António José Gouveia* | Jornal de
Notícias | opinião
Enquanto no sábado a
"galinha" Netta, de Israel, ganhava em Lisboa a Eurovisão com a
canção Toy, Benjamin Netanyahu começava a semana de trabalho - que para os
judeus se inicia ao domingo - saudando dois grandes acontecimentos para o país:
a possibilidade de Israel organizar no próximo ano o festival europeu em plena
Jerusalém e a inauguração da embaixada dos Estados Unidos na cidade santa.
Não foi inocente a saudação de
Benjamin Netanyahu na entrada da reunião do Governo. É que a Europa, com a
exceção da Áustria, Hungria, Roménia e República Checa, não está com Donald
Trump na decisão de mudar a embaixada americana para Jerusalém mas o país
acabou por levar um grande evento europeu de 300 milhões de espectadores de
Lisboa para a "nova" capital israelita.
O mais grave é que a decisão de
Trump já está a fazer graves estragos, muito antes da inauguração da polémica
embaixada. Até este momento já são mais de 90 as mortes desde que se iniciaram
os protestos em Gaza, das quais 55 ontem. O caricato é que a figura de Trump
surge como apaziguadora na Ásia - já o afloraram como candidato a Prémio Nobel
da Paz - ao promover uma maior abertura com a Coreia do Norte e, ao mesmo
tempo, desafia o Mundo muçulmano quando cede aos desejos de Israel em ter
Jerusalém como capital.
Esta cedência está intimamente
ligada à sua família, tal como em várias áreas da sua governação. Não foi por
acaso que mandou Ivanka Trump inaugurar a embaixada em Jerusalém. A filha é
casada com Jared Kushner, o principal conselheiro de Donald para a política
externa. Mas Kushner, para além de discreto, bem-falante, é também neto de
sobreviventes do Holocausto que fugiram da Polónia durante a II Guerra Mundial
e chegaram aos Estados Unidos em 1949. O sogro do presidente dos EUA é um judeu
ortodoxo que leva a religião muito a sério. Aliás, Ivanka teve de se converter
ao judaísmo antes de se casar com Kushner em 2009. Nunca Israel teve um aliado
tão poderoso junto da Casa Branca.
"Que haja paz. Que Deus
abençoe esta embaixada". Foi assim que Donald Trump terminou a sua
mensagem de vídeo divulgada na inauguração. Desde essa mensagem, há mais de 90
mortos, cerca de 2500 feridos - todos palestinianos - e a Força Aérea israelita
atacou o centro de treino militar do Hamas em Gaza. Os líderes palestinianos recusam-se
a negociar tendo como mediador os Estados Unidos e os líderes europeus
condenaram a violência em Gaza. Tudo em família.
*Editor-executivo
Na foto: O primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu e o presidente dos EUA, Donald Trump, andam pela Casa
Branca, seguidos por Jared Kushner e Ivanka Trump, 15 de fevereiro de 2017. The
Times of Israel/ Shmulik Armani
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