quinta-feira, 21 de setembro de 2017

PORTUGAL | Vai ser tão bom, não foi?




Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

É bem provável que boa parte dos compradores dos vistos gold portugueses nunca cheguem a viver em Portugal. Não só porque a isso não são obrigados mas também porque nunca foi segredo para ninguém que escapar da prisão para viajar é tarefa árdua. Alguns deles estão hoje presos. Outros, acusados ou em investigação. A maioria, não cuida de cá vir apesar de ter tentado encontrar-nos a custo no mapa. A autorização de residência que permite circular em todo o espaço Schengen, adquirida pela módica quantia imóvel de 500 mil euros com um conjunto de obrigações facilmente iludíveis, foi a maior pechincha do Governo PSD/CDS em tempo de troika. Infelizmente, não para portugueses. Para portugueses não saiu nada barato. E foi assim que alguns cidadãos do Mundo com mais do que um pé-de-meia no chinelo, passaram a saber - em 2013 e 2014 - onde ficava Portugal. Aquele país facilitador e que se pôs convenientemente a jeito para ser a primeira das máquinas de lavar da Europa. Entretanto, alguns deles e em sede própria, desataram a lavar a jato.

Nesses anos dourados de aperto do cinto, poucos foram os que estrangularam pelo nó da gravata. Nestas coisas das benesses de mercado, o colarinho ainda tem um peso muito específico. Aqueles que agora vociferam contra a nova lei da imigração por permitir a autorização de residência a quem apresente promessa de contrato de trabalho e inscrição na Segurança Social, são aqueles que nunca cuidaram de perguntar de onde vinha o dinheiro para a compra dos imóveis portugueses prontos a lavar ou de saber quantos postos de trabalho reais foram criados pelos vistosos vistos. Oito. Já se cantava na canção-peçonha "Uma casa portuguesa": "A alegria da pobreza está nesta grande riqueza de dar e ficar contente". Para Passos e Portas, esta cantilena valeu ouro nos anos dos vistos dourados.

O Diabo não apareceu mas, enquanto gozava descanso e esfregava o olho, a Standard & Poor"s retirou Portugal do lixo. Em boa verdade, ninguém se cansou de esperar: a Moody"s pode reavaliar o rating de Portugal antes do previsto e a Fitch admite alterar o seu calendário de avaliações. O Diabo está confuso. Estas três agências, patronos da notação financeira mundial, não deram pela falência da Lehman Brothers em 2008 e reagiram com surpresa à crise das dívidas soberanas, mas (pasme-se) olham para Portugal com animação depois da transfusão de sangue a que nos obrigaram. Talvez tenham a sensação do dever cumprido, abutres deixando o quase cadáver. Agora que Mário Centeno, no ponto de aceitar o rebuçado, admite caucionar positivamente o agressor submetendo-se à votação para liderar o "futuro-extinto" Eurogrupo, confirma-se que o Diabo não apareceu mas que deve estar a cantar, divertido, "Uma casa portuguesa". Vai ser tão bom, não foi?

* Músico e jurista

O autor escreve segundo a antiga ortografia

QUEM TEM MEDO DO REFERENDO NA CATALUNHA?



A atual repressão de Rajoy sobre o exercício de um referendo legitima e reforça ainda mais a via independentista. Depois de 1 de outubro a revolta catalã vai acentuar-se.


1 – O forte impulso pela República Catalã surge como reação à anulação do Estatuto da Catalunha pelo Tribunal Constitucional espanhol em 2010. Relembre-se que um estatuto que aprofundava a autonomia da Comunidade e reconhecia a Catalunha como Nação foi aprovado no Parlamento regional, piorado mas aprovado nas Cortes em Madrid e posteriormente votado em referendo, na Catalunha, com uma larga maioria a favor.

Embora o sentido fosse federalizante, a Esquerda Republicana Catalã (ERC) apelou ao Não, devido à descaraterização sofrida no texto emanado de Barcelona. Posteriormente, os deputados e deputadas do PP de Mariano Rajoy, então na oposição, bem como algumas comunidades de Castela, interpuseram queixa para o Tribunal Constitucional com o desfecho conhecido de anulação objetiva da lei-carta da Catalunha.

Aqueles que reprovam a via da Independência em nome de um hipotético federalismo espanhol, com ou sem monarquia, não querem ter em conta que o gradualismo morreu às mãos de Rajoy e do nacionalismo radical espanhol. Que querem dizer aos catalães, que esperem outros quarenta anos para alterar a Constituição de 1978? A atual repressão de Rajoy sobre o exercício de um referendo legitima e reforça ainda mais a via independentista. Depois de 1 de outubro a revolta catalã vai acentuar-se.

2 - Ouve-se com frequência que a Catalunha não tem direito à autodeterminação. Alguns ridiculamente até invocam que essa nacionalidade não figura na lista dos territórios ocupados da ONU. Convém não regatear que o direito à autodeterminação é um direito geral e irrestrito que cumpre a cada povo, expressando o seu sentido maioritário, muitas vezes ao longo de conflitos de descolonização. Isso é algo que resulta do direito internacional que se convencionou no século XX, fruto da descolonização de vastas áreas do planeta que estavam sob dominação de impérios caducos.

A autodeterminação pode conduzir à independência ou a outras formas de relacionamento internacional. Não há autodeterminações artificiais, elas não existem sem um forte sentimento de comunidade própria e uma relação de dominação estranha a essa comunidade. Não consta que o Québec ou a Escócia, que realizaram nos últimos anos referendos sem êxito pela Independência, sancionados pelos governos do Canadá e Grã-Bretanha, respetivamente, constassem da lista dos territórios ocupados.

