Carlos Carvalhas* | Jornal de
Notícias | opinião
O "honorável" deputado
ao Parlamento Europeu Nuno Melo não gostou do que se afirmou em crónica da TSF
sobre as razões porque o FMI divulgou em Davos um relatório sobre as
desigualdades entre gerações que, a meu ver, não foi inocente, tendo por objetivo
desviar as atenções do relatório da Oxfam, que revelou a escandalosa acentuação
das desigualdades e a apropriação da riqueza criada em 2017 por uma minoria.
Não gostou que se tivesse
afirmado que os comentadores de Direita que nunca se debruçaram sobre o relatório
da Oxfam se tivessem apressado a comentar o relatório do FMI e deste terem
saltado para o envelhecimento da população.
Não gostou que se tivesse
afirmado que a acentuação das desigualdades entre gerações e o próprio
envelhecimento da população no nosso país resultam também em boa parte (não se
disse que era primordial) da acentuação das desigualdades entre o capital e os
rendimentos do trabalho e, para o contestar, cita outros países, designadamente
do Terceiro Mundo (a que chama razão da ciência).
Ora, nas sociedades rurais e em
países pouco "urbanizados" em que uma parte significativa da
população vive no campo, tal como acontecia no nosso país, quando uma boa parte
da população vivia da agricultura, as famílias numerosas são a norma. Quando
afirmei que uma família numerosa é quase um sinal exterior de riqueza,
sublinhei "especialmente nos meios urbanos" e referi especificamente
o nosso país.
O "honorável" deputado
concede que o emprego e a habitação têm importância na demografia, mas nega que
no nosso país as desigualdades entre os rendimentos do capital e do trabalho
sejam um fator limitador da natalidade e do envelhecimento da população. Mas
então a saída de jovens em idade fértil para o estrangeiro não se deve às
dificuldades e perspetivas de futuro? E isto nada tem a ver com a concentração
de riqueza? O adiamento em ter filhos e em planearem o segundo filho não tem a
ver com as condições de rendimento dos casais jovens?
Para o deputado, o grande combate
ao envelhecimento da população estaria na diminuição dos impostos sobre os
combustíveis (como se o Governo PSD/CDS não os tivesse aumentado) e na
diminuição dos "custos dos veículos com maior capacidade, inevitáveis a
quem tem mais filhos"! Como se hoje no nosso país, nos meios urbanos, não
fossem as famílias ricas com possibilidades de comprarem esses carros, as que
têm e podem ter famílias mais numerosas. Quanto aos impostos que cita, basta
lembrar-lhe o "brutal aumento de impostos" do vosso ministro Vítor
Gaspar, a queda brutal do PIB e do investimento, o aumento do desemprego e as
quebras sucessivas do emprego, as reduções no subsídio de desemprego, no
rendimento social de inserção... para não falar dos apelos à emigração do vosso
querido Governo!
Nuno Melo fica com os cabelos em
pé quando se fala em melhor distribuição do rendimento nacional e sobretudo nos
aumentos do rendimento do capital.
Só faltou a Nuno Melo, em seu
abono citar a tese do seu ex-colega de bancada, o deputado Morgado, para quem
só deveria haver "ato sexual" para procriar! Sem preservativo, talvez
a natalidade aumentasse, por isso, na sinecura do Parlamento Europeu, o que lhe
sugiro é que releia os versos de Natália Correia sobre o
"truca-truca" do Morgado, a verdadeira "demografia do CDS".
"Já que o coito - diz
Morgado - tem como fim cristalino, preciso e imaculado fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão sexual petisco manduca, temos na procriação prova de que
houve truca-truca. Sendo pai só de um rebento, lógica é a conclusão de que o
viril instrumento só usou - parca ração! uma vez. E se a função faz o órgão -
diz o ditado - consumada essa exceção, ficou capado o Morgado". Ponto
Final
* Membro do Comité Central do PCP
Sem comentários:
Enviar um comentário