domingo, 11 de novembro de 2018

EM ANGOLA HÁ 20 ANOS – III


Martinho Júnior, Luanda 

1- Todo o trajecto de Savimbi foi feito em subversão: foi assim em relação à sua passagem pela FNLA, foi assim em relação ao MPLA e ao Movimento de Libertação em África, foi assim em relação ao estado angolano…

No momento de lutar contra o colonialismo aliou-se a ele, no momento de lutar contra o “apartheid”, aliou-se a ele, no momento de assumir a paz, aliando-se a Mobutu, Savimbi protagonizou o choque neoliberal!...

Esse trajecto é próprio de alguém fundamentalista e radical, conforme se pode constatar por via do apoio que mereceu da Conservative Caucus dos Estados Unidos, uma das alas de ultradireita do Partido Republicano, inaugurando a“filiação” desde a administração de Ronald Reagan, quando os Estados Unidos estavam ainda longe de reconhecer Angola independente!

É evidente que na triangulação entre superestrutura ideológica, carácter da guerra psicológica e acções no teatro das operações, as evidências sobre o seu fundamentalismo de conduta foram-se acumulando até à exaustão… e de repente isolou-se, sem mais vislumbre de recuperação, com o golpe traduzido na e pela Operação Restauro!


2- Savimbi foi sempre um instrumento útil e sangrento à mercê de interesses e de poderes externos: de Salazar e Marcelo, de Mao Tse Tung, do “apartheid” e dos Botha, de Kissinger (que o haveria de descobrir via Kenneth Kaunda), da administração Reagan (que o qualificou entre outros como “freedom fighter” e o municiou com os “Stingers”), de Mobutu agenciado pela CIA, do cartel dos diamantes antes do Processo Kimberley, do “lobby dos minerais”, filtro do cartel e do Parido Democrata dos Estados Unidos… uma longa lista de percursos de vassalagem que se foram sucedendo conduzindo ao nada, tanto pior, à completa destruição de Angola, quaisquer que fossem as suas justificações!

Esse é um percurso que por si é testemunho que as premissas desencadeadas no âmbito do Exercício ALCORA, tiveram linhas de acção ao longo de décadas depois do 25 de Abril de 1974 e particularmente após o 25 de Novembro de 1975 em Portugal!

Nesse aspecto, foram garantidos não só os termos dos relacionamentos vassalos e/ou ambíguos dos governos portugueses na direcção da África Austral, mas também a atracção dos interesses subjacentes, como por exemplo os condensados pelo Le Cercle e figuras a ele indexadas, como Jaime Nogueira Pinto autor de “Jogos Africanos”, que também haveriam de enredar angolanos confundidos pela terapia neoliberal, conforme testemunham as fotos desse seu livro!

Até que ponto, por exemplo, a Contra Inteligência Militar angolana, sob as ordens do General José Maria, se deixou enredar nessa teia de interesses característicos da terapia neoliberal e que motivações isso não acarretou até à sua demissão, numa altura em que já os escândalos de corrupção dentro do estado angolano se tornavam insuportáveis?

Desde quando essa saga afinal havia começado, por dentro do miolo dos instrumentos do poder de estado em Angola, mesmo antes da desarticulação da Segurança do Estado em 1986 e a condenação dos oficiais que haviam lutado contra o tráfico ilícito de diamantes por via do processo 105/83, um processo que havia começado por causa da publicidade da documentação do Consulado dos Estados Unidos em Luanda, detectada no edifício TEXACO à Maianga e num armazém de “pronto a embarcar” na área do Porto de Luanda?...

3- Em 1998, no meio-clandestino Gabinete de Apoio ao Estado-Maior Geral das FAA, a nossa primeira preocupação foi avaliar até que ponto o cerco à capital a partir das províncias angolanas (e do meridiano Cuango – Cuanza, até à região central das grandes nascentes) lhe iria produzir resultados no sentido da tomada do poder pela força.

