e a capacidade de decisão nacional porque, até para resolver este problema, o país está condicionado ao Banco Central Europeu (BCE)".

TEATRO DA DIDASCÁLIA – TERRITÓRIOS DRAMÁTICOS




Um novo encontro de teatro que lança um olhar sobre a diversidade do teatro português a partir de Joane

De 17 a 26 de Março, decorrerá em Joane o primeiro encontro de teatro intitulado de Territórios Dramáticos, promovido pelo Teatro da Didascália, projeto que tem como objetivo traçar ao longo dos anos, um olhar sobre a diversidade estética e artística do teatro produzido por todo o território português.

Sem excluir da sua programação propostas oriundas das grandes cidades como Lisboa e Porto, o Territórios Dramáticos irá acolher espetáculos produzidos a partir de regiões tão diversas como Vila Real, Fundão, Águeda e claro está Vila Nova de Famalicão.

Desde os anos 70, numa altura em que a oferta cultural na região era escassa, foi pela mão da Associação Teatro Construção, uma antiga e importante associação de teatro ainda em funcionamento em Joane, que se apresentaram, pela primeira vez na região, alguns dos mais importantes projetos teatrais do país: o Bando, a Barraca, a Casa da Comédia, o TEAR, a Seiva Trupe, O Teatro Experimental de Cascais, O Teatro Experimental do Porto, o Teatro Oficina, e muitos outros. O Teatro da Didascália, sedeado também em Joane desde 2008, criou este encontro por considerar urgente falar e refletir sobre um território com um passado fortemente ligado ao teatro, e a partir dele, conhecer e pensar outros projetos enraizados noutros territórios.

OS CRIMES DE ISRAEL


Artigo de resposta não toca no tema principal de nossa critica: embora divergentes em vários aspectos, esquerda e direita brasileira concordam com expulsão de milhões de palestinos de suas terras

A lista só aumenta: Duvivier e Wyllys ganham a companhia da senadora Kátia Abreu e dos senadores petistas Jorge Viana e Humberto Costa na defesa dos crimes de Israel

Arturo Hartmann e Bruno Huberman - ICArabe

Nesta semana, embarcou para Israel um grupo de parlamentares brasileiros com a missão de fortalecer as relações políticas e econômicas entre os países e aprofundar-se no conhecimento a respeito do conflito Palestina/Israel. O périplo de Kátia Abreu, Humberto Costa, Jorge Vianna e cia é financiado por organizações lobistas israelenses que atuam no Brasil. O resultado até o momento: postagem de azeitonas que não são israelenses, vídeos que falam da tecnologia de ponta da indústria local e discursos que alegam querer "compreender" a questão. Seria algo muito diferente do que foram fazer na região recentemente políticos e personalidades como Gregório Duvivier, Marcelo Crivella, Jean Wyllys e Jair Bolsonaro?

Escrevemos aqui para revelar o que o discurso sionista, em especial, aquele autointitulado de esquerda, escamoteia, confunde e omite questões importantes para o leitor. Quando dizem que são contra a ocupação israelense na terras palestinas, a que estão se referindo? E o que não se menciona? Omite-se que o Estado de Israel foi criado, em 1948, por meio de uma limpeza étnica do território, que provocou a expulsão forçada de 800 mil nativos palestinos e a demolição de 615 cidades e vilarejos palestinos [1] em um processo que deixou um rastro de massacres e expulsões forçadas: Deir Ayyub, Khisas, Balad al Shayk, o bairro de Wadi Rushmiyya (em Haifa), Lifta, Sa'sa, Qastal, Deir Yassin, Qalunya, Saris, Beit Surik, Biddu, Safad, Tantura, Lydd e Ramla. Que os territórios de Cisjordânia e Gaza foram ocupados militarmente, em 1967, por meio de novas expulsões e massacres - fatos que se repetem cotidianamente até hoje. Que a propriedade privada palestina tem sido sistematicamente expropriada legal e ilegalmente pelas autoridades israelenses, que constroem cada vez mais colônias, muros e rodovias para segregar e inviabilizar a vida palestina em todo o território - seja dentro de Israel ou nos Territórios Palestinos Ocupados. Importante observação: tudo isso realizado diretamente ou com apoio de dirigentes do sionismo de esquerda. Entendemos, portanto, que é fundamental que a opinião pública compreenda o que significa atualmente a proposta de dois Estados para a sustentabilidade desse projeto político.

