domingo, 14 de janeiro de 2018

FUNDOS ABUTRES: A PLUTOCRACIA CONTRA O POVO


O povo dos países pobres se mata trabalhando para financiar o desenvolvimento dos países ricos. O Sul financia o Norte, e especialmente, as classes dominam

Jean Ziegler* | Carta Maior

As pessoas nos países pobres se matam trabalhando para financiar o desenvolvimento dos países ricos. O Sul financia o Norte, e especialmente as classes dominantes dos países do Norte. O meio de dominação mais poderoso atualmente é a dívida. Warren Buffet, considerado pela revista estadunidense Forbes um dos homens mais ricos do mundo, declarou há alguns anos à CNN que “tudo bem, existe uma guerra de classes, mas é a minha classe a que a criou e a controla e a que ganhando”.

O preâmbulo da Carta das Nações Unidas começa com estas palavras: “nós, o povo das Nações Unidas”. Portanto, é da ONU a tarefa de proteger e garantir os interesses coletivos dos povos e o bem-estar universal – e mais precisamente dos Estados aliados que assinaram essa carta no dia 20 de junho de 1945, em San Francisco. Mas, atualmente, esses interesses estão sendo atacados impiedosamente pela classe dos plutocratas, a dos Warren Buffet. Tiraram dos Estados sua capacidade normativa e sua eficácia.

Meu mais recente combate, o que travei contra os fundos abutre nas Nações Unidas, ilustra esta realidade de forma paradigmática. Membro do Comitê Assessor do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2008, confesso não ser, nem por um instante, neutro em meu trabalho. Os direitos humanos são uma arma formidável nas mãos aqueles que querem mudar o mundo, aliviar os sofrimentos do outro, vencer os predadores. Progredir nesse combate requer formar alianças.

O povo dos países pobres se mata trabalhando para financiar o desenvolvimento dos países ricos. O Sul financia o Norte, e especialmente, as classes dominantes dos países do Norte. O meio de dominação mais poderoso atualmente é a dívida. Os fluxos de capitais Sul-Norte têm excedentes com relação aos fluxos Norte-Sul. Os chamados países “pobres” pagam anualmente às classes dirigentes dos países ricos muito mais dinheiro do que recebem delas, seja como investimentos, empréstimos, ajuda humanitária ou a chamada ajuda ao “desenvolvimento”. Os juros das dívidas mantêm as pessoas na escravidão e saqueia seus recursos.

Esta espoliação ainda por cima é agravada, durante estas últimas décadas, com a aparição dos fundos abutre, chamados assim pela forma como atuam, como aves de rapina. São fundos de investimentos especulativos, muitos deles registrados em paraísos fiscais e que são especializados na compra de dívidas que se vendem por baixo do seu valor nominal, com o fim de obter máximos benefícios. Estes fundos especulativos são propriedade de indivíduos extremamente endinheirados que se encontram entre os mais terríveis predadores do sistema capitalista. Conseguem dispor de botins de guerra de milhares de milhões de dólares. Comandam batalhões de advogados capazes de abrir procedimentos nos cinco continentes, durante dez ou quinze anos se for necessário.

Os fundos abutre matam. Vejamos um exemplo: em 2002, devido a uma sequia espantosa, a fome provocou a morte de dezenas de milhares de seres humanos em Malaui. Dos 11 milhões de habitantes desse país do sudeste da África, 7 milhões se encontravam gravemente subalimentados. O governo local era incapaz de ajudar as vítimas porque alguns meses antes teve que vender no mercado os estoques de reserva de milho (40 mil toneladas!) para pagar um fundo abutre. Esse fundo obteve de um tribunal britânico uma sentença contra o Estado de Malaui que o obrigava a pagar várias dezenas de milhões de dólares.

Martin Wolf, editorialista do Financial Times – e que não é realmente alguém que se pode chamar de revolucionário – escreveu o seguinte: “dar o nome de abutres a esses fundos é um insulto aos abutres, já que estes desempenham uma valiosa tarefa”. E ele tem razão, pois os abutres limpam os esqueletos dos animais mortos nas savanas, além de evitar, desse modo, a difusão de epidemias.

Sob o impulso da Argentina, uma das vítimas dos fundos abutre, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas pediu ao Comitê Assessor um informe que responde a esta dupla pergunta: “em que medida e de que maneira as atividades dos fundos abutre violam s direitos econômicos, sociais e culturais dos povos agredidos? Conhecidas as violações, que nova norma do direito internacional deveria ser criada para acabar com essas atividades?”.

Fui nomeado relator do comitê formado para responder a essa interrogação. Em minha vida, raras vezes trabalhei tanto como durante esses dois anos: 2014 e 2015. Entreguei meu informe no dia 15 de fevereiro de 2016, no qual dizia que as atividades dos fundos abutre violam por definição a regra da boa fé presente em praticamente todas as legislações do mundo. Como testemunho, o exemplo do código civil suíço: “todas as pessoas têm o dever de exercer seus direitos e de executar suas obrigações segundo as normas da boa fé. O abuso manifesto não está protegido pela lei”.

O Palácio das Nações em Genebra, e a ONU em geral, estão infestados de espiões. Todos os serviços secretos do mundo, sobretudo aqueles ligados às grandes potências, escutam as conversas melhor protegidas, copiam documentos, pagam funcionários e atuam sob a máscara da diplomacia credenciada. Nada mais normal, portanto, que ver os agentes dos serviços ocidentais informados da mais breve de minhas conversas e do desenvolvimento de todas as minhas sessões de trabalho.

A votação no Conselho de Direitos Humanos da ONU estava prevista para a sessão de setembro de 2016. Na fortaleza da embaixada estadunidense de Pregny (cantão de Genebra), a algumas centenas de metros do Palácio das Nações, soou o alarme. Nossos inimigos eram perfeitamente conscientes de que se arriscavam a uma derrota. Conheciam minhas recomendações. Sabiam que, muito provavelmente, elas seriam aprovadas pelo Conselho.

Então, nossos inimigos mudaram de tática, abandonaram o terreno das Nações Unidas e apontaram a outra, ancestral, menos complicada e bem comprovada: a corrupção. As eleições na Argentina aconteceram em dezembro de 2015. O candidato designado pela coalizão de esquerda, que deveria prosseguir no combate contra os fundos abutre, era o favorito segundo todas as pesquisas, mas finalmente foi derrotado por um político local de direita, que gastou recursos astronômicos para ganhar. Assim que assumiu o cargo, o novo presidente da Argentina, Mauricio Macri, declarou que pagaria sem atraso todas as demandas provenientes dos fundos abutre. E foi isso que ele fez!

A prosperidade dos fundos abutre ilustra de maneira caricaturesca o poder da plutocracia. A acumulação das maiores riquezas nas mãos de alguns poucos, e a consequente desigualdade derivada dessas operações, são possíveis graças à eliminação da normativa estatal, a abolição do controle aos bancos, a formação de monopólios privados, a proliferação de paraísos fiscais, etc. Essa desigualdade conduz inexoravelmente à destruição da relação de confiança entre os cidadãos e seus dirigentes. Quando os Estados se debilitam e os oligarcas sem fé nem lei governam o planeta, quando uma ordem criminal substitui o Estado de direito, quem ainda pode se aventurar à pretensão de proteger o bem público e o interesse geral?

