quinta-feira, 3 de maio de 2018

ACERCA DA NATUREZA DO SISTEMA ECONÓMICO CHINÊS


Debates (e desacordos) entre marxistas sobre a China

Tony Andreani [*], Rémy Herrera [**] e Zhiming Long [***]

Hoje em dia, os dirigentes chineses não negam a existência na sua economia um importante sector privado capitalista, autóctone ou estrangeiro. Em geral, eles o consideram antes como um dos componentes de uma economia mista em que a predominância é concedida ao sector público e em que o poder do Estado deve ser reforçado. Os discursos de numerosos líderes avançam que a China ainda se encontraria na "fase primária do socialismo", etapa considerada incontornável para desenvolver as forças produtivas e que exige muito tempo até a sua conclusão. O objectivo histórico permaneceria entretanto o do socialismo desenvolvido – mesmo se, é verdade, seus contornos estarem longe de serem claramente definidos. Serão tais declarações apenas de fachada, a roupagem de uma forma de capitalismo? Mereceriam elas serem tomadas a sério? O socialismo estaria morto e enterrado na China? Não pensamos assim.

Entretanto, nos debates entre autores marxistas, uma clara maioria deles afirma que a economia chinesa seria agora capitalista. Assim, Harvey (2005) crê detectar desde as reformas de 1978 um "neoliberalismo com características chinesas" em que um tipo singular de economia de mercado teria incorporado cada vez mais componentes neoliberais accionados no quadro de um controle centralizado muito autoritário. Arrighi (2009), para explicar o êxito da economia chinesa, mobiliza por sua vez uma releitura a contra-corrente da obra de Adam Smith, mais progressista do que o reconhecem seus discípulos partidários do liberalismo. Segundo ele, as elites chinesas utilizariam "o mercado como ferramenta de governo". Panitch e Gindin (2013) analisam as implicações da integração da China nos circuitos da economia mundial e vêem nisso menos a oportunidade de reorientar o capitalismo global do que a duplicação pela China do papel de "complemento" outrora mantido pelo Japão, fornecendo aos Estados Unidos os fluxos de capitais necessários para conservar sua hegemonia mundial, de onde uma tendência à liberalização dos mercados financeiros conduzindo ao desmantelamento dos instrumentos de controle dos movimentos de capitais e minando as bases do poder do Partido Comunista Chinês (PCC). [1] Outros marxistas, certamente mais raros, mas não menos importantes, chineses ou estrangeiros, [2] continuam entretanto a defender a ideia de que o sistema em vigor na China, ainda que assimilável a um capitalismo de Estado, deixaria aberto um vasto leque de trajectórias possíveis para o futuro. No presente artigo, levaremos mais adiante esta ideia, ao ponto de sustentar que o sistema chinês hoje contém ainda elementos chaves do socialismo. Assim, a interpretação da sua natureza torna-se compatível com a de um socialismo de mercado, ou com mercado, repousando sobre pilares que o distinguem ainda bastante claramente do capitalismo.

Características do socialismo de mercado à chinesa 

Para Marx, o capitalismo implica uma separação muito forte entre o trabalho e a propriedade dos meios de produção, enquanto os detentores do capital seriam eles próprios tendencialmente colectivos, já não efectuando trabalho na produção. Isso se realiza plenamente no capitalismo financiarizado actual em que a gestão é delegada a administradores e o lucro da empresa assume a forma de valor accionista. De acordo com este critério fundamental de definição do capitalismo, verifica-se que numerosas pequenas empresas chinesas têm mais a ver com a produção familiar ou artesanal do que com o modo de produção capitalista estrito. Além disso, a lógica do capitalismo é a da maximização do lucro distribuível aos proprietários. Ora, não é isto que se observa nas grandes empresas públicas chinesas, como mostra a fraqueza (mesmo a inexistência) dos dividendos entregues ao Estado, assemelhando-se ao invés a um imposto sobre o capital. A separação capital-trabalho é muitas vezes relativa na China: ela é limitada nas empresas públicas, o que impede de considerá-las rigorosamente como uma forma de capitalismo de Estado, e mais ainda na economia dita "colectiva" onde os trabalhadores participam na propriedade do capital ou têm mesmo a propriedade como nas cooperativas (por acções ou não) e nas comunas populares preservadas. Naturalmente, mesmo nestas entidades colectivas os trabalhadores permanecem "separados" da gestão, mas toda esta economia colectiva não estatal não pode ser ignorada e não poderia ser classificada sob a bandeira do "capitalismo".

Fazemos uma leitura do sistema chinês como um socialismo de mercado, ou com mercado. Assim, este socialismo repousaria sobre os dez pilares seguintes, em grande medida estranhos ao capitalismo:

i) a persistência de uma planificação poderosa e modernizada, que assume modalidades diversas e mobiliza instrumentos distintos conforme os sectores a que se refere; 

ii) uma forma de democracia política tornando possíveis as escolhas que estão na base desta planificação; 

iii) serviços públicos muito extensos, que condicionam a cidadania política, social e económica e, enquanto tais, estão fora do mercado ou fracamente mercantilizados;

iv) uma propriedade da terra e dos recursos naturais que permanece no domínio público, estatal ao nível nacional, colectivo ao nível local, garantindo assim o acesso à terra pelos camponeses; 

v) formas de propriedade diversificadas adequadas à socialização das forças produtivas: empresas públicas (diferindo das firmas capitalistas, nomeadamente pela participação dos trabalhadores na gestão), pequena propriedade privada individual ou propriedade socializada – sendo a propriedade capitalista, durante uma transição socialista longa, mantida e mesmo encorajada, para dinamizar a actividade e incitar as outras formas de propriedade à eficácia; 

vi) uma política geral consistente em aumentar os rendimentos do trabalho em relação às outras fontes de rendimentos; 

vii) a promoção manifestada da justiça social numa perspectiva igualitarista; 

viii) a preservação da natureza, considerada como indissociável, não antagónica do progresso social, como objectivo do desenvolvimento a fim de maximizar a riqueza efectiva, 

ix) relações económicas entre Estados fundamentadas sobre um princípio ganhador-ganhador; 

x) relações políticas entre Estados repousando na busca da paz e das relações mais equilibradas entre os povos.

A análise de cada um destes pontos não é indiscutível e é objecto de debates ásperos tanto na China como no exterior – debates que estão longe de estarem resolvidos, mas que existem e devem ser aprofundados sem a priori nem ideias preconcebidas. Apesar das críticas, veremos que ao confrontar o "socialismo à chinesa" com esta grelha de leitura, ele não está muito afastado. [3]

Empresa públicas, serviços públicos, planificação 

Na China, a justificação das empresas públicas é tripla: elas podem distribuir mais a seus assalariados; o Estado é livre para nelas definir o modo de gestão (em matéria salarial nomeadamente); e ele pode mais facilmente colocá-las ao serviço dos seus projectos. Através das ferramentas ao dispor do organismo de gestão das participações, o Estado afecta os dividendos recebidos a um fundo especial de sustentação das empresas públicas, as quais beneficiam igualmente de vantagens em matéria de crédito e de taxa de juro. Isto se inscreve portanto numa via socialista.

Uma explicação para a força destas empresas públicas é que elas não são geridas como as firmas privadas ocidentais, cotadas em Bolsa e orientadas para a maximização do valor das acções por distribuição de dividendos, valorização das acções e retorno sobre o investimento porque pressionam sub-contratantes, locais ou deslocalizados. Se elas se comportassem de modo tão predatório, estas empresas públicas chinesas agiriam em detrimento do tecido industrial local, o que manifestamente não é o caso. Teríamos então negócios sob uma forma selvagem de "capitalismo de Estado" (como se pretende frequentemente) e não se vê como ele poderia produzir um crescimento económico tão dinâmico. Estas empresas públicas chinesas são (ou são tornadas) rentáveis porque a bússola que as guia não é o enriquecimento dos accionistas, mas sim o investimento produtivo e o serviço prestado aos seus clientes. Pouco importa que os seus lucros sejam menos elevados que os dos seus concorrentes ocidentais se eles servem parcialmente para estimular o resto da economia.

Uma das especificidades destas empresas públicas é, assim, a de entregar apenas poucos dividendos ao Estado accionista (cerca de 10%). Hoje, numerosos peritos internacionais preconizam aumentar estes dividendos e a Comissão de Regulação da Bolsa parece por vezes estar de acordo. Esta orientação, inspirada nas práticas capitalistas ocidentais, não parece a boa fórmula, pois as empresas públicas ficariam então privadas dos seus trunfos principais e, mesmo controladas pelo Estado, teriam tendência a distribuir sempre mais para obterem os favores dos accionistas privados, como fazem as firmas ocidentais – que dependem elas próprias muito frequentemente das estratégias de carteira dos oligopólios financeiros mundialmente dominantes. Aqui, mais valeria que o Estado chinês instaurasse um imposto sobre o capital, na forma de renda (loyer) pela colocação à disposição dos seus bens e que as empresas lucrativas pudessem conservar uma parte maior dos benefícios para fins de investimento e de I&D.

Na nossa opinião, as empresas públicas chinesas não devem ser geridas como firmas privadas. O "socialismo de mercado à chinesa" repousa sobre a manutenção de um poderoso sector público com papel estratégico na economia. Tudo leva a pensar que esta é uma das explicações essenciais dos desempenhos da economia chinesa, não obstante os neoliberais exaltarem a propriedade privada e a maximização do lucro individual. Isto sem dúvida também está ligado ao porte destas empresas, mastodontes a engendrarem economias de escala que reduzem os custos a todos os níveis e fornecem a uma miríade de pequenas e médias empresas insumos(intrants) baratos que asseguram condições de fabricação competitivas no mercado.

Uma "superioridade" das empresas públicas chinesas é a participação (limitada, mas real) do pessoal na gestão, através dos seus representantes no Conselho de Fiscalização e no Congresso dos Operários. A lógica accionista iria ao encontro de uma tal participação, que é preciso reforçar. Outra vantagem é que as empresas públicas podem mais facilmente responder aos objectivos da planificação. Não se trata de lhes impor tarefas políticas que poriam em causa a sua autonomia e onerariam os seus resultados. Mas ao controlar a nomeação e a gestão dos dirigentes, os poderes públicos, de que dependem empresas muito numerosas, têm os meios de assegurar que eles agem como convém aos serviços públicos – mas também aos sectores mercantis, que o plano pode orientar (por subvenções, fiscalidade, ...).

