quinta-feira, 3 de maio de 2018

Portugal | UM POLVO ENORME SUSTENTADO PELOS PORTUGUESES


Ricardo Marques serve hoje o Expresso Curto, com cafeína, acerca da tragédia de Pedrógão Grande e os documentos desaparecidos sobre as primeiras horas e a ineficácia dos organismos que deviam atuar corretamente e não o fizeram.

Desapareceram os documentos, conforme o perfeito modo mafioso. Ora, ora, a impunidade é prato forte dessa gente nos mais variados setores. De vez em quando a justiça, a PGR, lá dá um ar da sua graça mas em modo de sol de pouca dura. Justiça? Não nos façam rir porque de manhã ainda faz frio e o cieiro faz com que as boqueiras se arreganhem todas e doem-nos. É que se houvesse realmente justiça em Portugal veríamos muitos “lá dentro” e expropiados. Mas não, o que vimos é eles cá fora a dar ar aos milhões nos offshores do nosso pranto enquanto o povo é enganado e roubado por tantos energúmenos. Exemplo: o caso do senhor Ricardo Salgado, e outras ilhargas e associados.

Se fossem só esses estávamos nós, portugueses, menos-mal. Só que esta máfia já tem raízes há décadas, por isto e aquilo, ali e acolá, e, o que é muito grave, cresce e está instalada à laia de betão armado no sistema económico, político e etc... É um polvo enorme sustentado pelos portugueses. Pelos enganados, explorados, roubados e oprimidos. Só não sabe e sente isso quem não quer.

É hora de lerem o Curto. É o melhor. O pior está nos parágrafos anteriores e até nos dá voltas às tripas. Pior ainda é se um dia essas voltas nos sobem à cabeça e soltam a indignação e revolta contidas. Não convém nada perdermos as estribeiras, assim como está comprovado que não convém andar a sustentar chulos, corruptos, ladrões, criminosos de colarinho branco que são detentores dos poderes, alguns eleitos mas a maioria nem por isso. A dificuldade já é saber quem são os inocentes em toda esta trama. O que é triste e inadmissível.

Adeus, até ao meu regresso… (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Não carregue no botão

Ricardo Marques | Expresso

Há um vídeo antigo de apanhados com o qual já se deve ter cruzado na Internet. Um canal brasileiro decidiu preparar a 'pegadinha' do ano e encheu uma praça de figurantes, novos e velhos, como se fosse só mais um dia na terra da alegria. No meio do jardim, debaixo de uma enorme seta vermelha, colocaram um botão e uma mensagem: não 'aperte' no botão. Irresistível, claro.

Quem passa, e não conhece a história, talvez pense que nada de mal virá ao mundo se carregar no tal botão. O aviso, colocado à vista de todos e perante o desinteresse geral, funciona em sentido oposto para o alvo. É um convite a fazer o contrário daquilo que deve ser feito, um irresistível abismo para o qual a pessoa avança.

Mas mal o incauto transeunte carrega no tal botão todos à sua volta caem por terra, como se estivessem desmaiados ou pior. A praça cheia de vida fica mergulhada em silêncio, num cenário pós-apocalíptico.

É tal e qual a história do incêndio em Pedrógão, mas ao contrário. Ontem, o jornal Público carregou no botão ao revelar as conclusões de uma 'esquecida' auditoria interna da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e o assunto, que parecia adormecido ou pior – ainda que seja difícil esquecê-lo –, ganhou vida própria, com gente a correr e a falar de todos os lados.

Compreende-se. Era difícil imaginar que a história de Pedrógão pudesse ficar pior, mas a realidade é mesmo assim e sabemos agora que desapareceram provas e documentos cruciais para perceber o que correu mal nos primeiros momentos do combate ao fogo e, acima de tudo e com sublinhado meu, para prevenir que os erros se repitam. É isso que está no tal relatório da ANPC que ninguém conhecia. Pode ver aqui o que pensam os bombeiros do estranho desaparecimento.

