Mariana Mortágua | Jornal de Notícias
| opinião
Rio, Rui Rio. Alta figura do PSD
e presidente da Câmara do Porto por 12 anos. As primárias do PSD, como o
Congresso, foram pouco clarificadoras, mas o debate não pode acontecer como se
Rio fosse um desconhecido da política nacional. Comecemos pelo mantra das
contas certas. Rio orgulha-se do rigor na gestão orçamental da Câmara do Porto,
sem referir que foi conseguido à custa de redução do investimento (de 100 para
21 milhões) e da venda de imóveis sem escrutínio (nunca chegou a haver um
inventário). A frugalidade e o rigor com que se apresenta contrastam com a sua
condução de dossiers polémicos: o dinheiro gasto nas corridas de automóveis,
incluindo as obras da Av. da Boavista, pagas em adiantado pela Metro do Porto
sem autorização do Governo; a participação da Câmara no fundo imobiliário para
reconstrução do bairro do Aleixo, que nunca construiu uma casa, mas onde se
juntaram o Grupo Espírito Santo e Vítor Raposo (ex-deputado do PSD com ligações
ao BPN condenado num processo centrado em Duarte Lima); os contratos swap
ruinosos assinados pela Metro do Porto com o seu conhecimento quando era
administrador não-executivo; ou as PPP do Bolhão e do Palácio de Cristal, que
nada deram a não ser em prejuízo.
À luz dos mandatos de Rio, a
crítica velada à insensibilidade social de Passos não passa de oportunismo.
João Salaviza lembrou, a propósito do seu novo filme em competição em Berlim, o
momento em que Rio assistiu, num barco de luxo no Douro, à implosão de uma das
torres do Aleixo, perante o desespero dos moradores. Não vivo no Porto, não
quero falar do que não sei. Mas sei da ação consistente que o Bloco teve na
cidade, através do José Soeiro, do João Semedo, da Catarina Martins ou do
Teixeira Lopes. Sei o quanto se bateram contra a política de despejos violentos;
o quanto denunciaram o programa "Porto Feliz", preconceituoso e
ineficaz, que confundia arrumadores com criminosos e os obrigava a
desintoxicações forçadas; ou como denunciaram a repressão de projetos como o da
escola da Fontinha.
O novo presidente do PSD está
preocupado com o populismo que corrói o regime, mas não é o ódio social contra
os pobres ou excluídos uma forma de populismo? E como se classifica a sua
repulsa e perseguição a toda a manifestação cultural da própria cidade, ao
mesmo tempo que se concessionava o Teatro Municipal à companhia de La Féria?
Não é só o passado que o
contradiz. Rio fala do desinvestimento na Saúde, quando os gastos públicos na
Saúde estão a aumentar (pouco, é certo). Mas diz, ao mesmo tempo, que faria
"igual ou pior" que Maria Luís Albuquerque nas Finanças, quando a
regra eram os cortes. Também já defendeu o regresso à Educação de Crato.
Falta saber muito sobre o
programa do PSD, mas já sabemos muito sobre Rio, e dificilmente pode alguém ser
quem não é.
*Deputada do BE
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