Como escreveu o sociólogo alemão Jürgen Habermas: “no processo em que a política é jogada de lado e substituída pelo mercado, o Estado nacional perde progressivamente sua capacidade de arrecadar impostos, estimular o crescimento e garantir através dessas medidas as bases essenciais de sua legitimidade. Contudo, essa perda não é compensada por nenhum equivalente funcional. Diante do risco da fuga de capitais, os governos nacionais se comprometem a uma corrida louca rumo à desregulação, para a diminuição de custos, permitindo benefícios obscenos e diferenças inéditas entre os salários, o crescimento do desemprego e a marginação social de uma população pobre sempre em aumento. Na medida em que as condições sociais de uma ampla participação política são destruídas, as decisões democráticas, ainda adaptadas a um modo formalmente correto, perdem sua credibilidade”.

Habermas propõe, seguindo esse raciocínio, a questão da transferência da soberania: Existem instituições interestatais, capazes de tomar o lugar dos Estados debilitados e assumir a proteção do bem público? Habermas pensa sobretudo na Europa. Não estou de acordo com ele. Creio que é evidente a União Europeia (UE) não pode aspirar ao título de “democracia continental”.

Tal como está organizada atualmente – mesmo que as ambições de seus fundadores tenham sido outras – a UE é essencialmente um organismo de coordenação e de potenciação dos interesses das companhias transnacionais privadas. Numerosos sinais comprovam essa afirmação, começando pelo fato de que Comissão Europeia é presidida atualmente por Jean-Claude Junker, que assume seu papel de bom servidor do capital transnacional de forma até caricaturesca. Entre 2002 e 2010, o homem foi ao mesmo tempo primeiro-ministro e ministro da Fazenda de Luxemburgo, enquanto também exercia como presidente do Eurogrupo. Em suas funções, ele negociou 548 acordos fiscais secretos, os chamados tax rulings, com numerosas sociedades multinacionais bancárias, comerciais, industriais e de serviços. Esses tax rulings existem para favorecer a evasão fiscal.

Escrevo estas linhas enquanto centenas de milhares de refugiados fogem da carnificina das guerras da Síria, do Iraque e do Afeganistão. Em 28 de julho de 1951 os Estados do mundo ratificaram a convenção relativa ao estatuto dos refugiados, chamada Convenção de Genebra, com a que se criou um novo direito humano universal: o direito de asilo. Quem quer que esteja sendo perseguido em seu país de origem por razões políticas, religiosas ou raciais tem o direito inalienável de atravessar as fronteiras e de apresentar um pedido de proteção e de asilo a um Estado estrangeiro. Porém, nos tempos atuais a União Europeia passou a ignorar esse direito. Se constroem muros para impedir que homens, mulheres e crianças fujam da tortura, da mutilação e da morte. Habermas está equivocado: a EU evidentemente não cumpre a função de guardiã interestatal do bem público.

O que acontece na ONU?

Para abordar essas questões, quero me colocar sob a autoridade de Antonio Gramsci e de seu “otimismo da vontade”. Certamente, a ONU não vai bem. Também é verdade que se deve conviver no dia-a-dia da entidade com personagens infernais, detestáveis ou malfeitores. E também há uma legião de taciturnos burocratas, parasitas com salários mais que generosos. Toda essa gente na sombra, timorata, eternamente indecisa. Entretanto, em seu seio também se encontram numerosas mulheres e homens respeitáveis, valentes e obstinados.

A ONU se mantém potencialmente como a única fonte viva da normalidade internacional. Em suas predicações, o religioso francês Henri Lacordaire gostava de citar essa evidencia, enunciada no contrato social de Jean-Jacques Rousseau: “entre o mais fraco e mais forte, é a liberdade que oprime e a lei a que liberta”. Sim, os princípios enunciados na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos Humanos sempre serão o horizonte de nossa história, a utopia que guia nossos passos.

Algumas palavras finais sobre os fundos abutre. O libertador cubano José Martí foi quem chegou à seguinte constatação: “a verdade, uma vez desperta, não volta a dormir jamais”. Paul Singer, que encabeça vários fundos abutre, certamente ganhou a batalha contra o povo argentino e contra muitos outros povos da África, da Ásia e do Caribe. Mas ele e seus semelhantes foram tirados das sombras, e colocados em evidência. Criou-se consciência. Um dia, outros levarão esse combate mais longe.

*Jean Ziegler é sociólogo suíço e membro do Comitê Assessor do Conselho de Direitos Humanos da ONU

Banco Mundial manipulou informações para favorecer politicamente a direita no Chile


Banco Mundial admite que manipulou informações para favorecer politicamente a direita no Chile. Paul Romer admitiu que houve medições "injustas e enganosas" realizadas pela instituição nos últimos anos, e que foram "potencialmente contaminadas pelas motivações políticas do pessoal do Banco Mundial".

Victor Farinelli | Carta Maior

Passadas exatamente quatro semanas do segundo turno das eleições presidenciais chilenas, com o megaespeculador Sebastián Piñera eleito, eis que o economista chefe do Banco Mundial, o estadunidense Paul Romer, admitiu em entrevista ao The Wall Street Journal, publicada neste sábado (13/1) que houve medições “injustas e enganosas” realizadas pela instituição nos últimos anos, e que foram “potencialmente contaminadas pelas motivações políticas do pessoal do Banco Mundial”.

Romer reconhece que essas motivações podem ter afetado os informes relacionados a diferentes países, mas cita somente o Chile como exemplo: “quero me desculpar pessoalmente com o Chile e com qualquer outro país ao qual possamos ter transmitido uma impressão equivocada”, disse o economista.

Entre os dados manipulados, segundo a confissão de Romer, estão a do ranking de competitividade empresarial. Por exemplo, a atual presidenta Michelle Bachelet já havia governado o país durante os anos de 2006 e 2010, e nesse período a posição chilena nesta medição sofreu uma queda abrupta – do 25º lugar ao 57º. Curiosamente, Piñera também foi o seu sucessor depois daquele mandato, e foi presidente entre 2010 e 2013, período em que o Chile recuperou magicamente sua posição no mesmo ranking, retornando à 34ª posição, para voltar a sofrer quedas a partir de 2014, justamente quando Bachelet retornou ao Palácio de La Moneda.

Outro informe que está sendo questionado, e que foi bastante utilizado por Piñera na última campanha eleitoral foi um publicado no ano passado, que apontava um crescimento da pobreza no Chile. Além do pedido de desculpas a Bachelet e ao Chile, Romer assegurou que irá comandar pessoalmente um processo de mudança de metodologias nos informes realizados pela instituição, o qual deve envolver também uma revisão das informações publicadas nos últimos anos.

Autor é chileno e ex-Lehmann Brothers

O responsável pela manipulação dos dados sobre o Chile nos informes do Banco Mundial é um chileno, ligado à ultradireita em seu país e com passagem pelo banco símbolo da crise econômica mundial em 2008.

Se trata de Augusto López-Claros, um economista diretor do Departamento de Indicadores Globais e Análises do Banco Mundial, que era o responsável pelo informe Doing Business, que mede a competitividade empresarial – exatamente o que Romer afirmou na entrevista que foi manipulado. 

