terça-feira, 15 de maio de 2018

CASSINGA, OU UM ABISMO ENTRE CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE


CUBA CULTIVA UMA MEMÓRIA QUE É UM PATRIMÓNIO IMPRESCINDÍVEL PARA TODA A HUMANIDADE E ESSA SAGA ESTÁ A MOBILIZAR OUTRAS NAÇÕES, OUTROS ESTADOS E OUTROS POVOS, NO SENTIDO DE SE CONTINUAR O RUMO CIVILIZACIONAL QUE ADVÉM DA LUTA ARMADA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL DE CADA UM DELES!

Unindo-me à corrente que lembra a memória do 40º aniversário do hediondo massacre de Cassinga (“Operation Reindeer”).

Martinho Júnior | Luanda 

1- Todos os comentários dos que serviram o “apartheid” se limitam, no espaço e no tempo, à bravata guerreira da “Operation Reindeer”, não conseguindo ganhar dimensão para além dessa evocação obscena, saudosista e retrógrada, dos cenários sangrentos que então provocaram.

Para os servidores do “apartheid” não havia luta, por que tal como para os colonialistas portugueses e rodesianos, na internacional fascista que se havia implantado na África Austral usurpando o espaço sócio-político, económico, institucional e de relacionamentos internacionais, jamais poderia haver luta, mas guerra “contra a subversão comunista”, exploração, racismo e ódio, sem limites, sem cartel e sem fronteiras, na espectativa que seu poder se mantivesse até ao infinito e a partir desse mesmo exercício sangrento!

Pendiam sobre as cabeças dos combatentes da liberdade seus aviões e suas bombas, inaugurações de Guernica, suas tropas de assalto, sua bomba atómica que impunemente surgia à revelia de qualquer tratado e esgueirando-se pendurada ao guarda-chuva do império da hegemonia unipolar e seus vassalos!

Por isso muitas vezes os “feitos guerreiros” são empolados em si mesmos, com relatos agarrados a uma árvore apodrecida e incapaz de ganhar o mínimo vislumbre em relação à floresta, incapaz de coerência histórica, muito menos de solidariedade, de internacionalismo, ou de dignidade, conceitos desconhecidos e vilipendiados por uma cruzada infecunda, com essa mesma lógica incapaz de por si conseguir-se fazer sair de suas próprias trevas, do seu ignóbil obscurantismo!

Esse é o retrato fiel, ainda que incompleto, da barbárie que levou ao massacre de Cassinga e leva hoje a uma disputa inqualificável, aproveitada pelos meios de difusão que persistem em cultivar, em pleno século XXI, o passado de trevas que tentam ainda, por inércia, fazer prevalecer, aproveitando o esteio duma globalização inebriada pelo capitalismo neoliberal e insuflada pelas novas tecnologias comunicacionais!

Instrumentos, para que tal aconteça, não faltam ao poder dominante da hegemonia unipolar e em conformidade com a visão grotesca do império.

Corroborando a tendência internacional, a Alemanha tarda oficialmente em reconhecer o genocídio herero e namaqua, ocorrido entre 1904 e 1907 no então Sudoeste Africano, procurando esquivar-se das reparações.

O processo dialético que advém do passado, chega aos nossos dias e continuará ainda no futuro, por que agora o que é da civilização luta pela sobrevivência da espécie humana e pelo respeito que a Mãe Terra merece, mas a barbárie não terá, para além das tumbas individuais de cada um de seus mentores, monumento algum em memória de seus irresponsáveis actos, quedando-se como um resíduo feudal face à imprescindível lógica com sentido de vida que já não pode ter outra alternativa senão o contínuo empecilho da afronta da barbárie!

2- Para Angola, para Cuba, para a Namíbia e para tantos progressistas de todo o mundo cujas fileiras tendem inexoravelmente a engrossar, neste caso reunida a civilização em torno da SWAPO, a luta era contra a internacional fascista que atormentava a África Austral e era uma afronta para África e para toda a humanidade…

… e lutar implicava reunir forças em todas as frentes, não só as militares, em reforço do Movimento de Libertação que seguia a trilha apontada pelo Presidente Agostinho Neto… “na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul está a continuação da nossa luta”, lembram-se?!


