terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Portugal | RUI QUÊ?

Mariana Mortágua | Jornal de Notícias | opinião

Rio, Rui Rio. Alta figura do PSD e presidente da Câmara do Porto por 12 anos. As primárias do PSD, como o Congresso, foram pouco clarificadoras, mas o debate não pode acontecer como se Rio fosse um desconhecido da política nacional. Comecemos pelo mantra das contas certas. Rio orgulha-se do rigor na gestão orçamental da Câmara do Porto, sem referir que foi conseguido à custa de redução do investimento (de 100 para 21 milhões) e da venda de imóveis sem escrutínio (nunca chegou a haver um inventário). A frugalidade e o rigor com que se apresenta contrastam com a sua condução de dossiers polémicos: o dinheiro gasto nas corridas de automóveis, incluindo as obras da Av. da Boavista, pagas em adiantado pela Metro do Porto sem autorização do Governo; a participação da Câmara no fundo imobiliário para reconstrução do bairro do Aleixo, que nunca construiu uma casa, mas onde se juntaram o Grupo Espírito Santo e Vítor Raposo (ex-deputado do PSD com ligações ao BPN condenado num processo centrado em Duarte Lima); os contratos swap ruinosos assinados pela Metro do Porto com o seu conhecimento quando era administrador não-executivo; ou as PPP do Bolhão e do Palácio de Cristal, que nada deram a não ser em prejuízo.

À luz dos mandatos de Rio, a crítica velada à insensibilidade social de Passos não passa de oportunismo. João Salaviza lembrou, a propósito do seu novo filme em competição em Berlim, o momento em que Rio assistiu, num barco de luxo no Douro, à implosão de uma das torres do Aleixo, perante o desespero dos moradores. Não vivo no Porto, não quero falar do que não sei. Mas sei da ação consistente que o Bloco teve na cidade, através do José Soeiro, do João Semedo, da Catarina Martins ou do Teixeira Lopes. Sei o quanto se bateram contra a política de despejos violentos; o quanto denunciaram o programa "Porto Feliz", preconceituoso e ineficaz, que confundia arrumadores com criminosos e os obrigava a desintoxicações forçadas; ou como denunciaram a repressão de projetos como o da escola da Fontinha.

O novo presidente do PSD está preocupado com o populismo que corrói o regime, mas não é o ódio social contra os pobres ou excluídos uma forma de populismo? E como se classifica a sua repulsa e perseguição a toda a manifestação cultural da própria cidade, ao mesmo tempo que se concessionava o Teatro Municipal à companhia de La Féria?

Não é só o passado que o contradiz. Rio fala do desinvestimento na Saúde, quando os gastos públicos na Saúde estão a aumentar (pouco, é certo). Mas diz, ao mesmo tempo, que faria "igual ou pior" que Maria Luís Albuquerque nas Finanças, quando a regra eram os cortes. Também já defendeu o regresso à Educação de Crato.

Falta saber muito sobre o programa do PSD, mas já sabemos muito sobre Rio, e dificilmente pode alguém ser quem não é.

*Deputada do BE

Expresso Curto | APRENDER, APRENDER SEMPRE


Expresso Curto com um título que parece cousa de lana caprina, mas não é. Interessa ler. Como sempre. Isto se considerarmos que também pela negativa aprendemos. Estarmos informados é aprender.  Não quero dizer que este Curto de Filipe Santos Costa seja negativo, não se abespinhem. Leiam e formem a vossa própria opinião. Aprender, aprender sempre. Pois. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Um problema chamado Marlene e um candidato a candidato chamado Zé Eduardo

Filipe Santos Costa | Expresso | opinião

Bom dia.

Hoje é o segundo dia do resto da vida dele. Depois de ter sido recebido pelo Presidente da República no seu primeiro dia em funções como presidente do PSD, Rui Rio vai esta terça-feira encontrar-se com António Costa. Não se sabe se, desta vez, irá acompanhado de Elina Fraga, a ex-bastonária da Ordem dos Advogados que virou vice-presidente do PSD, para incredulidade do próprio PSD.

