sexta-feira, 13 de abril de 2018

FRANÇA | Polícia entra na Sorbonne para retirar estudantes que ocupavam o local


Em diversas cidades francesas, universidades foram bloqueadas por vários dias ou semanas por estudantes que denunciam a lei "ORE", lei que muda o acesso à universidade

A Polícia interveio na quinta-feira (12/04) à noite para desalojar os estudantes que bloquearam o acesso de um prédio da Universidade Paris I Panthéon-Sorbonne, no 5º distrito de Paris, relatam as autoridades.

"Cerca de duas centenas de estudantes que estavam na Sorbonne desde o meio da tarde votaram pela ocupação e se recusaram a sair", declarou a Secretaria de Segurança Pública de Paris por comunicado de imprensa.

Segundo a reitoria, os estudantes reunidos em assembleia geral na Sorbonne haviam votado "pela ocupação do local, como parte da oposição à reforma do acesso à universidade, e depois de três horas de negociações mal sucedidas com eles, o reitor exigiu a intervenção da polícia”.

"No início da noite, o reitor da academia recorreu à Secretaria de Segurança Pública para evacuar as instalações." A intervenção, que começou às 21h40 e durou meia hora, "envolveu 191 pessoas, ocorreu em paz e sem nenhum incidente", acrescentou a Polícia.

Em diversas cidades francesas, universidades foram bloqueadas por vários dias ou semanas por estudantes que denunciam a lei "ORE", lei que muda o acesso à universidade.

Quatro universidades seguem completamente bloqueadas

Hoje, além de quatro universidades completamente bloqueadas - Montpellier, Toulouse, Rennes 2 e a Universidade de Paris 8 Saint-Denis -, uma dúzia de universidades têm suas salas e anfiteatros ocupados.

O presidente da Universidade de Paris I Panthéon-Sorbonne, Georges Haddad, havia exigido na segunda-feira a intervenção da polícia para evacuar o campus de Tolbiac, no 13º distrito de Paris, ocupado desde 26 de março.

Ele considerou que "a gravidade da violência observada" já não permitia garantir a segurança das pessoas e pediu "ao secretário de Segurança Pública para ajudar a restaurar o funcionamento normal do centro".

De acordo com a Secretaria, o secretário Michel Delpuech não respondeu a este primeiro pedido, sustentando que as "condições técnicas e de oportunidade" não foram cumpridas.

RFI | Opera Mundi

Moçambique | O PAÍS A PIQUE E ZANDAMELA SERENO


@Verdade | Editorial

Já era de se esperar, porém, o Banco de Moçambique informou, esta semana, que o endividamento público bateu recorde de 107, 8 mil milhões de meticais, mantendo-se, assim, a nível interno o risco relativo à sustentabilidade da dívida pública. 

Pelo andar da carruagem, a situação económica e financeira do país vai-se deteriorando e, consequentemente, o custo de vida vai pesando para os moçambicanos. Na verdade, nos últimos tempos, a população moçambicana vive sob constante aumento de preços de principais bens alimentares e serviços básicos.

Em pouco espaço de tempo, os moçambicanos assistiram a subidas galopantes dos preços de transportes, electricidade, combustíveis, para além de produtos de alimentares diversos. Não há réstia de dúvidas de que esta situação financeiramente caótica que o país atravessa resulta dos empréstimos ilegais contraídos por empresas que, a curto prazo, se mostraram ser uma verdadeira trapaça. Ou seja, ficou claro que as supostas empresas, nomeadamente a Ematum, MAM e a Proindicus, foram um mecanismo para um bando de indivíduos ligados ao partido Frelimo ampliarem os seus patrimónios pessoais e hoje continuam impunes.

Diante da situação que se vive, sobretudo a velocidade estonteante do aumento da dívida pública interna, tudo indica que os moçambicanos devem preparar-se para o pior. Só para se ter uma ideia de Fevereiro a Março do ano em curso, a dívida pública aumentou em 3,1 mil milhões de meticais. A esse ritmo, até o fim do primeiro semestre de 2018, o nosso país estará mergulhado no pântano da desgraça mais do que já está. Refira-se que a dívida pública externa é também outro problema que agrava a situação económica do país e o Fundo Monetário Internacional (FMI) já informou que valor actual da dívida pública externa e com garantias do Estado face ao PIB excede largamente o limite prudencial de 40 porcento nos próximos oito anos.

O mais caricato é o optimismo que continua a ser demonstrado pelo Governo da Frelimo em todos os seus encontros, mesmo sem apresentar algo em concreto que possa relançar a esperança dos moçambicanos em verem mudança na situação financeira e económica do país. Além disso, o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, também continua a mostrar um optimismo exacerbado, afirmando que a crise já está ultrapassada. Portanto, esse optimismo é, sem dúvidas, resultante de um posicionamento político de quem tem as contas todas pagas à custa do sofrimento do povo.

Irregularidades na Conta Geral do Estado de Moçambique


Tribunal Administrativo moçambicano aponta várias irregularidades na Conta Geral do Estado de 2016, como divergências nos dados das receitas e nos registos dos impostos. RENAMO questiona: Quem ficou com os dividendos?

Na lista de irregularidades elaborada pelo Tribunal Administrativo consta também a ausência de registos das receitas dos dividendos efetivamente pagos ao Estado.

Aponta também para a existência de divergências nos registos dos impostos, assim como nos montantes sobre os desembolsos e reembolsos de empréstimos resultantes de acordos de retrocessão.

Por outro lado, algumas entidades de âmbito central não declararam a cobrança de receitas próprias previstas no Orçamento. Na indústria extrativa, os custos recuperáveis reportados por grandes empresas envolvidas na exploração do gás continuam sem serem certificados.

O tema esteve em debate esta quarta (11.04) e quinta-feira (12.04) no Parlamento, em Maputo, e dividiu as bancadas, com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), a considerar que o mesmo espelha a execução do Orçamento de 2016, enquanto a oposição defendeu a sua reprovação.

Onde estão os dividendos?

Para o deputado Samo Gudo, da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição, face às irregularidades avançadas pelo Tribunal Administrativo é caso para perguntar: "Quem é que ficou com os dividendos, onde estão?"

O Governo afirmou que estão em curso várias medidas com vista a garantir maior transparência e o reforço da gestão da coisa pública.

Por seu turno, o deputado Silvério Ronguane, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), considerou que constitui igualmente motivo de apreciação negativa da Conta Geral do Estado o facto de o relatório reconhecer que o Produto Interno Bruto (PIB) desceu para 3.8% e a inflação média subiu em flecha para 19,9%. "Chumbar, assim, não dá", sublinhou.

A bancada da FRELIMO sublinhou que 2016 foi um ano atípico. "Mesmo assim, o Governo, por via de esforços, garantiu todas as despesas sociais básicas para as populações", sublinhou o deputado Daniel Teixeira.

Segundo o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, "não obstante esta situação atípica a nossa política orçamental continuou a privilegiar a alocação em média de 60% da despesa pública a setores prioritários que inclui a educação, saúde e abastecimento de água."

Ainda as dívidas ocultas

A oposição fez questão de sublinhar que o debate da Conta Geral do Estado de 2016 acontece numa altura em que o país atravessa uma crise causada pelas dívidas ocultas contraídas por três empresas em 2013 e 2014, com garantias do Estado e sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais.