3- Quando ocorreu o massacre, foi o 2º Grupo Tático de Cuba que acorreu mais rapidamente ao local do assalto ao campo de refugiados, à custa do sacrifício de 16 combatentes mortos e algumas dezenas de feridos e foi essa unidade, estacionada então nas minas de ferro em Tchamutete, que fez o primeiro rescaldo do massacre, quando ainda havia moribundos e feridos dispersos e à mercê dos assassinos, conforme aliás os depoimentos individuais de alguns dos sobreviventes.

Desde esse momento, Cuba, Namíbia e Angola deram continuidade à luta:

Sepultaram-se os mortos e cuidaram-se dos feridos;

Resgataram-se para a vida os que, directa ou indirectamente, viveram os momentos trágicos do pérfido ataque, ou seja, algumas centenas de crianças, mulheres e velhos refugiados, traumatizados, atordoados e meio confusos;

Reiniciou-se a implantação em novos moldes dos campos de refugiados namibianos, de forma a encontrarem-se soluções de estabilidade e de equilíbrio, integrando-os no contexto angolano que então se propiciava;

Levaram-se para Cuba as crianças em idade escolar, a fim de ganharem capacidades para um dia servirem com competência, honradez e dignidade o seu próprio povo mártir e heróico, quando chegasse a hora da independência e da soberania tão desejada ao longo das várias gerações que em vida transitaram ao longo do século XX e princípios do XXI;

Cultivou-se a memória seguindo sem equívocos essa ampla trilha de luta da qual, 40 anos depois, emerge a luz de civilização que se destaca das trevas do colonialismo, do “apartheid”, de suas sequelas e das bravatas guerreiras de assassinos que esgaravatam a história sem pensar nas consequências de seus próprios actos, tolhidos pelas filosofias, ideologias e práticas, esgotadas nos seus próprios labirintos tenebrosos!


4- Cassinga irá assim e justamente surgir como um manancial de civilização inestimavelmente inspirador:

Erguer-se-á um monumento que lembrará às gerações vindouras especialmente da Namíbia, de Angola e de Cuba, aquele momento trágico que contribuiu para a viragem que se adivinhava e se impunha;

Reconstruir-se-á a localidade, conferindo-lhe toda a dignidade histórica em relação a todos os povos da África Austral, de África e de todo o mundo;

Confluirá como uma barreira intransponível a amizade entre os povos da Namíbia, de Cuba, de Angola, assim como de todos os estados, nações, povos e movimentos sociais progressistas que tanto têm a memorizar em proveito das gerações vindouras e de pátrias cuja civilização se identifica com as mais nobres aspirações de toda a humanidade;

Reverterá sempre para a luta pela educação e a saúde uma parte importante desse esforço comum, por que o subdesenvolvimento crónico dos africanos, latino-americanos e asiáticos, impõea tenacidade e a constância dessa luta;

Inspirará outras comemorações da luta que terá hoje e no futuro sequência, como por exemplo o ataque na barragem de Calueque, que um dia pôs fim à guerra da barbárie e por isso será outro ponto de confluência civilizacional dos povos da África Austral, de Cuba e de todo o mundo!...

E sabem que mais?

Em nome da civilização e contra a barbárie, A LUTA CONTINUA, por que PÁTRIA ES HUMANIDAD!

 “Tenga usted sensible lector por vez primera, los nombres de los internacionalistas cubanos caídos en Cassinga.

Para ellos, ¡Gloria!

1.     Antolín García Morgado.
2.     Eusebio González Hernández.
3.     Pedro Valdivia Paz.
4.     Ricardo Rey González Figueredo.
5.     Francisco Seguí Rodríguez.
6.     José Róger Méndes Román.
7.     Jorge Alberto Rodríguez Legón.
8.     Roberto Ambrosio Zamora Machado.
9.     Alfredo Varea Franco.
10.                       Basilio Caraballo Domínguez
11.                       Raúl Zalgado Espinosa.
12.                       Félix A. Cordero Barbeira
13.                       Redento García Iglesias.
14.                       Raúl Fernández Acosta.
15.                       Jorge L. Mendosa Tamayo.
16.                       Modesto Fernández Pena.