Em sua página web pessoal (http://www.augustolopez-claros.net/), diz que ele é diretor do Programa de Competitividade Global no Foro Econômico Mundial de Genebra desde 2003, cargo que o torna responsável também pela edição do Global Competitiveness Report (reporte de competitividade global).

Antes de ser parte do Foro, López-Claros trabalhou no setor financeiro: foi diretor executivo e economista internacional superior em Londres do banco Lehman Brothers International, cargo que ocupou por 5 anos. A quebra dessa empresa em 2008 foi o estopim para a crise econômica mundial.

Entre os muitos livros publicados por López-Claros, vale ressaltar os dois mais recentes, que falam sobre corrupção: Removing Impediments to Sustainable Economic Development: The Case of Corruption (“Removendo Impedimentos para o Desenvolvimento Econômico Sustentável: o Caso da Corrupção”, de 2015) e The Moral Dimension of the Fight Against Corruption (“A Dimensão Moral da Luta Contra a Corrupção”, de 2017).

A matéria do The Wall Street Journal diz que Augusto López-Claros não respondeu às tentativas da reportagem do periódico de obter a sua versão dos fatos. No entanto, ele sim deu declarações ao jornal ultraconservador chile El Mercurio a respeito do tema.

Sem se referir a Paul Romer nem a suas declarações, o chileno defendeu as informações presentes nos rankings agora questionados e afirmou que a introdução de uma variante de gênero foi o que levou o Chile a cair bruscamente no ranking de competitividade: “a legislação chilena tem uma série de características que incorporam restrições contra as mulheres”. Contudo, ele não explica nem quais são essas restrições e como elas variaram magicamente através dos anos, porque o país recuperou sua posição no mesmo ranking especificamente durante o mandato de Piñera e voltou a cair, também especificamente, quando Bachelet retorna ao poder.

Repercussões no Chile

Por sua parte, a presidenta Michelle Bachelet solicitou também uma investigação mais profunda sobre o caso, para se precisar as motivações confessadas por Romer: “é muito preocupante o que aconteceu, porque além do impacto negativo para o Chile, essas alterações afetam a credibilidade de uma instituição que precisa da confiança da comunidade internacional”.

Opositora de Bachelet, porém à esquerda, a jornalista Beatriz Sánchez, candidata presidencial da Frente Ampla chilena – terceira colocada da última eleição –, foi bem mais enfática que a presidenta diretamente afetada pelos erros dos informes do Banco Mundial, e se referiu mais claramente a uma manipulação com o objetivo de influir política e eleitoralmente no Chile: “manipular cifras para infundir o medo às mudanças é inaceitável. Sabemos que não são simples `erros´, são operações contra a democracia”.

Por parte do Partido Comunista chileno, a principal manifestação foi do sociólogo Manuel Guerrero, filho do histórico dirigente homônimo assassinado pela ditadura de Pinochet, quem publicou nas redes sociais uma alusão aos escândalos envolvendo Donald Trump nos Estados Unidos: “a simples suspeita de intervenção da Rússia nas eleições estadunidenses causa um escândalo gigantesco, e está bem, mas então, o fato de que o Banco Mundial confessa que houve adulteração de informações com motivações políticas, e especificamente para prejudicar os governos de Michelle Bachet e favorecer o de Piñera, deveria ser considerado intervencionismo também”.

DIAMANTES: UM MUITO SENSÍVEL INDICADOR SOCIAL PARA ANGOLA – I



Martinho Júnior | Luanda 

A RENÚNCIA IMPOSSÍVEL

Negação
Não creio em mim
Não existo
Não quero eu não quero ser
Quero destruí-me
- Atirar-me de pontes elevadas
e deixar-me despedaçar
sobre as pedras duras das calçadas
Pulverizar o meu ser
desaparecer
não deixar sequer traço de passagem
pelo mundo…


1- Quando Angola se tornou independente, há 42 anos, as riquezas minerais eram vistas como um suporte inestimável para se levar a cabo a longa luta contra o subdesenvolvimento, por que era sobejamente reconhecido que a partir do exterior seria também sobre elas que as disputas iriam ocorrer e o presidente Agostinho Neto sabia-o e avaliava-o como poucos…

“A África é um corpo inerte onde cada abutre vem depenicar o seu pedaço” disse-o ele de forma clarividente e comprovada, investido nas suas responsabilidades de líder dum Movimento de Libertação ávido de futuro!

Também por essa razão, por alturas da independência foram jogadas cartadas decisivas não só por que interesses externos estimulados pela “civilização judaico-cristã ocidental” pretendiam colocar no poder os agenciados por via dos etno-nacionalismos para mais facilmente “se fazerem ao bife”, mas também por que em relação às riquezas naturais seria necessário definir estratégias, cuidando da vida e do futuro de todo o povo angolano, aquele que se perfilhava justamente como o verdadeiro beneficiário de todo o legítimo projecto de desenvolvimento que se pretendia estimular.

O estado marxista-leninista da República Popular de Angola, sedento de soberania e fiel depositário dos interesses de todo o povo angolano, que se veio a formar num projecto socialista audacioso, levava tudo isso em consideração e, por essa razão, associada à necessidade de defesa e segurança do território, ele assumiu nos primeiros anos clarividência e rigor, “a quente” face aos desafios, ainda que no princípio houvesse um deficit enorme de conhecimento, de mobilização humana e de experiência.

Se houve sector de actividade humana que se expandiu exponencialmente entre o 25 de Abril de 1974 e o 11 de Novembro de 1975 em Angola, esse sector foi o do tráfico ilícito de diamantes e de moeda, de tal modo que, em 1976, quando se iniciaram os primeiros processos de combate ao tráfico, as redes actuavam quase em aberto.

2- No que diz respeito ao petróleo a necessidade de se defender Cabinda foi imediatamente posta pelo comandante Fidel, quando o presidente Agostinho Neto pediu ajuda à revolução cubana por causa da intensidade das ameaças que pesavam sobre Angola.

A estratégia em relação ao petróleo foi clara e muito mais fácil de definir do que em relação aos diamantes: havia que defender enquanto parceiras do estado angolano, as próprias multinacionais implicadas na prospecção, exploração e exportação, criando um conjunto de blocos que permitissem a melhor definição dos emparceiramentos e tarefas…

Por essa razão assistiu-se a algo inédito, desde logo evidenciado pelos defensores de Cabinda em 1975: quer as FAPLA quer as FAR cubanas, defenderam com unhas e dentes as instalações e as áreas de trabalho das multinacionais petrolíferas, incluindo as estado-unidenses, algo que iria funcionar como uma velada contradição em relação à política externa preconizada pelos Estados Unidos e seus enlaces na região, motivações que os serviços de inteligência estado-unidenses não podiam por si suficientemente inventariar e avaliar…

… Jamais os Estados Unidos tiveram motivos a apontar a Angola ou a Cuba, em relação à defesa desses interesses em Angola, apesar de só muito mais tarde virem a reconhecer a independência nacional…

Se há alguma coisa que esclareça o que é o Não Alinhamento activo, essa, enquanto exemplo, é de facto uma delas e não houve“Guerra Fria” alguma que demovessem Angola e Cuba desse modelo de estratégia e comportamento!