Eduardo Cabrita, o ministro da Administração Interna, apressou-se a garantir, desde Marraquexe onde está em visita oficial, que o Governo não escondeu qualquer relatório e que, ao fim de quase um ano, o conteúdo do documento, que terá sido enviado ao Ministério Público em novembro, só não era conhecido por o mesmo se encontrar em "segredo de justiça".

Ao final da noite, o gabinete do ministro enviou uma nota às redações a dizer que não mas que sim ou que sim mas que não. "O governo não vê inconveniente na publicitaçãodo relatório, o que transmitiu à senhora procuradora-geral da República, de modo a que seja avaliado o levantamento do segredo de justiça", garantiu o MAI.

O PSD e o CDS 'atiraram-se' ao Governo, com acusações de"ocultação" da auditoria e, através de uma nota da Procuradoria Geral da República acerca do processo em segredo de justiça, soube-se que em vez de dois, o processo judicial relativo ao incêndio de Pedrogão tem, afinal, seis arguidos.

O Diário de Notícias escreve hoje que a vinda de peritos estrangeiros provoca tensão na Protecção Civil - são três espanhóis que vão aconselhar as autoridades portuguesas na prevenção e combate aos incêndios. "Um atestado de incompetência", diz a ANPC.

Às 14h00, o general Mourato Nunes, presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil, vai estar no Parlamento, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, para falar sobre a preparação, os meios e as respostas previstas para a fase mais crítica de incêndios.

Veremos como vai estar a praça ao fim da tarde.

OUTRAS NOTÍCIAS

Antes, convém espreitar quais os assuntos de que, provavelmente, vai ouvir falar durante este 3 de maio de 2018.

Este é uma aposta segura. A comissão parlamentar anunciada para o caso Manuel Pinho está a caminho de evoluir para uma comissão parlamentar com o objetivo de analisar a questão das rendas da energia, recuando até ao inicio dos tempos - por proposta do Bloco de Esquerda, que aqui há uns meses, a propósito da polémica Domingues, não quis ouvir os antigos administradores da Caixa Geral de Depósitos. Ao final do dia, o PCP acrescentou ainda mais matéria.

Carlos César, o deputado açoriano que passou incólume, quase em primeira classe, pelo caso das viagens e reembolsos da Assembleia da República, e que ainda há uns meses recusava comentar processos judiciais, está agora enraivecido e revoltado com Manuel Pinho e, parece, com José Sócrates. O silêncio do ex-ministro está a "revoltar" o PS e João Galamba, ontem na SIC Notícias, deu quase como certo que Manuel Pinho recebeu dinheiro do BES, além de dizer que Sócrates envergonha o PS.

Pinho vai mesmo ser ouvido no Parlamento – ainda que, caso a audição surja antes do depoimento no Ministério Público, provavelmente fique calado. Palavra do seu advogado, Ricardo Sá Fernandes.

Quem já falou foi António Mexia. E o homem forte da EDP garante que a empresa nada tem a ver com o caso de Manuel Pinho, esse homem (cada vez mais) sozinho. A Visão estimaque o ex-ministro terá recebido cerca de 800 mil eurosenquanto estava no Governo e revela que Pinho vendeu, nos últimos meses, a sua casa em Campo de Ourique. "O saco de Pinho" é a manchete.

Rui Rio - que voltou a garantir não estar interessado em campeonatos mediáticos e lembrou que Manuel Sozinho, perdão, Manuel Pinho tem direito à presunção de inocência - pediu há dias ao Governo que divulgasse a lista dos maiores devedores da Caixa Geral de Depósitos. O Expresso dá uma ajuda.

Nos jornais de hoje, o assunto Pinho / BES domina as manchetes. O Correio da Manhã escreve "Pinho no Governo com promessa de reforma"; o DN confirma que "Governo de Costa também entra no inquérito" e o i pergunta "Qual a razão para a AR ter achado Pinho o mau e Sócrates o bom?" A Sábado revela "as ligações perigosas" do ex-ministro.