ALBA! EVOCAÇÃO À PEGADA ARDENTE DE BOLIVAR


XVIII

AMÉRICA, NO INVOCO TU NOMBRE EN VANO


Cuando sujeto al corazón la espada, 
cuando aguanto en el alma la gotera, 
cuando por las ventanas
un nuevo día tuyo me penetra, 
soy y estoy en la luz que me produce, 
vivo en la sombra que me determina, 
duermo y despierto en tu esencial aurora:
dulce como las uvas, y terrible, 
conductor del azúcar y el castigo, 
empapado en esperma de tu especie, 
amamantado en sangre de tu herencia.

PABLO NERUDA – CANTO GENERAL

Martinho Júnior, Luanda  

Março chegou e com ele a pegada ardente de Bolivar volta a ressoar no coração dos homens que perderam o medo e se levantaram como um vulcão do martirizado chão da América!

Evocados estão os rios humanos com o manso espanto duma coroa feita bruma, ao amanhecer e as crianças já correm envoltas nas frescas manhãs que marcam a poalha dos passos insurrectos!

América húmida de lágrimas e de sangue, de ecos que se esbatem em fraccionados espelhos tisnados de verde espuma, mas vertical em suas veias abertas, liberta das lianas que como surpreendentes amarras emergem do breu, América radiografando o espaço e o tempo com os olhos de Chavez e de Fidel!

A Venezuela Bolivariana é como Cuba: latejante fluxo de lutas que como torrentes brotam desde Bolivar e Marti, desde Fidel e Chavez e tornou-se território fresco de peitos fortes e vozes adultas, sopro de vocação emergente, de integridade feita e de gravidade feita, num plasma rigoroso e telegráfico, capaz de unir todos os povos da Terra.

Para que não restem dúvidas, de novo a ALBA se assume nesse pulsar, por que necessário é em nossos dias revitalizar os tecidos que dão movimento ao barro, ali onde os oligarcas decadentes em seus enormes umbigos até o pão roubam da boca dos famintos e onde as ausências são caudais invisíveis nas mesmas águas de onde afinal emergem embriões recém-chegados.

Que não se temam nem essas ausências, nem os oligarcas desapiedados, muito menos seus patrões refugiados nas casas-fortes do norte, por que não é desperdício na memória a pegada ardente de Bolivar a ressoar no coração dos homens: pelo seu sangue passado, pelo seu suor seco, pelo sulco que se adivinha de suas lágrimas na hora amarga da despedida, uma hora trespassada de espadas, mas sobretudo pela energia intemporal que se desprende desse movimento tornado multidão, são mesmo assim, em Março, o cristalino e vital renascer!

Apontamento sobre o 5 de Março, 4º ano em que desde a mobilização singular do Comandante Hugo Chavez, na América se continuam a remover as montanhas forjadas no passado de todas as trevas medievais…

ENDIVIDAMENTO EXTERNO CUBANO: O CAMINHO RUMO À NORMALIZAÇÃO


Marlén Sánchez Gutiérrez [*]

No conjunto de dificuldades que afecta a economia cubana destaca-se, pela sua importância e conotação, o problema da dívida. As múltiplas categorias que se estabeleceram desde meados dos anos 80, a estrutura e composição das mesmas, a acumulação de atrasos, as particularidades da renegociação e a ausência de informação estatística actualizada, apresentam-se como peças de um quebra-cabeças que torna muito complexa a análise desta problemática. 

Portanto, o presente artigo só se propõe comentar o que a autora chamou linha de tempo do endividamento externo cubano com o objectivo de facilitar a compreensão do tema e ao mesmo tempo identificar o que se conseguiu em matéria de renegociação, o que ainda está pendente e os reptos derivados do processo de normalização de relações com os credores e do novo cenário de contracção da economia cubana.

As premissas de partidas são três. A primeira, deixar claro que os conceitos dívida e desenvolvimento não são por natureza incompatíveis. A dívida externa tem origem nas relações financeiras que as nações estabelecem livremente com os credores para "financiar seu desenvolvimento", seja por iniciativa privada ou pública. O que acontece é que os países subdesenvolvidos, na sua maioria, passarão de uma dívida pequena, no âmbito de grandes esforços "para se desenvolverem", a uma dívida grande e não manejável sem haver conseguido o ansiado desenvolvimento.

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