A contradição evidenciar-se-ia ainda mais quando por via da Operação Argon, o capitão Winand Johannes Petrus du Toit, da 4º RECCE das SADF sedeado em Saldanha Bay, fracassou na sua tentativa de ataque às instalações petrolíferas de Malongo, em Cabinda, utilizando propaganda da UNITA a fim de tentar ocultar a presença do “apartheid” numa missão dessa tão melindrosa natureza, quando não havia declaração de guerra e quando essa mesma missão contrariava a noção, para consumo interno do próprio sistema de “apartheid”, da “border war”.

Nesse sentido a Operação Argon era um sucedâneo do ambiente dos tempos do Exercício ALCORA, só acessível à percepção de inteligências europeias ao nível da britânica, da francesa e naturalmente da portuguesa, instalada após o 25 de Novembro de 1975…

Enquanto oficial instrutor que interrogou o capitão du Toit e preparou-o, acompanhando-o, para a Conferência de Imprensa que ele, detido, teve de dar em Luanda, tive a noção da perda que significou sobretudo para o “apartheid” e para Mobutu o fiasco da Operação Argon, pois entre outros indicadores então recolhidos e como na sala da União dos Escritores Angolanos estava entre os membros do corpo diplomático o muito activo embaixador britânico Marrack Goulding (falecido a 9 de Julho de 2010), detectou-se o interesse dele em esconder o papel de Mobutu em relação aos enlaces envolventes dessa operação, pois o território zairense era uma das alternativas para o grupo do 4º Recce ser evacuado da área…

A jornalista Gilliam Gunn por exemplo, evitou enveredar por perguntas indiscretas em relação a isso!

A cada pequena e episódica vitória que se conseguia, mais enraizada ficava em mim a premente necessidade do imenso resgate histórico e antropológico que se pretendia resolutamente realizar: arrancar do obscurantismo, da ignorância e da forçada marginalização a que tinha sido votado o povo angolano, durante séculos em que colonialismo e escravatura se fizeram sentir, numa luta sem tréguas que forçosamente seria ilustrada por acontecimentos como esse!

3- Em relação aos diamantes a questão era contudo muito mais sensível, complexa e única:

Por um lado Angola era um muito original escândalo geológico, com o anúncio da existência de mais de 600 kimberlites espalhadas pelo imenso planalto com a “agravante” de, em função de milhões de anos os rios terem-se tornado fluentes de aluviais divergindo em direcção a todos os pontos cardeais e colaterais a partir do fulcro na região central das grandes nascentes, bem no centro geográfico do país.

Por outro, se desafiar a “companhia majestática” da Diamang era uma constante para a guerrilha do MPLA antes da independência, era necessário que o estado socialista do após independência soubesse defender com rigor os interesses soberanos de todo o povo angolano, a fim de que essa riqueza contribuísse para catapultar as medidas de defesa e segurança enquanto houvesse guerra (de 1975 a 2002) e para se gerar capacidade de desenvolvimento depois dela (de 2002 aos nossos dias).

Dada a natureza tão extensiva do fenómeno dos diamantes kimberlíticos e aluviais em Angola, algo que à escala global e nestas dimensões só existe neste país (os outros produtores não possuem um fenómeno duma vastidão e disseminação equiparável) desde os primeiros dias da independência se fazia sentir, por via das medidas de rigor, quão os diamantes eram um barómetro social que possibilitavam a radiografia humana e sócio-política do próprio país e quão os órgãos de Segurança do Estado teriam de enfrentar implicitamente, com acrescidos riscos de tipo muito diversificado e imprevisível, desafios que se colocavam à sua própria soberania, apesar da inexperiência, da falta de conhecimento informativo e analítico e da ignorância operativa que no princípio tinham sobre o assunto.

Erigir um estado socialista nessas condições, era por si um desafio sócio-político incomensurável.

Mais tarde apercebi-me que especialmente os diamantes aluviais, enquanto potenciadores de intervenção social em função do âmbito implícito nas suas actividades específicas e dos negócios clandestinos que proporcionavam, eram uma questão humana tão melindrosa que a própria PIDE/DGS já na ponta final do colonialismo (de 1970 a 1974), começou a optar por, ao invés da sistemática e contraproducente repressão, agenciar por dependência operadores e “dealers”, que chegaram até a deslocar-se à Bolsa de Antuérpia a fim de realizar os negócios “filtrados” pela inteligência colonial subjacente ao poder do cartel.

Entre os inspectores da PIDE/DGS que operaram nessa trilha, esteve Ernesto Lopes Ramos, implicado no assassinato do general Humberto Delgado, que posteriormente em Angola atendia seus agentes no antigo Hotel Luanda, hoje Casa da Cultura do Brasil, na baixa de Luanda…

…Com a crise dos preços do café, por exemplo, agentes como Amílcar Augusto de Oliveira Dias (nome completo dum traficante julgado e condenado por via do processo 105/83 de que fui também oficial instrutor) “transferiram-se” num passo de mágica de suas fazendas familiares empobrecidas e endividadas nos Dembos, para as áreas malanginas de exploração de diamantes, a fim de se tornarem recrutados “dealers” intervenientes nesses ofícios e nessas filtragens clandestinas…

Em Kinshasa por seu turno, os portugueses estavam também em boa posição para tirar partido do clã de Mobutu onde pontificava o luso-zairense João Nunes Seti Yale, também ele diligente nos interesses sobre os diamantes aluviais de Angola a partir do Cuango e do Cassai, afluentes da grande bacia do Congo…

4- Uma parte do grupo de operações especiais da Segurança do Estado-Maior das FAPLA, integrado na DISA, recebeu a partir de meados de 1976 alguns dos primeiros encargos no sentido dar combate ao tráfico ilegal e ilícito de diamantes que ocorria impunemente associado ao tráfico de moeda, ambos sem qualquer constrangimento até então e eu fiz parte das primeiras missões que foram desencadeadas.

De entre os detidos estrangeiros em resultado das missões então executadas, esteve um cidadão que se apresentava com um passaporte da Guiné Conacry e em pouco tempo se havia tornado dono da casa comercial Gardénia, em Luanda (Abdoukahamane Scherif), um casal português que estava à frente da pequena empresa de aviação de táxis aéreos que dava pelo nome de ALAR (engenheiro Vítor) e um traficante português com nome e peso no tráfico de então, Albertino Serrano (com sua residência no bairro de Alvalade a servir de local organizado para os enlaces e negócios).

Todos eles foram expatriados sem julgamento e o dinheiro confiscado ao Albertino Serrano, (além dos diamantes apreendidos) que computou mais de 30.000 contos em “cash” de moeda angolana colonial, iria servir, por ordens do presidente da república, para pagar os primeiros salários de todo o efectivo da Segurança de Estado na altura.

Foi interceptado em Luanda ainda no decurso dessas missões e detido em condições especiais, o nobre judeu romeno Filipe de Baek Espitzer, enviado de Roland Tiny Rowling da Lonrho a Savimbi, que morava em Lisboa na rua do Ataíde nº 9, precisamente (e não por acaso) entre a delegação do CFB e os escritórios da SACOR.

