"Uma pouca vergonha e uma
aberração". É assim que o Sindicato dos Professores classifica a intenção
de Angola de contratar professores cabo-verdianos para ensinar no país. Um tema
que está a gerar muita contestação.
As primeiras reações ao anúncio
da intenção de envio de professores cabo-verdianos para o ensino secundário em
Angola surgiram nas redes sociais. No Facebook, muitos internautas
angolanos teceram críticas ao Governo sobre a possível assinatura de um
acordo entre os dois países lusófonos. As reações estendem-se agora a outros segmentos
da sociedade.
O presidente do Sindicato dos
Professores Angolanos (Sinprof), Guilherme Silva, em declarações à DW África,
manifestou o seu decontentamento, afirmando que o Sindicato reagiu
"negativamente" à contratação de professores expatriados sejam de
que país for.
"Independentemente de
Cabo Verde ter um Índice de Desenvolvimento Humano superior ao de Angola, onde
a qualidade do ensino é de facto notória, ainda assim, nós não
concordamos", argumenta Guilherme Silva.
O sindicalista lembra que
existem no país e no estrangeiro muitos professores nacionais formados e que se
encontram no desemprego. Por isso, considera a medida do Estado angolano
"uma pouca vergonha e uma autêntica aberração".
Lembra ainda que há no
mercado de trabalho angolano "milhares de jovens formados em escolas
vocacionadas para a docência do nível médio ou superior".
Em declarações ao jornal
cabo-verdiano "Expresso das Ilhas, o ministro dos negócios estrangeiros e
comunidades de Cabo Verde Luís Filipe Tavares, que esteve de visita a Angola,
já desvalorizou as críticas dos cidadãos.
"Dignidade para os homens
do giz"
Os professores angolanos
debatem-se com vários problemas, desde a falta de condições de trabalho aos
baixos salários. Estão em curso com o Ministério da Educação negociações sobre
as propostas do Estatuto da Carreira Docente e do Regulamento de Transição e
Regime de Avaliação do Desempenho, dois importantes instrumentos, que segundo
Guilherme Silva, "deverão devolver a dignidade aos homens do
giz".
Durante as negociações,
o Sinprof espera que os estatutos sejam aprovados até março de 2018 e
publicados em Diário da República. "E em maio vermos refletido nas
categorias dos professores a transição para o futuro da carreira
docente", afirma ainda o presidente do Sindicato.
Se isso não vier a
acontecer, Guilherme Silva adianta que o Sinprof vai retomar a greve
nacional de "Cabinda ao Cunene, do Luau ao Lobito".
No ano passado, os professores do
ensino geral fizeram uma greve
a favor do aumento de salários e da atualização da carreira docente.
Propostas que já tinham sidas remetidas ao governo de Luanda em 2013.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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