quarta-feira, 30 de maio de 2018

Portugal - Eutanásia | DAQUI FALA O MORTO


Mário Motta, Lisboa

É sabido que a Lei da Eutanásia não passou no parlamento, até aí tudo bem. A democracia regulada pelo poder legislativo dos que supostamente zelam pelos interesses do país e dos portugueses funcionou. Houve opiniões e votos a favor e contra a Eutanásia. Normal. Venceu em número parlamentar os contra a chamada morte assistida.

É um assunto claramente fraturante, melindroso. Se em determinados aspetos damo-nos a ter opinião favorável vimo-nos em outros aspetos contra. É evidente que ninguém quer sentir-se um vegetal que não vive nem morre e está para ali tipo morto-vivo a depender totalmente dos outros nos cuidados e em tudo. Exatamente em tudo. É uma pessoa quem está naquele estado? Aos nossos olhos poderá ser. Uma pessoa acamada cujas funções se degradam de tal modo que afinal já não vive – a não ser “estar para ali”. Inerte, a sofrer, drogado… Mas ainda respira com ajuda de fármacos e os avanços tecnológicos desenvolvidos para manterem artificialmente algumas funções básicas a funcionar. Evidentemente que essa não é a “vida” que queremos. Porque não é vida.

O “enquanto há vida há esperança” aplica-se nestes casos? Para uns sim, para outros não. Daí as opiniões divergirem entre os a favor e aqueles que são contra a Eutanásia.

Porque não foi aprovada no parlamento a “morte medicamente assistida”? Por toda a complexidade que o ato médico contém na sociedade portuguesa ainda impreparada para aceitar que em vez de irmos definhando e sofrendo jazendo numa cama à espera do fim a morte total é a solução mais humana que nos podem proporcionar, acabando com o sofrimento de quem padece sem esperança alguma de recuperar, de ressuscitar. Pois é… Mas aceitar isso não faz o género de imensos portugueses. Nem de imensas pessoas por todo o mundo.

Vamos ter de aguardar por melhores oportunidades, de possuirmos mentes mais abertas e aceitarmos que os que sofrem sem a mínima esperança de recuperarem têm todo o direito de dar conta da situação degradante e sofrida em que se encontram. Esses sabem que já não vivem, que o estado em que estão não é vida, que a morte total é a solução porque afinal eles em grande parte já estão mortos e não há nenhuma esperança de reversão da situação em que se encontram. Custa, mas é o melhor a fazer, pela nossa dignidade, pelo respeito à lucidez que ainda possuímos até determinada momento da enfermidade absolutamente terminal e horrorosa. Cada um de nós tem de ter o direito de decidir se quer vegetar e sofrer sem esperanças nem hipóteses de recuperação ou se quer terminar de vez com o sofrimento e a progressiva mas demorada degradação até que a morte natural chegue.

Cavaco Silva, o putrefacto cadáver político

Foi surpreendente assistir ao ar e palavras ameaçadoras - para os a favor da eutanásia - de um dos principais indivíduos que praticou todo o tipo de tropelias contra as liberdades, a democracia, a justiça social, a transparência, o próprio 25 de Abril libertador de um regime ditatorial e aquilo que tem por significado. Salazar foi um antipatriota. Cavaco Silva sucedeu-lhe. Com as políticas e amigos que trouxe para a ribalta o cavaquismo contribuiu para o aumento da corrupção, da exploração dos que trabalham, do aumento do fosso enorme entre ricos e pobres, de injustiças que socialmente criaram o desespero em muitos portugueses, a fome e a miséria. Houve portugueses que em desespero se suicidaram por via das suas políticas em prol dos mais ricos e de novos ricos seus amigos que afinal conclui-se que roubaram ou se “orientaram” em negociatas de lucros dúbios. O próprio Cavaco foi protagonista de algumas dessas negociatas. Pelo menos uma é ainda recordada e teve por lucro uns “títulos acionistas” que o seu amigo Oliveira Costa, BPN/SLN, lhe facultou - Cavaco e filha lucraram com acções da SLN (DN). Assunto que foi muito badalado, para além da nova casa no Algarve. Mas tudo legal. Pois. Ilegal é uma velhota com pensão de miséria ou nem isso, com fome ou com um ataque de vontade nuns doces tirar uma caixa de bombons num supermercado. Ou até somente umas carcaças. Rouba, sumariamente vai a tribunal e pode ser condenada a prisão – aconteceu no Porto algo do género, p. ex.