Acusaram o Governo de estar alegadamente a negociar com os credores a reestruturação da dívida com promessas de pagamento, com base nas receitas que vão resultar da venda de gás em 2022 e 2023. A oposição disse que os moçambicanos recusam-se a pagar esta dívida e exigiu a divulgação do relatório de auditoria a estas dívidas e a responsabilização dos infratores.

Por seu turno, o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, defendeu o diálogo permanente com os credores argumentando que a dívida não vai desaparecer enquanto não for alcançado um acordo sobre a matéria.

O país está a negociar neste momento com os credores 17% do stock total da dívida, que "representa 41% do serviço da dívida", avançou Maleiane. "Analisamos em função das capacidades do país para servir a educação, saúde e tudo isso. E estamos a dizer que não é possível neste momento fazer este pagamento. Então, temos que encontrar alguma saída", declarou o ministro.

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

Até ao pescoço: Dívida de Angola causa preocupação


UNITA voltou a solicitar comissão de inquérito sobre a dívida pública, numa altura em que o valor e a estrutura da dívida real do país não são conhecidos. Economista mostra-se preocupado com a sustentabilidade da dívida.

Não é a primeira vez que a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição, pede uma Comissão Parlamentar de Inquérito à dívida pública. Em março, viu chumbado um pedido do género. "Nós entendemos que esta recusa da primeira e da outra que se seguiu visa dar proteção as pessoas envolvidas neste processo", considera Alcides Sakala, deputado e porta-voz do partido.

Apesar das recusas, a UNITA insiste no pedido. Sakala diz que os angolanos têm direito a saber o que está por trás da dívida – e, sobretudo, quem beneficiou do dinheiro do Governo angolano.

Em março, a secretária de Estado para as Finanças e Tesouro, Vera Daves, veio a público dizer que 25% da dívida pública para com as empresas correspondia a processos fraudulentos. Um número que preocupa Alcides Sakala: "Significa que aqui houve má intenção, houve atitude de corrupção, desvios de fundos públicos".

Por isso, acrescenta, "há a necessidade de se clarificar todo esse quadro e responsabilizar as pessoas que estiverem envolvidas neste processo. Angola deve pautar-se pela transparência e da boa gestão do erário público".

Taxas de juro em alta

O peso da nova dívida no Orçamento Geral do Estado angolano é cada vez maior, de acordo com a UNITA. Nos últimos dois anos foi de 32% e este ano ronda os 52%.

As taxas de juro pagas pela dívida também são altas – em março, ficaram próximas dos 25%, nas emissões a três anos. Significa que em quatro anos, somente em juros, paga-se o mesmo montante da dívida.

Um nível de juros preocupante, considera o economista Francisco Paulo, do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, que suspeita que o país tenha dificuldades em pagar a dívida.

Isto, explica, porque "as previsões indicam que a economia até 2020 ou 2022 dificilmente vai crescer acima dos 5%, enquanto que as taxas de juro que estão a ser pagas pelos títulos de tesouro estão a acima dos 18%. Para a dívida titulada em moeda estrangeira não está menos de 10 ou 9%".

"Comparando a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) com a taxa de juro, nota-se que, de facto, estamos aqui a correr risco de não termos a sustentabilidade de pagarmos está dívida", conclui.

O economista diz, por isso, que é crucial que o Governo faça as contas e pense em formas de pagar a dívida: "É de interesse nacional determinar o real valor da dívida pública e se falarmos da reestruturação sabermos quando é que será feita. Fazer-se um plano para se saber como essa dívida será paga e como será paga porque a principal fonte de financiamento do Estado são os impostos".

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito à dívida pública seria também uma boa medida, segundo Francisco Paulo. "Espero que o próprio Executivo, o Governo, o Ministério das Finanças estejam interessados neste processo, porque é o país que sai a ganhar".

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

ANGOLA | Quantum Global e Fundo Soberano de Angola: Ligações sob suspeita


Empresa de Jean-Claude Bastos de Morais, conhecido pelos negócios com José Filomeno dos Santos, vê os seus fundos congelados após visita de autoridades angolanas às Maurícias e exige explicações, demarcando-se de "Zénu".

A Quantum Global, empresa através da qual o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) investe grande parte dos seus fundos, exige saber porque é que as autoridades financeiras das Ilhas Maurícias suspenderam as licenças de negócio da empresa no país.

As Maurícias congelaram 25 contas bancárias e suspenderam sete licenças ligadas à Quantum Global, depois de uma visita das autoridades angolanas ao país, na semana passada, segundo uma fonte citada pela agência de notícias Reuters. Segundo a mesma fonte do setor regulador, as Maurícias atuaram prontamente em colaboração com as investigações das autoridades angolanas para se protegerem contra um potencial "risco de reputação".

A Quantum Global, liderada pelo suíço-angolano Jean-Claude Bastos de Morais, queixa-se da decisão das autoridades financeiras das Ilhas Maurícias, alegando que não se defenderam. 

Em comunicado, a Quantum Global anuncia que pediu formalmente à Comissão de Serviços Financeiros (FSC) das Ilhas Maurícias que "apresente uma explicação clara da sua decisão de suspender as licenças da empresa na semana passada, e que permita à companhia ter uma audição justa".
  
Na rede social Twitter, esta sexta-feira (13.04), o grupo Quantum Global diz que "leva a sério as suas obrigações de transparência e coopera totalmente e com todos os órgãos reguladores" onde as suas companhias operam.

A FSC refere ter suspendido as licenças a 8 de abril, com base numa ordem de restrição emitida pelo Supremo Tribunal das Maurícias, e deu sete dias à Quantum Global "para fazer uma representação por escrito".

Contudo, diz a empresa contratada por José Filomeno dos Santos, filho do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, e que até janeiro último administrava o FSDEA, "o regulador não forneceu quaisquer detalhes sobre a causa subjacente para a ordem de restrição ou para a suspensão da licença".

Colaboração com Angola

As autoridades financeiras das Ilhas Maurícias anunciaram a 9 de abril o congelamento de sete fundos geridos pela empresa de Jean-Claude Bastos de Morais, após uma reunião do primeiro-ministro com um representante do Governo de Angola.

Os sete fundos cujas contas foram congeladas estavam em três bancos e eram propriedade da Quantum Global Group, que está a gerir 3.000 milhões de dólares do FSDEA.

O congelamento dos fundos acontece depois de um representante do Governo angolano se ter reunido com o primeiro-ministro, Pravind Jugnauth, a 3 de abril, de acordo com a imprensa local.

Nesse mesmo dia, partiu de Luanda, com destino à capital das Ilhas Maurícias, Port-Louis, de acordo com informação a que a agência de notícias Lusa teve acesso, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, em visita de trabalho.

Os ativos nestes fundos estão entre os 150 e os 200 milhões de dólares, segundo duas fontes anónimas citadas pela Bloomberg, que dá conta ainda de que a comissão cobrada por Bastos de Morais para gerir os três mil milhões de dólares do Fundo Soberano está entre os 60 a 70 milhões por ano.

As ligações entre o antigo presidente do FSDEA e o gestor com nacionalidade suíça e angolana têm sido alvo de críticas por parte da oposição e de várias organizações que questionam os montantes envolvidos e a aplicação das verbas sob gestão da Quantum Global.