Em relação a essa preocupação, todos os alarmes soaram quando as áreas produtoras de petróleo (caso do Soio), ou áreas com prestação de serviços ao sector petrolífero (caso do Ambriz), começaram a ser por ele atacadas e tomadas no noroeste angolano.

A caracterização da ofensiva de Savimbi, fiel às doutrinas maoistas de guerrilha e guerra, foi determinante para a definição do carácter das contramedidas, algumas das quais expeditas e com recurso a mercenários (“Executive Outcomes”), por que a subversão de Savimbi foi também radical e fulminante para se definirem os campos contraditórios na economia e nas finanças do país!

Com isso ele não só obrigou à intensificação das medidas do choque neoliberal que se reflectiram nas barricadas que se enfrentavam no terreno, mas conseguiu amarrar o estado angolano a compromissos contranatura, por que as FAA eram incipientes e os recursos internacionais expeditos em socorro do estado angolano não existiam, ou só existiam através de vasos “transversais” ao sabor e à mercê das máfias internacionais que acabaram por dar suporte à “guerra dos diamantes de sangue” de há 20 anos e hoje suportam de forma mais controlada pelo poder do capitalismo financeiro transnacional, as iniciativas que alimentam caos, terrorismo e desagregação no Afeganistão, no Paquistão, no Iraque, na Líbia, no Sahel, na Síria, no Iémen e no que adiante se verá (atendendo à evolução da situação no imenso continente americano!...

Esses compromissos, após o fim dos combates em 2002, engrossaram a intensidade dos impactos próprios da terapia neoliberal e com isso contribuíram também para disseminar múltiplas sementes de corrupção… até à exaustão de Pierre Falcone, Arkady Gaydamak, Lev Leviev, Maurice Tempelsman , Sam Pa, cuja queda e condenação a 80 anos de prisão na China foi determinante no momento último da crise e da actual “mudança de paradigma” em fresco curso em Angola!

A terapia neoliberal com esse tipo de trilhas e de impactos, haveria ainda de influenciar, no seguimento das premissas de guerra psicológica de Savimbi, o surgimento de entidades provocadoras, elas próprias com suas trilhas feitas por ajuste e encomenda a partir de “raízes” como a Open Society ou a National Endowment for Democracy, com roupagens diferenciadas mas similares na sua essência e matriz: Rafael Marques de Morais, Luaty Beirão…

… Filosofias e doutrinas para os encaminhar nunca faltaram, desde a do “filantropo” George Soros, às do Milton Friedman, do Gene Sharp, de Francis Fukuyama, de Leo Straus…

4- A guerra psicológica do instrumentalizado Savimbi, visando confundir, manipular e enganar, ganhando espaço para a formatação das mentalidades, mas também ganhando espaço no descrédito infligido a Angola, quantas vezes por via da calúnia e da confusão, foi dirigido para toda a sociedade angolana, assim como para a sensibilidade de cada angolano, durante décadas, como uma barbárie fluente e sub-reptícia, visando em última análise neutralizar o sentido histórico do movimento de libertação em África, face às prementes necessidades de luta contra o subdesenvolvimento e impedir uma cultura de inteligência nacional e patriótica em prol da independência, da soberania e do desenvolvimento sustentável!

Muitos dos ingredientes, sistemática e massivamente empregues incluíam doses de terror, provocação do medo, ou exacerbação de emoções, de dentro das fileiras comandadas por Savimbi, para fora delas, alastrando pela sociedade angolana sujeita a todo o tipo de riscos, de sevícias e de traumas!

No livro “O Rapto”, a falecida Dora Fonte testemunha como as coisas se passavam nas próprias fileiras de Savimbi, durante a década de 80 do século XX…

As vagas humanas de refugiados internos que afluíram às cidades do litoral e sobretudo a Luanda, originando ainda mais assimetrias, é disso testemunho incontornável!

