Em Angola, cerca de 46% dos
jovens não tem emprego. Por isso, dezenas de angolanos foram este fim-de-semana
para as ruas protestar. Governo reconhece o problema, mas diz que é preciso
esperar por crescimento económico.
Frederico Kariongo está há quatro
anos à procura de um emprego. O jovem de 27 anos diz que se farta de enviar
candidaturas, mas a resposta é sempre negativa.
"Nunca me cansei de procurar
emprego, mas não está a aparecer", conta Kariongo em entrevista à DW
África.
"Você deixa um documento [na
empresa], mas não chamam. Tenho atestado médico, atestado de residência e
registo criminal - todos os documentos que pedem numa empresa, eu tenho, mas os
documentos já vão caducar."
O Governo angolano reconhece que
o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa
está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística
divulgados no ano passado. Os jovens são os mais afetados - 46% não tem
emprego.
Para sobreviver, alguns, como
Frederico Kariongo, dependem de familiares; outros dedicam-se a negócios
informais ou fazem biscates.
Crise económica
O desemprego piorou com a crise
económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado
internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo,
entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e
milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Geraldo Wanga, presidente da
Associação Nova Aliança dos Taxistas (A-NATA), diz que, só no seu setor, 2.335
jovens ficaram sem emprego.
"Fruto do contexto social e
económico que o país atravessa, alguns empresários perderam o poder financeiro
de investir no setor. Baixou consideravelmente a compra de veículos automóveis
destinados à atividade de táxi e, em função disso, tem vindo a aumentar o
número de jovens taxistas desempregados", diz.
Além da crise, uma questão que
preocupa os jovens estudantes é o facto de, depois da formação, ser difícil
arranjar emprego por causa da corrupção e de compadrios: "Há a questão do
favoritismo, o 'primismo'; temos de pagar alguma coisa para estarmos
empregados. As pessoas sem 'padrinho na cozinha' não conseguem ter o primeiro
emprego", afirma Francisco Teixeira, presidente do Movimento dos
Estudantes Angolanos (MEA).
Cumprir as promessas
No sábado (21.07), cerca de 40
pessoas saíram às ruas de Luanda para se manifestar contra o elevado nível de
desemprego em Angola - houve também protestos marcados nas províncias do Bengo,
Malanje, Bié, Benguela e Moxico.
Durante a campanha eleitoral, o
Presidente João Lourenço prometeu criar 500 mil empregos até 2021. Mas o
Governo não está a cumprir a promessa, segundo o ativista Arante Kivuvu, um dos
membros da organização do protesto na capital angolana.
"Queremos pressionar o Governo
para que altere as suas políticas, para que os jovens consigam emprego com
urgência", disse Kivuvu.
"O desemprego traz consigo
consequências, o jovem não se consegue realizar na vida. Enquanto o Governo não
criar políticas sérias, vamos continuar a reivindicar até que o problema seja
resolvido".
O ministro de Estado do
Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, garante estar atento à
situação, e tem um plano: impulsionar a formação profissional em Angola. Mas o
governante avisa que o combate ao desemprego depende do crescimento económico.
"Não temos qualquer dúvida
de que o sistema nacional de formação profissional pode contribuir de modo
significativo para a redução da taxa de desemprego no país ao renovar os níveis
de empregabilidade da população e, em particular, da nossa juventude. Sem
crescimento económico, não há aumento de emprego", concluiu.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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