A três meses das eleições,
indefinição de partidos e eleitores sinaliza resultado imprevisível. Pesquisas
indicam maior percentual de votos brancos e nulos desde a redemocratização.
Julho em ano de Copa do Mundo é
tradicionalmente tempo de ver políticos-torcedores tentando transformar gols e
nacionalismo esportivo em votos. Mas em 2018, o cenário é diferente. Ao
contrário de eleições presidenciais anteriores, até o momento são poucas
imagens divulgadas por candidatos de verde e amarelo comemorando as
vitórias de Neymar e companhia.
As indefinições de
partidos e, consequentemente, de eleitores que não sabem em quem poderão
votar no próximo dia 7 de outubro são os principais ingredientes de uma
eleição que se mostra cada vez mais imprevisível.
Pesquisas apontam o número mais
alto desde o início dos anos 2000 de pessoas que ainda não sabem em quem
vão votar para presidente. O último levantamento do Instituto Datafolha,
divulgado em meados de junho, indica um percentual de votos brancos ou
nulos de até 28%, dependendo do cenário.
É o maior índice de votos brancos
ou nulos em pesquisas realizadas pelo Datafolha em julho desde a
redemocratização do país. Além de 2014, quando foram
contabilizados 13%, apenas em 1994 as intenções de anular o voto chegaram
a dois dígitos.
Para Glauco Peres, professor
doutor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP),
o cenário atual de falta de candidatos fortes com política bem definida, e
várias pequenas candidaturas se organizando, tem somente alguns aspectos
em comum com as eleições de 1989, as primeiras com voto direto após a ditadura
militar.
"Há uma pulverização das
candidaturas e nomes novos tentando ocupar um espaço que parece vazio na
política nacional, da mesma forma que ocorreu em 1989. Mas as semelhanças param
por aí. Naquela eleição estávamos em uma democracia recente, ainda nos
organizando como país, o que não é o caso atual", afirma Peres.
A corrupção na política, que
ocupa lugar cativo nas páginas dos jornais nos últimos anos, também
gera uma descrença na política nacional por parte do eleitorado, e isso
deve ser levado em consideração, aponta o cientista político David Fleischer,
professor doutor da Universidade de Brasília (UnB).
"Mesmo sendo difícil prever
qualquer resultado, é certo que uma coisa vai acontecer: teremos uma eleição
presidencial com recorde de votos brancos e nulos. O eleitor perdeu a confiança
nos políticos. Basta ver o que aconteceu na eleição suplementar para governador
do Tocantins no mês passado, quando a metade dos eleitores votou branco ou nulo
ou se absteve", aponta Fleischer.
Um aspecto importante
neste ano é o prazo mais curto para campanhas políticas. Em outros pleitos
presidenciais, em 6 de julho já começava a propaganda eleitoral gratuita na
televisão e no rádio. Desta vez, a largada televisiva será dia 16 de agosto. O
calendário eleitoral mais curto já foi aplicado nas eleições municipais de
2016, e Peres não acredita que isso seja um empecilho para fazer campanha.
"O prazo foi reduzido porque
antes era muito grande, não há país no mundo que dê tanto tempo de TV
obrigatório como o Brasil para fazer campanha. Os políticos nos outros
países se esforçam para ir às ruas e alcançar o eleitor", afirma.
"Na campanha do
[presidente] Emmanuel Macron, na França, por exemplo, houve um grupo
bem grande de voluntários batendo de porta em porta para explicar as propostas
do candidato", exemplifica.
Polarização PT x PSDB fica para
escanteio
As últimas seis eleições
presidenciais no Brasil foram marcadas por uma polarização política
entre PSDB e PT, dois partidos que, por motivos diferentes, ainda têm
candidaturas incertas.
Do lado tucano, Geraldo Alckmin
se declarou candidato ainda em maio, mas não cresce nas pesquisas e vê o apoio
do seu próprio partido vacilar em alguns momentos.
Para o PT, o problema é ainda
maior. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril em
Curitiba após ser condenado em segunda instância no processo do tríplex, ainda
não sabe se poderá ou não ser candidato.
Apesar de Lula teoricamente não
poder participar da disputa eleitoral deste ano – já que a Lei da Ficha Limpa
impede políticos condenados de concorrerem –, o PT insiste que registrará
a candidatura do ex-presidente. A decisão final caberá, então, ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
O suspense quanto à candidatura
de Lula interfere no jogo político nacional, afirma Fleischer. As
pesquisas também revelam isso. Nos cenários sem Lula, os votos brancos ou nulos
chegam a 28% atualmente, mas o percentual cai para 17% se o líder
petista estiver na disputa.
"A indefinição quanto a se
Lula poderá concorrer ou não atinge as pessoas que querem votar nele e também
os outros partidos de esquerda que querem absorver esses votos em caso de
ausência", afirma Fleischer.
"Aí você pode ter um nome do
próprio partido, como o de Fernando Haddad, que já é citado nas
pesquisas; ou nomes de outros partidos, como os de Ciro Gomes (PDT),
Guilherme Boulos (Psol), Manuela d'Ávila (PCdoB) e Marina
Silva (Rede) tentando assumir esse papel que ficará vazio na política
nacional."
No meio desse vendaval de
incertezas, Jair Bolsonaro (PSL) vai liderando as pesquisas, mesmo que
ainda não tenha um programa de governo pronto para apresentar, assim como os
demais pré-candidatos.
"Por enquanto temos apenas
ideias vagas de todos os pré-candidatos, como a de que são contra a
corrupção. Ainda não apresentaram propostas concretas de governo, e o tempo
está passando", considera Peres.
"Bolsonaro lidera, mas o
índice de rejeição dele também é muito alto. Isso faz com que seja um candidato
com poucas chances em um eventual segundo turno. Por isso, o prognóstico de um
resultado ainda é tão difícil", conclui.
Hyury Potter | Deutsche Welle
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