Em resultado desse esforço instrumentalizado e protagonizado que animou o “produto” Savimbi e sua “obra”, a guerra psicológica indexada ao seu desempenho de décadas continua a ser um insubstituível manancial inspirador quanto mais não seja por inércia, ou arrasto, que se vai reflectindo em muitas questões que foram ocorrendo apesar de sua morte, entre elas a completa desarticulação a que se chegou no sector da exploração e comércio de diamantes aluviais e seus múltiplos enredos humanos e ambientais, enquanto componentes dos expediente de terapia neoliberal post choque traumático, interligando-se à situação dos enredos comuns com a diversificada sociedade congolesa (a fronteira comum Angola – RDC, tem mais de 2000 km).

As denúncias em relação à selvageria contra o ambiente, foram feitas por muitos, até por um dos oficiais mais conhecidos do “apartheid”, Jan Breytenbach, mas nunca foi feita uma avaliação sobre os prejuízos ambientais resultantes dos “diamantes de sangue”, que integram um pacote incomensurável de danos que se inscreveram na própria guerra prolongada que o país sofreu particularmente entre 1992 e 2002!

A minha proposta para uma Geoestratégia para um Desenvolvimento Sustentável, é uma réplica contraditória coerente, em nome da civilização, a essa bárbara guerra psicológica continuada, que afecta ainda hoje e sobretudo a juventude angolana.

As sequelas ambientais por exploração de diamantes aluviais selvagens, ilegais e clandestinas, após a “introdução”savimbiesca, nem sequer estão inventariadas: para além dos rios que o deixaram de ser, é um território escalvado, cheio de crateras e solos remexidos onde até, apesar do clima tropical, a cobertura vegetal tem dificuldade em surgir!

A terrível imagem das bacias hidrográficas esventradas por causa da exploração desenfreada de diamantes aluviais chega a afectar já a região central das grandes nascentes, incluindo as fontes de muitos afluentes e subafluentes do Cuanza, do Cuango e do Cassai!

A Operação Transparência é, nesse sentido, apenas um ponto de partida que deve amadurecer em muitas linhas de acção que se deverão passar a implementar e a Geoestratégia para um Desenvolvimento Sustentável socorre essa possibilidade, mobilizando a juventude para as prementes tarefas da gestação duma cultura de inteligência nacional e patriótica, aglutinadora de conhecimento científico e capacidade investigativa, condição sine qua non para um renascimento angolano e africano!

Martinho Júnior - Luanda, 3 de Novembro de 2018


Imagens:
-Savimbi e Jan Breutenbach; Breytenbach denunciou o tráfico de Savimbi na Jamba, enquanto o “apartheid” esteve empenhado na “border war”;
-O Rapto, livro de Dora Fonte, é prova e testemunho dos métodos de guerra psicológica de Savimbi;
-As “guerras dos diamantes de sangue”, ou a Iª Guerra Mundial Africana;
-Subversão, sabotagem económica e desastre ambiental são um único fenómeno, com nocivas repercussões no futuro do país;
-Paisagem lunar da exploração de diamantes aluviais.

Recolhas que servem de amostra:
-Savimbi em 1992, no Cuanza Sul… na altura já com as explorações ilegais de diamantes instaladas para suporte da “guerra dos diamantes de sangue”; constatem os parâmetrosde guerra psicológica de que era autor na altura!... –  https://www.youtube.com/watch?v=lqCFlFE-TLo 
-A publicação deste discurso de Savimbi na Jamba, ocorreu em 2014; não há futuro algum que se possa construir com a guerra e com a morte, um tema em que confusão, subversão e ambiguidade sempre estavam presentes no argumento de Savimbi!… a alucinação emocional estava também sempre presente!... – https://www.youtube.com/watch?v=MDxpv_z6O88
-Constatem aqui este trabalho de brasileiros sobre os diamantes (os brasileiros foram sendo atraídos aos diamantes, em função de sua participação na construção das barragens do Médio Cuanza); sobre os prejuízos ambientais, nem uma palavra!... – https://www.youtube.com/watch?v=8d7Rjy5gFeo
-Os garimpeiros ilegais, 400.000 deles congoleses, passaram despercebidos a Rafael Marques de Morais, agente provocador pago para subverter a informação pública (neste caso com a “parceria à portuguesa”) em relação às questões na generalidade sobre a  exploração e comércio de diamantes!... – https://www.youtube.com/watch?v=9iRMHIyU8_8
-Maka Angola: perante o caos e a anarquia, que conceito de soberania?... – https://www.youtube.com/watch?v=-CicB6P4YVA
-O garimpo legal não faz avaliações sobre danos ambientais!... – https://www.youtube.com/watch?v=OvctJu2tDy4
-O comércio de tecnologias de dragagem não é devidamente controlado!... – http://pertangola.com/obras-publicas-e-fundacoes/equipamentos/bombas-de-dragagem-2/ 