Tensão dispara na Catalunha após operação policial para barrar referendo de independência



Milhares de pessoas protestam no centro de Barcelona pela decisão de prender membros do Governo regional que comandavam a organização do plebiscito

A tensão entre o Governo da Espanha e as autoridades da Catalunha disparou nesta quarta-feira diante da tentativa dos catalães de realizar um referendo de independência da região para se separar do resto da Espanha. A polícia espanhola deflagrou pela manhã uma operação para barrar o plebiscito que o Governo regional planeja para o próximo 1 de outubro. Os policiais chegavam com mandados de busca e apreensão em 41 escritórios das Secretarias do Governo catalã que trabalhavam na organização do referendo. Após um dia inteiro percorrendo diferentes locais, a polícia prendeu 14 pessoas, membros do comando para a preparação da consulta, e apreendeu 10 milhões de cédulas de voto.

Ao longo do dia grupos de  militantes independentistas reunidos na frente de diferentes prédios do Governo catalão vaiaram a polícia espanhola e tentaram atrapalhar a operação. Já à noite, após a polícia cumprir os mandatos e levar presos os organizadores do referendo, 40.000 pessoas lotaram a praça de Catalunha, no centro de Barcelona, para protestar contra a atuação do Governo espanhol e defender a independência.

Por que a Catalunha quer a independência?

A Catalunha soma 19% do PIB da Espanha e 12% da população do país. Embora nunca tenha sido independente, tem uma língua e algumas características culturais próprias. Desde o começo do século 20 cresceu na região um movimento nacionalista, que já nos anos 30 tentou declarar a independência de forma unilateral. Após a recuperação da democracia na Espanha, em 1979, a Catalunha conseguiu uma importante autonomia do Governo central. Ao longo desses anos, os nacionalistas sempre estiveram no Governo regional. Nessa época, eles pediam mais autonomia e sobretudo mais dinheiro já que se queixavam de que estavam bancando demais o caixa comum de toda a Espanha para ajudar o desenvolvimento de regiões mais pobres. Embora exigissem o reconhecimento nacional da Catalunha, os grupos nacionalistas aceitavam continuar dentro da Espanha sempre que conseguissem algum tipo de status político especial. Mas tudo mudou nos últimos dez anos.

Espanha disposta a negociar quando Catalunha "abandonar planos de independência"



Ministro da Economia espanhol propõe maior autonomia financeira para a Catalunha, mas só se a região desistir de ser independente

O Governo de Madrid estaria disposto a negociar uma maior transferência de dinheiro e de autonomia financeira para a Catalunha se a região desistisse dos seus "planos de independência", disse o ministro da Economia espanhol.

"Quando abandonarem os planos de independência, podemos falar", disse Luís de Guindos numa entrevista ao jornal de referência britânico Finantial Times publicada na edição de hoje.

Para este responsável governamental, a "Catalunha já tem muita autonomia", mas mesmo assim seria possível falar no futuro "numa reforma do sistema de financiamento e de outros assuntos".

O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu no início do mês, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo Parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para 01 de outubro próximo.

A quase uma semana da consulta popular, que ainda não se sabe se se vai realizar, tem aumentado a tensão entre os separatistas e as instituições espanholas que tentam impedir a realização do referendo.

A polícia espanhola confiscou na quarta-feira nos arredores de Barcelona quase 10 milhões de boletins de voto que iam ser utilizados no referendo e numa outra operação revistou uma série de edifícios do Governo regional e deteve 14 pessoas alegadamente envolvidas na preparação da consulta popular.

A GOOGLE É A NSA





– Não se deixe espiolhar:   Duckduckgo, o motor de pesquisa que não rastreia

Phil Butler [*]

O Google quer ser os olhos do Big Brothers fitos sobre si. Todos os gurus da Internet sabem isto mesmo antes de a NSA ser descoberta a espionar tudo. Mas agora os rapazes da Moutain View [sede da Google] estão mais determinados do que nunca a filtrar a sua informação e a eliminar qualquer resquício de confiabilidade.

Se eu tivesse iniciado um artigo com o parágrafo acima há cinco anos atrás, instantaneamente teria sido etiquetado como um "teórico da conspiração" ou pior ainda. O que pensa disso, caro leitor? Será a ideia de tecnocratas e dos seus manipuladores enormemente endinheirados enlouquece-lo? Penso que sim. Mas se precisa de prova para além do óbvio, o manual de 160 páginas do Google conta-nos exactamente como eles planeiam alimentar-nos só com as "suas" notícias. O extenso manual é uma leitura pesada para a pessoa média, mas o livro fornece pormenores de uma maquinação orwelliana diferente de qualquer coisa já vista desde o aparelho de propaganda nazi. Preste muita atenção à "instrutiva" página 108 onde a Google dita quem cumpre e não cumpre seus critérios de classificação. A secção Falha de Cumprimento (Fails to Meet, FailsM) é um cilindro compressor da imprensa livre e sugere a ocultação de certas espécies de sítios web:

"Páginas que contradigam directamente factos históricos bem estabelecidos (ex.: infundadas teorias da conspiração), a menos que a consulta indique claramente que o utilizador está à procura de um ponto de vista alternativo".

Como de costume, a Google obscurece suas intenções reais com a ideia de que algum algoritmo super inteligente está a "filtrar" ou "aprender" resultados para ajudá-lo a ter uma vida melhor. Mais uma vez, a Google supõe fazer "o que é bom para nós" através da destruição de algumas fontes e a promoção de outras. Utilizando termos como "graduando linhas orientadoras para pesquisa de qualidade" e "graduando linhas orientadores para páginas de qualidade" os pequenos Maquiaveis da Google providenciam justificação para controlar o que você vê e lê na web. Censura e monopolização da informação e dos negócios na internet – esta é acusação contra os rapazes da Mountain View.

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