domingo, 3 de setembro de 2017

Do “Fascismo Democrático” a um novo Comunismo?





Ocidente parece dividido entre a aristocracia financeira e os gângsters. É preciso reconstruir a ideia de alternativa, ou não haverá mais Política. Mas quais os caminhos?

Alain Badiou | Outras Palavras | Tradução: Revista Punkto | Imagem: Eric Drooker (cena da animação Howl)

 1. Começo como uma visão geral, não da situação atual dos Estados Unidos, mas do mundo de hoje. Penso que o ponto mais importante por onde devemos começar é a vitória histórica do capitalismo globalizado. Devemo-nos confrontar com esse fato. De alguma maneira, desde os anos 80 do século passado até hoje, temos a vitória histórica do capitalismo globalizado. E isso por muitas razões. Primeiro, naturalmente, o fracasso completo dos Estados socialistas – Rússia, China – e da visão coletiva da economia e das leis sociais. E este não é um ponto desprezável.  Porque essa é uma mudança que acontece não apenas ao nível da situação objetiva do mundo atual, mas também, ao nível da subjetividade. Durante mais de dois séculos (até à década de oitenta do século passado) existiram na opinião pública dois modos de conceber o destino histórico dos homens (a um nível geral e a um nível subjetivo). Primeiro, o liberalismo, no seu sentido clássico. Aqui, liberal tem muitos significados, mas eu tomo-o no seu sentido original, isto é, a propriedade privada como chave da organização social, à custa de enormes desigualdades. E, por outro lado, temos a hipótese socialista, a hipótese comunista (no seu sentido abstrato), isto é, o fim das desigualdades deve ser constituir o fim fundamental da atividade política humana. O fim das desigualdades, mesmo à custa de revoluções violentas. Portanto, de um lado, a visão pacífica da história como a continuação de algo que é muito antigo: a propriedade privada como chave da organização social. E, por outro lado, qualquer coisa de novo, que começa provavelmente na revolução francesa, e que é tanto a afirmação que a existência histórica dos homens deve aceitar uma ruptura nessa longa sequência onde as desigualdades e a propriedade privada eram a lei da existência coletiva, como a afirmação de uma outra visão daquilo que é o destino dos homens, que coloca em primeiro plano a questão da igualdade e da desigualdade. E esse conflito entre liberalismo e essa nova ideia que surge debaixo de tantos nomes (anarquia, comunismo, socialismo) é, provavelmente, o acontecimento mais significativo do século XIX e XX.

Assim, durante aproximadamente dois séculos, tivemos algo como uma escolha estratégica, que dizia respeito não apenas aos eventos locais da política (as obrigações nacionais, as guerras), mas ao destino histórico dos homens, ao destino histórico da construção da humanidade enquanto tal. Em certo sentido, o nosso tempo (dos anos oitenta até hoje) é o tempo do aparente fim dessa escolha. Temos hoje a visão dominante de que não existe uma outra alternativa, de que não há outra solução. Essas eram as palavras de Thatcher: não há nenhuma alternativa. Nenhuma alternativa exceto, naturalmente, o liberalismo (ou na formulação atual: o neoliberalismo). E este é um ponto importante, porque a própria Thatcher não dizia que esta era uma boa solução. Esse não era um problema dela. O problema é que é a única solução. E, por isso, a questão não está em dizer que o capitalismo globalizado é excelente, porque claramente não é. Todo mundo sabe isso. Todo mundo sabe que as desigualdades monstruosas não podem ser uma solução para o destino histórico dos homens. Mas o argumento é “Ok, não é bom, mas essa é a única possibilidade real”. E, por isso, penso que o que define o nosso tempo é a tentativa de impor à humanidade (e isso à escala do próprio mundo) a convicção de que só há um caminho para a história dos seres humanos. E tudo isso sem nunca se afirmar que esse é um caminho excelente, mas apenas dizendo que não há outra solução, não há outro caminho.

Trump e o apoio paquistanês aos jiadistas



Thierry Meyssan*

Prosseguindo a sua análise da política de Donald Trump no Médio-Oriente Alargado, Thierry Meyssan mostra que, contrariamente à opinião comumente admitida, o Presidente dos E.U. não mudou de estratégia. Rompendo com os seus predecessores, ele tenta cortar o apoio paquistanês aos jiadistas no Afeganistão tal como o fez quanto ao papel da Arábia Saudita com os jiadistas no Levante. De passagem, o nosso autor explica que se alguns eleitores de Trump se podem sentir inquietos por o verem deslocar novas tropas, eles deveriam no entanto, com toda a lógica, aprovar esta decisão.

O projecto do Presidente Trump de fazer bascular a política estrangeira e militar dos Estados Unidos do imperialismo para a cooperação começa a dar os seus frutos. Desde os discursos de Riade e de Bruxelas, em Maio último, a quase totalidade dos Estados muçulmanos (salvo o Paquistão, o Catar, o Sudão e a Turquia) cessaram de apoiar a miríade de grupos jiadistas oriundos da Irmandade Muçulmana. Simultaneamente, a OTAN operou uma viragem de 90 graus e começa a combater, ela também, os jiadistas que apoiava até agora, em vários teatros de operação.

Se a situação melhorou consideravelmente no decurso dos três últimos meses no Iraque, na Líbia e na Síria, ela continua deteriorar-se no Afeganistão.

Lembremos que, contrariamente às declarações edificantes dos Presidentes Bush Jr. e Obama, a presença das forças da OTAN desde há 16 anos nesse país não apenas não erradicou os talibãs como tornou mais precária e perigosa a vida da população civil. Morre-se mais por atentados e combates hoje em dia no Afeganistão do que no passado, quer se trate do período comunista ou do Emirado islâmico.

Assim aguardava-se as decisões de Donald Trump quanto a este país. Os Norte-americanos estão marcados pelas revelações de Michael Hastings sobre a gestão do Afeganistão [1]. Eles concluíram que, contrariamente à retórica consensual, a principal causa dos actuais problemas afegãos é a presença prolongada de exércitos Norte-americanos nesse país. Esta ideia foi popularizada pelo filme por David Michôd, que trouxe para o ecrã (tela-br) o trabalho de Hastings em War Machine («Máquina de Guerra»- ndT). Nele vê-se o General Stanley McChrystal (encarnado por Brad Pitt) explicar aos camponeses que quer «conquistar os seus corações e suas mentes» matando… os seus vizinhos.

TERRORISMO | A Alemanha envolvida nos ataques da Catalunha



Segundo a polícia espanhola, a célula terrorista que atacou alvos, a 17 e 18 de Agosto de 2017, em Barcelona e Cambrills era liderada por Abdelbaki Es Satty.

Este foi preso em Rachid Aglif, condenado a 21 anos de prisão pela sua participação numa reunião preparatória dos atentados de Madrid (11 de Março de 2004).

Abdelbaki Es Satty era, até Junho, o imã da mesquita do Norte de Ripoll.

Ora, esta mesquita depende do ramo sírio dos Irmãos Muçulmanos implantado na Alemanha, em Aachen(Aix-la-Chapelle).

Durante a Guerra Fria, o governo alemão, a solicitação da CIA, deu asilo aos Irmãos Muçulmanos sírios após o fracasso da sua tentativa de golpe de Estado contra o antigo Presidente Hafez al-Assad. No decurso da actual guerra contra a Síria, o governo Merkel criou uma célula especial no Ministério do Negócios Estrangeiros para tratar directamente com os Irmãos Muçulmanos da Síria.

Voltaire.net | Tradução Alva

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