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UNITA – Uma nova estratégia de desestabilização do País - III

Fontes: “SITES” – UNITA – BRUXELAS / WASHINGTON / PARIS.

12 AGO 98

I. CONTINUAÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO  DA ACTIVIDADE MILITAR DA UNITA, DENTRO DO ESPAÇO NACIONAL

1) Tudo leva a crer que a UNITA está a implementar uma nova reorganização e estratégia, fazendo face simultaneamente às sanções Internacionais implementadas pela ONU e aos desenvolvimentos da situação interna no País, tirando partido da morte de BLONDIN BEYE e à paragem que ela provocou em relação à execução do Protocolo de LUSAKA, com fortes apoios Internacionais.

2) Em relação à reorganização de suas FORÇAS dentro de ANGOLA, a UNITA estabeleceu quatro REGIÕES que se estendem à volta da REGIÃO DAS GRANDES NASCENTES, isto é, à volta dos Municípios-chave do BAILUNDO – MUNGO – ANDULO – NHAREIA, abarcando todo o espaço Nacional e prontas a desencadear um conjunto de acções que progressivamente se dirigem para os centros político-administrativos principais.

Essas FRENTES correspondem à divisão do território Angolano (que se assemelha a um quadrado), em quatro triângulos, cujo vértice coincide com a REGIÃO DAS GRANDES NASCENTES e as bases respectivamente nas fronteiras NORTE, LESTE e SUL, bem como na costa ATLÂNTICA, assumindo assim as designações dos pontos Cardeais e os objectivos que se encontram dentro da sua respectiva área (que é sua área de competência).

3) A FRENTE NORTE é a que desempenhará as missões mais importantes, tendo em conta o facto da Capital estar nela enquadrada, assim como as principais actividades (petróleo e diamantes).

Estende-se pelas Províncias de ZAIRE, UÍGE, BENGO, QUANZA NORTE, MALANGE e LUNDAS, com os primeiros objectivos a serem alcançados sucessivamente na LUNDA NORTE, MALANGE, UÍGE e BENGO, para depois fechar rapidamente sobre LUANDA.

Nossas fontes referenciam que existe no sector NORDESTE de FRENTE (dirigida contra as áreas de diamantes), a Base de MILANDO, junto à fronteira com a RDC, onde os abastecimentos são introduzidos para as acções que se pretendem fazer nas LUNDAS e MALANGE (incluindo a bacia do Rio CUANGO).

Uma das bases principais que está referenciada é a que fica situada nos arredores de LUÓ, com cerca de 3.000 homens (LUNDA SUL), que poder-se-á deslocar para outra área mais a OESTE, se os dispositivos forem sendo progressivamente instalados, “com o envolvimento das cidades a partir do campo”.

O sector NOROESTE (dirigida contra o petróleo e a Capital) possui a maior concentração na área dos DEMBOS (envolvendo QUIBAXE, PANGO ALUQUEM e BULA ATUMBA) onde há notícias também da instalação de alguns mísseis solo – solo (“SCUD”) e de onde partirão algumas das acções principais sobre LUANDA.