Dos seus seis “vices”, Rio levou metade a Belém. Elina, a única que foi vaiada no momento da consagração, foi uma das ausentes. À saída da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, Rio foi confrontado com essa escolha e as perplexidades que tem gerado. O novo líder do PSD admitiu que os militantes do partido “merecem as explicações todas” sobre o caso, “mas não é aqui”.

Ali, em Belém, Rio quis falar de outras coisas: reafirmou a disponibilidade para acordos de regime - assunto de que terá muito a falar hoje com António Costa. O Público avança que o Governo está disposto a trabalhar para consensos, mas só se forem "a quatro", incluindo PCP e BE - o que será meio-caminho andado para que não haja consenso.

Sobre o mantra dos pactos de regime, Rui Rio está alinhado com o Presidente da República. Como nota a Ângela Silva, Rio e Marcelo andam há anos de candeias às avessas, mas agora estão no mesmo comprimento de onda na defesa de entendimentos estruturais e de uma atenção redobrada às pessoas.

O novo líder laranja também explicou que ainda não é hora de apresentar propostas concretas. “Depressa e bem, não há quem", alegou. E Jerónimo de Sousa deixou de ser o único líder partidário a falar por ditados populares.

Sobre a impopularidade de Elina Fraga nas hostes do PSD, este texto ajuda a perceber as razões. “Este é o momento para se perceber a mensagem saída do congresso e de Rui Rio e não para se perder tempo com questões laterais”, disse Elina Fraga ontem à tarde ao Expresso, pondo água na fervura. Mas, contrariando as suas palavras, logo fez declarações à Lusa sobre a investigação que a envolve. E garantiu que não se demitirá "nunca".

O regresso à ribalta de Elina Fraga reavivou o interesse pelo passado da ex-bastonária. E ficou a saber-se que o Ministério Público está a investigar o período em que a nova dirigente do PSD dirigia a Ordem dos Advogados.

Havendo barulho, quem não tardou em entrar na dança foi Marinho e Pinto, o "inventor" de Elina na Ordem dos Advogados. Veio falar em "vinganças privadas", "satisfação de rancores e de frustrações", "rede clientelar" e "regabofe". Há coisas que não mudam.

E nada como ouvir um advogado que é militante destacado do PSD para aferir o enorme mal-estar que esta escolha provocou entre os sociais-democratas. José Eduardo Martins não pôde falar no congresso do PSD, não foi escolhido para nenhum órgão dirigente do partido, mas entrou na Comissão Política, o podcast de política do Expresso. Para falar do PSD, do congresso e de “Elina Marlene Fraga”. Sim, nesta história há uma Marlene e não sabíamos.

Por falar em José Eduardo Martins: uma das coisas que o ex-governante e ex-deputado gostaria de ter feito no congresso do PSD era o anúncio da sua disponibilidade para ser candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa nas próximas autárquicas. Ou seja, Martins é o primeiro social-democrata a corresponder ao desafio de Rui Rio para que o PSD prepare com tempo as eleições locais de 2021.

Antes de deixar o PSD, duas referências breves. Primeiro, para a análise de José Miguel Júdice. O título é eloquente: “O congresso de uma morte anunciada, a de Rui Rio”. Por fim, para o novo slogan de Rui Rio, que surgiu no último dia do congresso: "Primeiro Portugal". Se parece o "America first" de Trump, é porque é mesmo parecido. Perante isto, há quem se questione se falta ali uma vírgula.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Sporting venceu ontem o Tondela, num jogo com um final dramático (mas nem por isso surpreendente) que fez a Lídia Paralta Gomes lembrar-se de uma música dos Pulp, "This is hardcore". A equipa de Jesus marcou o golo da vitória aos 90'+9'. Num momento em que o futebol português está a ferro e fogo, a arbitragem de João Capela talvez tenha feito mais para inflamar os ânimos do que qualquer disparate incendiário dito intencionalmente por dirigentes de clubes ou comentadores pagos.

O que eles dizem, especial "hardcore":
"O golo é legal. Limpinho", Jorge Jesus, treinador do Sporting.
"Mesmos os sportinguistas sentem-se envergonhados com esta vitória alcançada por poderes extraterrestres", José Sá, treinador adjunto do Tondela.