Na China, os serviços sociais (educação, saúde, reformas, ...) estão na totalidade ou na grande maioria nas mãos do Estado – governo central ou, mais frequentemente, governos locais. Tais serviços não fornecem bens mercantilizados pelo sector privado, mas bens sociais, necessários ao exercício da cidadania, dando aos indivíduos a capacidade de serem simultaneamente sujeitos políticos, sociais e económicos (formados, em boa saúde, tendo acesso ao emprego, com equipamentos de transporte, informados, etc). Mas a concepção chinesa estende os serviços públicos aos "bens estratégicos", fornecendo insumos essenciais ao resto da economia: energia, infraestruturas, materiais de base e mesmo serviços bancários ou investigação. Se o sector privado serve de complemento ou estimulante, o sector público é favorecido pelo Estado no exercício da concorrência. Esta concepção ampla dos serviços públicos "estratégicos" constitui uma das maiores forças da economia chinesa. O que está aqui em causa é a soberania nacional.

Um traço notável do sistema político-económico chinês é a sua possante planificação que, apesar de ter mudado seus objectivos e instrumentos no decorrer das últimas décadas, continua a ser aplicada. Os discursos apresentados a cada ano diante da Assembleia Nacional Popular indicam se os objectivos quantificados inscritos no plano quinquenal foram realizados – e frequentemente é o caso –, e dão a conhecer o que esperar para o ano seguinte. Esta planificação, que se projecta para o futuro num mundo de incertezas, é o lugar onde são elaboradas e decididas as escolhas colectivas, expressão de uma vontade geral. Ela é o espaço onde uma nação escolhe um destino comum e o meio de um povo de se tornar o mestre, em todos os domínios da existência: modo de vida, modos de consumir, de se alojar, de ocupar o espaço... É o PCC que, hoje, efectua estas escolhas para os cidadãos – o princípio da consulta estando cada vez mais colocado como necessidade. Esta planificação "estratégica" forte, com técnicas modernizadas, adaptadas às exigências do tempo presente e que têm eficácia (taxas bonificadas, controle dos preços, encomendas públicas, etc) é um traço distintivo de uma via socialista.

Entretanto, com toda evidência, estamos hoje bem longe do ideal igualitarista do socialismo. A China é um país onde as desigualdades sociais são fortes. A aplicação da linha igualitarista foi "suspensa" para acelerar o crescimento (daí a palavra de ordem "enriquecer-se antes dos outros"), depois foi novamente retomada com a recente promoção de temas de justiça social. A defesa da "moral socialista" pelos responsáveis do PCC pode prestar-se ao cepticismo, mesmo aos sarcasmos, quando se sabe dos comportamentos da China actual: consumismo, negocismo, arrivismo, gosto do luxo, corrupção... Mas não se deve tomar este discurso moral com ligeireza: é o do Estado chinês, constantemente oposto a esta degradação dos costumes. Se ele se inscreve numa certa continuidade com a tradição, muitas vezes reivindicada, esta ética reclama-se da modernidade dos ideais do socialismo e não de uma justiça social restrita a uma redistribuição limitada dos rendimentos, de uma equidade justificando uma "justa desigualdade" e definida como ligeira melhoria da sorte dos destituídos e de uma democracia representativa que confisca de facto a participação do povo. Mas é no sector púbico que o Estado dispõe dos meios eficazes para reduzir realmente estas desigualdades. Podem aqui ser activados a participação dos trabalhadores na gestão e o papel de "locomotiva social" desempenhado pelas empresas públicas. Eis um argumento a mais que milita em favor de um reforço do sector público.

Controle do sistema bancário e dos mercados financeiros 

Alguns julgam o sistema financeiro chinês obsoleto e apelam à sua modernização, devido ao auge dos mercados financeiros que seria, segundo eles, indispensável ao crescimento. [4] A reformas deste sistema financeiro aceleraram-se desde 2005 e tomaram a forma de uma abertura do capital dos bancos do Estado e da criação de bolsas de valores. Elas seguiram as das empresas públicas, tomadas anteriormente. Estas últimas haviam sido autonomizadas em relação às orientações do Plano, transformadas em sociedades por acções e incitadas a adoptar critérios de gestão mercantis, a inspirarem-se em métodos da finança de mercado e a desenvolver parcerias com investidores externos. A introdução em bolsa dos grandes bancos (Bank of China, Industrial and Commercial Bank of China e China Construction Bank) foi antecedida pela entrada de instituições estrangeiras na sua estrutura de capital (respectivamente Goldmann Sachs, UBS et Bank of America), a fim de facilitar a aprendizagem da corporate governance . Entretanto, o sistema de financiamento da economia chinesa hoje continua fundamentado na intermediação bancária – ainda que tenda a afastar-se bastante rapidamente, pois as autoridades políticas pretendem encontrar um "equilíbrio" entre os sistemas de financiamento pelos mercados financeiros e pelo crédito bancário.

Mas não se pode confundir "modernização" e adopção da via capitalista. Está longe de ser claro que uma opção em favor da finança de mercado tenha sido feita definitivamente, pois permanecem maciças as intervenções das autoridades monetárias no sistema financeiro e é perceptível o pragmatismo da sua actuação. Os poderes públicos chineses procedem de facto por solavancos, por avanços e recuos num contexto de integração mais aprofundado, mas contraditório, do país na mundialização. Isto aconteceu sobretudo nas fases de enfraquecimento do crescimento económico após 2007, marcadas por uma activação dos créditos bancários corrigindo as falhas da finança. Na viragem dos anos 1990, os bancos que se haviam empenhado em operações aventurosas (finança, seguros, imobiliário...) foram proibidos de o fazer entre 1992 e 1995, na sequência das desordens provocadas pela crise de 1989-1991 – ainda que tenham sido desde então autorizadas a efectuar operações mistas combinando crédito bancário e mercados financeiros. Mais recentemente, depois de 2008, como já vimos, as autoridades chinesas foram obrigadas a reagir firmemente para limitar o impacto social desestabilizador da crise mundial, fazendo evoluir o quadro institucional ao dotarem-se de instrumentos poderosos de controle e consolidarem suas estratégia de desenvolvimento.

Na China, a tese da "eficiência dos mercados financeiros" não tem partidários, como testemunham os apelos a uma nova ordem monetária e financeira mundial lançados regularmente pelos líderes políticos do país, que conhecem as vantagens da intermediação bancária e estão conscientes das graves disfunções dos mercados financeiros. Estes dirigentes preferem conservar o essencial do sistema bancário sob o controle do Estado, esforçando-se por melhorá-lo, repugnando-lhes abandonar o modelo de "banco universal" e orientando-se antes para um esquema consistente em tolerar operações mistas, mas efectuadas nas filiais especializadas, separadas do holding público e colocadas sob a vigilância da Comissão de Regulação bancária.

Além disso, as taxas de juro permanecem amplamente administradas, apesar das reformas iniciadas. Para aquelas que foram liberalizadas, a oferta de crédito é fortemente controlada pelo Banco Central, nomeadamente através das reservas obrigatórias. E o afrouxamento dos constrangimentos impostos aos bancos para fixar as taxas aplicadas aos depósitos não deve fazer esquecer que historicamente as autoridades monetárias voluntariamente reduziram ao mínimo (sob o ritmo da inflação) a remuneração destes depósitos – o que não influenciou a taxa de poupança nacional, muito elevada. Uma das especificidades (e forças) da China é a torção voluntarista dos preços dos factores. O governo teve razão em não deixar o mercado fixar "livremente" o preço do dinheiro de modo a continuar como mestre da oferta de crédito, difícil de controlar mas vital para a economia. As autoridades estatais, que têm uma visão macroscópica dos riscos, são as únicas em condições de guiar a economia no seu conjunto em função de um plano. Taxas de juros administradas não permitem ajustar rapidamente a oferta de poupança das famílias e as necessidades de financiamento das empresas, conviria talvez preferir um regime de taxas "semi-administradas", com tectos para a oferta de créditos e pisos para a remuneração da poupança – modificando estas taxas conforme as necessidades do plano. Mas neste debate sobre as taxas de juro, pendemos para a manutenção de um certo dirigismo.

A ampliação da esfera privada implica logicamente uma expansão do mercado de acções. Mas segundo a nossa opinião, este último deveria permanecer limitado. Se ele tem a sua utilidade para o sector privado, as empresas públicas em contrapartida deveriam ter cada vez menos necessidade na medida em que expandem suas capacidades de auto-financiamento e dispõem dos fundos de Estado para realizar aumentos de capital. A abertura do mercado de acções aos actores internacionais está no momento restrita aos investidores "qualificados". Os poderes públicos, que desconfiam – com razão – dos movimentos de capitais especulativos, até agora têm proibido às firmas estrangeiras emitirem acções em yuans sobre o mercado interno. Afrouxar estes travões, em particular para avançar rumo à plena convertibilidade do yuan e das suas supostas vantagens, equivaleria a submeter-se aos oligopólios financeiros, especialmente estado-unidenses. O recurso ao mercado de acções deveria permanecer tão limitado quanto possível e não conduzir a um alinhamento na prática do valor accionista. A poupança chinesa é bastante abundante para ser mobilizada por investidores institucionais nacionais, aos quais além disso se pode impor limites de rentabilidade.

Uma estratégia de desenvolvimento coerente e auto-centrada 

Um traço frequentemente sublinhado para descrever o êxito desta economia é o florescimento das suas exportações de bens e serviços desde o princípio dos anos 1990 e, sobretudo, 2000. Conclui-se apressadamente que estas exportações seriam o motor do crescimento do país. Isto é esquecer que a estratégia de desenvolvimento, concebida e aplicada com regularidade e pragmatismo pelos dirigentes chineses, apoia-se num modelo mais auto-centrado do que parece, repousando – é um dos "segredos" dos seus desempenhos nos mercados mundiais, ainda que isso desagrade aos neoliberais – na manutenção de um sector estatal muito poderoso (na energia, nos transportes, nas telecomunicações, nos materiais de base e produtos semi-acabados, na construção, mas também no sistema bancário, etc), com papel dinamizador para o conjunto do tecido económico local.

