segunda-feira, 23 de julho de 2018

Um retrato do desemprego em Angola


Em Angola, cerca de 46% dos jovens não tem emprego. Por isso, dezenas de angolanos foram este fim-de-semana para as ruas protestar. Governo reconhece o problema, mas diz que é preciso esperar por crescimento económico.

Frederico Kariongo está há quatro anos à procura de um emprego. O jovem de 27 anos diz que se farta de enviar candidaturas, mas a resposta é sempre negativa.

"Nunca me cansei de procurar emprego, mas não está a aparecer", conta Kariongo em entrevista à DW África.

"Você deixa um documento [na empresa], mas não chamam. Tenho atestado médico, atestado de residência e registo criminal - todos os documentos que pedem numa empresa, eu tenho, mas os documentos já vão caducar."

O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística divulgados no ano passado. Os jovens são os mais afetados - 46% não tem emprego.

Para sobreviver, alguns, como Frederico Kariongo, dependem de familiares; outros dedicam-se a negócios informais ou fazem biscates.

Crise económica

O desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.

Geraldo Wanga, presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas (A-NATA), diz que, só no seu setor, 2.335 jovens ficaram sem emprego.

"Fruto do contexto social e económico que o país atravessa, alguns empresários perderam o poder financeiro de investir no setor. Baixou consideravelmente a compra de veículos automóveis destinados à atividade de táxi e, em função disso, tem vindo a aumentar o número de jovens taxistas desempregados", diz.

Além da crise, uma questão que preocupa os jovens estudantes é o facto de, depois da formação, ser difícil arranjar emprego por causa da corrupção e de compadrios: "Há a questão do favoritismo, o 'primismo'; temos de pagar alguma coisa para estarmos empregados. As pessoas sem 'padrinho na cozinha' não conseguem ter o primeiro emprego", afirma Francisco Teixeira, presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA). 

Cumprir as promessas

No sábado (21.07), cerca de 40 pessoas saíram às ruas de Luanda para se manifestar contra o elevado nível de desemprego em Angola - houve também protestos marcados nas províncias do Bengo, Malanje, Bié, Benguela e Moxico.

Durante a campanha eleitoral, o Presidente João Lourenço prometeu criar 500 mil empregos até 2021. Mas o Governo não está a cumprir a promessa, segundo o ativista Arante Kivuvu, um dos membros da organização do protesto na capital angolana.

"Queremos pressionar o Governo para que altere as suas políticas, para que os jovens consigam emprego com urgência", disse Kivuvu.

"O desemprego traz consigo consequências, o jovem não se consegue realizar na vida. Enquanto o Governo não criar políticas sérias, vamos continuar a reivindicar até que o problema seja resolvido".

O ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, garante estar atento à situação, e tem um plano: impulsionar a formação profissional em Angola. Mas o governante avisa que o combate ao desemprego depende do crescimento económico.

"Não temos qualquer dúvida de que o sistema nacional de formação profissional pode contribuir de modo significativo para a redução da taxa de desemprego no país ao renovar os níveis de empregabilidade da população e, em particular, da nossa juventude. Sem crescimento económico, não há aumento de emprego", concluiu.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

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