Martinho Júnior | Luanda, 11 de Maio de 2018


Imagens:
. A velha placa (conforme foto em tempo de guerra) numa das estradas à entrada do município, numa localidade que será revitalizada e integrará um monumento às vítimas do massacre de há 40 anos;
. Memória estatística das vítimas do massacre de Cassinga;
. Os Presidentes de Angola e da Namíbia irmanados numa ampla causa comum: a paz e uma longa luta contra o subdesenvolvimento;
. A nova estação do CFM na Jamba mineira, próximo de Cassinga;
. Uma foto de minha autoria do porto mineiro do Saco do Giraúl, tirada a 12 de Dezembro de 2015.

Transferências ilícitas: Banco Nacional de Angola já tem os nomes


Dos nomes do relatório entregue pela "Mãos Livres" constam "altas figuras" do anterior Governo, entre elas, o ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos e o ex-vice-Presidente, Manuel Vicente.

A história do combate à corrupção e repatriamento de capital continua a merecer a atenção dos angolanos, sobretudo de políticos e de organizações da sociedade civil, nomeadamente a Associação "Mãos Livres".

Há menos de uma semana, Marcy Lopes, Secretário do Presidente da República para os Assuntos Políticos, Constitucionais e Parlamentares, afirmou, na Assembleia Nacional, no âmbito da discussão na especialidade da proposta de Lei do Repatriamento de Recursos Financeiros Domiciliados no Exterior do país, que o Governo tem dificuldades em identificar a quantidade de dinheiro existente no exterior. Face à esta declaração, a associação angolana de defesa dos direitos humanos "Mãos Livres" respondeu com um relatório que apresenta nomes de presumíveis infratores, imagens, contas bancárias, incluindo as transações feitas.

Segundo Salvador Freire, advogado e presidente da "Mãos Livres" "foi dito pelo próprio Governo angolano de que tem dificuldades para localizar as contas bancárias, e como nós associação Mãos Livres, temos feito este trabalho de investigação, com determinadas organizações não só nacionais, mas também internacionais, decidimos dar a nossa contribuição, dispensando relatórios que vêm com todos os dados importantes, onde constam as contas bancárias, os valores retirados e, naturalmente, a transacção que foi feita dentro deste processo de corrupção".

Primeiro relatório

Para Freire, trata-se do primeiro relatório tendo acrescentado que a associação que preside "está disposta a dar mais outras contribuições, caso o Governo angolano esteja interessado. Há envolvimento de personalidade, de figuras de proa, e como tal, é necessário que estas denúncias funcionem. É necessário que as autoridades prestem atenção às organizações da sociedade civil, que têm trabalhado com outras organizações internacionais, que sabem, de facto, como funciona este processo de corrupção feito por angolanos".

Dos nomes do relatório constam "altas figuras" do anterior Governo angolano, entre elas, o ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, o ex-vice-Presidente, Manuel Vicente, o ex-Ministro das Finanças, José Pedro de Morais ou o antigo chefe da Casa de Segurança do PR angolano, general Hélder Vieira Dias "Kopelipa".

Colaboração com o Governo

"Mãos Livres" está disposta a colaborar com o Governo angolano porque acredita na presidência de João Lourenço, mas que, irá pensar diferente, se as autoridades ignorarem os dados do relatório.

"Há todo o interesse de salvaguardar nomes de determinadas pessoas. Mas queremos alertar o próprio Governo angolano, se tem dificuldades em localizar estas pessoas que estão envolvidas em atos ilícitos, nós vamos apresentar nomes e provas. E o próprio Governo, com estas provas que tem, é meio caminho andado para identificar outras pessoas corruptas também.