Na China, a grande maioria dos empresários dos sectores manufactureiros chineses interessa-se sobretudo pelos mercados internos para as suas produções. É sobretudo o florescimento da procura interna, estimulada por um consumo das famílias em crescimento acentuado e pelas importantes despesas de capital do Estado que conduz os seus programas de investimento rumo ao optimismo. Graças aos progressos da inovação tecnológica em todos os domínios (inclusive das telecomunicações, na robótica, no espaço, etc), cada vez mais dominados nacionalmente, o esquema produtivo do país pôde evoluir do made in China para o made by China.

O ritmo acelerado dos ganhos de produtividade do trabalho permite acompanhar a alta rápida dos salários reais industriais, sem que o aumento de peso dos custos do trabalho chinês relativamente aos outros países concorrentes do Sul deteriore a competitividade. As exportações – tal como os investimentos directos estrangeiros, pois mais da metade das exportações são feitas por firmas estrangeiras implantadas na China – desempenham um papel complementar. Isso permite compreender porque em 2011, por exemplo, a contribuição líquida negativa das exportações para o crescimento do PIB (-5,8%) não prejudicou o dinamismo deste último (cerca de +10%), nem entravou a alta das margens de lucro. A previsão de crescimento do PIB para 2018 é de 6,7% (com uma taxa de inflação de 1,5%), com contribuições estimadas de 4,5% para o consumo, 2,0% para o investimento, mas apenas 0,2% para as exportações.

Ouve-se frequentemente dizer que o êxito das exportações chinesas seria devido ao custo muito baixo da mão-de-obra. O argumento é insuficiente: os custos de mão-de-obra não representam de facto senão uma parte fraca dos preços de venda (5% a 10% em média), o que não compensa – ainda que os salários chineses tenham tendência para crescer mais rapidamente que os dos concorrentes do Sul – os custos de transporte para os países importadores. O êxito da China na exportação deve-se numa grande medida aos custos menos pesados dos insumos fornecidos por empresas públicas a preços muito mais baixos, pois fixados ou fortemente controlados pelo Estado (exemplo: os combustíveis). Certamente os salários chineses são claramente mais baixos do que no Norte, mas bem mais elevados do que os pretensos "salários de miséria".

Em resposta à crise de 2008, cujo impacto na China se fez sentir alguns anos mais tarde, as políticas anti-crise do Estado têm visado corrigir os desequilíbrios da economia, nomeadamente por um florescimento maciço das infraestruturas públicas (inclusive em zonas rurais), pela promoção de novos pólos urbanos de porte intermediário no interior do país e pela adopção de medidas favoráveis à população agrícola. [5] Os rendimentos líquidos das famílias rurais aumentaram assim, em termos reais e per capita, significativamente mais rápido que os das zonas urbanas. Portanto, as partes consagradas ao consumo no rendimento nacional aumentam em relação à do investimento. Os serviços às famílias e às empresas progridem. O imobiliário também está controlado, em particular pelo crédito.

O destino do yuan 

Ainda assim, o florescimento das exportações chinesas de bens e serviços – além das de capitais (refinanciamento do Tesouro estado-unidense, reestruturação de dívidas soberanas na Europa) [6] – cristaliza um outro ponto de tensão. A moeda chinesa, o renminbi, cuja unidade monetária é o yuan, estaria sub-avaliada, lê-se frequentemente no Ocidente, e portanto estaria na origem da persistência de défices comerciais bilaterais com a maior parte dos países do Norte, a começar pelos Estados Unidos [7] . As pressões exercidas por Washington no sentido de uma apreciação do renminbi frente ao dólar deparam-se com a resistência de Beijing, mas redundaram em várias reavaliações – a última datando de Abril de 2012, após a de Julho de 2005. Entre o Verão de 2005 (quando a China decide deixar de ligar as variação da sua moeda ao dólar) e a Primavera de 2012, o valor do renminbi apreciou-se em termos reais em 32% relativamente ao dólar. [8] Mas a lenga-lenga continuou: os produtos exportados pela China, já baratos, seriam tornados ainda mais competitivos por uma moeda depreciada artificialmente...

Sabe-se que as discussões sobre o "justo valor" das moedas, articuladas sobre decisões de políticas comerciais, são polémicas. Ora, dentre os critérios disponíveis, a relação saldo da balança das contas correntes sobre PIB é a mais utilizada pela administração estado-unidense. O referencial assim considerado para definir a taxa de câmbio "de equilíbrio" é um rácio excedente ou défice da balança de pagamentos correntes sobre PIB no intervalo entre +/- 3 ou 4%. Ao aplicar este critério à China, marcado pelo peso das trocas bilaterais com os Estados Unidos, vê-se que o rácio retrocede de 10,6% em 2007 para 2,8% em 2011 e 1,4% em 2012. A "sub-valorização" do renminbi não é evidente quando se utiliza o benchmark mais praticado nos Estados Unidos. O que não impede estes últimos, apesar dos graves desequilíbrios que caracterizam a sua economia, de prosseguir o que se assemelha a uma "guerra das moedas", por depreciação do dólar no mercado de câmbios, para impor a Beijing os termos daquilo que alguns chamam uma "capitulação" [9] – e um de cujos efeitos é desvalorizar as reservas em divisas da China, maioritariamente detidas em dólar.

Um renminbi internacionalizado, especialmente para transformá-lo em moeda de reserva global, exigiria a adopção de condições muito estritas: a abertura da conta de capital, assim como a flexibilidade da taxa de câmbio; a integração dos mercados financeiros chineses no sistema mundial capitalista; políticas macroeconómicas (de luta contra a inflação, de limitação do endividamento público, etc) que visem a obtenção da "confiança" dos mercados; e uma dimensão crítica da economia que justificasse esta ambição de internacionalização da moeda. As duas primeiras condições são exigências sine qua non; as duas últimas, não – e aliás nem sempre têm sido respeitadas pelos países do Norte com moedas utilizadas como reservas internacionais.

A dimensão crítica evidentemente já foi atingida: o peso da China coloca-a no segundo lugar mundial quanto ao PIB, atrás dos Estados Unidos, e entre estes últimos e a zona quanto às exportações. O critério relativo às políticas macroeconómicas parece igualmente cumprido, na medida em que a adopção das medidas anti-inflacionistas, de controle das contas públicas e de domínio do curso do renminbi trouxeram os seus frutos nestes últimos anos. Se as pressões inflacionistas permanecem um perigo, o índice de estabilidade dos preços é melhor na China do que nos outros BRICS. O endividamento das administrações públicas está contido a níveis menos elevados do que na maior parte dos próprios países ocidentais. Os índices de variabilidade da moeda nacional mostram também um renminbi menos instável que o real, a rupia, o rublo e o rand. Contudo, quanto à abertura da conta de capital e à integração mais profunda dos mercados financeiros chineses no sistema mundial, é forçoso reconhecer que, apesar da adopção de mecanismos de mercado em matéria de política monetária e da flexibilização das regulamentações relativas à conta de capital e à paridade do renminbi, as autoridades monetárias chinesas continuam a dispor de poderosas ferramentas de controle. Além disso, e sem estar totalmente ausente, o renminbi ainda é pouco utilizado nos mercados de produtos derivados over-the-counter , e concentrado nos instrumentos clássicos de cobertura (forwards)   [10] .

A internacionalização da moeda traria benefícios à China, a começar por um "direito de seignieuriage" , bem visível no caso dos Estados Unidos. Entretanto, uma tal orientação significaria uma submissão prejudicial do país à alta finança mundial dominante, portanto uma perda relativa de controle da política monetária. Como é que a China chegaria a tirar proveito de um renminbi internacionalizado sem pagar demasiado caro – renunciando ao pleno exercício da sua soberania nacional e vendo recusar a autonomia da sua estratégia de desenvolvimento? Hoje, as pressões internas em favor de uma liberalização dos mercados financeiros são fortes, mas ficam atenuadas por discursos oficiais tranquilizantes, críveis, sobre o controle do processo de reformas. Mas estas pressões tornam-se preocupantes quando coincidem com as recomendações dos peritos do FMI ou dos líderes ocidentais que convidam a China a escolher a via do neoliberalismo – e se necessário, integrando o renminbi no cabaz monetário dos Direitos Especiais de Saque . Sobre o assunto, os dirigentes chineses, em geral com declarações nuançadas e prudentes, estão conscientes dos perigos que um renminbi internacionalizado implica para o futuro do socialismo de mercado. Esperamos que saibam resistir às sereias do liberalismo. Nesse meio tempo, eles reforçam suas parcerias com o Sul e o Leste, em particular no quadro do grupo de Shangai, e reabrem uma rota da sede para afrouxar a morsa do cerco agressivo dos Estados Unidos.

Conclusão 

A evolução das relações entre, por um lado, o PCC no poder e o bloco social sobre o qual ele se apoia – classes médias beneficiárias do crescimento e empresários privados –, e, por outro, massas operárias e camponesas, que vão no sentido de uma restauração do capitalismo ou então de uma reactivação de um compromisso social mais favorável às classes populares, opera sobre perspectivas de confrontações de grande amplitude entre as forças políticas em presença, e sobre trajectórias divergentes de estruturas da economia. [11] Uma questão subsiste: como as elites dirigentes, cuja legitimidade se vê reforçada pelas repercussões positivas geradas pelo crescimento, chegariam a renovar as condições da "success story" do país sem se apoiarem sobre uma modificação da correlação de forças interna em favor das classes populares e sem reorientar o "projecto nacional" para uma prioridade às políticas sociais? Pois a escolha da via capitalista assumida francamente por estas elites, conducente a quebrar o equilíbrio dinâmico do sistema e a perder o controle sobre contradições crescentes, não garantiria o fracasso da estratégia adoptada até agora? Uma outra preocupação surge: qual será a atitude dos Estados Unidos, inclusive do ponto de vista militar, frente ao reforço de poder da China? O futuro desta última permanece em grande medida indeterminado, pela sua dinâmica própria, mas também porque o capitalismo dos oligopólios financeiros do Norte parece querer entrar frontalmente em conflito com ela – apesar da sua estreita interdependência. Por isso, continuamos a pensar, o sistema político-económico em vigor na China continua a conter elementos (e potencialidades de reactivação) do socialismo, assim como possibilidades de transformação da ordem global, no sentido da construção lenta e progressiva de um mundo multipolar, frente ao hegemonismo estado-unidense.