Porque inusitadamente Cavaco apareceu a pronunciar-se sobre a sua opinião contra a eutanásia, ali, em formato de comunicado ou “conversa em família”, num contexto ameaçador, dislexo, cavernoso, desajustado e sem importância, foi notícia digna de exibição da múmia. Em nada demoveu os deputados com as suas ameaças cretinas, que até já tinham o sentido de voto bem definido. Falou o parolo para nada, a não ser para cair uma vez mais no ridículo.

Apesar daquela exibição provinciana e bacoca houve imensos que se pronunciaram sobre a descabida e doentia aparição de Cavaco à laia de múmia  política pretendendo reduzir a vontade própria e a opinião de cada individuo que se encontre em circunstâncias vegetativas e de sofrimento que possibilitem aos que quiserem solucionarem com a eutanásia, julgando-se ele com autoridade para decidir da vida e da morte com dignidade dos que sabendo não terem mais hipótese de realmente viverem em plenitude e recusando sofrerem mais. Essa é uma decisão que cabe a cada um de nós, seres humanos e não a pacóvios incultos e de pensamentos limitados do estilo de Cavaco.

Opiniões sobre a Eutanásia e a descabida intervenção em que Cavaco surge com vénias servilistas de órgãos de comunicação social são fecundas nas redes sociais. Algumas tomámos para transcrição que pode seguidamente ler (apenas três). - Imagem em Maré Alta – “Maldição da Múmia”



“A intervenção do Ex-Presidente da Republica, em defesa do "não", feita num tom desnecessariamente ameaçador, além de não ter a dimensão de Estado que era suposto ter, está a tratar-nos por tolos.

Em resposta à legítima posição do Professor Cavaco Silva que, evidentemente, respeito, continuo a afirmar que ninguém tem de ser a favor ou contra a uma decisão que só diz respeito ao interessado, cabendo ao Estado a competência para legislar e regulamentar os procedimentos inerentes a essa situação.”

Samuel Quedas - Facebook

"THE TWILIGHT ZONE
“Adorei ver Cavaco Silva, neste episódio típico da “Twilight Zone” no seu papel de “Zombie Porco”… a regougar umas inanidades sobre a eutanásia e apelos de boicote ao voto, seguido de considerações sobre a coisa mais grave que já foi aprovada na Assembleia… muito mais do que todos os crimes levados a cabo pela sua quadrilha, quando no poder.

Gostei particularmente do escritoriozinho “tipo Moviflor” em superfícies brilhantes género fórmica das mesas de tasca… com a fotografia do Papa espalmada numa moldura tão gira.

Não conseguiu, no entanto, estragar-me a deliciosa canja e depois o “BSE” fresquinho e o frango de churrasco desfiado, com muito alho picado, coentros, uma bela golfada de bom vinagre de vinho, um loooooongo fio de azeite… e feijão frade q.b.!”

Miguel Ângelo - Facebook

"Acho que anda muita gente confundida com a questão da eutanásia e as posições de diferentes forças políticas e membros da sociedade civil. Os propósitos do Cavaco e do CDS não são os mesmos dos do PCP, insistir nessa premissa é desonestidade intelectual e ainda têm de me explicar como se eu fosse muito estúpido onde é que isso transparece, subentende ou mesmo concorda... (defender uma vida com dignidade para todos os portugueses, nomeadamente através de condições socio-económicas dignas não é o mesmo que defender a vida na esperança da redenção e da passagem para uma nova existência após uma vida de sofrimento imposto por terceiros)... e sou eu quem decide sobre as minhas opções pessoais sobre o sentido da minha vida e sobre a opção de morrer com dignidade."

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