Admite -se que um dos pontos intermédios de maior compressão será a Capital do BENGO, CAXITO, antes de os movimentos principais dos efectivos, clandestinos ou armados, atingirem a Capital do País.

Subsidiariamente há infiltrações pela via de ZENZA DO ITOMBE – CATETE, de forma a alcançar LUANDA pelo LESTE, com aproximação a VIANA e tirando partido do enfraquecimento das linhas de controlo das estruturas Governamentais.

4) A FRENTE OESTE é chefiada pelo General KATÚ e engloba bases como a 45, onde consta que há helicópteros, com a missão principal de atingir a zona LOBITO – BENGUELA, sendo um objectivo estratégico a base aérea da CATUMBELA.

5) A FRENTE LESTE engloba posições em LUMEGE – CAMEIA, CAZOMBO, LUAU e placa giratória principal no MUNHANGO.

Consta que recebeu reforços provenientes de antigas forças de MOBUTU, cerca de 15.000 efectivos, grande parte deles“comandos”, que teriam entrado pelo LUAU.

O objectivo principal é a tomada do LUENA.

Em princípio é esta a FRENTE que maiores contactos possui com o interior da ZÂMBIA, a partir do saliente de CAZOMBO e parte SUL da Província do MOXICO, ao longo do curso do Rio LUNGUÉ BUNGO.

6) A FRENTE SUL estará instalada (a zona operativa) entre CALUQUEMBE – CACONDA, num ponto central equidistante das cidades de LUBANGO – HUAMBO – LOBITO / BENGUELA, (provavelmente CHICUMA).

MAVINGA é a sua maior base, onde existem Sul Africanos e Russos (ultranacionalistas).

Os principais movimentos são dessas bases na direcção das bases operativas nas Províncias de HUILA – HUAMBO, com a missão de destruir a barragem do GOVE e, tomando o LUBANGO, neutralizar e tomar a sua base aérea.

7) Na REGIÃO DAS GRANDES NASCENTES, com fulcros nos Municípios estratégicos do BAILUNDO – MUNGO – ANDULO – NHAREIA (que a UNITA não vai entregar à administração do ESTADO, em função do que lhe está determinado pelo Protocolo de LUSAKA), ela tem algumas das suas Unidades mais importantes, ao longo do Rio QUANZA e num cordão de isolamento daqueles Municípios.

Nesta área têm barcos de borracha para explorar o Rio e encontra-se algum armamento que constitui o conjunto de meios principais para a sua estratégia, incluindo blindados.

Pelo menos uma parte dos veículos SAMIL adquiridos à RAS encontra-se nesta área.

II. ALGUNS SINAIS DA ACTUAÇÃO DA UNITA NA CAPITAL

1) Apesar de nossos esforços operativos, temos tido dificuldades nos apoios para ampliar as informações relativas à Capital, mas de acordo com o material que nos tem chegado, (temos como exemplo um documento que é em princípio uma ORDEM OPERATIVA do próprio SAVIMBI com data de 23 JUL 98), é de supor que a UNITA está a dedicar uma parte importante da sua atenção sobre meios na clandestinidade, não permitindo que a gente que se enquadra nos circuitos táctico – operativos clandestinos, tenham contacto com os seus membros que têm missão nos sectores que, por força do PROTOCOLO DE LUSAKA, são considerados públicos (Deputados , membros do Governo e das FAA, etc.).

A UNITA pretende tirar partido de todas as situações que afectem substratos sociais de base, principalmente aqueles ligados a marginais e pessoas deslocadas de ouras áreas do País, mas também de sectores que se relacionam com os sectores sociais de actividade, com especial referência para a área da Educação.

Em relação às “associações cívicas” a ordem é (especialmente na direcção do “sindicato de professores”) “corporizá-los no nosso programa cujo o objectivo é activá-los a continuarem a manifestarem o seu descontentamento em relação ao estado social péssimo dos professores com greves contínuas e diálogo difícil do patronato”.