Em novembro, o jornal suíço Le Matin Dimanche revelou, a partir de documentos divulgados pelos Paradise Papers, que Jean-Claude Bastos de Morais estaria a enriquecer ilicitamente através da gestão do Fundo Soberano de Angola. A reportagem do jornal suíço afirmava que dos cerca de cinco mil milhões de euros do fundo angolano, pelo menos três mil milhões tinham sido direcionados para sete fundos de investimentos sediados nas Ilhas Maurícias.

Bastos de Morais demarca-se de transferência ilegal

Entretanto, o suíço-angolano garante não ter tomado parte na transferência, alegadamente ilícita, de 500 milhões de dólares de Angola para um banco britânico, que envolve o sócio José Filomeno dos Santos, filho do ex-Presidente da República.

"Gostaria de afirmar categoricamente que nem eu, nem o Grupo Quantum Global, empresa que dirijo como PCA, fizemos parte da transação de 500 milhões de dólares, atualmente sob investigação das autoridades angolanas", refere a declaração.

"Não tive conhecimento prévio desta transação antes de ser divulgada nos meios de comunicação social e posteriormente confirmada pelo Ministério das Finanças de Angola. Além disso, em nenhuma ocasião fui interrogado pelas autoridades angolanas ou por qualquer órgão regulador, em torno da referida transação", garante ainda.

No entanto, segundo a imprensa internacional, os 500 milhões de dólares terão sido transferidos para uma conta ligada a Jean-Claude Bastos, em Inglaterra, o que a empresa nega categoricamente, segundo o jornal L'Express, das Ilhas Maurícias. "Não temos absolutamente nada a ver com isso", diz uma fonte da Quantum Global citada pelo diário.

José Filomeno dos Santos e o ex-governador do Banco Nacional de Angola (BNA) Valter Filipe, além de outros três angolanos, foram constituídos arguidos pela Justiça de Angola, pela prática suspeita de crimes de defraudação, peculato e associação criminosa, entre outros.

Agência Lusa, Reuters, mjp | em Deutsche Welle

BRASIL | Sobre a conjuntura, fascismos e golpes


Elaine Tavares [*]

Não pretendo falar do julgamento do STF sobre o Habeas Corpus de Lula. Não é isso que interessa. Julgo que todo o processo que envolve as denúncias contra o ex-presidente tem vício de origem, logo não deveria ter chegado até esse ponto no qual chegou, com duas condenações absurdas, de nove e depois expandida para 12 anos.

No campo do direito, não são poucos os juristas que apontam a inconsistência nas provas contra Lula. E, se um dos princípios basilares da lei burguesa é a presunção de inocência, não teria motivo de ser diferente só porque o acusado é um ex-presidente. Logo, o julgamento é político. Não faltará quem jogue na cara: então tu apoias a corrupção do Lula? Não, não apoio. Nem do Lula, nem de ninguém. Os que comandam a máquina capitalista todos têm as mãos sujas de alguma forma. Mas, se formos nos ater à letra fria da lei penso que provas concretas são necessárias, contra quem quer que seja: amigo ou inimigo meu.

Vejo claramente algumas coisas que gostaria de dividir para o debate:

Primeiro: Sim, foi golpe o que aconteceu em 2016. De um jeito novo, mas foi golpe. E estamos vendo esse golpe se desdobrar vertiginosamente. "Primeiro a gente tira a Dilma", disseram, e é assim mesmo. O que vem depois vai pegando primeiro os petistas e no desenrolar pode pegar qualquer um. Isso é fato. Uma hora vai chegar ao cidadão comum. Alguém pode dizer que o cidadão comum sempre esteve vivendo num estado de exceção e de certa forma é verdade. Os empobrecidos sempre estão com a lei sob suas cabeças, como uma faca afiada, coisa que não ocorre com os do topo da pirâmide. Exemplos não faltam, de um e de outro lado. Vejam os números de mortes impunes nas favelas, nas periferias. Vejam a situação dos aprisionados, grande parte sem julgamento. Vejam os ricos que matam e traficam e saem impunes. Tudo isso é verdade. Mas num tempo de golpe, a ação contra os inimigos do "estado de coisas" se potencializa, cresce e deixa a vida confusa. A mão da lei, que é a mão do poder, pode pegar qualquer um, sem precisar usar a lei. O contrato social representado pelas leis, ainda que frágil na democracia burguesa se rompe definitivamente. Tudo passa a valer. Inclusive convicções pessoais viram provas. Isso não pode ser aceitável.

Segundo: a direita brasileira conseguiu colar no Lula e no PT a imagem de "comunista". Todos os que temos compreensão da realidade e conhecemos a fundo o que é o capitalismo, o socialismo e o comunismo, sabemos que o PT e o Lula não são comunistas. O máximo que podemos conceder é que eles sejam de um liberalismo de esquerda, com certa pegada social e uma preocupação com os empobrecidos, ainda que insuficiente. Mas, não adianta dizer isso a essas gentes que já estão inoculadas com essa "verdade" do petista/comunista. É por isso que esse povo vai para as ruas com suas camisas da seleção – que representam a pátria – gritar contra Lula e o PT. Porque pensam que eles são comunistas, e acreditam que o comunismo é o mal. Veem o comunismo com os olhos da direita, sequer sabem bem o que isso significa. Precisaríamos de muito tempo para desconstruir isso. Muito trabalho de base. Não se consegue com discursos nem com postagens no facebook. Ainda mais que o próprio facebook trabalha para consolidar essa mentira que virou verdade. O tal do face é uma fábrica de mentiras, tal qual os grandes meios de comunicação.

Terceiro: sim, há fascismo nessa conjuntura brasileira e isso não é banalizar o termo. Teothonio dos Santos, no seu livro "Socialismo ou Fascismo" ajuda a gente a compreender esse movimento. Ele avalia que existem atitudes fascistas, movimentos fascistas e fascismo. Cada caso é bem diferente um do outro Ele faz sua análise nos anos 70 do século passado e é claro que não podemos transplantá-la para hoje. Mas ajuda a pensar. Segundo Teothonio,  o fascismo surge quando há uma ameaça à nação e um movimento de unidade nacional que aparece para salvá-la. Não é o caso no Brasil. Mas, acontece que foi criado um consenso que diz o contrário. Nesse consenso liga-se o PT ao comunismo e isso aparece como uma ameaça. É o que dizem os comentários raivosos de um bom número de pessoas. Nesse caldo, figuras como Bolsonaro, militares ou políticos da direita de todas as cores, aparecem como lideranças capazes de colocar ordem na casa. A casa bagunçada pelo capitalismo aparece como uma casa bagunçada apenas pelo PT. "No tempo dos milicos não tinha violência", dizem, e não analisam o tempo de um Brasil ainda rural, sem os males das grandes metrópoles. A violência não é coisa do PT, ela é estrutural do capitalismo.

O fascismo, diz Teothonio, aparece quando as lideranças populares estão desorientadas ou chegam ao poder e não conseguem dar respostas às lutas do povo. Temos essa realidade com o governo do PT que, de certa forma, não conseguiu avançar nas demandas populares e domesticou sindicatos e movimentos. Hoje temos essa desorientação. Também, para que o fascismo se expresse para além de ações isoladas é necessário que existam grupos marginais e decadentes que se organizem contra o socialismo, o comunismo ou as demandas populares. Temos isso hoje no Brasil de maneira muito clara.