Foi através dele que Savimbi recebeu o avião a jacto executivo daquela companhia para se poder deslocar em África em 1975 e 1976 o que significava uma evidência da conexão de Savimbi ao cartel dos diamantes e a um agente dos serviços de inteligência britânicos (em estreita ligação com os serviços de inteligência sul-africanos do “apartheid”), ou seja: Savimbi tornava-se num instrumento directo do próprio cartel, depois do fim da Operação Madeira e do colonialismo português e dando directa sequência à sua instrumentalização por parte da internacional fascista, que sobreviveria com o “apartheid” aos regimes colonial português e de Ian Smith…

Em relação aos angolanos envolvidos, uma vez que ainda não tinha sido decidida melhor política e o quadro de leis estava longe de ser adaptado para corresponder, evitou-se julgamentos e prisões, muito embora houvesse detenções durante os períodos de investigação.

Em todas as missões que participei, que faziam parte do meu baptismo na actuação numa área que jamais escolhi por vocação mas no interesse do próprio estado angolano nascente que servia, procedi “com cabeça fria, mãos limpas e coração ardente”, pois da minha parte avaliava a responsabilidade que sobre nós pesava quando reconhecíamos que o estado angolano sendo o legítimo e o fiel depositário dos interesses de todo o povo angolano, esperava de cada um fidelidade a toda a prova, sem jamais nos deixarmos corromper, algo que teria de ser para toda a vida!

É evidente que esse comportamento de rigor e de combate à corrupção por parte do aparelho de estado angolano, durante muitos anos e particularmente entre 1985 e 2017, “amoleceu”, em especial após o processo 76/86, quando os oficiais instrutores da Segurança do Estado (entre eles eu próprio, preso a 24 de Março de 1986) do processo 105/83 foram por seu turno detidos, julgados e condenados por que estariam, segundo a condenação ao sabor das correntes sócio-políticas de então, a provocar um golpe de estado sem efusão de sangue…

… Até hoje se está à espera de quem seria o chefe duma façanha dessa natureza e do jeito que ela teria ocorrido (mais parecia uma espécie de bilhar às três tabelas, segundo a matéria dos autos), mas o pau folgaria nas costas dos traficantes, com os serviços embaraçados nessa teia, algo que não passou despercebido a Savimbi, que haveria de aproveitar para, um ano após Bicesse, desencadear a “guerra dos diamantes de sangue” (o terreno estava já completamente amolecido para que ele deixasse de o aproveitar, tirando partido de sua experiência anterior, em curso desde que se havia instalado junto das nascentes do Lungué Bungo)!

Alguns haviam de soçobrar perante as tentações de “deitar a mão” a um espólio como aquele que se propiciava, contudo comigo e com outros, alguns deles gente muito modesta e passando dificuldades de toda a ordem (recordo casos como os do Chico e do Rangú, pescadores em Luanda), imperou sempre rigor, honestidade e responsabilidade em relação aos assuntos de estado…

Pela primeira vez me pude aperceber contudo das implicações humanas e sócio-politicas do tráfico (ilegal e ilícito) de diamantes, quando se assumia a soberania sobre todo o território e essa introdução a um assunto tão quente, obrigou-me a aprender sobre as imensas vulnerabilidades que se apresentavam ao estado e à sociedade angolana, em relação às quais não havia um quadro de leis satisfatórias, nem conhecimento suficiente da matéria em termos dos interesses do cartel e dos serviços de inteligência a eles associados, nem preparação operativa suficiente para lhes fazer frente com maior sensibilidade e buscando as melhores e mais eficientes e rigorosas opções!

Muito antes dos fenómenos transversais hoje em voga com as “revoluções coloridas” e as “primaveras árabes”, Angola independente e soberana enfrentou a transversalidade dos fenómenos inerentes ao tráfico de diamantes e de moeda decorrentes da inércia que vinha dos tempos do colonialismo, pelo que essa inestimável experiência serviu-me:

Para manter a minha inocência face às acusações que eu e meus camaradas foram alvo;

Para os muitos alertas que tenho vindo publicamente a fazer desde então em tempo de capitalismo neoliberal;

Para defender o presidente José Eduardo dos Santos, que teve que atravessar décadas tremendamente difíceis para o povo angolano, com sacrifícios que foram sendo impostos quantas vezes a partir de poderosos interesses externos que na maior parte dos casos não eram do conhecimento público, intimamente associados a múltiplos processos de subversão interna…

Em 1976, no caso do Albertino Serrano foi possível detectar a conexão do camarada Tchizainga aos negócios do tráfico, à revelia das orientações que já haviam sido emanadas pelo presidente António Agostinho Neto…

Neste caso o presidente Neto agiu com toda a clarividente responsabilidade: chamou Tchizainga, teve uma longa conversa patriótica a propósito com ele e deixou-o solto na espectativa de sua emenda… algo que mais tarde não aconteceria com o 105/83 em relação ao comandante David Moisés N’Dozi e a ele, Tchizainga, quando seu nome apareceu envolvido em negócios… fui eu também o oficial instrutor de ambos nos processos que contra eles foram decididos sobre prisão em residência fixa e regime especial cumprindo a missão para a qual uma vez mais sem escolha própria, fui indicado…

5- Logo nas primeiras experiências de luta contra os traficantes de diamantes me pude aperceber que humanamente essa era uma matéria extraordinariamente difícil mas também decisiva, que fluía em múltiplas transversalidades sociais em Angola com implicações em múltiplos relacionamentos internacionais, não deixando de implicar enredos que vinham detrás, desde os tempos coloniais, nos enlaces mais extraordinários com os interesses que sustentavam também o “apartheid”.

A sensibilidade em relação às questões de assimilação, passavam pelas radiografias vividas ao longo dessa luta que constituiu a espaços uma parte das minhas missões e tarefas entre 1975 e 1985…

Um dos pontos críticos dos enlaces e dos expedientes humanos de assimilação “luso-tropical” passavam-se nas Províncias de Malange e das Lundas, os principais lugares de recrutamento da PIDE/DGS no seu envolvimento na incessante procura de tornar invioláveis os interesses da majestática Diamang, “no terreno”.

Havia-o de conhecer em função sobretudo da experiência enquanto oficial instrutor do 105/83, como também da experiência de outros camaradas, como por exemplo do já falecido José Herculano Pires, “Revolução”, um dos Delegados da Segurança do Estado que teve a oportunidade de actuar mais tempo em várias províncias do país, entre elas o Uíge, a Lunda Sul e o Cuando Cubango.

Esses recrutamentos decididos a seu tempo pela PIDE/DGS em defesa do colonialismo português de que tive conhecimento enquanto oficial instrutor do 105/83 e a partir da experiência do camarada “Revolução” na Lunda Sul, implicavam mobilização de autoridades tradicionais que pouco a pouco vieram a conhecer kimberlites e lugares preferenciais dos aluviões das complexas bacias do Cuango e do Cassai, assim como de indivíduos que se dedicavam a todo o tipo de comércio, incluindo autoridades administrativas coloniais, ou ainda pequenos proprietários (e seus clãs familiares) de “chitacas” e fazendas naquela vasta região.