26/Abril/2018

[1] Ver: Harvey D. (2005), A Brief History of Neoliberalism, New York: Oxford University Press; Arrighi G. (2009), Adam Smith in Beijing: Lineages of the 21st Century, London: Verso; Panitch L. and S. Gindin (2013), "The Integration of China into Global Capitalism", International Critical Thought, (3)2, 146-158.
[2] Por exemplo: Wen T. (2001), "Centenary Reflections on the ' Three Dimensional Problem, ' of Rural China", Inter-Asia Cultural Studies , 2(2), 287-295. Amin S. (2013), "China 2013", Monthly Review , 64(10), online.
[3] Andreani T. and R. Herrera (2015), "Which Economic Model for China?", International Critical Thought, 5(1), 111-125.
[4] Mishkin F. (2010), The Economics of Money Banking and Financial Markets, Upper Saddle River: Pearson.
[5] Wong E. e T. Sit (2015), "Rethinking 'Rural China'", in Herrera R. and K.-C. Lau (dir.), The Struggle for Food Sovereignty, 83-108, London: Pluto Press.
[6] Ler: "More UK equities for China?", Financial Times, 3 June 2011.
[7] Ver os relatórios do US Congressional Research Service.
[8] Bank for International Settlements (BIS).
[9] Wolff M. (2010), Financial Times, 12 October 2010.
[10] Herrera R. (2014), "A Marxist Interpretation of the Current Crisis", World Review of Political Economy, 5(2), 128-148.
[11] Amin S. (2010), "Prefacio", in Herrera R., Avances revolucionarios en América Latina, Quito: FEDAEPS. 


NR: A seriedade dos autores deste artigo e os elementos informativos que contém levou à sua publicação por resistir.info.  Isso não significa necessariamente endossar o optimismo dos mesmos quando consideram que o socialismo continua dentro do leque das possibilidades no futuro previsível da China.  A presente acumulação de reservas ouro pelo banco central da China – no momento em que já se antevê o fracasso das moedas fiduciárias que servem de reserva mundial, nomeadamente o US dólar – pode ter duas explicações alternativas:  1) uma garantia (hedging) contra a previsível ruína do dólar; ou  2) que as autoridades chinesas poderiam estar a preparar o renminbi para vir a substituir o dólar no papel de moeda de reserva mundial.  Se esta última explicação se verificasse a possibilidade da retomada do caminho socialista pela China ficaria comprometida.

[*] Professor Emérito de Ciência Política na Universidade de Paris 8 Saint-Denis, Saint-Denis, França.
[**] Investigador do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS), Centre d'Économie de la Sorbonne, Paris, França.
[*** ] Professor Assistente na Escola de Marxismo da Universidade Tsinghua, Beijing, República Popular da China. 


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TIMOR-LESTE | Caravanas partidárias viram-se para capital na última semana da campanha


Díli, 03 mai (Lusa) - As caravanas dos oito partidos e coligações candidatos às legislativas antecipadas em Timor-Leste entraram hoje na última semana da campanha, com quase todas a movimentarem-se para a capital Díli, onde se concentram as atenções na reta final.

Até ao fim de semana a maior parte das ações de campanha na capital timorense serão de menor escala, com os partidos a fazerem pequenos encontros ou promoção porta a porta.

É o caso do Partido Republicano e da Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD) que sexta-feira farão ações de pequena escala nas zonas do Cristo Rei, em Díli.

É, no entanto, nos últimos três dias de campanha, que a movimentação política em Díli será maior, especialmente nos dias 08 e 09, os dois últimos dias.

Sete das oito forças concorrentes - só o PR não tem nada marcado para o último dia - têm atos de campanha previstos para Díli no último dia.

O Partido Esperança Patria (PEP), por exemplo, vai fazer campanha porta a porta em Nain-Feto, o Movimento Social Democrata (MSD) e o Movimento de Desenvolvimento Nacional (MDN) tem atos na zona do Cristo Rei, e a FDD estará em Dom Aleixo.

A Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) tem um grande comício de encerramento, enquanto a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) divide os seus líderes por quatro atos diferentes, nomeadamente em Ataúro, Dom Aleixo, Nain-Feto e Vera Cruz.

A coligação da oposição, AMP, estará no domingo na segunda cidade timorense, Baucau, deslocando-se depois em direção à capital com paragens, na segunda-feira em Manatuto, terra natal do seu líder Xanana Gusmão, e em Metinaro.

Na terça-feira, a AMP terá, o que se antecipa que seja, o seu maior comício, em Tasitolu, nos arredores de Díli, encerrando a campanha no dia 09 na ilha de Ataúro.

Já a Fretilin estará no enclave de Oecusse-Ambeno no fim de semana e na capital timorense nos últimos três dias, com o grande comício de encerramento da campanha em Tasitolu, no dia 09, 24 horas depois do da AMP.

O Partido Democrático (PD) estará em Díli no domingo, para campanha na zona do Cristo Rei, na segunda tem previsto um comício em Ermera, a sul da capital, antes de comício final de campanha em Díli, na zona de Dom Aleixo.

A campanha termina no dia 09 e, se tudo correr como tradicionalmente, tudo o que é material publicitário dos partidos e coligações tende a desaparecer nesse mesmo dia.

Com uma fatia significativa de timorenses a ter que viajar para ir votar - muitos vivem em Díli, por exemplo, mas estão recenseados noutros municípios - quinta e sexta-feira são dias de reflexão, mas também de viagens.

ASP // MSF

TIMOR-LESTE | Comissão Nacional de Eleições reúne-se com partidos


Díli, 03 mai (Lusa) - Os responsáveis da Comissão Nacional de Eleições (CNE) reuniram-se hoje com representantes dos oito partidos e coligações concorrentes às legislativas de 12 de maio em Timor-Leste para analisar a situação na reta final da campanha.

Além do presidente, vice-presidentes e seis comissários da CNE, participaram no encontro representantes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) e das oito forças candidatas, que relataram a sua avaliação da situação.

Apesar de várias queixas apresentadas, todas elas a ser investigadas ou pela CNE ou pela PNTL, o encontro - que foi aberto à imprensa - confirmou que a campanha tem decorrido sem incidentes significativos, com a situação a manter-se calma em todo o país.

Inocêncio da Silva, da PNTL, confirmou que houve "alguns incidentes, mas nenhum grave" e que efetivos continuam no terreno a garantir a segurança e a atuar, em coordenação com as entidades territoriais.

Um reforço da segurança vai ser feito em locais de potencial maior risco na reta final da campanha, especialmente em Díli, tendo instruções claras sido dadas aos comandos municipais, explicou.

"Vamos dar atenção especial, em Díli, aos movimentos no dia 08 e 09 por maiores ações de campanha na capital. Haverá segurança de proximidade e mais afastada para garantir que não há problemas em Díli", disse.

"Apelo a que continuem a informar militantes para se manterem em segurança", disse ainda.

No encontro, vários comissários e responsáveis da CNE deram conta de pequenos incidentes e queixas que tinham sido levantadas durante a campanha em vários pontos do país.

Uma parte dos pequenos incidentes relatados, quer pelos comissários, quer pelos representantes dos partidos políticos, envolveram militantes das duas maiores forças políticas, a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) e a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).

A tensão entre os dois partidos foi mesmo destacada por outros representantes, como Vitor Ximenes Reis Cadalar do Movimento Desenvolvimento Nacional (MDN), que se mostrou "preocupado" com a questão.

Acusações de manipulação do eleitorado, de impedimento de ações de campanha ou de remoção de atributos partidários são a maior fatia dos incidentes relatados, nenhum dos quais foi considerado de grande gravidade.

Uma das queixas mais repetidas é a remoção de material de campanha de um partido ou coligação, ou a participação em atos eleitorais de crianças, questões proibidas segundo a lei eleitoral timorense.

Vários pequenos incidentes, especialmente envolvendo lançamento de pedras, por exemplo, estão a ser investigados pela Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).

O comissário da CNE Bernardo Cardoso pediu para que se ajude a parar rumores nas redes sociais que tentam pôr em cheque a credibilidade do ato eleitoral, por exemplo, questionando os boletins de voto ou as urnas.

O vice-presidente da CNE, Duarte Tilman, disse que todos os casos são investigados e nas situações em que há potenciais crimes cometidos são referidas à polícia para investigação adicional.

Responsáveis partidários presentes no encontro saudaram o trabalho dos órgãos eleitorais e das forças de segurança desenvolvido no terreno.

ASP // EJ | MAIS NOTÍCIAS EM PORTUGUÊS EM Timor Agora

MACAU | “Pensavam que o português não ia servir. Hoje já me dão razão”


Edith Silva diz que o maior desgosto foi não ter conseguido introduzir o português nas escolas, enquanto liderou a Educação.

Foi diretora dos Serviços de Educação e Juventude durante oito dos 15 anos que trabalhou no organismo. Integrar o português nas escolas foi uma das lutas que começou, mas sem sucesso. Hoje, sublinha, dão-lhe razão. Edith Silva também foi professora, deputada à Assembleia Legislativa e esteve à frente da Escola Portuguesa de Macau (EPM) durante 15 anos. Ao PLATAFORMA confessa que, se cumprisse o plano, só deixaria a direção da EPM agora, nos 20 anos da instituição. Saiu em 2013, mas com a certeza de missão cumprida.

- Que balanço faz dos 20 anos da EPM?