Teothonio diz ainda que para que o fascismo se instale como projeto de governo é necessário que haja uma crescente luta popular que ameace a burguesia, então, ela, com a ajuda do grande capital, trava a luta. Bom, não temos grandes levantes populares, mas não estamos adormecidos, e a burguesia local impõe via meios de comunicação essa "verdade": os comunistas querem voltar. Isso é forte. Talvez não tenhamos mesmo as condições materiais e históricas para um regime fascista no Brasil. Mas isso não significa que não tenhamos de conviver com movimentos pontuais e atitudes fascistas. Coisas que já observamos claramente hoje. Isso tem de ser combatido, sob pena de avançar.

Nesse contexto todo, misturando os ingredientes, a situação é de fato dramática para esquerda, porque é necessário apontar cenários e saídas a essa camada da população que hoje se mobiliza na campanha de "eleição sem Lula é fraude". Esse é, na verdade, um projeto muito reduzido para nossa esquerda nacional. Posso entender os partidos se juntando em atos públicos para rechaçar atitudes e movimentos fascistas, mas isso não toca na essência do problema. Não há verdadeiramente um projeto nacional que sirva de rede para nossos desejos. Não há. O projeto que boa parte das gentes em movimento hoje tem é o projeto petista, que já mostrou suas fragilidades e suas insuficiências.

Como acreditar que as coisas possam ser diferentes? Que a política econômica não será comandada por gerentes do capital? Que os meios de comunicação comerciais de massa não seguirão realizando a mais-valia ideológica sem freio? Que a auditoria da dívida será feita e o que for ilegal não será pago? Esses pontos não estão no horizonte petista hoje. Nesse sentido, antes de pensar em uma frente com essa força seria necessário avançar muito mais, para além da proposta esquerdo/liberal.  
É fato que no mundo real só podemos trabalhar com a realidade real, como diz o economista José Martins. E sabemos que os caminhos da mudança são tortuosos e difíceis, necessitando de construção coletiva massiva. Mas, não podemos rebaixar os horizontes. Como dizia Galeano a utopia foi feita para a gente caminhar, e a utopia não é um lá-na-frente impossível. Ela é um lá-na-frente que ainda não chegou, mas que pode chegar. Então, nossas propostas e bandeira precisam se erguer além do possível. Claro, sem deixar de observar o que é possível no agora. Mas esse é um caminho dianalético (sim, dianalético, como em Dussel), ou seja, no confronto entre tese e antítese, assoma a voz da comunidade das vítimas, os que estão fora do horizonte do sistema ( e não fora do sistema). É com esses, que clamam desde a exterioridade, que temos de caminhar. E a esses não basta serem incluídos na máquina de moer carne. O que se quer é outra forma de organizar a vida, na qual as maiorias não fiquem de fora – seja das riquezas, seja da possibilidade de decisão.

Resumindo: nesses dias de estupor diante do papel da Justiça, das vozes da caserna que assomam pela TV, dos movimentos fascistas, posso me solidarizar com os partidários de Lula na compreensão de que está sendo travada uma cruzada contra o PT e não contra a corrupção. Mas, ao mesmo tempo conclamo aos companheiros e companheiras de tantas lutas que ampliem o olhar, aumentem o horizonte das lutas, e fortaleçam a utopia. O lá-na-frente não pode ser um pouco mais de justiça, um pouco mais de salário, um pouco mais de democracia. O lá-na-frente tem de ser nosso sonho maior, de trabalhadores livres, solidários, com o fim da propriedade privada, as riquezas repartidas, o poder popular. O comunismo.

Talvez não cheguemos lá agora, mas chegaremos, se para lá dirigirmos, de verdade, nossos pés e nosso coração. 

[*] Jornalista, brasileira. 

O original encontra-se em eteia.blogspot.pt/2018/04/sobre-conjuntura-fascismos-e-golpes.html 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

BRASIL | Recurso final de Lula será julgado no próximo dia 18


Após a decisão deste pedido da defesa, que é conhecido como embargo dos embargos, o processo será transferido para o Superior Tribunal de Justiça.

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região marcou o julgamento do último recurso do antigo presidente do Brasil Lula da Silva para a próxima quarta-feira, dia 18. Segundo O Globo, após a decisão deste pedido da defesa, que é conhecido como embargo dos embargos, o processo será transferido para o Superior Tribunal de Justiça. 

Lula da Silva, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, está preso desde sábado passado na sede da Polícia Federal de Curitiba, onde começou a cumprir uma pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e branqueamento de capitais. 

A justiça brasileira já o condenou em duas instâncias num dos processos da operação Lava Jato em que foi acusado de receber um apartamento de luxo para favorecer contratos da construtora OAS com a estatal petrolífera brasileira Petrobras.

A defesa considera que a condenação não tem "base legal" e que a prisão vai contra a "presunção de inocência garantida na Constituição". 

Desde a sua detenção, Lula só recebeu a visita de seus advogados e o tribunal proibiu a visita de nove governadores de Estado, três senadores e um líder do Partido dos Trabalhadores (PT).

Sábado

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Brasil | O EPÍLOGO DE UM PACTO FAUSTIANO

A ordem de prisão contra Lula é o epílogo trágico de um pacto faustiano. Tal como Fausto, Lula está agora a sofrer as agruras de ter vendido a alma a Mefistófeles. 

Tentou apaziguar as forças do capital e do imperialismo fazendo-lhes toda a espécie de cedências. Mas de nada adiantou. Um juiz familiar da Embaixada dos Estados Unidos e frequentador dos cursinhos de warfare da USAID – sr. Sérgio Moro – condenou-o em primeira instância. E apressou-se agora a ordenar a sua prisão. A reacção é maximalista e tem pressa. 

A corrupção sistémica tem raízes fundas na classe dominante brasileira. Quando se trata de alguém vindo do povo, adopta-se o princípio "para os amigos tudo, para os inimigos a aplicação acelerada da lei". O molho dos argumentos pseudo-jurídicos serve só para dar um verniz à arbitrariedade envolta em sentenças judiciais. 

Depois das Honduras e do Paraguai, a warfare é agora aplicada no Brasil. As forças que hoje prendem Lula são as mesmas que levaram Getúlio Vargas ao suicídio. Mas a social-democracia lulista pretendeu com elas conciliar, desarmando política e ideologicamente os trabalhadores. Mesmo agora, in extremis, o espírito conciliador de Lula parece continuar a prevalecer.

PORTUGAL | Ser ou não ser Centeno


Rafael Barbosa* | Portugal | opinião

Não foi ontem que as condições de atendimento na pediatria do Hospital do S. João (incluindo a oncologia) se tornaram "indignas" e "miseráveis". Não foi ontem que começou a degradação do Serviço Nacional de Saúde. Não foi ontem que se percebeu que há escolas a cair aos pedaços, e outras luxuosamente reformuladas mas sem dinheiro para pagar o ar condicionado. Não foi ontem que se confirmou que as linhas de caminho de ferro estão caducas, razão pela qual os descarrilamentos se vão repetindo. Não foi ontem que professores, trabalhadores da recolha do lixo, enfermeiros, funcionários administrativos ou polícias se afirmaram desmotivados.

