quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Presidente do parlamento timorense diz que não há plenários porque "não há agenda"


Díli, 10 jan (Lusa) - O presidente do Parlamento Nacional timorense defendeu hoje a sua decisão de não agendar reuniões plenárias do órgão, porque "não há agenda", estando a aguardar uma resposta do executivo para agendar a moção de censura ao Governo.

"Não houve plenário porque não há agenda. Não há agenda, não há plenária. É normal", afirmou Aniceto Guterres Lopes em declarações aos jornalistas depois de uma reunião de mais de 90 minutos com o Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo.

"A moção de censura está no processo de concertação com o Governo e o presidente do Parlamento não pode impor uma data ao Governo para vir responder no parlamento. Fundamentalmente tem que haver uma concertação da data. É uma questão de ética nas relações institucionais entre órgãos de soberania", afirmou.

A oposição, maioritária no parlamento, apresentou em dezembro uma moção de censura ao Governo e uma proposta de destituição do presidente do parlamento, acusando agora Aniceto Lopes de "violações graves do regimento" por não agendar ainda este ano qualquer sessão plenária.

No final do ano passado o parlamento chegou a estar um mês sem sessões plenárias com Aniceto Lopes a argumentar que estava em tramitação o Orçamento Retificativo que acabou por ser chumbado pela oposição.

Aniceto Lopes recordou que a 18 de dezembro, no plenário, anunciou ter dado ao Governo um período de 30 dias úteis (que só termina no final deste mês) para responder à moção de censura, tendo escrito ao executivo a 03 de janeiro sobre este assunto.

Junto a essa carta enviou um requerimento de um dos partidos da oposição, o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), para que a moção fosse debatida a 08 de janeiro.

Relativamente à proposta da sua destituição, Aniceto Lopes disse que há que aguardar que terminem todos os passos judiciais em curso.

O Tribunal de Recurso confirmou na sexta-feira a não inconstitucionalidade da norma do regimento do parlamento de Timor-Leste que permite a destituição, cumpridos alguns critérios, do presidente deste órgão de soberania.

No passado dia 11 de dezembro, Aniceto Guterres Lopes anunciou o pedido de fiscalização abstrata, na sequência da apresentação pela oposição de uma proposta para a sua destituição do cargo.

Em causa está uma alteração ao artigo 15 do regimento, aprovada em maio do ano passado, para permitir destituir, com maioria absoluta, o presidente ou outros elementos da mesa do Parlamento Nacional.

Paralelamente, Aniceto Lopes apresentou no Tribunal Distrital de Díli uma providência cautelar "em defesa da honra" com "efeitos suspensivos".

"Ainda que o tribunal distrital tenha indeferido o processo, fiz um recurso para o Tribunal de Recurso. Ainda não houve uma decisão final sobre o assunto e temos que aguardar até essa decisão final", afirmou.

Questionado novamente sobre a falta de agenda do parlamento, Aniceto Lopes disse que o parlamento "aprova leis, com propostas do Governo ou iniciativas dos deputados" sendo que "ainda não houve iniciativas deputados e a proposta do Governo, o Orçamento, foi rejeitadda".

"Então não há nada para legislar. E a fiscalização faz-se nas comissões. A oposição controla as mesas das comissões mas se não apresentam agenda ao presidente do Parlamento Nacional, então não há agenda. O presidente não inventa a agenda", considerou.

"Dizem que violo o regimento mas não conseguiram demonstrar, fundamentar, comprovar como é que violei o regimento. São tantas acusações contra mim. Mas são apenas formas de humilhação. Sem sentido", afirmou.

Timor-Leste vive há vários meses um período de incerteza política com a oposição, maioritária no Parlamento Nacional, a chumbar o programa do Governo e uma proposta de Orçamento Retificativo, tendo apresentado já uma moção de censura ao executivo e uma proposta de destituição do presidente do parlamento.

O país vive desde 01 de janeiro em sistema de duodécimos, sem orçamento de Estado e com o futuro do país a estar nas mãos do Presidente timorense que pode, ainda este mês, decidir se há, ou não, eleições antecipadas para resolver o impasse.

ASP // DM

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