Edith Silva - Está no bom caminho. Conseguimos marcar uma posição. É um caso inédito. Foi a primeira escola portuguesa fora do território nacional. Quando começámos, tínhamos dúvidas: como seria a escola, se teríamos alunos. Hoje podemos dizer que a Escola Portuguesa de Macau foi um sucesso. É reconhecida e não é só pelos portugueses.

- Que receios tinha?

E. S. – Era uma experiência nova. Antes de a escola arrancar já tínhamos muitos problemas. Fui a primeira funcionária. Fui contratada a 1 de maio de 1998. Não tinha funcionários, espaço, professores. No dia 18 de abril foi o lançamento da primeira pedra. Comecei sem saber que programas íamos fazer, qual era o projeto educativo. Propus-me o desafio de começar o ano letivo em 1998, sem ter mais ninguém e sem a certeza de que as obras estariam concluídas no dia 1 de setembro. Tínhamos 1100 alunos e este espaço não albergava tanta gente. Era a Escola Comercial que só tinha cerca de 200 alunos. Ainda bem que naquela altura ainda era a Administração Portuguesa porque tivemos muitos apoios em termos financeiros e de obras.

- No pós 1999, houve uma queda significativa do número de alunos. 

 E. S. - Já contávamos com esse decréscimo. Muitos portugueses iriam regressar. Em 1998/1999, tínhamos 1100 alunos. No ano seguinte caiu para 900. Foram diminuindo e isso levantou-nos um grande ponto de interrogação. Houve muitas pessoas que não acreditavam que a escola sobrevivesse e diziam que acabaria por fechar. É com uma ponta de orgulho que vejo que conseguimos manter a escola. Se nós conseguirmos manter nos 500 alunos, é um bom marco. Foi com alguma hesitação, mas com muita determinação que aceitei o cargo. Fazer com que a escola fosse aceite iria depender do trabalho que desenvolvêssemos.

- Sentiu que havia rejeição ao projeto?

E. S. – Se sentisse isso nunca aceitaria o cargo. Mas nunca pensei que a escola me fosse dar tanto trabalho. A minha missão foi cumprida. Queriam uma escola de prestígio e isso não se constrói de um dia para o outro.

- Que soluções considerou quando percebeu que havia cada vez menos alunos?

E. S. – A minha grande aposta sempre foram as línguas. Além do português como língua materna, sempre apostei em mais duas línguas: uma internacional, o inglês, e na outra oficial, que é o mandarim. Creio que esta foi a mais-valia da escola. Mas nunca pensei que tivesse tantas dificuldades na contratação de professores. Os professores chineses não estão habituados à nossa mentalidade e cultura. E os nossos alunos não estavam habituados ao mandarim. Só em 2005 é que consegui ter o mandarim no currículo. Perdemos alguns anos, devo dizer. O meu objetivo era que os alunos da escola terminassem o secundário com as três línguas. Como perdemos este tempo, tivemos de recuperar. A introdução do mandarim foi por blocos. Introduzimos no primeiro ano até ao 12º, mas havia níveis diferentes e a contratação de professores foi bastante complicada. Os professores não estavam habituados nem tinham formação para dar mandarim como língua estrangeira e para nós não podia ser lecionada como língua materna. Até 1999, não tivemos problemas financeiros. A Administração Portuguesa cobria as despesas todas. Mas a partir dessa altura já não era a mesma coisa. Os cortes e os problemas financeiros foram outros dos problemas que tivemos de enfrentar.

- Tendo em conta que já há escolas que apostam no ensino bilingue e trilingue, que papel tem a EPM?

E. S. – A aposta que está a ser feita nas três línguas veio provar que Macau precisa desta plataforma. Começámos tarde. Anos antes quis introduzir o português nas escolas, mas nunca consegui. Foi preciso que o Governo central dissesse que havia poucas pessoas em Macau que soubessem português para as coisas começarem. A EPM tem um papel muito importante que é a difusão da língua e da cultura portuguesas. As outras escolas ensinam o português, mas não é igual. É um ponto de encontro entre as duas civilizações e conseguiu cumprir o seu papel: somos os embaixadores da nossa língua.

- Como olha para as iniciativas trilingues?

E. S. – A Zheng Guanying tem feito um bom trabalho, mas também ensina o português como língua estrangeira. Há outro ponto: a escola portuguesa permite o acesso a qualquer universidade do mundo. É uma mais-valia que as outras escolas não têm. Quando conseguirmos ter em pé de igualdade os três idiomas, o futuro que oferecemos aos nossos jovens é muito bom.

- Em 2013, decide abandonar a direção da EPM. Porquê?

E. S. – Posso dizer que não era o meu plano, mas por motivos de saúde tive de sair. O objetivo era sair quando a escola fizesse 20 anos. Mas cumpri o que me pediram. Hoje temos mais alunos, muita procura, a escola está bem integrada no meio. Integrar a escola era uma preocupação. Não queria que fosse uma ilha, um gueto. Por isso, sempre incentivei os alunos a participarem nas atividades fora. Não queria taças. Podíamos ser os últimos. O simples contacto com as escolas e alunos de outras línguas já era muito importante.

- Também foi diretora dos Serviços de Educação e Juventude.

E. S. – Ainda não houve um diretor que tivesse batido o meu recorde.

- Qual foi a herança que deixou e o que ficou por fazer?

E. S. – Na educação, sinto-me bastante realizada. Na altura houve uma reforma e criou-se a Divisão de Apoio ao Ensino Particular. O meu amigo Jorge Rangel (então Secretário-Adjunto com a tutela da Educação) convidou-me para chefiar a divisão. Precisava de uma pessoa que soubesse chinês e conseguisse entrar nas escolas. De facto, os serviços não conheciam nada do que se passava nas escolas privadas. Quando me convidaram, disse que não percebia de gestão, que era professora desde que tinha saído da universidade e que nem um relatório sabia fazer. O Rangel, que é muito teimoso, disse-me que se encontrasse alguém com as mesmas condições que aceitaria que rejeitasse o cargo. De facto não havia. Acabei por aceitar. O meu marido, chinês, também me disse que era altura de, passados dez anos, ajudar um pouco os chineses. Concordei que era altura de ajudar a outra comunidade. Aceitei o cargo e, em 1982, entrei nos Serviços de Educação.

- O trabalho com as escolas particulares foi a sua marca?

E. S. – Quando cheguei aos serviços deram-me uma folha com a lista das escolas, o nome do diretor, a morada e o apoio que recebiam. Era tudo o que tinham. Durante meses, visitei todas as escolas particulares. Não faltou uma. E não era entrar e sair. Ia ver as instalações, falar com a direção para perceber o que estavam a fazer. No início, não fui muito bem recebida apesar de falar chinês. As pessoas entendiam que o Governo queria entrar nas escolas. Era esse o receio. Lembro-me que três meses depois fiz o primeiro relatório e registei as prioridades. Consegui concretizar tudo o que apontei. Sinto que fiz algo pela comunidade: como garantir assistência médica, subsídios aos professores, escolaridade gratuita, a lei-quadro do sistema educativo.

- Quais são os desafios da educação nos tempos que correm?

E. S. – A juventude de hoje não é fácil. Há muita coisa de fora que atrai os jovens. O estilo de ensino antigo está ultrapassado. Hoje não basta dar a aula. Cheguei a visitar escolas que tinham 70 alunos numa turma, com 45 minutos de aula. O professor não tinha sequer um minuto para cada aluno. Macau entretanto mudou. Não tínhamos vagas. Entre 1992 e 1995, construímos 15 escolas. A minha grande alegria foi ter deixado um grande grupo de amigos na equipa de diretores no ensino privado. Quando comecei, desconfiavam de tudo.

- Sentiu isso?

E. S. – Lembro-me de visitar uma escola chinesa, e nem tinha aquecido a cadeira quando a diretora me disse: os portugueses nunca nos ligaram em 500 anos e vem agora a senhora mandar em nós. Isto para uma chefia de divisão que não era uma pessoa qualquer naqueles tempos. Não acreditavam que o Governo queria ajudar. Pouco a pouco fomos conquistando. O meu maior desgosto, nestes 15 anos à frente dos serviços de educação, foi não ter conseguido introduzir o português nas escolas. Tentámos. Mas as pessoas já estavam muito próximas da transferência e pensavam que o português não ia servir para nada. Algumas escolas chegaram a introduzir como atividade extra curricular. Mas quem é que aprende uma língua estrangeira duas vezes por semana 35 minutos? Hoje já me dão razão.

- O que fez para incentivar as escolas a integrar a língua?

E. S. - Destacámos professores, mas era complicado. Não havia avaliação, não estava no currículo e os chineses são muito pragmáticos. Aprendem o que sentem que lhes é útil. Veja como agarram o inglês. Começam a partir dos 3 anos e vai até aos 18. O ensino precisa de mudar e os encarregados de educação também. Não é com trabalhos de casa que os alunos aprendem mais. É preciso alguma disciplina, mas não é preciso tanta. Já viu uma criança que sai da escola e ainda vai para uma sala de estudo até às 8, 9 da noite. Que tempo têm para ser crianças? A escola não é para ser de manhã até à noite. A criança fica farta. Quis mudar, mas não consegui. Agora já é outro estilo. Quando entrei na educação, só dez a quinze por cento dos professores tinham formação. Hoje é 100 por cento.

- Também foi deputada. Como foi a passagem pela política?

E. S. – Faleceu um deputado e o governador Rocha Vieira quis nomear-me. Foi em 1997. Em 1995, tivemos de optar: ou voltávamos para os quadros da República ou ficávamos como quadros de Macau. Aconteceu um incidente muito triste na minha vida, o falecimento do meu marido, e fiquei completamente sem saber o que fazer. A primeira opção era não querer fazer nada. Não tinha anos para me reformar, não queria voltar para Portugal, não queria continuar….Estava muito em baixo. Desvinculei-me e foi a opção mais errada que tomei na vida. Como optei pela desvinculação, entendi que era uma boa plataforma. O meu trabalho na educação estava feito. Tinha deixado a Educação preparada para a transferência. Sair em 1997 ou em 1999 era indiferente porque o caminho da Educação estava traçado. Passar de diretora de serviços para deputada, que naquela altura era um lugar elevado e reconhecido, era bom.  Nunca tinha feito nada além de educação e decidi aceitar.