Boas notícias: Portugal está entre os 20 países com menos mortes de recém-nascidos. Temos é poucos recém-nascidos.

Houve bronca na primeira semifinal do festival da canção. Segundo a versão oficial da RTP, "no decurso do processo de auditoria interna, que ocorreu após a emissão do programa em direto, foi detetado que a votação final divulgada estava incorreta". Mas o diretor de programas da mesma RTP, Daniel Deusdado, diz algo diferente ao DN: "Percebi o erro [durante a emissão], mas não havia tempo de recontar tudo." O erro só foi corrigido ontem. Como agora o festival é de compositores, e não de intérpretes, sai Mallu Magalhães e entra Jorge Palma.

"O governante mais consensualmente amado desde sempre em democracia", disse Marcelo Rebelo de Sousa sobre António Guterres, o homem que em 2001 abandonou o Governo com medo de se afundar num pântano de amor. Foi num doutoramento "honoris causa".

O Fisco está a trabalhar bem. Pelo menos, no que toca a dar notícias aos jornais. Esta terça-feira, duas notícias sobre a Autoridade Tributária fazem a manchete de dois diários. O Público conta que a máquina fiscal vai apertar o controlo sobre 758 (ou 760...) contribuintes ricos; o Diário de Notícias escreve que quem ainda entrega a declaração de IRS em papel vai receber uma senha para passar a fazê-lo online.

O secretário de Estado das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, diz que é "prematura" a discussão sobre uma nova injeção de capital (de dinheiro público, ou seja, nosso) no Novo Banco. É o que se costuma dizer quando ainda não se pode dizer que vêm aí mais más notícias. O Negócios noticia prejuízos do NB entre 1,6 e 1,8 mil milhões de euros e acrescenta que o "Fundo de Resolução tem autorização para injetar 850 milhões este ano".

Parece que na Assembleia da República vai acabar a licença para os deputados faltarem à vontade aos trabalhos parlamentares. De acordo com o DN, há uma proposta para que a mera invocação de "força maior" deixe de ser aceite como justificação para as faltas dos deputados. Jorge Lacão, autor da proposta, alega que "força maior" é justificação que "nada justifica".

O espanhol Luis de Guindos conseguiu o apoio do Eurogrupo para substituir Vítor Constâncio na vice-presidência do Banco Central Europeu. "Currículo" e "prestígio" não lhe faltam, incluíndo passagem pelo falido Lehman Brothers. Lembra-se? Sim, esse.

Por falar em "prestígio": esta história de uma portuguesíssima empresa-fantasma que recebeu o aplauso da Forbes é uma delícia.

Perdidos e achados: três armas roubadas há um ano na sede da PSP foram ontem recuperadas - desta vez, as armas roubadas não foram devolvidas com juros; um homem que fugiu há um ano da prisão de Caxias celebrou a efeméride publicando uma fotografia na sua conta de Facebook - vê-se que se sente livre, parece que está em Israel.

Depois de mais um massacre numa escola norte-americana (sim, é propositado o tom banal), aumenta a pressão para um maior controlo sobre a posse e uso de armas nos EUA. No Congresso há movimentações bipartidárias para aprovar legislação mais restritiva e Donald Trump sinalizou que poderá sair do estado de negação em que vive em relação a este assunto. Mas não são de esperar grandes mudanças. De acordo com o Washington Post, a equipa de Trump vê neste caso uma oportunidade para desviar as atenções dos escândalos que assombram a Casa Branca, a começar pela investigação ao conluio com a Rússia.

Paula Rego integra uma nova exposição na Tate Britain, que abre portas na semana que vem. A propósito disso, o Guardian publicou este autoretrato da pintora.

O QUE ANDO A LER

Muito pouco para além de imprensa. Mas como não faço parte de qualquer agremiação que tenha lançado uma fatwa sobre a comunicação social, exerço a liberdade de ler todos os jornais e revistas que me apeteça.

Destaco duas leituras recentes. Na edição de sábado passado, o Expresso publicou uma entrevista a Michael Wolff, autor de um livro sobre o qual já aqui escrevi, “Fogo e Fúria”, o retrato impiedoso da Casa Branca de Trump. Vale a pena ler (o livro e a entrevista do Nelson Marques).