Em relação aos substractos marginais, “manter activo o contacto com os vários grupos de meliantes, mobilizar os respectivos lideres, com políticas claras no sentido de incrementarem as acções que caracterizará a desobediência civil, desacatos de grande escala, com maior incidência nas áreas onde habitam os chamados novos ricos quadros do regime”.

A médio prazo – “preparar os aspectos logísticos para a recepção do grupo ABATE e introduzi-los como funcionários sombras até se for preciso como biscateiros mesmo sem remuneração aceitável nas residências da nomenclatura” e“continuar a contratar informadores nos pontos estratégicos da capital, principalmente no staff que controla as saídas e entradas do Presidente do MPLA”.

2) Pelo teor do documento que foi feito com recurso a computador e introduzido em LUANDA com a utilização de diskete (expediente que aparentemente está a ser utilizado pelos estafetas e mensageiros da UNITA), os dirigentes do MPLA, com o seu Presidente à cabeça, tornaram-se objectivos prioritários para os circuitos táctico – operativos clandestinos, estando em curso a preparação de acções contra os mesmos, podendo-se considerar que se está em plena fase de recolha de informação e preparação das condições para a introdução dos operacionais (sua logística).

Aparentemente a UNITA está a utilizar três grupos para a realização de atentados:

O grupo de recolha de informação (actividade em curso).

O grupo de apoio logístico (em constituição e noutros casos em curso).

O grupo de ABATE (a introduzir em alturas próprias, aparentemente quando todas as condições de logística estiverem criadas).

Provavelmente a compartimentação é rigorosa, tendo em conta o ambiente muito hostil de LUANDA e as experiências amargas do passado, constituindo o recrutamento de gente na classe dos professores um indicativo da necessidade de alcançar a camada média e baixa de intelectuais, de forma a com recrutamentos nessa classe, melhorar as capacidades de acesso a substractos da população identificados como da “nomenclatura” e com isso obter a melhor garantia para a execução operativa das missões, (o que é um dado de grande importância para a capacidade CI das NOSSAS FORÇAS).

A conclusão do documento é explícito: “continuar a contratar informadores nos pontos estratégicos da capital, principalmente no staff que controla as saídas e entradas do Presidente do MPLA”, pelo que, se levarmos em conta o que o espaço “DEMAIN L’UNITA” refere, através do Editorial da Semana de 29 JUL 98, (uma peça exemplar de CONTRA PROPAGANDA), em relação à possibilidade de assassinato dele próprio, no quadro duma ofensiva Governamental contra o ANDULO / BAILUNDO, é de supor que SAVIMBI possui na verdade um plano de assassinato do Presidente JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

III. INFORMAÇÕES EM POSSE DE ENTIDADES ESTRANGEIRAS

1) O documento que obtivemos, que está incompleto e é fotocópia, foi aparentemente endereçado ao PRD e obtido a partir de gente identificada com esse PARTIDO.

O documento faz, entre outros:

A panorâmica síntese do estado de degradação da cidade Capital.

O relato dos incidentes conotados com a “violência política” em todo o espaço Nacional, de 23 MAI 98 a 18 JUN 98.

O relato das “prisões de civis, dos crimes e dos incidentes, assim como dos graus de violência contra estrangeiros”.

2) Em relação ao relato dos incidentes conotados com a “violência política”, é necessário comparar com os dados disponíveis a nível das estruturas Nacionais de Comando, de forma a verificar a informação disponível pela COMUNIDADE ESTRANGEIRA, (sob a influência de INTELIGÊNCIAS externas), ao mesmo tempo que se pode avaliar o seu nível de informação (por exemplo, de forma a avaliar a capacidade disponível de suas fontes).

De qualquer modo, parece que a COMUNIDADE DE INTELIGÊNCIAS estrangeiras, tem capacidade informativa própria, que lhe permite estabelecer sistemas próprios de análise, acompanhando a evolução da situação operativa geral, parecendo ser um documento com orientação defensiva.