- O que acha da Macau de hoje?

E. S. - Sou muito macaense. Nasci e cresci aqui. Passei dez anos em Portugal e voltei. Nunca trabalhei em sítio nenhum a não ser Macau. Conheço muito bem o ambiente e estou bem inserida nas comunidades portuguesa e chinesa. Fui muito bem aceite. Recebi muitos sinais. A própria Agência Nova China, hoje Gabinete de Ligação, me disse para não deixar Macau. Queriam que continuasse. Nunca pensei em ir-me embora, apesar de ter alguma desconfiança de como seria o tratamento. Também estive no Conselho de Redação da Lei Básica e conheço bem os meandros. Na parte da nacionalidade, tive um papel bastante forte na defesa da identidade macaense. Sempre disse aos maiorais da China que eu, nascida em Macau, não podia aceitar ser considerada estrangeira. Isso é que não posso aceitar. Para mim foi pacífico. Mesmo depois da transição, tive em diferentes cargos. Macau mudou, claro. Esta evolução toda é um pouco chocante para quem nasceu aqui, mas é o preço do desenvolvimento. Há muitos casinos, mas se não fossem os casinos, o que seria de nós?

- Há quem defenda que o Segundo Sistema, que garante a autonomia de Macau, está cada vez mais ameaçado. Concorda?

E. S. – Há coisas que estão a mudar, não as que gostaríamos, mas não sinto isso.

- Sente que Macau é menos livre?

E. S. – Continuo a sentir que tenho um espaço de liberdade muito grande, a fazer o que quero, a expressar-me. Só sinto que há medidas políticas que não eram bem as que queríamos. As pessoas não gostam muito de ouvir vozes contrárias, mas tem de ser assim. Aliás, se compararmos Macau a Hong Kong já vemos que é bem diferente. Mas não sinto que tenha algum aperto ou restrição. Apesar de estar reformada, continuo a fazer muitas coisas relacionadas com a educação, e fui, recentemente à China a convite. Já não ia a Pequim há muitos anos e senti uma evolução muito grande. As pessoas têm mais confiança e um estatuto social muito melhor. Mesmo nas escolas, sinto diferença. Os professores são muito mais livres. Não é o sistema de ensino do comando. Se calhar estão mais evoluídos do que nós. O ponto central não é o professor, é o aluno. Já põem o aluno em primeiro lugar.

- Referiu a identidade macaense. Que papel tem a comunidade?

E. S. – Tem de servir de ponto de ligação entre as comunidades chinesa e portuguesa, à qual pertencemos. Não gosto que digam portugueses e macaenses. Somos todos portugueses. Mas nós, por termos nascido e crescido em Macau, temos um ponto muito importante. O próprio Chefe do Executivo sente que esta comunidade pode ser o elo de ligação. O macaense faz a identidade de Macau. Macau não é Zhuhai porquê? Porque há os macaenses. Ai de nós se perdemos esta identidade. Acaba-se tudo.

Catarina Brites Soares | Plataforma

A democracia em Macau pelas vozes dos recém-chegados ao movimento


Com a ascensão de Sulu Sou no palco político, o movimento pró-democracia ganhou uma nova força e vitalidade. Novas caras começaram a surgir nas ruas, de folhetos na mão e a espalhar a mensagem da Associação Novo Macau.

Timidamente, começam a afirmar-se, também eles, como democratas, mas não sem algumas restrições auto-impostas que impedem alguns de dar a cara pelo movimento. 

Mas quem são estas novas vozes que se misturam entre os rostos nas manifestações, as visualizações e ‘likes’ no Facebook e os nove mil votos que fizeram de Sulu Sou o mais jovem deputado na história da RAEM?

Ponto Final | Catarina Vila Nova | Foto: Eduardo Martins

Pequim instalou mísseis no Mar da China Meridional, afirma TV


Emissora americana afirma que China instalou sistemas de foguetes terra-ar e antinavio em águas disputadas. EUA e países vizinhos acusam governo chinês de militarização.

A China instalou sistemas de defesa contra mísseis em ilhas artificiais no Mar da China Meridional nos últimos 30 dias, informou a emissora americana CBNC nesta quarta-feira (02/05) com base em informações da inteligência dos EUA.

De acordo com a emissora, os sistemas de mísseis terra-ar e antinavio foram instalados nos recifes artificiais de Fiery Cross, Subi e Mischief, ao oeste das Filipinas. Os recifes pertencem às Ilhas Spratly e estão localizados em águas estrategicamente importantes – tanto geopoliticamente como para o transporte marítimo.

Os Estados Unidos e os países vizinhos da China acusam Pequim de crescente militarização da região. Há pouco tempo, militares da China já haviam instalado equipamentos de interferência de comunicação de rádio no Mar da China Meridional.

Os recém-instalados mísseis de cruzeiro podem atingir navios a mais de 500 quilômetros de distância, informou a CBNC. Já os mísseis terra-ar teriam um alcance de aproximadamente 300 quilômetros.

A China não confirmou a notícia, mas reafirmou que suas instalações militares nas Ilhas Spratly são puramente defensivas e que pode fazer o que bem entender em seu próprio território.

A militarização de ilhas no Mar da China Meridional é um desafio para a Marinha dos Estados Unidos, que está envolvida em operações demonstrativas por "liberdade de navegação" nas águas disputadas.

O Mar da China Meridional está localizado entre a China, o Vietnã, a Malásia e as Filipinas. Pequim reivindica 80% dos 3,5 milhões de quilômetros quadrados da área rica em recursos naturais e pela qual passam importantes rotas de navegação mercantil. No entanto, Malásia, Taiwan, Vietnã, Filipinas e o sultanato de Brunei também reivindicam direitos sobre as águas. 

Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia rejeitou as reivindicações territoriais de Pequim em 2016. Porém, a China ignora o veredicto e reforça suas alegações com a expansão militar nas ilhas.

PV/dpa/rtr | Deutsche Welle | VCG Getty Images

China elogia Coreia do Norte por esforços para reduzir tensões


Ministro chinês saúda medidas anunciadas pelo governo norte-coreano para desnuclearizar e alcançar a paz definitiva na península coreana. Visita enfatiza desejo de Pequim de continuar tendo papel-chave na região.

O ministro do Exterior da China, Wang Yi, parabenizou o líder norte-coreano, Kim Jong-un, por suas medidas para reduzir as tensões com a Coreia do Sul, comunicou Pequim nesta quinta-feira (03/05). O encontro em Pyongyang enfatizou os laços bilaterais e o desejo do governo chinês de continuar tendo um papel-chave no processo de paz na península coreana.

Wang também assegurou Kim de que Pequim apoia a mudança de foco da Coreia do Norte para o crescimento econômico, além dos esforços norte-coreanos para resolver as "preocupações legítimas de segurança" do país enquanto toma medidas para uma desnuclearização, disse o Ministério do Exterior da China em comunicado. Wang é o primeiro ministro do Exterior chinês a visitar a Coreia do Norte desde 2007.

A China "apoia e parabeniza" o encontro histórico de Kim na semana passada com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, segundo a declaração. "A cúpula trouxe uma oportunidade favorável para uma resolução pacífica da questão da península [coreana]", disse Wang.

No mais recente sinal de reaproximação entre Seul e Pyongyang, as Coreias concordaram em trabalhar por um tratado permanente de paz para substituir o acordo de cessar-fogo de 65 anos atrás. Wang também disse a Kim que a China apoia os esforços para dar um fim formal à Guerra da Coreia.

Pequim, um aliado histórico

As relações entre a China e a Coreia do Norte melhoraram significativamente após a recente visita de Kim a Pequim. A China, principal parceiro comercial de Pyongyang, aderiu às sanções das Nações Unidas contra a Coreia do Norte, que reduziram o comércio entre os dois países em aproximadamente 90%.

A viagem de Kim em março foi a sua primeira ao principal aliado desde que assumiu o poder, há seis anos – e foi o início de uma onda de diplomacia. Um encontro entre o líder norte-coreano e o presidente dos EUA, Donald Trump, está agendado para as próximas semanas – uma data exata ainda não foi anunciada.

Para a China, os encontros recentes oferecem uma oportunidade para reforçar sua importância na região e assegurar que suas preocupações e seus interesses sejam respeitados em qualquer negociação futura. 

A China enviou tropas para lutar pelo lado norte-coreano na Guerra da Coreia (1950-53), mas as relações sofreram deteriorações nos últimos anos com a relutância de Pyongyang em implementar reformas econômicas ao estilo chinês e com o desenvolvimento contínuo de um programa nuclear por parte de Kim.

Há bastante tempo, Pequim tem pedido por um retorno às conversações entre seis países – Coreia do Norte, Coreia do Sul, China, Japão, Rússia e EUA – sobre o programa nuclear de Pyongyang. Analistas acreditam que as sanções da China podem ter impulsionado as iniciativas diplomáticas da Coreia do Norte.

O governo chinês afirma que as sanções impostas à Coreia do Norte têm como objetivo incentivar a diplomacia, e não punir Pyongyang. Pequim se opõe a quaisquer medidas que possam derrubar o governo norte-coreano e, possivelmente, levar a uma onda de refugiados que cruzariam sua fronteira e ao estacionamento de tropas americanas e sul-coreanas no norte da península.

PV/afp/ap | Deutsche Welle

PORTUGAL | Cara de Pinho


Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

A expectativa sobre o silêncio de Manuel Pinho em sede de comissão de inquérito parlamentar é enorme e faz ruído. Com o anunciado voto favorável do PS e PCP e a anuência do CDS, a proposta do BE para a criação desta comissão é mesmo a melhor forma de ninguém fintar a verdade ou de fugir com a renda à seringa. Se é verdade que foi Rui Rio o primeiro a defender a audição parlamentar a Manuel Pinho, é a proposta do BE que - no âmbito mais alargado das rendas do sector energético - permitirá colocar na agenda política muito mais do que um ex-ministro aos soluços. Este pode ser um processo onde o PS entre em catarse e é, indiscutivelmente, uma boa notícia que o PS aceite essa convocatória para o divã.