O New York Times publicou há um mês uma grande reportagemque eu tinha em lista de espera e só li há poucos dias. “1 son, 4 overdoses, 6 hours” é a história de Patrick Griffin, 34 anos, o filho do título, que sofreu as quatro overdoses do título, durante as seis horas de que fala o título. Mas é muito mais do que o relato de meia-dúzia de horas no inferno. É uma peça admirável, e admiravelmente humana, sobre um grau de sofrimento difícil de imaginar: a história de uma família do New Hampshire cuja existência foi dominada e destruída pelo consumo de droga do filho mais velho, numa montanha-russa de overdoses, tratamentos, sobressaltos permanentes e morte iminente.

“Mesmo nos momentos mais alegres, quando Patrick estava limpo, todos - incluindo ele - pareciam estar a preparar-se para o momento inevitável em que ele voltaria para as drogas”, escreve a jornalista Katharine Q. Seelye, que acompanhou a vida da família Griffin ao longo do último ano.

As quatro overdoses do título são uma pequena parte de uma “carreira” que, segundo contas vagas do protagonista da reportagem, já irá em mais de trinta. E está longe, muito longe, de ser um caso raro. Para se perceber o pano de fundo desta reportagem: a morte por abuso de drogas já é a principal causa de morte dos norte-americanos com menos de 50 anos. A excepcionalidade da história de Patrick é o facto de, ao fim de tantas experiências limite, ainda não ter morrido.

Patrick, a irmã mais nova, Betsy, que conseguiu deixar a heroína mas vive na perigosa proximidade do irmão, a mãe, Sandy, com a persistente culpa de quem sente que falhou sem saber onde nem quando, e sem ter ideia de como fazer melhor, o pai, Dennis, um alcoólico em recuperação, ficaram-me na memória muito depois de ter acabado de ler esta reportagem. Na verdade, os Griffin ficaram-me na memória ainda antes de a começar a ler: bastou ver o abraço dela, o rosto dele, e o fantasma do pai na fotografia de Todd Heisler com que abre a reportagem.

Fico por aqui. Boa terça-feira.

CINEMA FANTÁSTICO | E o Porto aqui tão perto


Há 38 anos que existe o Fantasporto, do sul de Portugal vão lá muitos interessados em acompanhar aquele festival de cinema. Uma montra espetacular em que só uns quantos privilegiados marcam presença e se deleitam com o programa. É de pensar em trazer o Fantasporto em uma ou mais edições por ano noutras regiões e assim alargar a oportunidade de muitos outros cinéfilos se deleitarem com o que este festival de cinema contém todos os anos. Sendo verdade que Portugal é pequeno, que as estradas e outras oportunidades de transportes permitem deslocações de razoável rapidez na aventura de viajarmos, fazendo do Porto uma cidade aqui tão perto, seria de contento de muitos mais Fantasporto que não só no Porto. Da TSF retiramos o que interessa aos cinéfilos e futuros cinéfilos. (MM | PG)

FANTASPORTO, O Cinema que é Fantástico

Começa esta noite o Fantasporto, o Festival Internacional de Cinema do Porto, no Rivoli.

É a edição 38, do Fantasporto, que traz sempre ao Porto novos filmes e muitos em ante estreia como diz Beatriz Pacheco Pereira, uma das diretoras do Festival e com o destaques desta edição com um sublinhado para a homenagem a Lauro António. As secções habituais do Festival de Cinema do Porto Mantêm-se, Beatriz Pacheco Pereira afirma que é isso que faz o festival mesmo que tenha tido essa viragem do cinema Fantástico para o cinema generalista, que foi copiado por muitos, diz a diretora do Fantasporto, quatro secções competitivas, a do Cinema Fantástico, Semana dos Realizadores, Orient Express e Cinema Português. Para além das ante estreias mundiais de cinema português como é o caso de "Uma Vida Sublime" de Luís Diogo, e ainda "Aparição", de Fernando Vendrell, há ainda um longo debate sobre a ética na vida, no cinema ou no jornalismo, com uma conferencia para conversar sobre o assunto.

Fantasporto, de hoje até 4 de março, no Rivoli

José Carlos Barreto | TSF

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