segunda-feira, 19 de março de 2018

Bruxelas e Londres chegam a acordo sobre transição pós-brexit


O anúncio foi feito em Bruxelas pelo negociador da UE, Michel Barnier. Fronteira na Irlanda é tema a concluir mais tarde

A União Europeia e o Reino Unido chegaram a acordo sobre os termos do divórcio, o que significa que Londres vai conseguir um acordo para a transição depois do brexit.

O anúncio foi feito em Bruxelas pelo negociador da UE, Michel Barnier. "Temos um acordo de transição", confirmou.

Em relação à fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, um dos principais obstáculos ao acordo, ambas as partes decidiram deixar para futuras discussões a fórmula a adotar.

Adam Marshall, diretor-geral das câmaras de comércio britânicas referiu, citado pela Reuters, que a decisão "é um marco que muitas empresas em todo o Reino Unido esperaram. O acordo de um período de transição do statu quo é uma ótima notícia para empresas comerciais em ambos os lados do Canal, pois significa que enfrentarão poucas ou nenhumas mudanças no dia-a-dia a curto prazo".

Keir Starmer, porta-voz do Partido Trabalhista, disse que o acordo é "bem-vindo" e que agora o Governo britânico "deve priorizar a negociação de um acordo final que proteja empregos, economia e garantias, e que evite uma fronteira rígida com a Irlanda do Norte".

Em conferência de imprensa, Michel Barnier revelou que "as negociações intensivas" que decorreram em Bruxelas nas últimas horas, incluindo durante a madrugada, permitiram um entendimento distendido entre as partes, nomeadamente quanto ao período de transição.

"A transição será de duração limitada, como era desejado pelo Reino Unido e pela UE. Durante esse período, o Reino Unido não vai participar na tomada de decisões da UE, simplesmente porque deixará de ser um Estado-Membro em março de 2019. Todavia, conservará todos os benefícios do mercado único, da União Aduaneira e Monetária, e das políticas europeias, sendo obrigado a respeitar todas as regras comunitárias como qualquer outro Estado-Membro", esclareceu.

"Trabalhamos num acordo internacional, com a precisão, o rigor e a certeza jurídica exigida a todos os acordos internacionais. O que apresentamos é um texto jurídico conjunto, que constitui, a meu ver, uma etapa decisiva. Esta manhã, entendemo-nos sobre uma larga parte do que será o acordo internacional para a saída ordenada do Reino Unido", anunciou o negociador chefe da UE para o 'Brexit'.

Ladeado por David Davis, responsável do governo britânico para o 'Brexit', Barnier ressalvou, contudo, que "uma etapa decisiva é apenas uma etapa decisiva". "Ainda nos resta muito caminho, e ainda temos muito trabalho a fazer em assuntos importantes, nomadamente em relação à Irlanda e Irlanda do Norte", notou.

Este período de transição, que deverá terminar a 31 de dezembro de 2020, pretende evitar as consequências que acarretaria uma rutura brutal no final de março de 2019, permitindo que o Governo e as empresas britânicas se preparem para um futuro fora do bloco comunitário.

Barnier indicou ainda que Londres reconsiderou a sua posição quanto aos cidadãos que cheguem ao país durante o período de transição, com estes a poderem beneficiar dos mesmos direitos e garantias daqueles que o tenham feito antes do 'Brexit'.

No entanto, o negociador comunitário apontou a gestão do acordo de saída e a questão da Irlanda como os dois principais pontos de divergência remanescentes entre as partes.

Barnier esclareceu que na terça-feira irá encontrar-se com os Ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 e que na sexta-feira os chefes de Estado dos 27 irão avaliar e julgar o ponto de situação das negociações, de modo a adotar as 'guidelines' para a relação futura entre as duas partes.

Também David Davis considerou que o novo texto representa um "passo significativo" para o acordo final, mostrando-se confiante de que este será apoiado pelos chefes de Estado dos 27, que se vão reunir em Conselho Europeu, na quinta e sexta-feira, em Bruxelas.

O negociador britânico revelou que ambas as partes acordaram a constituição de uma comissão para resolver qualquer conflito que ocorra durante o período de transição.

"Temos de aproveitar o [bom] momento e prolongá-lo", acrescentou Davis.

Diário de Notícias/Lusa | Foto: Reuters/Francois Lenoir

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