Manuel Pinho anunciou que não colocaria os pés na comissão parlamentar antes de ser ouvido em sede de investigação judicial mas a comissão de inquérito vai obrigá-lo a prestar contas. Se os poderes reforçados dos deputados em sede de inquérito vierem a bater num muro de silêncio do ex-ministro, o ricochete aparecerá pela certa. Ninguém compreenderá que se refugie em modo "mute", disfarce cómodo dos néscios, nada dizendo sobre a suspeição que sobre si impende no contexto da EDP por ter, alegadamente, recebido cerca de 2,1 milhões de euros de Ricardo Salgado, 793 mil quando foi ministro da Economia. Esse silêncio inusitado, à força de ainda não ter sido ouvido pelo Ministério Público, assegura ao ex-ministro de José Sócrates um período de julgamento público mais nocivo e epidémico do que toda e qualquer acção ministerial sua entre 2005 e 2009 ou qualquer cêntimo que possa ter recebido entre 2006 e 2012.

A EDP foi financiada indevidamente em 510 milhões à custa dos consumidores de electricidade e a luz passou a reflectir em águas turvas. Foi Manuel Pinho que alterou as regras dos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC). Apesar do esforço de BE e PCP no combate às rendas excessivas, seja pela alteração das regras do jogo dos contratos CMEC, seja pela criação de uma contribuição extraordinária sobre as renováveis no Orçamento do Estado de 2018, o veto político não se fez só pelo silêncio. A permanente oposição do centro-direita ao abuso das rendas de energia é um caso de cedência cega aos interesses que a suspeita pessoal sobre Manuel Pinho só vem agora electrificar.

Na produção da prova, o arguido tem o direito (não o dever) de prestar declarações, sem que o seu silêncio o possa desfavorecer. Neste contexto, em sede de comissão de inquérito, Manuel Pinho gozará do direito de ter a cara de pau de se desfavorecer através dele. Para dificuldades, já lhe basta a falta de filiação partidária.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

*Músico e jurista

BES-Salgado garante reforma de 62 mil euros mensais a Manuel Pinho


Manuel Pinho assumiu cargo de ministro já com promessa de reforma do BES aos 55 anos dada por Salgado

A promessa escrita de Ricardo Salgado a Manuel Pinho, datada de 10 de março de 2005, foi assinada 48 horas antes do segundo assumir o cargo ministerial no Governo de José Sócrates.

Dois dias antes de assumir o cargo de ministro da Economia em 2005 e muito antes de saber o que futuro lhe reservava ao nível de carreira política, Manuel Pinho já tinha uma certeza: aos 55 anos, poderia contar com uma pensão equivalente a 100% do salário pensionável - cerca de 62 mil euros mensais -, em nome do BES, revela o “Correio da Manhã” esta quinta-feira.

Esta certeza consta de uma promessa escrita feita por Ricardo Salgado a Manuel Pinho, datada de 10 de março de 2005, 48 horas antes de assumir o cargo ministerial no Governo de José Sócrates.

“Neste virar de página da sua vida profissional, não quero deixar de reafirmar - em nome do BES que represento - os direitos adquiridos enquanto prestou serviços no Banco Espírito Santo, SA que represento - assumindo particular relevância a prerrogativa - anteriormente contratualizada consigo, pelo BES, em 10/03/2004 - de logo que completar os 55 anos de idade, solicitar a passagem à reforma, auferindo 100% do salário pensionável”, escreveu Salgado na época.

Segundo o matutino, a carta de Salgado foi apresentada por Manuel Pinho no processo cível que interpôs contra o Novo Banco e a GNB - Sociedade Gestora de Fundos de Pensões, em 2014, como prova de que tinha direito à pensão.

O tribunal, contudo, não deu este acordo como provado e negou o pedido da pensão a Pinho.

Na mesma missiva, Ricardo Salgado fez também um rasgado elogio a Pinho: “Ao aceitar assumir a pasta da Economia e da Inovação, num país que se debate com gravíssimos problemas de competitividade (...) e chamando para si a responsabilidade de concretizar uma estratégia de crescimento com base num plano tecnológico (...) revelou um espírito determinado e de missão que, não surpreendendo os que como nós o conhecem, constitui-lo-á credor da admiração e apoio de todos os cidadãos.”

Expresso | Foto: Alberto Frias

Portugal | UM POLVO ENORME SUSTENTADO PELOS PORTUGUESES


Ricardo Marques serve hoje o Expresso Curto, com cafeína, acerca da tragédia de Pedrógão Grande e os documentos desaparecidos sobre as primeiras horas e a ineficácia dos organismos que deviam atuar corretamente e não o fizeram.

Desapareceram os documentos, conforme o perfeito modo mafioso. Ora, ora, a impunidade é prato forte dessa gente nos mais variados setores. De vez em quando a justiça, a PGR, lá dá um ar da sua graça mas em modo de sol de pouca dura. Justiça? Não nos façam rir porque de manhã ainda faz frio e o cieiro faz com que as boqueiras se arreganhem todas e doem-nos. É que se houvesse realmente justiça em Portugal veríamos muitos “lá dentro” e expropiados. Mas não, o que vimos é eles cá fora a dar ar aos milhões nos offshores do nosso pranto enquanto o povo é enganado e roubado por tantos energúmenos. Exemplo: o caso do senhor Ricardo Salgado, e outras ilhargas e associados.

Se fossem só esses estávamos nós, portugueses, menos-mal. Só que esta máfia já tem raízes há décadas, por isto e aquilo, ali e acolá, e, o que é muito grave, cresce e está instalada à laia de betão armado no sistema económico, político e etc... É um polvo enorme sustentado pelos portugueses. Pelos enganados, explorados, roubados e oprimidos. Só não sabe e sente isso quem não quer.

É hora de lerem o Curto. É o melhor. O pior está nos parágrafos anteriores e até nos dá voltas às tripas. Pior ainda é se um dia essas voltas nos sobem à cabeça e soltam a indignação e revolta contidas. Não convém nada perdermos as estribeiras, assim como está comprovado que não convém andar a sustentar chulos, corruptos, ladrões, criminosos de colarinho branco que são detentores dos poderes, alguns eleitos mas a maioria nem por isso. A dificuldade já é saber quem são os inocentes em toda esta trama. O que é triste e inadmissível.

Adeus, até ao meu regresso… (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Não carregue no botão

Ricardo Marques | Expresso

Há um vídeo antigo de apanhados com o qual já se deve ter cruzado na Internet. Um canal brasileiro decidiu preparar a 'pegadinha' do ano e encheu uma praça de figurantes, novos e velhos, como se fosse só mais um dia na terra da alegria. No meio do jardim, debaixo de uma enorme seta vermelha, colocaram um botão e uma mensagem: não 'aperte' no botão. Irresistível, claro.

Quem passa, e não conhece a história, talvez pense que nada de mal virá ao mundo se carregar no tal botão. O aviso, colocado à vista de todos e perante o desinteresse geral, funciona em sentido oposto para o alvo. É um convite a fazer o contrário daquilo que deve ser feito, um irresistível abismo para o qual a pessoa avança.

Mas mal o incauto transeunte carrega no tal botão todos à sua volta caem por terra, como se estivessem desmaiados ou pior. A praça cheia de vida fica mergulhada em silêncio, num cenário pós-apocalíptico.

É tal e qual a história do incêndio em Pedrógão, mas ao contrário. Ontem, o jornal Público carregou no botão ao revelar as conclusões de uma 'esquecida' auditoria interna da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e o assunto, que parecia adormecido ou pior – ainda que seja difícil esquecê-lo –, ganhou vida própria, com gente a correr e a falar de todos os lados.

Compreende-se. Era difícil imaginar que a história de Pedrógão pudesse ficar pior, mas a realidade é mesmo assim e sabemos agora que desapareceram provas e documentos cruciais para perceber o que correu mal nos primeiros momentos do combate ao fogo e, acima de tudo e com sublinhado meu, para prevenir que os erros se repitam. É isso que está no tal relatório da ANPC que ninguém conhecia. Pode ver aqui o que pensam os bombeiros do estranho desaparecimento.

Eduardo Cabrita, o ministro da Administração Interna, apressou-se a garantir, desde Marraquexe onde está em visita oficial, que o Governo não escondeu qualquer relatório e que, ao fim de quase um ano, o conteúdo do documento, que terá sido enviado ao Ministério Público em novembro, só não era conhecido por o mesmo se encontrar em "segredo de justiça".

Ao final da noite, o gabinete do ministro enviou uma nota às redações a dizer que não mas que sim ou que sim mas que não. "O governo não vê inconveniente na publicitaçãodo relatório, o que transmitiu à senhora procuradora-geral da República, de modo a que seja avaliado o levantamento do segredo de justiça", garantiu o MAI.

O PSD e o CDS 'atiraram-se' ao Governo, com acusações de"ocultação" da auditoria e, através de uma nota da Procuradoria Geral da República acerca do processo em segredo de justiça, soube-se que em vez de dois, o processo judicial relativo ao incêndio de Pedrogão tem, afinal, seis arguidos.

O Diário de Notícias escreve hoje que a vinda de peritos estrangeiros provoca tensão na Protecção Civil - são três espanhóis que vão aconselhar as autoridades portuguesas na prevenção e combate aos incêndios. "Um atestado de incompetência", diz a ANPC.

Às 14h00, o general Mourato Nunes, presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil, vai estar no Parlamento, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, para falar sobre a preparação, os meios e as respostas previstas para a fase mais crítica de incêndios.

Veremos como vai estar a praça ao fim da tarde.

OUTRAS NOTÍCIAS

Antes, convém espreitar quais os assuntos de que, provavelmente, vai ouvir falar durante este 3 de maio de 2018.