Não foi ontem que o Estado se começou a tornar (ainda mais) disfuncional. A degradação dos serviços públicos começou com os excessos de Sócrates, que aceleraram a bancarrota; prosseguiu com a imposição vinda de fora (troika) e a crença vinda de dentro (Passos) relativamente à austeridade; e mantém-se com Costa e Centeno, ainda que o défice esteja melhor (e está), ainda que o país cresça (e cresce), ainda que haja mais emprego (e há), ainda que se reduzam os impostos sobre o trabalho (e reduzem). A degradação que começou com Sócrates, acelerou com Passos e se mantém com Costa não foi nem é ditada, no essencial, por razões ideológicas (menos Estado); foi e é ditada sobretudo por razões de emergência financeira (Estado falido). Numa frase, não havia, nem há, dinheiro para mandar cantar um cego.

Podemos deitar foguetes quando se anuncia um défice de 0,7% do PIB, mas não vale a pena ir apanhar as canas. Quando há défice, a dívida cresce. Pior, a dívida cresce porque não há dinheiro suficiente para pagar os juros dos empréstimos anteriores. Não fosse isso e poder-se-ia dizer que o país dá lucro (o tal saldo primário). Mas não dá. Nem há folga, como ontem argumentavam deputados bloquistas e comunistas, fazendo as contas à diferença entre os objetivos de défice de Centeno (0,7%) e o que estava combinado (1%): 800 milhões de euros. Não é folga, são 800 milhões que é preciso pedir emprestado. Pagam juros. Somam dívida.

É mau? Depende. Mais défice (e dívida) pode representar maior sufoco no futuro (às vezes ao virar da esquina), com corte de salários e pensões, com desemprego e precariedade laboral, com emigração. Menos défice (e dívida) representam uma vida mais difícil no presente, para os que precisam dos hospitais, tribunais, escolas, esquadras ou camiões de recolha do lixo. Como dizia ontem Centeno aos deputados, o dinheiro não é infinito. É preciso fazer escolhas. Ser ou não ser Centeno, eis portanto a questão...

*Editor-executivo

Espanhóis PichiAvo inauguram exposição que mistura 'graffiti' e arte


A dupla de artistas espanhóis PichiAvo, cujo trabalho resulta de uma mistura de 'graffiti' com arte clássica, inaugura hoje a exposição "Versus", na galeria Underdogs, em Lisboa, que inclui um mural na zona de Santa Apolónia.

O nome da exposição espelha o conceito que a dupla representa, uma "'guerra amigável entre 'graffiti' e arte clássica", explicou, à Lusa, Avo, um dos elementos da dupla.

Na galeria Underdogs, os artistas espanhóis apresentam uma série de trabalhos novos, que incluem "desenhos (que representam o início da ideia), pintura, esculturas e uma grande instalação". "Quisemos representar o nosso estilo, peças que são muito clássicas e [ao mesmo tempo] poderosas em termo de cor, com background de 'graffiti'", descreveu Avo.

Nas pinturas, misturam-se imagens de estátuas gregas com 'tags' de várias cores e feitios. Pichi e Avo começaram a pintar estátuas gregas porque as consideram "muito poderosas em termos de arte". "Há muito significado por detrás das estátuas, sentimo-nos muito representados em termos de cultura, porque, em Espanha, temos muita influência grega e romana, e tudo junto - estética, significado e cultura - fez com que as juntássemos ao nosso trabalho", referiu Avo.

Além da exposição dentro de portas, desde segunda-feira, a dupla tem estado na Calçada de Santa Apolónia a pintar um mural, na parede de um prédio com quatro andares, onde está representado Poseidon (deus do mar na mitologia grega), "um deus perfeito" para o local onde foi pintado.

"Estamos perto do rio e Poseidon é o deus da água, ele preserva e toma conta dos marinheiros", justificou o artista.

Esta será a primeira parede da dupla em Lisboa, mas não a primeira em Portugal. No ano passado, deixaram trabalhos em Leiria e Viseu.

Pichi e Avo tornaram-se uma dupla em 2007, mas antes disso já se dedicavam ao 'graffiti' em separado. Avo estudou Design Industrial, e Pichi, Belas Artes, e o primeiro acredita que "isso ajuda muito a desenvolver mais trabalhos, a mente está mais aberta".

"Versus" estará patente na galeria Underdogs até 09 de maio. A exposição tem entrada livre.

A Underdogs é uma plataforma cultural, fundada pela francesa Pauline Foessel e pelo português Alexandre Farto (Vhils), que se divide entre arte pública, com pinturas nas paredes da cidade, exposições dentro de portas, no n.º 56 da rua Fernando Palha, um antigo armazém recuperado e transformado em galeria, e a produção de edições artísticas originais.

A plataforma tem também uma loja, na rua da Cintura do Porto de Lisboa, e começou em 2015 a organizar visitas guiadas de Arte Urbana em Lisboa.

Lusa | em Notícias ao Minuto

BENFICA x PORTO | Os números do tira-teimas aparecem no domingo


O clássico muito esperado, Benfica x Porto, é já no próximo domingo. O Benfica, com 74 pontos, leva somente um ponto de vantagem do Porto e o tira-teimas vai acontecer no Estádio da Luz, em Lisboa. O Notícias ao Minuto produziu uma peça sobre os números que envolvem ambas as equipas, refere milhões. 

Como a outra diria: "Isso agora não interessa nada". Evidentemente. O que interessa é sabermos os números por que se regulará a pontuação no final do grande encontro de domingo. Ficará tudo quase na mesma com um empate? Em que um único ponto de diferença se manterá. Vencerá o Benfica e afasta-se confortavelmente do Porto? O Porto sairá vencedor e ficará a exatamente três pontos do Benfica e em primeiro lugar na classificação? São estes os números que principalmente agora interessam. Para ficarmos a saber temos de esperar por domingo, na Luz. (MM | PG)

Clássico é também uma luta de números. Vão estar 262 milhões na Luz

Para termos um plantel tão caro como o do Benfica desta temporada é preciso recuar até 2013/14. Já o do FC Porto é aquele com mais valor de mercado dos últimos cinco anos.

Magia, emoção e intensidade. São alguns dos ingredientes que deverão estar no relvado da Luz, este domingo, no Clássico entre Benfica e FC Porto. Mas não só. Além disto, vão estar milhões (e muitos) em campo.

Com base em dados disponibilizados pelo Transfermakt, site especializado no mercado de transferências, o Desporto ao Minuto pegou na calculadora e começou a fazer contas e, ao que foi possível apurar, no relvado da Luz vão estar aproximadamente 262 milhões de euros.

Tendo em conta os onzes base das duas equipas é este o valor total que vai estar em jogo este domingo, no Clássico que terá início às 18h00. Somando jogador a jogador do onze das águias, a equipa que Rui Vitória deverá apresentar tem um valor estimado de 115,5 milhões de euros. Já o onze de Sérgio Conceição tem um valor de mercado de 146,5 milhões.

Números que expressam bem a aposta das equipas na atual temporada. Apesar do pouco investimento de ambos no mercado de transferências, os dois clubes têm onzes muito valiosos, fruto de diferentes cenários.

Benfica - Novo paradigma de potencial cada vez mais valorizado

Os jovens futebolistas são, hoje, cada vez mais valorizados no mercado. É por isso que, apesar de o Benfica ter vendido algumas das suas pedras fundamentais – Ederson, Nélson Semedo, Lindelof –, tem um dos planteis mais caros dos últimos anos. A conquista do tetracampeonato valorizou não só os jogadores que saíram, mas os que ficaram. Casos de Pizzi, Grimaldo, Fejsa ou Cervi.