É um desafio que fazemos ao próprio Governo angolano, e vamos ver qual será a reação", sublinha Salvador Freire para em seguida concluir que "se, de facto, o Governo não conseguir chamar estas pessoas, porque estão ligadas ao próprio partido que governa o país, como aconteceu no passado com a Procuradoria Geral da República anterior que quase não via absolutamente nada, então vamos dizer que o Governo não tem capacidade para combater a corrupção. Isto vai demonstrar que os métodos do passado são os mesmos de hoje, apenas com rosto diferente. Mas acredito que, neste novo Governo, há uma boa vontade, e vamos esperar que uma decisão seja tomada", concluiu.O relatório foi entregue esta segunda-feira (14.05) ao Banco Nacional de Angola, amanhã será a vez do Ministério das Finanças tomar contacto com o mesmo e, na quinta-feira, será a Procuradoria-Geral da República.

A DW África tentou falar com o Secretário do Presidente da República para os Assuntos Políticos, Constitucionais e Parlamentares, mas não obteve êxito.

Azevedo Pacheco | Deutsche Welle

RENAMO depois de Dhlakama: Coesão ou cisões?


RENAMO sem Dhlakama é uma oportunidade para o desenvolvimento da instituição RENAMO, defende analista Calton Cadeado. E para o analista Eduardo Sitói o partido vai sobreviver sem o seu líder, haverá transição pacífica.

Afonso Dhlakama e a RENAMO quase se confundiam. Ele personificava o maior partido da oposição e de certa forma centralizava todas as decisões importantes. Contribuíram para isso, entre outros fatores, a sua enorme popularidade, o seu jeito simples de fazer política e o carisma. Resumindo: era o líder.

Hoje a RENAMO vê-se sem o seu guia e a pergunta que se coloca é: qual é o futuro da RENAMO sem Afonso Dhlakama? Convidamos o analista político do ISRI, Istituto Superior de Relações Internacionais, Calton Cadeado a vaticinar: "Vejo dois cenários, um ótimo e um péssimo, que é o principal. Mas também há um cenário moderado que se pode equacionar. Sinto que a RENAMO sem Afonso Dhlakama é uma oportunidade para o desenvolvimento da instituição RENAMO, mas também pode ser uma ameaça para a sobrevivência da própria RENAMO como instituição."

E o académico argumenta "que enquanto Afonso Dhlakama esteve vivo e liderou o partido o que se constatou é que se investiu mais na pessoa do que necessariamente na instituição RENAMO. Mas esse otimismo pode ser dificultado pelas lutas de poder lá dentro, está claro que a ala militar é que vai determinar o rumo do partido."

Primeira prova de fogo concluída

Receava-se uma luta renhida pelo poder no seio da RENAMO logo depois da morte de Dhlakama. E os sinais disso ainda não vieram a público, mesmo que esteja a acontecer. Era a primeira prova de fogo do maior partido da oposição sem o seu líder.

E a forma como os membros geriram a transição até agora é visto como um bom indicador para o especialista em ciências políticas Eduardo Sitói. Ele acredita na manutenção da coesão: "Sim, se tomarmos em conta as primeiras indicações sobre o que sucede depois [da morte] do líder trata-se de uma transição pacífica. Creio que as primeiras indicações são de que a RENAMO vai conseguir sobreviver à morte do seu líder."

Mas Sitói reconhece que "não vai ser fácil, mas vão conseguir. Não vai ser fácil porque o seu líder é essencialmente político e militar e portanto, o próximo que vier tem de ter a capacidade de liderar a parte militar e também a parte civil."

Risco de cisões entre as alas política e militar?

O maior trunfo da RENAMO é a força das armas e o seu quadro militar muito experiente. E esse é o seu maior diferencial se comparado com o resto da oposição. Portanto, a sua sobrevivência ainda depende da manutenção da ala militar, pelo menos enquanto não alcançar os consensos que deseja junto do Governo da FRELIMO. Mas há também uma RENAMO mais intelectual e urbana que terá as suas ambições.

Será que ela está fadada a eterna submissão a ala militar ou haverá risco de cisões a médio prazo?

"Dentro do cenário péssimo há essa possibilidade de algumas pessoas saírem da RENAMO. Já tivemos essa situação antes, como o Manuel de Araújo e Davis Simango que foi criar o Movimento Democrático de Moçambique (MDM). A RENAMO tem de ser forte para que essas pessoas permaneçam no poder dentro da RENAMO e não haja essa cisão, se isso acontecesse agora seria mau, porque é um momento de fragilização da RENAMO e que faz parte dos aspetos que estou a colocar como ameaça a sobrevivência do partido", responde Calton Cadeado.