Este é uma aposta segura. A comissão parlamentar anunciada para o caso Manuel Pinho está a caminho de evoluir para uma comissão parlamentar com o objetivo de analisar a questão das rendas da energia, recuando até ao inicio dos tempos - por proposta do Bloco de Esquerda, que aqui há uns meses, a propósito da polémica Domingues, não quis ouvir os antigos administradores da Caixa Geral de Depósitos. Ao final do dia, o PCP acrescentou ainda mais matéria.

Carlos César, o deputado açoriano que passou incólume, quase em primeira classe, pelo caso das viagens e reembolsos da Assembleia da República, e que ainda há uns meses recusava comentar processos judiciais, está agora enraivecido e revoltado com Manuel Pinho e, parece, com José Sócrates. O silêncio do ex-ministro está a "revoltar" o PS e João Galamba, ontem na SIC Notícias, deu quase como certo que Manuel Pinho recebeu dinheiro do BES, além de dizer que Sócrates envergonha o PS.

Pinho vai mesmo ser ouvido no Parlamento – ainda que, caso a audição surja antes do depoimento no Ministério Público, provavelmente fique calado. Palavra do seu advogado, Ricardo Sá Fernandes.

Quem já falou foi António Mexia. E o homem forte da EDP garante que a empresa nada tem a ver com o caso de Manuel Pinho, esse homem (cada vez mais) sozinho. A Visão estimaque o ex-ministro terá recebido cerca de 800 mil eurosenquanto estava no Governo e revela que Pinho vendeu, nos últimos meses, a sua casa em Campo de Ourique. "O saco de Pinho" é a manchete.

Rui Rio - que voltou a garantir não estar interessado em campeonatos mediáticos e lembrou que Manuel Sozinho, perdão, Manuel Pinho tem direito à presunção de inocência - pediu há dias ao Governo que divulgasse a lista dos maiores devedores da Caixa Geral de Depósitos. O Expresso dá uma ajuda.

Nos jornais de hoje, o assunto Pinho / BES domina as manchetes. O Correio da Manhã escreve "Pinho no Governo com promessa de reforma"; o DN confirma que "Governo de Costa também entra no inquérito" e o i pergunta "Qual a razão para a AR ter achado Pinho o mau e Sócrates o bom?" A Sábado revela "as ligações perigosas" do ex-ministro.

Portugal não está satisfeito com a proposta da Comissão Europeia para o Orçamento Comunitário pós 2020 (pós-Brexit, leia-se). Augusto Santos Silva, considerou-a um “mau ponto de partida”, por “ser muito insuficiente” o nível de ambição em matéria de recursos. Marcelo Rebelo de Sousa, após uma manhã no novo Bulhão provisório, disse mais ou menos o mesmo.

Eutanásia debatida a 29 de maio no Parlamento. A data foi acordada ontem, após a conferência de líderes parlamentares. PS e PSD já anunciaram liberdade de voto para os seus deputados.

Até lá, e como pode ver nesta peça da SIC, ainda muita água vai correr por baixo das nossas pontes. Tome nota de todas as greves marcadas para as próximas semanas. O vídeo começa precisamente com a paralisação no sector da saúde, que termina hoje.

Soldados portugueses na República Centro Africana. Ontem à tarde, a Rádio Renascença conseguiu falar com o segundo comandante da força portuguesa que integra a Minusca, a missão da ONU no terreno. Aquela hora, os paraquedistas procuravam garantir a segurança de uma igreja em Bangui – a igreja de Nossa Senhora de Fátima - depois de um ataque que provocou a morte de 20 pessoas, incluindo o padre que celebrava missa. O som não é o melhor, mas o assunto é da máxima importância e é provável que haja desenvolvimentos.

A fábrica da antiga Triumph vai a leilão por 5,7 milhões de euros. À venda, à procura da melhor oferta, estão as instalações, a frota e os equipamentos da Triumph, que está insolvente. A ideia, adianta a Lusa, é vender os bens no conjunto, mas que, caso isso não seja possível, a venda será feita separando o imóvel dos bens móveis, que serão vendidos lote a lote.

Arrancou ontem, ao final da tarde, o protesto que junta militares e polícias numa vigília diante do Palácio de Belém. Começou assim, mas não é certo como vai acabar. Ou quando...

Segue-se o bloco desportivo, e dentro de minutos a atualidade internacional

Bruno de Carvalho, o sportbilly presidencial, estrela maior do banco de suplentes, qualquer que seja a modalidade, vai falhar o derby com o Benfica. O presidente do Sporting foi castigado por palavras dirigidas ao presidente do Braga. Mas, como pode ler na Tribuna, claro que nada é tão simples como parece e o castigo ainda vai dar que falar.

O Liverpool sofreu ontem a melhor derrota da época, ao perder em Roma por 4-2 e, desse modo, garantir a presença na final da Liga dos Campeões. Dois dos melhores jogadores da atualidade, Ronaldo e Salah, frente a frente (há um mês, quando Portugal defrontou o Egipto, foi CR7 a evitar a derrota...).Jogam a 26 de maio, em Kiev, na Ucrânia.

Hoje há Liga Europa.

Deixo aqui mais uma história, para ler com calma, sobre Anthony Davis, uma das estrelas da atual NBA. Ou, dito de outra forma, aproveite para perceber como se escreve bem sobre basquetebol. Parece uma tendência, mas não é. Os playoff estão aí e, além de grandes jogadores e grandes jogos, é a melhor altura do ano para descobrir as grandes histórias.

E agora o noticiário Internacional

Depois da Guiné-Equatorial, essa estranha democracia do mundo lusófono, agora é a França a aproximar-se da CPLP, tendo Paris requerido o estatuto de observador associado. O ministro dos Negócios Estrangeiro, Augusto Santos Silva, ontem à noite na SIC Notícias, disse estar tranquilo com a movimentação francesa.

Lembra-se da Cambridge Analytica? A tal empresa que usou dados do Facebook e que terá prestado apoio à candidatura presidencial de Donald Trump? Essa mesmo. Vai fechar, como conta o The Wall Street Journal.

Por falar em Trump... O presidente dos Estados Unidos da América quer contratar um dos advogados que, em 1998, defenderam o então presidente Bill Clinton, marido de Hillary Clinton, que Trump derrotou, no processo de impeachment. Para ler aqui. Ao mesmo tempo, esta história de ligações da administração à Rússia está a crescer e as opçõesdo presidente parecem cada vez mais difíceis.

António Guterres, em entrevista à BBC, pede a Trump que não abandone o acordo nuclear com o Irão.

Uma investigação do The New York Times revela os meandros do negócio dos opiáceos e como estes medicamentos são responsáveis por uma das maiores crises sociais nos Estados Unidos da América.

Foi notícia há dias. Os dois homens negros detidos numa loja da Starbucks, sem qualquer motivo, chegaram a acordo com a empresa (que vai fechar todas as lojas a 29 de maio para que os empregados recebam formação sobre discriminação) e a cidade de Filadélfia. Desistem das queixas e vão receber 1 dólar cada um - e a cidade vai doar 200 mil dólares a um programa de apoio às escolas públicas.

Os ingleses vão hoje a votos - as eleições são locais mas, como sempre, vão ter uma leitura nacional.

A Arménia está paralisada devido a uma grave crise política.

E se pela hora de almoço começar a ouvir falar de corrupção, não se assuste. O organismo anticorrupção do Conselho da Europa ( GRECO) publica o seu relatório anual, que analisa a ação de 49 países contra a corrupção em 2017.

Em Espanha, a notícia do dia é o fim da ETA. O El Mundo escreve que a organização terrorista anunciou a dissolução, mas sem pedir perdão a todas as vítimas. Isto porque, há duas semanas, em comunicado, a ETA pediu perdão às vítimas que não tinham "participação direta" no conflito. O governo espanhol, por seu lado, já garantiu que não haverá perdão.

Na Síria, que há duas semanas ameaçava tornar-se o epicentro daterceira guerra mundial, a guerra não parou. E, de acordo com a Sky News, que cita o líder do Hezzbollah, a tendência é para piorar bastante antes de melhorar.

Da Venezuela vem a subida do salário mínimo: mais 95%. Ou seja, atinge os 2 milhões quinhentos e cinquenta e cinco mil e quinhentos bolívares. Qualquer coisa como 31 euros, o suficiente para comprar um quilo de carne num talho em Caracas.

O QUE ANDO A LER

Comprei há dias um livro capaz de reconciliar o mais desanimado aluno do secundário com essa mal-amada disciplina que é a filosofia. Chama-se "Uma viagem pela Filosofia em 101 episódios", de Nicholas Rescher (Gradiva).

Não faltam clássicos como o paradoxo de Zenão - que tanto jeito tem dado em artigos de opinião sobre a offshore de Manuel Pinho, que tem uma conta chamada tartaruga – ou o paradoxo de Condorcet, sobre as maiorias em democracia. "Apesar das suas vantagens, a democracia eleitoral não é uma cura universal - nem sequer em teoria, quando mais na prática", escreve Rescher.

Mas o que mais importa para hoje está na página 58, sob o título "O anel de Giges de Platão". Ora, escreve Platão em "A República", um pastor descobriu que, ao rodar o anel que tinha no dedo, ficava invisível, o que lhe permitia tudo fazer em total impunidade. De tal modo que, após uma série de diatribes, se tornou senhor de um império - sem nunca deixar de ser um pastor capaz do pior.

Segundo Rescher, o desafio é o seguinte: "que individuo real poderia resistir a uma oportunidade para obter ilicitamente os muitos bens deste mundo – ou que o individuo sensato o faria – se tivesse a certeza de se safar sem problemas?"

E qual é a lição? "As ações que executamos têm um duplo aspeto. Irão influenciar como o mundo nos vê - que é algo que talvez consigamos manipular. Mas quer queiramos quer não são também fatores determinantes da nossa própria constituição, servindo para fazer de nós o género de pessoa que de facto somos".

Seremos a pessoa que carrega no botão?

A informação segue a qualquer hora no site do Expresso e às seis da tarde com o Expresso Diário.

Parece que o calor está a chegar. A passo de tartaruga, mas a chegar.

Tenha uma excelente quinta-feira.

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