Para observamos um plantel tão caro como o deste ano é preciso recuar a 2013/14, época em que o onze base do Benfica tinha um valor de mercado a rondar os 130 milhões de euros.

Em 2016/17 o onze tipo dos encarnados valia 75,95 milhões, em 2015/16 estava nos 89,10 e em 2014/15 fixava-se nos 98,5 milhões.

FC Porto - Em equipa que quer ganhar, não se mexe

Quanto ao FC Porto tem o onze mais caro dos últimos cinco anos, talvez por isso não tenha tido necessidade de investir. Se olharmos para as quatro temporadas passadas, os onzes apresentados pelos dragões rondavam em média os 104 milhões de euros. Ora, se agora apresenta um valor de 146,5 milhões, verifica-se um aumento de mais de 40 milhões de euros.

O clube azul e branco decidiu vender pouco e o único jogador que regularmente se apresentava no onze base do FC Porto, e saiu, foi André Silva. De resto, todos os grandes ativos ficaram no Dragão e à disposição de Sérgio Conceição esta época.

Isto tudo em relação aos onzes bases das duas equipas. Se olharmos para o plantel de cada clube verificamos que o FC Porto também continua por cima nesta ‘guerra’ dos milhões: O elenco encarnado tem um valor de mercado de 163,4 milhões de euros, enquanto o plantel portista fixa-se nos 211,35.

Valor (em milhões de euros) de mercado nas últimas temporadas:


Ruben Valente | Noticias ao Minuto | Foto: Global Imagens

GOVERNANTES E MILITARES JUDEUS ASSASSINOS


Expresso Curto, por Valdemar Cruz, a lembrar que hoje é sexta-feira e Dia de Marcha pelo Direito ao Retorno em Gaza. Sabem onde é? Não? É aquele campo imenso junto ao muro da lixeira judia onde radicais criminosos, militares e civis, dão uso aos apetrechos guerreiros e assassinam os legítimos donos do país que Israel ocupou. Tudo com a alta aprovação das diretivas de um tal Netanyahu e todo o governo israelita que ele chefia. 

É muito triste referirmo-nos assim a Israel mas não podem aplicar-se modos gentis para um país e povo que ocupa outro e assassina sistematicamente o seu povo, só porque os ocupados lutam pela sua libertação. É uma guerra interminável, que já cansa e não podemos deixar de repudiar esses judeus assassinos.

Os palestinos manifestam-se naquele campo imenso e os criminosos israelitas atiram a matar como se aqueles não fossem pessoas. Muitos mortos e imensos feridos são o resultado persistente, do lado dos que se manifestam de mãos a abanar, quanto muito com umas pedras. Para os israelitas assassinos, militares e supostamente militares, é como um campo de tiro aos patos. E assim acontece a mortandade.

Depois vem mais Curto do Expresso. por cá o Francisco de Assis continua a puxar o PS o mais que pode para a direita. Não se entende porque Assis não se filiou no no CDS ou no PSD, ele e outros como ele. Corre a ironia que se filiou no PS numa noite de borga, jovem e bem bebido e fumado. Talvez, ou é só brincadeira? Não seria nada demais, a juventude proporciona-nos essas coisas. E então estudantes, com dinheirinho e boa pinga...

A lucidez ao parágrafo que vai dar para despedirmo-nos até para a semana que vem, talvez na segunda-feira. Vamos ver se Trump e May não nos estragam ainda mais o fim de semana. Divirtam-se e sorriam. Para a semana que vem não chove, mas o "frescote" continua. Enfim, não há como resolver estas temperaturas demasiado baixas para a época. Há umas horas nevou em Lisboa. Imaginem. Uns farripos, mas era neve. Credo! Desenrasquem-se, protejam-se, abriguem-se... (CT | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

“Estás a apontar? Dispara!”

Valdemar Cruz | Expresso

Hoje é sexta-feira. Dia de Marcha pelo Direito ao Retorno, em Gaza.

Há um campo árido naquele longe constituído pela fronteira da faixa de Gaza. Percebem-se movimentações de figuras humanas. Do lado de cá, do lado de quem observa através de uma mira telescópica, ouvem-se vozes. Procuram a melhor oportunidade. O que se presume ser uma voz de comando, pergunta: “estás a apontar? Dispara!”.

O tiro não sai de imediato. Aparece uma criança. Uns segundos depois, um só tiro, uma só bala na cabeça de um jovem desarmado e está mais um palestiniano morto na fronteira da Faixa de Gaza. Ouvem-se gritos de celebração dos soldados israelitas. Um dos francoatiradores grita: “Oh, que vídeo. Yess! Filho da puta”. Outra voz diz que estão a correr para evacuar a vítima. De novo uma voz: “Deu-lhe na cabeça. Que grande vídeo”.

Lembram-se das últimas palavras proferidas pelo coronel Kurtz no final de Apocalipse Now? “The horror. The horror”. Ali era o Vietname. Aqui é o eterno terror, o constante massacre consentido pela comunidade internacional. Israel goza de um estatuto único no mundo de absoluta impunidade.

Aquele vídeo está a desencadear ondas de choque. Terá sido feito em dezembro do ano passado, mas contém cenas que poderão repetir-se hoje, sexta-feira, mais um dia de Marcha pelo Direito ao Retorno, iniciada no passado dia 30 de março, por ser o Dia da Terra Palestiniana. A Marcha vai prolongar-se, com especial incidência às sextas-feiras, até 15 de maio, dia que marca a expulsão das suas terras, em 1948, de centenas de milhares de palestinianos durante o conflito que desembocou na criação do estado de Israel. A data é denominada Nakba (catástrofe em árabe).

“Independentemente de o vídeo ter sido gravado há um mês ou há uma semana, todos os que servimos em territórios da Palestina sabemos que mais de 50 anos de ocupação conduziram a uma grande corrupção moral, ao ponto de se disparar contra civis desarmados”. As palavras são da ONG israelita Breaking the Silence (Quebrando o Silêncio), composta por antigos militares que se opõem á ocupação da Palestina.

O exército israelita já confirmou que o vídeo é autêntico, e anunciou que vai abrir um inquérito.

No vocabulário israelita, um palestiniano é um terrorista. Talvez por isso, o ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman afirmou, depois de ter visto as imagens, que “o francoatirador de Gaza merece ser condecorado, e o que fez as imagens despromovido”.

Num longo e bem documentado artigo, de leitura indispensável, publicado quarta-feira no Expresso Diário, intitulado “O Governo de Israel insulta a história dos judeus”, Daniel Oliveira sublinhava que as sociedades israelita e palestiniana estão doentes de tanta dor e tanta guerra.

Este texto e o seu conteúdo são chocantes? Infinitamente mais chocante é a continuada prática de crimes de guerra na faixa de Gaza ter entrado no banal quotidiano, perante a indiferença mediática e o silêncio cúmplice da comunidade internacional.

“Estás a apontar? Dispara!”.

OUTRAS NOTÍCIAS

Num artigo de opinião ontem publicado no jornal Público, Francisco Assis defendia que, face às declarações do ministro das Finanças, Rui Rio devia manifestar de imediato adisponibilidade para viabilizar a próxima proposta de Orçamento de Estado. Como o caminho se faz caminhando, o mesmo jornal revela hoje que na próxima semana será assinado o assinado o primeiro acordo formal “ao centro desde 2006”. PSD e Governo terão tudo pronto para assumir uma posição conjunta na negociação de fundos estruturais para a próxima década. Este acordo determinará os princípios de negociação a assumir pelo executivo nas conversações que a partir de maio decorrerão com a União Europeia.