É evidente que esse tipo de conjunturas humanas reflectiu-se após a independência, continuando a sua manobra clandestina a gravitar no mesmo tipo de interesses e interconexões dentro e fora das fronteiras angolanas, algo a sublinhar no miolo dos processos de assimilação sobretudo entre Portugal, Angola e a África do Sul do “apartheid”, dando sequência até hoje, de geração em geração, aos conteúdos humanos implicados na esteira e nos rescaldos do Exercício ALCORA…

O próprio MPLA teria muitas dificuldades para encontrar as melhores opções face a esse tipo de fenómenos que também o apanhavam na sua própria transversalidade humana, afectando o estado angolano e os próprios instrumentos do poder de estado, Segurança incluída, comigo a preencher as alas mais rigorosas que vigoraram na década entre 1975 e 1985 por razões que se prendiam à doutrina e à ideologia do estado socialista angolano e também por patriotismo e fidelidade “a toda a prova”, correspondendo aos juramentos então feitos!

Nessa luta percebia-se de forma muito sensível o que distinguia patriotismo, fidelidade e respeito para com o povo angolano, para com o estado angolano nascente, para com o socialismo e o que era mercenarismo no seu “modus operandi” mais subversivo, seus interesses, origens e enredos!

A corrupção propiciada pelo tráfico de diamantes e as respostas ambíguas que muitos davam face aos fenómenos humanos resultantes da luta contra o tráfico de diamantes (por tabela de moeda), jamais foi minha opção, pelo que o rigor foi uma prática constante de que não me desviei e isso reflecte-se nas interpretações antropológicas e históricas que tenho traduzido de algum modo nas minhas próprias intervenções!

É evidente que não havendo possibilidade de acusar os oficiais do 105/83 de corrupção, então havia que gerar “cenários” fictícios como o de “golpe de estado sem efusão de sangue”, de modo a que as redes conseguissem recuperar do golpe que haviam sofrido com o processo 105/83, algo que está na origem da oportunidade para a rebelião de Savimbi entre 1992 e 2002!

Confundido nas opções que foram decididas, acabando com o Partido do Trabalho, fragilizando a Segurança do Estado e finalmente pondo fim às gloriosas FAPLA, o poder ficaria à mercê do choque neoliberal protagonizado pelo “somalizador” de Angola e à terapia que se lhe seguiu, estigmatizada no ambíguo projecto (nunca publicamente enunciado) dos “100 novos-ricos” que foi introduzido a partir da forja da “economia de mercado”!

Foi a partir da desestabilização da Segurança do Estado em 1986, que a corrupção recebia o primeiro “aval” para ganhar asas, algo que progrediu relativamente lento entre 1986 e 1991, mas “acelerou” desde o início da “guerra dos diamantes de sangue”, pois na verdade o estado angolano ficou finalmente à mercê dos parceiros externos ocidentais, intimamente associados ao cartel e despojado daqueles oficiais que deram provas de rigor, patriotismo e fidelidade no combate aos fenómenos mais nocivos do tráfico, quando o tráfico tinha afinal tanto peso nas transversalidades da vida sócio-política nacional bem como nos relacionamentos externos!

Martinho Júnior - Luanda, 11 de Janeiro de 2018

Imagens: Proclamação da independência de Angola; Diário de Notícias e a proclamação da independência de Angola; Mobutu e Ronald Reagan, com os olhos postos em Angola; Livro do capitão Winand Johannes Petrus Du Toit, após saída da prisão em Angola; Roland Tiny Rowling, da Lonhro, uma das “catapultas” de Savimbi.

SOLIDARIEDADE E LUCRO

Manuel Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Amanhã, dia 15, celebra-se o dia das instituições de solidariedade e a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS) evoca o 37.º aniversário na "afirmação dos valores e identidade da solidariedade, da sua autonomia e empenho na cooperação". Porque fui desafiado a refletir sobre algumas dimensões do tema, aqui expresso uma pequena parte da minha reflexão, como forma de homenagear o importantíssimo papel da esmagadora maioria destas numerosas Instituições.

As Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) vivem hoje sob enormes tensões que parecem projetar-se, de forma agravada, para o futuro próximo: em primeiro lugar, a tensão entre a solidariedade e o lucro, o que as obriga a um esforço enorme para resistirem à financeirização do setor e à mercadorização do trabalho; em segundo, a dificuldade em equilibrar os meios disponíveis com as missões que crescentemente lhes estão atribuídas; em terceiro, a pressão que as empurra para a missão paliativa na resposta aos custos sociais decorrentes de um mercado de trabalho selvagem, com grande desemprego e baixa qualidade de emprego.

O futuro das IPSS, que se quer consistente, está profundamente associado ao futuro do Estado social. Há quem afirme que o Estado social deve ser substituído pelo Estado solidário, debaixo de um argumentário que desagua em três ideias: i) a conceção de que as pessoas devem aceder aos direitos sociais em função dos seus rendimentos, como se nesse acesso se pudessem colmatar as profundas desigualdades que estão a montante, na injusta distribuição da riqueza; ii) a ideia de que a obrigação do Estado é apenas a de garantir mínimos; iii) a perspetiva de que os direitos fundamentais da proteção social (como, aliás, na saúde ou na educação) podem ser colocados no mercado como quaisquer outros produtos.

O Estado social tem, no plano conceptual, um princípio claro: coloca as pessoas (todas) como sujeitos de direitos (e deveres a eles inerentes), não as abandonando aos caprichos da benevolência alheia. Deixemos claro que a solidariedade, e até a caridade, são importantes valores. Mas são valores que só têm significado quando concretizados num processo de transformação da realidade social, de promoção da dignidade humana e de afirmação da plena cidadania.

As IPSS se não agirem na base daqueles valores perdem a sua alma e tornar-se-ão distantes e frias. É natural e até indispensável que as IPSS acolham atos de caridade acidentais ou momentâneos de diverso tipo. Contudo, em última instância, devem pugnar por colocar cada pessoa (criança, jovem, adulto ou idoso) o mais longe possível de situações de dependência e necessidades que lhes roubam dignidade. E devem ainda integrar plenamente a sua ação em processos de progressivo desenvolvimento da sociedade.

As transformações em curso nas sociedades contemporâneas, onde se observa baixo crescimento económico, persistente desemprego de massas e envelhecimento acelerado, conduzem a novas necessidades e desafios para o setor social e solidário.

Face a este cenário, os vendilhões do templo da nossa era - o poder financeiro -, veem aqui uma oportunidade de negócio e de lucro. Já hoje estão bem visíveis no nosso país pressões financeiras, algumas apresentadas sob o manto da inovação social.

Não temos dúvida quanto à necessidade de se buscarem respostas novas que podem exigir novas cooperações e articulações de ação, mas se o setor social e solidário se afastar de valores e expressões de identidade que lhes são intrínsecos, e que sempre guiaram a sua ação, cedendo à expectativa de mais fácil e imediato financiamento, corre o risco de mais cedo do que tarde entrar em turbulência, de enfraquecer e de acabar por ser dispensado a favor de modelos de prestação de cuidados empresarializados e financeirizados.

Cada vez mais refinado nas suas práticas, o neoliberalismo apresenta sempre uma solução mercantil face a qualquer problema económico, social, cultural e até afetivo, nem que seja com utilização de dinheiro público, a que continuamente deita a mão, desde que a provisão seja privada e se monte um qualquer simulacro de concorrência.

Todos sabemos muito bem que o dinheiro corrompe certos valores.

*Investigador e professor universitário

PORTUGAL | Oito mortos e 35 feridos no incêndio de Tondela


O incêndio ocorreu durante um jantar numa associação recreativa naquela localidade, causando ainda pelo menos 36 feridos, entre graves e ligeiros, de acordo com o oficial de operações da Autoridade Nacional de Proteção Civil, Paulo Santos. Segundo o mesmo responsável, O alerta foi dado às 20:51 e pelas 21:50 o fogo foi dado como extinto.