Portugal não está satisfeito com a proposta da Comissão Europeia para o Orçamento Comunitário pós 2020 (pós-Brexit, leia-se). Augusto Santos Silva, considerou-a um “mau ponto de partida”, por “ser muito insuficiente” o nível de ambição em matéria de recursos. Marcelo Rebelo de Sousa, após uma manhã no novo Bulhão provisório, disse mais ou menos o mesmo.

Eutanásia debatida a 29 de maio no Parlamento. A data foi acordada ontem, após a conferência de líderes parlamentares. PS e PSD já anunciaram liberdade de voto para os seus deputados.

Até lá, e como pode ver nesta peça da SIC, ainda muita água vai correr por baixo das nossas pontes. Tome nota de todas as greves marcadas para as próximas semanas. O vídeo começa precisamente com a paralisação no sector da saúde, que termina hoje.

Soldados portugueses na República Centro Africana. Ontem à tarde, a Rádio Renascença conseguiu falar com o segundo comandante da força portuguesa que integra a Minusca, a missão da ONU no terreno. Aquela hora, os paraquedistas procuravam garantir a segurança de uma igreja em Bangui – a igreja de Nossa Senhora de Fátima - depois de um ataque que provocou a morte de 20 pessoas, incluindo o padre que celebrava missa. O som não é o melhor, mas o assunto é da máxima importância e é provável que haja desenvolvimentos.

A fábrica da antiga Triumph vai a leilão por 5,7 milhões de euros. À venda, à procura da melhor oferta, estão as instalações, a frota e os equipamentos da Triumph, que está insolvente. A ideia, adianta a Lusa, é vender os bens no conjunto, mas que, caso isso não seja possível, a venda será feita separando o imóvel dos bens móveis, que serão vendidos lote a lote.

Arrancou ontem, ao final da tarde, o protesto que junta militares e polícias numa vigília diante do Palácio de Belém. Começou assim, mas não é certo como vai acabar. Ou quando...

Segue-se o bloco desportivo, e dentro de minutos a atualidade internacional

Bruno de Carvalho, o sportbilly presidencial, estrela maior do banco de suplentes, qualquer que seja a modalidade, vai falhar o derby com o Benfica. O presidente do Sporting foi castigado por palavras dirigidas ao presidente do Braga. Mas, como pode ler na Tribuna, claro que nada é tão simples como parece e o castigo ainda vai dar que falar.

O Liverpool sofreu ontem a melhor derrota da época, ao perder em Roma por 4-2 e, desse modo, garantir a presença na final da Liga dos Campeões. Dois dos melhores jogadores da atualidade, Ronaldo e Salah, frente a frente (há um mês, quando Portugal defrontou o Egipto, foi CR7 a evitar a derrota...).Jogam a 26 de maio, em Kiev, na Ucrânia.

Hoje há Liga Europa.

Deixo aqui mais uma história, para ler com calma, sobre Anthony Davis, uma das estrelas da atual NBA. Ou, dito de outra forma, aproveite para perceber como se escreve bem sobre basquetebol. Parece uma tendência, mas não é. Os playoff estão aí e, além de grandes jogadores e grandes jogos, é a melhor altura do ano para descobrir as grandes histórias.

E agora o noticiário Internacional

Depois da Guiné-Equatorial, essa estranha democracia do mundo lusófono, agora é a França a aproximar-se da CPLP, tendo Paris requerido o estatuto de observador associado. O ministro dos Negócios Estrangeiro, Augusto Santos Silva, ontem à noite na SIC Notícias, disse estar tranquilo com a movimentação francesa.

Lembra-se da Cambridge Analytica? A tal empresa que usou dados do Facebook e que terá prestado apoio à candidatura presidencial de Donald Trump? Essa mesmo. Vai fechar, como conta o The Wall Street Journal.

Por falar em Trump... O presidente dos Estados Unidos da América quer contratar um dos advogados que, em 1998, defenderam o então presidente Bill Clinton, marido de Hillary Clinton, que Trump derrotou, no processo de impeachment. Para ler aqui. Ao mesmo tempo, esta história de ligações da administração à Rússia está a crescer e as opçõesdo presidente parecem cada vez mais difíceis.