3) Em relação ao relato das “prisões de civis, dos crimes e dos incidentes, assim como dos graus de violência contra estrangeiros”, o documento não tem dúvidas em indicar que há um aumento de incidentes contra estrangeiros,“em áreas de administração do estado”, considerando a situação de “caótica”.

IV. INCREMENTO DOS ESPAÇOS INTERNET DA UNITA

1) Estamos a assistir ao incremento dos espaços da UNITA disponíveis na INTERNET, incluindo com a indicação de endereços físicos (aparentemente de Gabinetes de apoio) e números de telefone ou fax.

Ao espaço que emite de WASHINGTON, está-se a juntar o de BRUXELAS e o reactivado espaço de PARIS, com as seguintes localizações:

BRUXELAS – Rue Montoyer nº 6, bte 6, 1.000, telephone 02 / 512.36.01, fax 02 / 512.81.47.

PARIS – “DEMAIN L’UNITA” – “ASSOCIATION FRANCO AFRICAINE POUR LA RENAISSANCE ET LA DÉMOCRACIE” – 66 au CHAMPS ELYSÉES, 75 008, telephone 00 33 1 44 90 25 55, fax 00 33 1 44 90 25 56.

Via “DEMAIN L’UNITA”, foi também divulgado o contacto do Secretariado Geral da UNITA no BAILUNDO: Rua EKUIKUI II, nº 12, telephone 00 871 38 20 82 111 e fax 00 871 38 20 82 092.

A UNITA está assim a responder claramente às sanções da ONU: tirando partido dos seus apoios no exterior, envergando outras roupagens, ela tem conseguido não perder a hipótese de representatividade, assim como de CONTRA PROPAGANDA e DESINFORMAÇÃO, procurando em muitos casos camuflar as suas próprias pretensões.

2) O espaço de BRUXELAS está em fase de instalação e, pelas suas características, parece estar a ser produzido por gente que esteve ligada a sistemas Zairenses (regime de MOBUTU).

Até agora não possuímos elementos que nos permitam avaliar o tipo de propaganda que ela executa neste espaço.

3) O espaço de WASHINGTON está a deixar de ser apenas de transcrição de COMUNICADOS, para passar a ser também um espaço dedicado a ANÁLISE, COMENTÁRIOS e PROPAGANDA, ou CONTRA PROPAGANDA.

O Comentário contra o Governo de 30 JUL 98, afirma que “o Governo fabrica o pretexto para a guerra”, enquanto prepara “o Exército e os mercenários para a ofensiva”, numa “campanha de desinformação que se torna possível pelo facto de possuir o monopólio da informação em ANGOLA, desde que a VORGAN deixou de funcionar”, citando o massacre de MBULA como um exemplo.

Por outro lado, citando o “THE MAIL & GUARDIAN” de 24 JUL 98, a UNITA corrobora de forma comentada no seu Comunicado, que o que contribui para a crise financeira, além da queda do preço do petróleo, é o estacionamento no CONGO / BRAZZAVILLE de 3.000 homens que estão a defender o Governo de SASSOU NGUESSO, bem como a compra de armamento a preços inflaccinados em cerca de 30 % para benefício dos seus Generais, pelo que é imprescindível para o Governo ir buscar os diamantes, para tapar os furos orçamentais (os diamantes, entenda-se, que estão controlados pela própria UNITA).

A 28 JUL 98, a UNITA, tirando partido da posição da MONUA sobre o assunto, alegava que o massacre de BULA tinha sido, de forma infundada, atribuído a ela, por que o Governo pretendia “criar as condições psicológicas apropriadas para anular os Acordos de paz e lançar ataques contra a UNITA”.

Ao mesmo tempo, insurgia-se contra “o assassinato de pelo menos seis membros da UNITA”, no KIKOLO, em LUANDA, fazendo várias citações.

