Paula Santos | Expresso | opinião
Descontentamento! Indignação!
Protesto! Reivindicação!
Foi desta forma que as estruturas
de criação artística reagiram aos resultados dos concursos de apoios
sustentados às artes (teatro, música, dança, artes circenses e de rua, artes
visuais e cruzamentos disciplinares) para os anos 2018-2021.
Os resultados dos referidos
concursos, alguns ainda que provisórios, revelam a opção da política cultural
do atual Governo. O Governo mantem uma política de desvalorização da cultura,
que se traduz na insuficiência das verbas alocadas, nos desequilíbrios
territoriais, e no comprometimento do desenvolvimento da criação e fruição
cultural.
Há estruturas que tiveram cortes
nos apoios. Há estruturas elegíveis excluídas dos apoios. Na avaliação
considera-se que a candidatura de determinada estrutura é elegível, mas depois
não há lugar a apoio. Que critérios estiveram subjacentes a decisões desta
natureza?
O contexto das estruturas de
criação artística já era muito difícil, devido aos sucessivos cortes no apoio
às artes iniciado em 2010 e levados a níveis extremos por PSD e CDS. Com o
atual Governo as verbas destinadas ao apoio às artes mantêm-se a níveis
claramente redutores face às potencialidades de desenvolvimento da atividade
artística pelo país.
A manter-se esta perspetiva, o
Governo conjuntamente com PSD e CDS são responsáveis pela fragilização das
estruturas de criação artística, podendo inclusivamente condenar algumas delas
ao encerramento, com a subsequente extinção de postos de trabalho atirando os
trabalhadores para uma situação de desemprego. A realidade concreta comprova
que o atual Governo não rompeu com as opções políticas do passado.
Face ao crescimento da
contestação dos profissionais e das estruturas de criação artística, o Governo
procura remediar a situação com esclarecimentos acrescidos e anúncio do reforço
de dois milhões de euros, que no fundamental não resolvem nenhum problema.
Na análise e discussão do
Orçamento do Estado para 2018 o PCP já tinha identificado a insuficiência das
verbas destinadas ao apoio às artes. Apresentámos uma proposta para a reposição
do montante antes dos cortes, isto é, a verba de 2009 acrescida das
atualizações. Propusemos ainda que o Governo no ano de 2018, elaborasse o Plano
Nacional de Desenvolvimento para as Artes e a Cultura, com o objetivo de
planificar a intervenção do Estado no setor da cultura e de, progressivamente,
incrementar a
afetação de recursos públicos até
atingir o patamar mínimo de 1% da despesa pública, prevista em Orçamento do
Estado, para a política cultural. PS, PSD e CDS são responsáveis pela não
aprovação destas duas propostas.
Antes da definição do novo modelo
de apoio às artes pelo Governo, o PCP apresentou uma proposta sobre esta
matéria em junho de 2017, da qual constava os princípios de apoio às estruturas,
a avaliação das candidaturas em função de critérios artísticos e não
economicistas; a simplificação dos processos; a calendarização e
operacionalização a dos procedimentos concursais que garanta a aprovação de
resultados e de disponibilização da primeira tranche de apoio atempadamente; a
criação de novas linhas de apoio e a atualização a partir de 2019 de cada
quadro concursal, assumindo como critério o apoio que corresponderia ao total
de candidaturas do ano anterior.
A atual situação exige explicações
do Governo, por isso o PCP requereu a presença do Ministro da Cultura na
Assembleia da República. Que medidas vão ser tomadas para que todas as
estruturas de todas as áreas que requereram apoio e não o obtiveram possam
prosseguir a sua atividade? O que pretende o Governo fazer nos casos em que o
apoio atribuído se revelar insuficiente? O que prevê afinal o Governo
relativamente às opções políticas no que se refere aos apoios às artes? São
alguns dos aspetos que aguardam resposta.
Há duas questões que importa ter
em conta face à situação criada pelo Governo: por um lado os resultados
tornados públicos não se podem consumar, pelo que significa de retrocesso no
desenvolvimento da atividade cultural, por outro lado o modelo de apoio às
artes aprovado pelo Governo demonstrou que não serve e que não responde às
necessidades na área cultural.
Os profissionais e as estruturas
de criação artística agendaram ações de luta para as cidades de Lisboa, Porto,
Coimbra e Funchal no próximo dia 6 de abril. Reivindicam um novo modelo de
apoio às artes, que valorize o trabalho artístico e com o adequado
financiamento, a reposição das verbas aos apoios às artes de 2009, o combate à
precariedade e o compromisso de 1% do Orçamento do Estado para a cultura.
A criação de um Serviço Público
de Cultura assente na liberdade e da criação artística, na coesão e a
diversificação cultural e no respeito pelos direitos dos trabalhadores, é o que
corporiza o princípio constitucional do direito à criação e à fruição cultural.
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