Aquela notícia não pode ser dissociada desta: o Governo entrega hoje na Assembleia da República o Programa de Estabilidade 2018-2022. Os parceiros parlamentares, PCP, BE PEV já manifestaram as maiores reservas e até oposição, com exigências de um recuo na revisão em baixa do défice para 2018 e a manutenção da meta acordada no orçamento. Há uma semana, Eco e Jornal de Negócios divulgaram que, naquele documento, o Governo pretende rever em baixa as metas orçamentais para este ano, de modo a fixar o défice orçamental em 0,7% do PIB, o que seria o défice mais baixo da democracia portuguesa. Ou seja, €800 milhões a menos em relação ao que ficou definido para o OE de 2018, aprovado pelo PCP, BE e PEV. Começa a notar-se indignação à esquerda e nos Sindicatos, pelo objetivo rasgar de um acordo feito e face à constatação de que a subida da folga orçamental não tem tradução em mais investimento público, aumentos salariais na função pública ou no fim das penalizações nas reformas de trabalhadores com longas carreiras contributivas.

Afinal Rui Rio criou ou não um “Governo sombra”? O presidente do PSD diz que não. A generalidade dos jornais não tem outro nome para o gabinete com os 32 nomes que compõem o conselho estratégico nacional (CEN) do PSD. Rio assegura que embora a lógica do CEN seja inspirada num Governo, não se trata de um Governo. O presidente do PSD recorreu a antigos ministros do Governo de Durão Barroso (Luís Filipe Pereira e Maria da Graça Carvalho) e de Cavaco Silva (Silva Peda e Arlindo Cunha). Ângelo Correia, mentor político de Pedro Passos Coelho, é um dos eleitos de Rio. A média de idades do Governo sombra que não o é anda pelos 60 anos.

O Sporting fez do jogo uma festa. Construiu mesmo, em longos momentos, um saboroso festival de futebol. Do outro lado tinha uma equipa competente e segura, mesmo se ontem teve uma jornada muito abaixo do seu rendimento habitual. O golo ainda na primeira parte deu esperança. Os sportinguistas acreditaram na possibilidade de virar o resultado. Os jogadores tudo fizeram para tornar o sonho realidade. No final impôs-se a dura realidade dos números. O Atlético de Madrid venceu por 2-1 no conjunto das duas mãos e segue para as meias finais. Na Tribuna fala-se do Sporting e do admirável novo mundo das vitórias morais.

É inaugurada hoje à noite na Casa da Arquitectura, em Matosinhos, a exposição “Os Universalistas – 50 Anos de Arquitetura Portuguesa". No Expresso já se escreveu sobre esta mostra, que começou por ser apresentada em Paris, e chega agora a Portugal. A partir das 21 horas, para lá da visita guiada pelo curador, arquiteto Nuno Grande, há a divulgação de um testemunho de Eduardo Lourenço, e uma conversa com os arquitetos Alexandre Alves Costa e João Belo Rodeia.

Os bispos portugueses admitem referendo sobre a eutanásia, mas preferem aposta nos cuidados paliativos

Vai haver uma nova ponte sobre o Douro, destinada a aliviar a pressão sobre os centros históricos de Porto e Gaia

A Plataforma pela Reposição das SCUT vai realizar hoje uma marcha lenta , que parte da Covilhã e Castelo Branco e termina na Lardosa

LÁ FORA

A Síria, o que se passa na Síria, o que se presume que se passa na Síria, as muitas narrativas construídas sobre a situação na Síria (e vale a pena seguir com atenção esta leitura alternativa) , continuam a dominar o noticiário internacional. Com ameaças, avanços e recuos de Trump. Com endurecimento de vozdo presidente francês, Emmanuel Macron, com Theresa May a esforçar-se por construir pontes que não a deixem isolada e atolada na questão do Brexit, com Putin a deixar claro que a escalada belicista não ficará sem resposta. Definitivamente, o silêncio não é uma das virtudes humanas.

O ex-director do FBI James Comey, demitido pelo Presidente norte-americano em Maio de 2017, lança na próxima terça-feira nos EUA o livro A Higher Loyalty: Truth, Lies and Leadership, no qual compara Donald Trump a um chefe da Mafia. Quem já leu passagens do livro, como a Associated Press ou o Wahshinton Post, sustenta que se trata de um presidente cujas ações são dominadas pelo seu ego e conduzidas por questões de lealdade pessoal.

Ontem recebi um Tweet que dizia assim: “A vida é uma coisa demasiado importante para falarmos seriamente sobre ela”. Pouco antes tinha recebido um outro no qual se escrevia: “a beleza, com o seu poder, levaria menos tempo para transformar a honestidade em alcoviteira do que esta em modificar a beleza à sua imagem”. O primeiro é assinado pelo senhor Oscar Wilde. O segundo é enviado em nome do senhor William Shakespeare e sai diretamente do Ato III, Cena I, de Hamlet, a mesma cena onde é dito o célebre “ser ou não ser, eis a questão”. A minha questão é mesmo esta: porque é que em vez dos inenarráveis Tweets do senhor Trump, não optamos por dar outra cor à vida com a presença no nosso quotidiano de gente que, estando fisicamente morta, continua a ser uma grande e insubstituível inspiração? É possível. Basta subscrever os tributos materializados nas contas Twitter de gente como ShakespeareWildeVirginia WoolfSilvia Plath e tantos outros que por aí continuam à nossa espera.

FRASES

"Os compromissos que o Governo assume em Bruxelas são compromissos do Governo. Em Portugal o Governo tem que cumprir o que está no Orçamento do Estado". António Filipe, deputado do PCP No programa da TSF Política Pura

“O BE e o PCP sabem bem que, se as nossas contas públicas correrem mal, isto vai tudo por água abaixo”. Carlos César, presidente do PS

“Sempre dissemos que tem de ser aceite um Estado palestiniano com a capital em Jerusalém. (…). Não mudaremos a nossa embaixada para Jerusalém”. Marcelo Rebelo de Sousa na Universidade de al-Azhar, no Egito

“No que respeita ao acolhimento de refugiados, a atitude da União Europeia e da Hungria não são assim tão diferentes”. Pedro Neto, diretor-executivo da Aministia Internacional Portugal no Expresso Diário

“O intuito (eventual bombardeamento da Síria) não é abrir caminho a uma democracia pluralista. Essa é uma ilusão conveniente para a opinião pública ocidental. O objetivo é substituir um regime autoritário de tipo secular por um governo islamita sunita, que será opressor de uma forma talvez ainda mais odiosa”. José Pedro Teixeira Fernandes, investigador, Professor de Relações Internacionais e Estudos Europeus no Público

PRIMEIRAS PÁGINAS

Pacto a dois – Governo e PSD já têm acordo sobre fundos da EU – Público

GNR – Quatro anos e meio por torturar detidos – JN

Lisboa vai ter 120 câmaras em semáforos e mais radares – DN

Défice – Costa totalmente inflexível com Bloco e PCP – I

Pensões com novo aumento extra – Correio da Manhã

Só 9% das cotadas têm mais de metade do capital em bolsa – Negócios

Leão caiu de pé – O Jogo

Leões encostaram Atlético às cordas - Record

Leão merecia mais - A Bola

O QUE ANDO A LER E A VER

Daqui a doze dias comemoram-se os 44 anos da Revolução de 25 de abril de 1974. Passado quase meio século, faz ainda sentido insistir nas diversas facetas da resistência à ditadura de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano? Como é que se explica, hoje, a um jovem de 18 ou 20 anos que, se tivesse nascido umas décadas antes, nesta altura estaria a lidar com os medos, as revoltas ou as indignações suscitadas pela necessidade de ter de abandonar a família, o trabalho, os estudos, para pegar em armas e ir combater numa guerra colonialista em África?