Posição diferente tem Eduardo Sitói. Para o cientista político, o atual presidente interino do maior partido da oposição, Ossufo Momade, que agrega os valores das duas alas, é o factor que pode garantir a coesão.

"Neste momento a indicação é que esta é a figura que tem a maior probablidade de juntar as duas alas", acredita Sitói.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

A catástrofe do apartheid israelita


Mariana Mortágua | Jornal de Notícias | opinião

Os 70 anos da criação do Estado de Israel são também os 70 anos da expulsão de milhões de árabes palestinianos das suas terras. São cinco milhões de refugiados, dos quais quase dois milhões vivem em campos precários, amontoados em pequenas faixas de território, emparedados pelos muros que Israel construiu.

As comemorações israelitas, que culminaram com a instalação ilegal da embaixada dos EUA em Jerusalém, foram marcadas por ataques aéreos a Gaza, e pelo assassinato de dezenas de civis palestinianos desarmados, entre eles crianças, como assinalou o coordenador especial da ONU. Só ontem foram mortas mais de meia centena de pessoas e milhares ficaram feridas. Benjamim Netanyahu, primeiro-ministro israelita, alega legítima defesa.

Sempre em nome da sua defesa, Israel já ocupou 60% do território palestiniano definido em 1967, violando as fronteiras reconhecidas pela ONU e pelos EUA de Obama e que delimitam o Estado da Palestina. Foi também "para se defender" que emparedou os refugiados palestinianos em guetos que são verdadeiras prisões a céu aberto, em Gaza e na Cisjordânia.

Em Gaza vivem 5046 palestinianos por quilómetro quadrado. Não podem sair, porque todas as fronteiras estão fechadas e são controlados pelo Exército israelita, pelos mesmos soldados que vimos num vídeo recente a executar um homem palestiniano desarmado, escolhido ao acaso. Em nome da sua defesa, Israel mantém um boicote a todo o território, onde vivem dois milhões de pessoas. Tudo é racionado, da água ao combustível e, segundo a ONU, 80% da população sobrevive dependente de ajuda humanitária. Foi uma dessas passagens humanitárias que Israel decidiu fechar esta semana, por alegadas questões de segurança.

Na Cisjordânia está o muro que inspirou Trump. Foi Israel que o construiu, 700 quilómetros de cimento e arame farpado, parte dele localizado em território palestiniano. Israel recusa-se a cumprir a sentença do Tribunal de Justiça de Haia que o declarou ilegal e ordenou a sua destruição em 2004. O muro - a que Israel chama "barreira de segurança" - cercou cidades inteiras, asfixiadas economicamente, e eliminou a liberdade de circulação dos palestinianos. Para se deslocarem, são obrigados a passar por mais de 500 chekpoints controlados por soldados israelitas fortemente armados. O acesso a rodovias, a infraestruturas e a serviços básicos é limitado para os palestinianos da Cisjordânia. A humilhação é total.

É preciso ser muito hipócrita para não reconhecer a completa desproporção entre o Estado de Israel e a Palestina. Em nome da sua defesa, Israel invadiu e expulsou, construiu muros, segregou, humilhou e violou a lei internacional. Mas isso não é defesa, é agressão, é ataque, é ocupação, é apartheid.

Em 1948, Israel declarou a criação do seu país em terras da Palestina. O que para os israelitas é comemorado como "a Libertação", para os palestinianos é conhecido como Al-Nakba, "A catástrofe", e ela parece não ter fim. Depois da ocupação do território onde sempre viveram, são eles o povo perseguido e segregado.

* Deputada do BE

GAZA | Exército assassino mata 60 enquanto o diabo aliado esfrega o olho


“Dispararam contra um duplo amputado, que ameaça representa um amputado?”: ONU lamenta comportamento das tropas israelitas

Dia da inauguração da embaixada norte americana em Jerusalém ficou marcado por dezenas de mortos: israelitas abateram 60 palestinianos em Gaza

Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos lamentou esta terça-feira que qualquer manifestante palestiniano em Gaza "possa ser morto" pelas forças israelitas, represente ou não uma ameaça iminente.

