terça-feira, 5 de junho de 2018

Portugal | A época da chantagem


Paula Ferreira | Jornal de Notícias | opinião

A guerra está aberta entre sindicatos de professores e Ministério da Educação. E a altura do ano escolhida não podia ser pior. Afinal que têm os alunos a ver com esta luta, sem fim à vista? Tudo e nada. Tudo, porque só professores motivados conseguem dar aulas que conquistem os mais novos; nada, porque o foco dos estudantes, neste momento, são os exames - que, no atual sistema de ensino, significa o futuro.

A luta dos professores será justa. Não é isso que está em causa, é também o futuro da classe em jogo. Todavia, ameaçar fazer greve às avaliações, deixando milhares de alunos com o destino suspenso, não parece o melhor caminho.

Tenho dúvidas que os propósitos de Mário Nogueira e de João Dias da Silva tenham sucesso junto da classe que representam. Um professor acompanha o percurso dos seus alunos, um professor faz do sucesso do aluno o seu sucesso e o fracasso será também o seu fracasso. Como irão os docentes, por mais plausíveis que sejam as suas reivindicações, reagir perante os olhares ansiosos dos alunos, que acompanharam ao longo de um ano ou de um ciclo de ensino? Uma décima, a mais ou a menos, na nota de um exame, pode mudar o rumo das suas vidas.

Uma decisão difícil. Exigem a recuperação dos nove anos, quatro meses e dois dias de serviço em que a contagem está congelada. Do outro lado, o Ministério da Educação mostra-se disponível a contar apenas dois anos, nove meses e 18 dias.

O compromisso com os alunos não é da exclusiva responsabilidade dos professores. O Estado de igual modo o deve ter. Tiago Brandão Rodrigues ao pôr um ponto final nas reuniões com os sindicatos, depois de recusada a sua proposta - que apaga parte da vida profissional de muitos docentes -, coloca o contencioso no plano do inegociável. O ministro tem a obrigação de perceber uma coisa: a altura do ano não é propícia a chantagem.

*Editora-executiva-adjunta

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