Cerca das 00:30, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo explicou que o incêndio na associação de Vila Nova da Rainha provocou 35 feridos, que foram levados para os hospitais de Tondela, de Viseu e de Coimbra, "onde estão a ser estabilizados".

"Alguns dos quais, os mais graves, queimados, serão transportados para unidades quer do Porto, quer de Lisboa", referiu, acrescentando que um adolescente, de 15 anos, poderá também ser transferido para Lisboa.

No entender do secretário de Estado, "foram ativados todos os meios considerados necessários".

"As quatro VMER (Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação) com equipas de suporte avançado de vida, três helicópteros, um dos quais do Ministério da Defesa, e um conjunto elevado de meios quer do INEM, quer dos bombeiros, quer da Proteção Civil que têm atuado em conjunto, de forma articulada, para dar uma resposta efetiva a esta situação que é muito grave", enumerou.

Fernando Araújo disse que para o local se encontra "uma unidade de psicólogos que está a dar apoio aos familiares e irá articular-se quer com a Proteção Civil, quer com a autarquia, neste momento e nos próximos dias", de forma a haver "uma resposta adequada para os familiares".

O presidente da Câmara de Tondela, José António Jesus, disse, por seu lado, ser "fundamental criar recursos e estratégias para dar apoio às vítimas, aos seus familiares e a quem vive nesta comunidade".

O autarca adiantou ainda que tudo indica que o incêndio teve origem na explosão de uma salamandra.

O Presidente da República e também o Governo já apresentaram condolências às famílias das vítimas.

TSF | Foto: Maria João Gala/Global Imagens

PORTUGAL/PSD | Quem é Rui Rio? O homem que escolhe sempre a razão e só às vezes o coração


O novo líder do PSD é economista, alimenta a imagem de rigor, não se importa de fazer inimigos, quer um PSD "sem rasteiras" e retirar a esquerda do poder.

Sem medo de criar anticorpos, quase fazendo alarde desse perfil de rigor austero, Rui Rio chega ao mais alto cargo no PSD, depois de já ter sido jota, deputado, nos anos de Cavaco Silva, secretário-geral do PSD, autarca da segunda maior câmara do país.

Enquanto deputado, durante 10 anos, Rui Rio trabalhou na área de formação: a Economia. Enquanto secretário-geral do PSD, quando Marcelo era líder, foi pisando calos partidários com o processo de refiliação.

Rui Rio avançou para a câmara da Invicta, ganhou apesar do PSD, cumpriu os três mandatos da praxe, chocou de frente com o Futebol Clube do Porto, colocou em pé de guerra os agentes culturais, mas, ainda hoje, puxa pelos galões da recuperação financeira da câmara.

Ao sair, minou abertamente caminho contra Luís Filipe Menezes que o espreitava de Gaia, na outra margem do Douro.

Inimigos íntimos

A proximidade com António Costa, autarca em Lisboa, levou-os, muitas vezes, a falar em conferências, de um país ideal onde houvesse plataformas de entendimento em áreas fundamentais.

Na altura, ambos ainda mantinham em lume brando a chama de chegar a São Bento.
Nos últimos tempos regressou ao setor privado, numa empresa de recursos humanos, e foi deixando correr o sobre o futuro político.

Francisco Pinto Balsemão, militante número um do PSD, que o apoiou na corrida à liderança avisou-o contra o relógio político, na altura em que, sem definição por parte de Marcelo, muitos o tentaram empurrar para Belém.

Ainda é cedo, terá pensado Rui Rio que tenciona passar antes por São Bento, com avisos para a São Caetano (sede do PSD).

Judith Menezes e Sousa | TSF | Foto: Fernando Veludo/Lusa

Portugal | RUI RIO, NOVO “PATRÃO” DO PSD, CARAGO!


O apuramento da vitória de Rio, para a presidência do PSD, surgiu cedo na noite de domingo. É ele o novo “patrão” do PSD

O cadáver político que já era Passos Coelho há muito tempo pode, finalmente, descansar em paz, talvez junto dos cadáveres dos portugueses desesperados com a fome e a miséria promulgada por esse mesmo Passos durante quatro longos anos no governo ao serviço da alta finança e da troika. Portugal que se lixe era a palavra de ordem de Passos por magia de uma palavra sistematicamente referida: crise. Só que a tal crise possibilitou que os ricos ficassem muito mais ricos e os pobres muito mais pobres. Os que ficaram, porque uns quantos portugueses suicidaram-se e outros morreram devido a abandono e outras “deficiências” no sistema de saúde devido aos “cortes orçamentais”. Depois veio António Costa e os entendimentos à esquerda. Constata-se algum alívio para os mais carenciados, para os trabalhadores, para os que sobreviveram à miséria imposta pelos políticos do PSD e do CDS feitos governo. Mas eis que agora, ainda com Costa e a alegada esquerda apoiante do governo PS, Passos foi arrumado em jazigo e surge um novo patrão do PSD, um homem às direitas, Rui Rio. Uns exultam e outros temem que ele alguma vez seja eleito chefe de um governo PSD. Não é caso para menos, temer Rio em primeiro-ministro. Esse temor tem uma justificação muito plausível devido aos portugueses terem memória muito curta e serem demasiadamente propensos e eleger ditadores mascarados de democratas, ou simplesmente a apoiá-los. Ditadores, agora sob a capa da democracia que nada tem que ver com a de conquistas de Abril. Enfim, Rui é adepto da democraciazinha… Estaremos cá para ver e sentir na pele a boçalidade do rústico Rui Rio e a arrogância que o caracteriza. Rui Rio, um patrão às direitas. Carago!


Rio é o novo líder de um PSD que usa a bússola de Sá Carneiro

Com uma vitória clara, Rui Rio assume a herança de Francisco Sá Carneiro como bússola para o futuro do partido com a sua presidência. Sempre em busca do interesse nacional, garantiu, Num curto de discurso de vitória, buscou a unidade do partido sem esquecer ninguém, incluindo Santana Lopes e Passos Coelho, nos agradecimentos que fez. Santana saiu derrotado, mas a prometer que vai andar por aí no combate político

Rui Rio, oposição firme mas responsável

Foi com um discurso de unidade e curto que Rui Rio se dirigiu aos seus apoiantes e ao país após ter vencido as eleições diretas para a presidência do PSD. Com muitos agradecimentos, sem esquecer o adversário Pedro Santana Lopes e o ainda líder Pedro Passos Coelho, Rio assumiu a herança de Francisco Sá Carneiro para "um PSD que nunca será uma agremiação de interesses individuais" e garantiu que não irá ser demagógico e populista na firme oposição que promete fazer à frente de esquerda que sustenta o atual governo.

Perante o entusiasmo dos militantes presentes, o futuro presidente do PSD falou pouco depois das 23.00, perante cerca de 150 apoiantes, efetuando os agradecimentos à equipa que o ajudou ao seu lado estavam Nuno Morais Sarmento, o mandatário nacional, Paulo Mota Pinto, presidente da Comissão de Honra, e Salvador Malheiro, diretor de campanha, e que foi muito aplaudido. Além destes, agradeceu ainda a Francisco Pinto Balsemão, primeiro subscritor da sua candidatura, e a David Justino, responsável pela moção de estratégia.