"Parece que qualquer um pode ser morto ou ferido, mulheres, crianças, repórteres, pessoal de socorro, se se aproximam (...) da barreira (de segurança). Dispararam contra um duplo amputado, que ameaça representa um amputado?", questionou um porta-voz do Alto Comissariado, Rupert Colville, em declarações aos jornalistas em Genebra.

Colville sublinhou que "a utilização da força letal deve ser o último recurso, não o primeiro, e deve responder a uma ameaça para a vida. Tentar saltar uma vedação ou danificá-la ou lançar 'cocktails Molotov' não é claramente uma ameaça de morte".

"Não é aceitável dizer: trata-se do Hamas, por isso não há problema", adiantou, rejeitando a justificação apresentada por Israel, que acusa o movimento radical Hamas, que controla Gaza, de estar na origem da manifestação e afirma que não faz mais do que defender o seu território.

Pelo menos 60 palestinianos foram mortos por tropas israelitas na segunda-feira em confrontos junto à barreira de segurança que separa a faixa de Gaza do território de Israel. Mais de mil palestinianos foram feridos a tiro.

Com aquelas mortes aumenta para mais de 100 o número de palestinianos mortos na faixa de Gaza desde o início, a 30 de março, de um movimento de contestação designado "marcha de retorno", que reivindica o regresso dos refugiados palestinianos às terras de onde foram expulsos ou fugiram após a criação do Estado de Israel, em 1948.

Segunda-feira, dia da inauguração da embaixada norte-americana em Jerusalém, foi também o dia do conflito israelo-palestiniano mais sangrento desde a guerra do verão de 2014 no enclave palestiniano.

O alto comissário dos Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra'ad Al Hussein, declarou por seu turno que "os responsáveis por violações flagrantes dos direitos humanos devem ser responsabilizados".

No passado dia 27, Zeid Ra'ad Al Hussein instou Israel a abster-se de usar força excessiva contra os manifestantes palestinianos em Gaza, considerando "difícil ver como uns pneus queimados ou 'cocktails Molotov' lançados de uma distância significativa contra forças de segurança altamente protegidas e em posições de defesa podem ser considerados uma ameaça".

Lusa | em Expresso | Foto: AFP CONTRIBUTOR/GETTY IMAGES

Tudo em família


António José Gouveia* | Jornal de Notícias | opinião

Enquanto no sábado a "galinha" Netta, de Israel, ganhava em Lisboa a Eurovisão com a canção Toy, Benjamin Netanyahu começava a semana de trabalho - que para os judeus se inicia ao domingo - saudando dois grandes acontecimentos para o país: a possibilidade de Israel organizar no próximo ano o festival europeu em plena Jerusalém e a inauguração da embaixada dos Estados Unidos na cidade santa.

Não foi inocente a saudação de Benjamin Netanyahu na entrada da reunião do Governo. É que a Europa, com a exceção da Áustria, Hungria, Roménia e República Checa, não está com Donald Trump na decisão de mudar a embaixada americana para Jerusalém mas o país acabou por levar um grande evento europeu de 300 milhões de espectadores de Lisboa para a "nova" capital israelita.

O mais grave é que a decisão de Trump já está a fazer graves estragos, muito antes da inauguração da polémica embaixada. Até este momento já são mais de 90 as mortes desde que se iniciaram os protestos em Gaza, das quais 55 ontem. O caricato é que a figura de Trump surge como apaziguadora na Ásia - já o afloraram como candidato a Prémio Nobel da Paz - ao promover uma maior abertura com a Coreia do Norte e, ao mesmo tempo, desafia o Mundo muçulmano quando cede aos desejos de Israel em ter Jerusalém como capital.