António Guterres, em entrevista à BBC, pede a Trump que não abandone o acordo nuclear com o Irão.

Uma investigação do The New York Times revela os meandros do negócio dos opiáceos e como estes medicamentos são responsáveis por uma das maiores crises sociais nos Estados Unidos da América.

Foi notícia há dias. Os dois homens negros detidos numa loja da Starbucks, sem qualquer motivo, chegaram a acordo com a empresa (que vai fechar todas as lojas a 29 de maio para que os empregados recebam formação sobre discriminação) e a cidade de Filadélfia. Desistem das queixas e vão receber 1 dólar cada um - e a cidade vai doar 200 mil dólares a um programa de apoio às escolas públicas.

Os ingleses vão hoje a votos - as eleições são locais mas, como sempre, vão ter uma leitura nacional.

A Arménia está paralisada devido a uma grave crise política.

E se pela hora de almoço começar a ouvir falar de corrupção, não se assuste. O organismo anticorrupção do Conselho da Europa ( GRECO) publica o seu relatório anual, que analisa a ação de 49 países contra a corrupção em 2017.

Em Espanha, a notícia do dia é o fim da ETA. O El Mundo escreve que a organização terrorista anunciou a dissolução, mas sem pedir perdão a todas as vítimas. Isto porque, há duas semanas, em comunicado, a ETA pediu perdão às vítimas que não tinham "participação direta" no conflito. O governo espanhol, por seu lado, já garantiu que não haverá perdão.

Na Síria, que há duas semanas ameaçava tornar-se o epicentro daterceira guerra mundial, a guerra não parou. E, de acordo com a Sky News, que cita o líder do Hezzbollah, a tendência é para piorar bastante antes de melhorar.

Da Venezuela vem a subida do salário mínimo: mais 95%. Ou seja, atinge os 2 milhões quinhentos e cinquenta e cinco mil e quinhentos bolívares. Qualquer coisa como 31 euros, o suficiente para comprar um quilo de carne num talho em Caracas.

O QUE ANDO A LER

Comprei há dias um livro capaz de reconciliar o mais desanimado aluno do secundário com essa mal-amada disciplina que é a filosofia. Chama-se "Uma viagem pela Filosofia em 101 episódios", de Nicholas Rescher (Gradiva).

Não faltam clássicos como o paradoxo de Zenão - que tanto jeito tem dado em artigos de opinião sobre a offshore de Manuel Pinho, que tem uma conta chamada tartaruga – ou o paradoxo de Condorcet, sobre as maiorias em democracia. "Apesar das suas vantagens, a democracia eleitoral não é uma cura universal - nem sequer em teoria, quando mais na prática", escreve Rescher.

Mas o que mais importa para hoje está na página 58, sob o título "O anel de Giges de Platão". Ora, escreve Platão em "A República", um pastor descobriu que, ao rodar o anel que tinha no dedo, ficava invisível, o que lhe permitia tudo fazer em total impunidade. De tal modo que, após uma série de diatribes, se tornou senhor de um império - sem nunca deixar de ser um pastor capaz do pior.

Segundo Rescher, o desafio é o seguinte: "que individuo real poderia resistir a uma oportunidade para obter ilicitamente os muitos bens deste mundo – ou que o individuo sensato o faria – se tivesse a certeza de se safar sem problemas?"

E qual é a lição? "As ações que executamos têm um duplo aspeto. Irão influenciar como o mundo nos vê - que é algo que talvez consigamos manipular. Mas quer queiramos quer não são também fatores determinantes da nossa própria constituição, servindo para fazer de nós o género de pessoa que de facto somos".

Seremos a pessoa que carrega no botão?

A informação segue a qualquer hora no site do Expresso e às seis da tarde com o Expresso Diário.

Parece que o calor está a chegar. A passo de tartaruga, mas a chegar.

Tenha uma excelente quinta-feira.

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