Nunca foi pacífico, entre a esquerda portuguesa, o modo como lidar com aquele dilema. Os movimentos de extrema-esquerda defendiam abertamente a deserção, com consequente exílio. Na área do PCP era incentivada a incorporação nas Forças Armadas, desde logo para que os militantes aprendessem a manejar armas e fizessem propaganda contra a guerra junto dos soldados. As deserções eram aplaudidas e incentivadas, se efetuadas num contexto de movimento coletivo de abandono dos quartéis.

Foram milhares os que se viram forçados a abandonar o país e construir uma nova vida no exílio. Por estarem contra a guerra. Por terem uma atividade oposicionista. Por defenderem o derrube do regime fascista. Por terem uma atividade que os deixava rotulados como traidores à pátria. As suas fotografias eram colocadas nos postos fronteiriços, como se de vulgares criminosos se tratasse.

Partiram para países de acolhimento tão diversificados como o Brasil, Bélgica, França, Suécia, URSS, Roménia, Marrocos, Argélia e outros. Uns passaram a fronteira a salto, outros partiram em comboios vigiados ou em barcos improvisados, nos quais deixavam a vida em suspenso e dependente da linha ténue que separa a sorte do azar.

Viveram vidas duras, marcadas por enormes sacrifícios pessoais e familiares. O exílio é uma marca, uma dor que fica para a vida, como se percebe em “Memórias do Exílio”, o comovente livro de Ana Aranha, jornalista da Antena 1, e Carlos Ademar, mestre em História Contemporânea e professor na Escola da Polícia Judiciária.

Recolhem, no que foi primeiro um programa da Antena 1 aqui disponível, doze depoimentos de homens e mulheres um dia confrontados com a urgência e a necessidade absoluta de abandonarem o seu país.

São relatos atravessados por uma emoção na qual se roça a eminência da tragédia, o humor, o quase inverosímil, a coragem, a dor, o sofrimento, o questionamento pessoal, a divergência, o reposicionamento político e ideológico. Ninguém sai incólume de um exílio forçado, como se percebe das palavras de, entre outros, Hélder Costa, Luísa Tito de Morais, Cláudio Torres, Manuel Pedroso Marques, Margarida Tengarrinha, Helena Cabeçadas, uma das mulheres mais jovens (aos 17 anos) a exilar-se por motivos políticos, ou Teresa Rita Lopes, que diz: “o exílio é sempre dolorosíssimo. Basta não poder vir ao seu país. A privação dessa possibilidade já é terrível e sobretudo não saber quando é que isso viria a ser possível. Até podia não ter sido possível na minha vida”.

De forma telegráfica, duas sugestões para o fim de semana. A primeira é uma fantástica viagem pela história da arte, narrada através de três cores: douradoazul e branco. São três episódios imperdíveis da BBC. Por fim, uma sugestão musical com forte componente estética: A Sagração da Primavera, de Stravisnky, num bailado com coreografia de Jean-Claude Gallota, gravada no Théatre national de Chaillot, em Paris, com transmissão no próximo domingo a partir das 18h40, no Mezzo HD Live. É uma boa alternativa ao Benfica- FC Porto.

Tenha um bom dia e um excelente fim-de-semana. Com ou sem chuva.

AL TRUMP | Trump é como um chefe da máfia, “desligado da realidade”, diz ex-diretor do FBI


No livro “A Higher Loyalty”, James Comey descreve a presidência de Donald Trump como um “incêndio florestal”. “O chefe no controlo total. Os juramentos de lealdade. A mundivisão de nós-contra-eles. A mentira sobre todas as coisas, grandes e pequenas, ao serviço de um qualquer código de lealdade que coloca a organização acima da moralidade e da verdade” são outros dos mimos que se podem ler. O Partido Republicano já criou um site de apoio ao Presidente e de ataque a Comey

O antigo diretor do FBI, James Comey, compara o Presidente dos EUA, Donald Trump, a um chefe da máfia, “desligado da realidade”, num novo livro a que alguns órgãos de comunicação já tiveram acesso. “A Higher Loyalty – Truth, Lies and Leadership” (Uma Lealdade Superior – Verdade, Mentiras e Liderança) é lançado na próxima terça-feira, quase um ano depois de Comey ter sido demitido das suas funções por Trump.

No livro, o autor descreve a sua primeira viagem à Trump Tower em janeiro de 2017 para informar o Presidente eleito sobre o dossiê compilado pelo ex-espião britânico Christopher Steele, contendo indícios de intromissão russa nas eleições de 2016. “O seu rosto parecia um pouco laranja, com meias-luas brancas brilhantes sob os olhos, onde imagino que ele pôs pequenos óculos de bronzeamento, e cabelos loiros brilhantes, impecavelmente penteados, que pareciam ser todos dele”.

Em seguida, James Comey descreve as discussões da equipa de Trump sobre as implicações políticas do dossiê e as possíveis estratégias a seguir quando o assunto chegasse aos media, enquanto todo o pessoal permanecia na sala.

A demissão de Comey da direção do FBI levou à nomeação de Robert Mueller como conselheiro especial para supervisionar a investigação sobre a interferência russa nas eleições e o alegado conluio entre assessores de Moscovo e de Trump. O Presidente sempre negou o conluio, apelidando a investigação de “caça às bruxas”.

“Caramba, eles estão a tentar fazer de cada um de nós uma amica nostra [amiga nossa]. Para nos atrair. Por mais louco que pareça, subitamente tive a sensação de que, num piscar de olhos, o Presidente eleito estava a tentar fazer de todos nós parte da mesma família”, escreve Comey.

No livro de 304 páginas, o antigo diretor do FBI compara a presidência de Trump a um “incêndio florestal”, retratando o atual líder norte-americano como um chefe ao estilo da máfia. “Porque ele nunca pára de falar, puxa todos os presentes para um círculo silencioso de assentimento. Eu nunca tinha visto nada parecido na Sala Oval. Quando me vi empurrado para a órbita de Trump, comecei a ter novamente flashbacks da minha antiga carreira como procurador contra a máfia”, acrescenta.

“O chefe no controlo total. Os juramentos de lealdade. A mundivisão de nós-contra-eles. A mentira sobre todas as coisas, grandes e pequenas, ao serviço de um qualquer código de lealdade que coloca a organização acima da moralidade e da verdade” pode ler-se também em “A Higher Loyalty – Truth, Lies and Leadership”.

No epílogo, James Comey escreve: “O nosso país está a pagar um preço alto [pelas eleições de 2016]. Este Presidente é antiético e está desligado da verdade e dos valores institucionais. A sua liderança é transacional, egocêntrica e sobre lealdade pessoal”.

Em resposta ao livro, o Partido Republicado criou um site de apoio a Trump e ataque a Comey, chamado Lyin’ Comey.

Hélder Gomes | Expresso | Foto: Washington Post

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