Esta cedência está intimamente ligada à sua família, tal como em várias áreas da sua governação. Não foi por acaso que mandou Ivanka Trump inaugurar a embaixada em Jerusalém. A filha é casada com Jared Kushner, o principal conselheiro de Donald para a política externa. Mas Kushner, para além de discreto, bem-falante, é também neto de sobreviventes do Holocausto que fugiram da Polónia durante a II Guerra Mundial e chegaram aos Estados Unidos em 1949. O sogro do presidente dos EUA é um judeu ortodoxo que leva a religião muito a sério. Aliás, Ivanka teve de se converter ao judaísmo antes de se casar com Kushner em 2009. Nunca Israel teve um aliado tão poderoso junto da Casa Branca.

"Que haja paz. Que Deus abençoe esta embaixada". Foi assim que Donald Trump terminou a sua mensagem de vídeo divulgada na inauguração. Desde essa mensagem, há mais de 90 mortos, cerca de 2500 feridos - todos palestinianos - e a Força Aérea israelita atacou o centro de treino militar do Hamas em Gaza. Os líderes palestinianos recusam-se a negociar tendo como mediador os Estados Unidos e os líderes europeus condenaram a violência em Gaza. Tudo em família.

*Editor-executivo

Na foto: O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o presidente dos EUA, Donald Trump, andam pela Casa Branca, seguidos por Jared Kushner e Ivanka Trump, 15 de fevereiro de 2017. The Times of Israel/ Shmulik Armani

Sporting | VÍBORAS ATACAM FEROZMENTE O LEÃO



Mário Motta, Lisboa

O termo pode ser justificável e dá o título acima. Na realidade tudo indicia que há víboras a atacar o leão. Ontem a confusão foi mais que muita. Primeiro foi propalado na comunicação social que Jorge Jesus estava suspenso, por isso afastado do encontro e respetiva preparação para o jogo do final da Taça de Portugal que se realiza no fim-de-semana. Depois surgiu o complemento de que havia jogadores que também não alinhariam na final da Taça de Portugal, solidários com o treinador Jesus. Isto para não entrar por toda a equipa técnica suspensa e também a equipa médica do SC de Portugal. Afinal era tudo mentira. A notícia está em baixo e Jesus “orienta a equipa na final da Taça”.

Como surgiu a notícia falsa não fazemos por aqui ideia. Que ela foi corrupio de todos os órgãos de comunicação social em Portugal (pelo menos) foi facto. Estranhamente os jornalistas não apuraram factos e alimentaram a tal “fake news”. O que para muitos desses irresponsáveis e maus profissionais não é novidade. É como anda e existe atualmente o jornalismo. Vão uns atrás dos outros, constroem cabeçalhos e aberturas de noticiários à compita e é ver quem vende melhor o peixe podre que tantas vezes não  dásequer um terço de lauda.

Sendo assim cabe perfeitamente considerar que existem por aí víboras que estão a atacar desalmadamente o leão, o Sporting. Como o fazem com aquele não é novidade que o fazem com a águia ou com o dragão. Mais coisa, menos coisa, podemos dizer que vão para o lado em que estão virados. Ou, então, uns quantos, mais elaborados, são a razão e os produtores dessas tais notícias falsas que encontram jornalistas a corroborar sem indicar as fontes da notícia. Uma grande trampa de jornalismo. Mas é o que está a dar. Acreditar em profissionais assim é mil vezes pior que acreditar no “milagre de Fátima”. E nesse são uns quantos milhões a acreditarem. O que é de respeitar, crenças extrasensoriais, pelo menos porque envolve religião. E etc. Contudo, no caso do jornalismo aquilo é uma maravilhosa profissão, que devia ser respeitável, mas não é. Cada vez menos com estas novas vagas de escribas que tantas vezes nem sabem escrever português, que comem de modo inconcebível regras gramaticais… Enfim, é o que temos. Como sempre acontece os que não prestam misturam-se com os bons e em muitos casos levamos imenso tempo para os detetar e assim ter a possibilidade de os selecionar.

Parece evidente que ontem, neste caso do Sporting, também houve facilitismos e por mau profissionalismo. Para muitos portugueses foi útil porque ficaram muito mais alertados para desconfiar de certas e incertas notícias. Até de certos e incertos jornalistas. De certas e incertas pessoas e organismos… E adiante, que isto mais parece uma teia de consideráveis proporções.