Pedro Santana Lopes mereceu elogios pela "generosidade e empenho com que se apresentou a estas eleições", permitindo o "confronto de ideias" e a valorização da vitória. E tal como Santana, Rio foi ao nascimento do partido, em maio de 1974, para lembrar que Francisco Sá Carneiro tinha "um propósito inequívoco", onde a maioria dos portugueses se revisse, com um partido reformista, interclassista, que promovesse a justiça social e o crescimento, desenvolvimento económico da nação. "Este é o ADN do PSD. Esta é a herança que o fundador do partido nos legou", frisou. "O PSD não foi fundado para ser um clube ou uma agremiação de interesses individuais."

O novo ciclo irá iniciar-se após um período difícil e muito exigente, em que Pedro Passos Coelho enfrentou a "mais grave crise econonómico-financeira dos 40 anos de democracia". O anterior primeiro-ministro, disse Rio, "retirou Portugal da bancarrota para onde os desmandos de outros atiraram o país". Agora, é preciso "restituir a alma, a vontade e a esperança". O atual Governo pode contar com uma "oposição firme e atenta, mas nunca demagógica e populista". "Acima de tudo está o interesse nacional", justificou. Com "lealdade e colaboração institucional ao Presidente da República", o PSD irá trabalhar para um futuro melhor, com uma sociedade mais justa.

Quando Rui Rio falou já a sala onde sua candidatura se concentrou estava muito bem composta, com militantes de vários concelhos nortenhos a irem chegando à medida que o resultado se confirmava. As urnas estavam fechadas desde as 20.00, mas o ambiente no Hotel Sheraton, no Porto, local escolhido para a noite eleitoral por Rui Rio, só começou a aquecer quase uma hora depois. Faltam cinco minutos para as 21.00 quando o candidato chegou, aparentemente confiante e com boa disposição. Após sair de uma viatura, onde seguiam também os amigos do PSD, Maló de Abreu e João Paulo Mendes, aceitou responder a questões dos jornalistas.

Como já iam sendo conhecidos resultados, e até quem já apontasse que deveria ser o vencedor dada a tendência dos votos já contabilizados, Rui Rio mantinha a prudência. "Não tenho dados", respondeu, sempre sorridente.

Minutos depois, o nervosismo que poderia existir começava a dar lugar a sinais de alegria e euforia. Começavam a ser conhecidos os resultados e os seus apoiantes, como o diretor de campanha Salvador Malheiro, já trocavam abraços e sorrisos em manifestações de triunfo. Por esta hora, já se sabia que Rio ganhara no Porto(nos 18 concelhos Rio só perdeu Lousada e Trofa, tendo vencido na Maia onde o presidente da distrital, Bragança Fernandes, e a concelhia local apoiavam Santana Lopes), Aveiro, Braga e na maioria dos outros. Perdia Lisboa, Coimbra e Açores, nada que invertesse a tendência nacional. Apesar destes sinais, o ambiente permaneceu calmo, com o candidato recolhido numa sala acompanhado por elementos da sua equipa. Mais tarde, a partir das 22.00, quando a vitória estava confirmada, a sala começou a compor-se com apoiantes a chegarem ao Sheraton e viram-se as primeiras bandeiras laranjas do PSD, já o hino de campanha era entoado, até ao discurso de vitória de Rio.

Santana, vinho e buffet no meio da derrota

Muito mais cedo do que é seu hábito, segundo testemunho de quem o acompanhou noutras eleições, Pedro Santana Lopes assumiu a derrota. Nessa altura, pouco depois das 22:00, conforme o próprio revelou, a vantagem de Rui Rio já era de "cerca de 10%". Falou "calmo, sereno e descontraído", tal como tinha prometido à sua família que o acompanhou, a as mulher, Dina Vieira, o seu filho Gonçalo e o seu irmão João.
Mas, pelo menos, desde as 21 horas que cheirava já a derrota no hotel onde se reuniu staff, os apoiantes e jornalistas. Os resultados que iam chegando das concelhias de todo o país não deixavam margem para esperança. Só a vitória em Lisboa, onde votaram perto de 2300 militantes, desenhou um sorriso nos rostos dos sociais-democratas presentes.

Militantes anónimos, não mediaticamente conhecidos pelo menos, deambulavam pelos corredores e junto ao bar do hotel, agarrados e a teclar os telemóveis. A um canto estava Tiago Sá Carneiro, do staff da campanha e um experiente militante destas andanças. "Neste momento ainda é cedo, estamos a receber resultados e a centralizar tudo no João Montenegro (diretor da campanha que, tal como Tiago, acompanhou Passos Coelho em 2015)", afirmava ao DN pouco depois das 21 horas. Ali perto estava Miguel Salema Garção, da Comissão Nacional da candidatura de Santana, atual diretor de comunicação dos CTT. Desta vez deixou as palavras para o filho, Manuel, de 17 anos, militante da JSD, "quase do PSD", como frisou. O "jotinha", a essa hora ainda sem haver resultados definitivos, não hesitou em declarar que "se Rui Rio vencer vai ser o meu presidente". Mas com uma certeza: "Com o Santana tenho a certeza que seria um não absoluto a um Bloco Central!", acrescentando que o futuro líder "deve tornar o PSD mais PPD, mais popular, o que nos último tempos não de tem notado".

Entre as poucas caras conhecidas estava Jorge Barreto Xavier, ex-secretário de Estado da Cultura que deixou cair alguns "conselhos" a Rio: "Terá que aprender que todos contam, mesmo aqueles que têm uma opinião diferente a sua. Querer ter sempre razão é um enorme erro. Tem que haver justiça e prudência e nem sempre a justiça é razão. Na democracia é essencial saber ouvir", sublinhou.

Perto das 22 horas veio o aviso de que Santana Lopes iria fazer a sua intervenção, que viria a acontecer. Minutos antes tinha telefonado a Rui Rio a felicitá-lo pela vitória.

"Temos de continuar a sonhar. Vou continua a combater politicamente!, prometeu, quase no final do seu discurso. O "menino guerreiro" prometeu que vai "andar por ai", mas não disse se perto u longe de Rio. "O PPD-PSD escolheu. Espero que Portugal fique bem servido com a escolha. Os militantes do partido saberão com toda certeza qual é a melhor solução para a liderança do partido", afirmou Santana Lopes, assumindo "todas as responsabilidades". "Não fiquem tristes", pediu, "disse à minha família que estava calmo, sereno e descontraído. E isto porque tenho a consciência tranquila. Fizemos mais importante em política, que é lutar por aquilo em que acreditamos", afirmou com firmeza. Neste momento, primeiro um pequeno grupo, depois toda a sala se levantou em aplausos e a gritar "PSD, PSD". Em ambiente de festa morna, todos se foram juntando numa bem abastecida sala ao lado, preparada para a imprensa, onde não faltavam acepipes, pratos frios, fruta e vinho. "Aproveitem agora que isto vai mudar", ironizava alguém. A norte, contava, "nem uma garrafa de água havia para os jornalistas". O DN confirmou.

David Mandim e Valentina Marcelino | Diário de Notícias | Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens

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