Em 22 JUN 98, no espaço “KWACHA UNITA PRESS”, em Português, reagia contra o PARLAMENTO por causa da RESOLUÇÃO que condenava a UNITA, atribuindo todas as responsabilidades ao Governo pelo andamento da situação, incluindo o abandono de “trinta localidades por incapacidade logística de LUANDA”, enumerando que tinha entretanto sido expulsa de 272 localidades “345 dirigentes e quadros foram mortos pela polícia nacional, enquanto outros 745 andam presos e desaparecidos” e concluindo “que existe um programa do Governo visando destruir a UNITA que desencadeado no dia 12 NOV 97 em MALANGE na localidade do KOTA, KALANDULA, KANGANDALA, expandiu-se para todas as províncias”.

4) O espaço “DEMAIN L’UNITA” continua a ser o melhor estruturado, sendo constantemente enriquecido com novos dados, conforme os documentos que se juntam em anexo:

O Comunicado nº 41 de 04 AGO 98, (“ponto de situação em ANGOLA” ).

O Editorial da semana de 29 JUL 98 (sobre o massacre de MUSSUKU).

A Carta do Mês nº 16, (respeitante a ABR 98).

O “cômputo dos dirigentes, quadros, militantes e simpatizantes da UNITA mortos ou feitos prisioneiros pelo MPLA no decurso do processo de extensão da administração do ESTADO”, (“período de 17 JUL 97 a 02 MAI 98”).

No Comunicado nº 41, traz como elemento novo o facto de atribuir cumplicidade ao governo Português”, na“campanha de desinformação e de intoxicação de grande envergadura” que o Governo Angolano, segundo ela, leva a cabo, tomando como exemplo o massacre de BULA.

No Editorial da Semana de 29 JUL 98, reagindo à imputação de responsabilidade ao massacre de BULA, traz como elemento novo que “essas situações, que não são as primeiras, levam a assinatura das suas tropas que procuram assumir o controlo de certos vales diamantíferos” e preparam a informação Ocidental para uma ofensiva“militar violenta sobre o ANDULO e BAILUNDO, as duas localidades onde a direcção da UNITA pode ainda livremente se exprimir”. Nessa ofensiva afirma que “objectivo será muito claramente o assassinato do Presidente SAVIMBI”.

A estatística que a UNITA apresenta em relação a gente que diz ser sua, perdida durante o período de 17 JUL 97 a 02 MAI 98  atinge em MALANGE e LUNDA NORTE , os números mais avultados, respectivamente 163 e 48, ou seja, as duas Províncias juntas, 50 % do total.  

V. CONSIDERAÇÃO PRINCIPAL

O indicativo relativo à necessidade de segurança do Presidente da República é por si o elemento novo de destaque que evidenciamos, pelo seu efeito estratégico e defensivo.

Pode acontecer que a UNITA esteja porém a provocar nessa direcção, um conjunto de indicativos que não correspondam aos seus planos reais, não no que diz respeito ao seu objectivo, mas em relação aos possíveis intervenientes.

Pensamos que se torna imprescindível analisar todas as possibilidades que a UNITA tem de actuar contra o PRESIDENTE DA REPÚBLICA, incluindo possibilidades de INTELIGÊNCIA, fora do nosso território e / ou com a utilização de gente estrangeira, tirando partido de “lobbies” que possam aparentar conexões estratégicas ao MAIS ALTO NÍVEL, mas que no fundo, estão disponíveis para realizar um golpe dessa natureza.

O estado de desespero político que a Organização Armada dá mostras, à medida que as pressões Internacionais e internas se vão avolumando e tornando-se cada vez mais exequíveis, pode tornar-se no fundamento psicológico para a tomada de decisões do género, que até podem muito bem não ser inovadoras (mantemos dúvidas muito fortes sobre o “acidente” que vitimou BLONDIN BEYE, o que é corroborado pela evolução da situação).

12-08-1998 22:21

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