Bruno, o “armado em maluco”

Saiu no sábado, salvo erro, no Expresso, uma entrevista com Bruno de Carvalho. Diz-se por aí à boca cheia que ele declarou que às vezes se “arma em maluco” e gosta…

A declaração não tem ponta por onde se lhe pegue mas conduz-nos a algumas perguntas simples mas obrigatórias: Desde quando um maluco reconhece que é maluco? Têm ou não capacidades para criar manobras de diversão - para outros e eles próprios - sobre a realidade do seu estado de saúde mental que não reconhecem?

Ora aí está. O Bruno é um bom homem, apesar de diretor-adepto e impulsivo. Infelizmente não está “armado em maluco” mas usa práticas que são caracteristicamente de maluco. É o que transparece. Esse facto, aliado às víboras e outras “caldeiradas” que atacam o Sporting, o leão, são um mal que pode afetar sobremaneira o grande clube português, dos maiores e mais antigos. Coisa que nem os seus adversários devem desejar porque é uma perda nacional, como seria a perda do Benfica, do Porto e de outros clubes desportivos. O que seria de uns sem os outros?

Segue a notícia sobre Jesus, o treinador do Sporting da Taça de Portugal. Que vai vencer, vaticina-se. Mas o clube está na berra e hoje apareceram notícias sobre corrupção em outras modalidades que não o futebol... Tudo muito estranho. Estão a atirar-se como gato a bofe e isso convida a desconfiar sobre a razão de tantos ataques... das muito prováveis víboras adversárias e inimigas do leão. Ataques ferozes e parece que organizados por qualquer Estado-Maior de víboras. Vamos ver onde isto vai dar. E que Bruno recupere o juízo convencional adotado pelo sistema para dar a luta inteligente, sábia, aos inimigos do Sporting Clube de Portugal. São estes os votos de um "lampião" amigo, que é extraordinariamente feliz quando o Benfica vence o Sporting. Até se for no jogo do chinquilho... E tão infeliz quando o Glorioso perde com o leão. Mas a vida saudável é feita de tudo isso. E é muito bom estar vivo. (MM)

Jorge Jesus vai orientar equipa na final da Taça de Portugal

O Sporting anunciou, esta terça-feira, que Jorge Jesus vai orientar a equipa na final da Taça de Portugal, domingo, no Jamor.

"Em face das notícias vindas a público e à especulação que existe na comunicação social, a Sporting SAD informa que o treinador Jorge Jesus estará a orientar a equipa do Sporting CP na Final da Taça de Portugal", lê-se num comunicado de um só parágrafo colocado na página oficial da SAD no Facebook.

Segunda-feira, após uma reunião entre o presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, a equipa técnica, jogadores e médico do clube, foi noticiada a alegada suspensão de Jorge Jesus, que assim ficaria impossibilitado de orientar a equipa na final da Taça de Portugal, domingo, frente ao Desportivo das Aves, no Jamor.

À noite, quando deixou Alvalade, Bruno de Carvalho foi enigmático na resposta aos jornalistas, reagindo às notícias que foram circulando quando ainda estava no estádio. "Se o Bruno suspendeu o Jesus, perguntem ao Bruno, que vem aí atrás. O presidente não suspendeu o treinador", disse.

Esta terça-feira, vários órgãos de comunicação social noticiaram que a suspensão de Jesus estava iminente, dependendo apenas do envio da nota de culpa ao treinador. O comunicado da SAD, publicado cerca às 14.30 horas desta terça-feira vem encerrar a polémica.

No domingo, o Sporting foi derrotado por 2-1 frente ao Marítimo, nos Barreiros, e perdeu o segundo lugar do campeonato, que dava acesso à terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões e a um possível encaixe financeiro que podia ascender a mais de 20 milhões de euros, para o rival Benfica.

No final do jogo, os adeptos do Sporting que acompanharam a equipa à Madeira manifestaram de forma veemente o seu desagrado junto do treinador e da equipa, chegando a registar-se tentativas de agressão a jogadores no aeroporto e insultos e protestos à chegada da comitiva a Lisboa e ao Estádio José Alvalade.

Augusto Correia | Jornal de Notícias | Jorge Jesus em foto de Hélder Santos/Aspress

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